Métodos Estatísticos em Física Experimental
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- Camila Fidalgo Caldeira
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1 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. i Última Sair Métodos Estatísticos em Física Experimental Vitor Oguri Rio de Janeiro, 24 de agosto de 2011
2 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. ii Última Sair
3 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. iii Última Sair Sumário 1 O acaso e a necessidade A aleatoriedade dos fenômenos Experimentos em altas energias As distribuições de probabilidades Probabilidades a priori Eventos equiprováveis As regras básicas Eventos compostos Probabilidade condicional e a fórmula de Bayes Probabilidades a posteriori Distribuições de probabilidades contínuas
4 2.5 Os axiomas de Kolmogorov Distribuições limites de frequências A lei dos grandes números A distribuição uniforme A distribuição binomial A distribuição de Poisson A distribuição de Gauss Exercícios Métodos de simulação a Monte Carlo O experimento de Buon Geração de eventos a Monte Carlo Método de inversão Método de rejeição simples Cálculo de integrais e médias Método de rejeição simples Método direto Redução de incertezas Transformação e inversão Métodos de rejeição O método de Metropolis Exercícios Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. iv Última Sair
5 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. v Última Sair 4 Estimadores de máxima verossimilhança As origens dos métodos estatísticos O método da máxima verossimilhança de Fisher Limite da função de verossimilhança Estimadores para a distribuição de Poisson Estimadores para a distribuição de Gauss Estimadores para parâmetros de outras distribuições Estimadores para distribuições multiparamétricas Propriedades dos estimadores de máxima verossimilhança Ajuste de funções a histogramas Testes estatísticos paramétricos O teste de signicância de Fisher Os testes de hipóteses de Neyman-Pearson Intervalos de conança O teste de χ 2 de Pearson Lançamento de dados Exercícios A Tópicos sobre probabilidades 180 A.1 Eventos equivalentes A.1.1 Distribuições de probabilidades de eventos equivalentes A.1.2 Valor médio de função de uma variável aleatória
6 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. vi Última Sair A.2 Variáveis aleatórias multidimensionais A.2.1 Variáveis independentes A.2.2 Funções de várias variáveis aleatórias A.3 A desigualdade de Markov A.4 A desigualdade de Chebyshev A.5 A lei dos grandes números A.6 Funções caracteríssticas A.7 O teorema do limite central A.8 A distribuição gama A.9 A distribuição de χ A.10 A distribuição de Student B Simulação Direta 209 O Experimento de Rutherford-Geiger Referências Bibliográcas 212
7 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 1 Última Sair Capítulo 1 O acaso e a necessidade A incerteza é inevitável no cálculo de resultados observacionais. Em geral, a teoria nos permite calcular somente a probabilidade de obtermos um resultado particular. P.A.M. Dirac (1930) 1.1. A aleatoriedade dos fenômenos Os fenômenos naturais podem ser classicados como determinísticos ou aleatórios. Se os efeitos associados a um fenômeno, devido a determinadas inuências (causas), são inequivocamente previsíveis, diz-se que os processos envolvidos são determinísticos. Por outro lado, se os efeitos associados a um fenômeno não são
8 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 2 Última Sair exatamente previsíveis, mas podem ser associados a certas expectativas relativas de ocorrência, os processos envolvidos são ditos aleatórios. Segundo a visão clássica, a não previsibilidade dos efeitos associados a um fenômeno estava associada a processos complexos que envolviam a interação de um grande número de sistemas simples. Assim, o conceito de aleatoriedade estava vinculado ao comportamento coletivo das moléculas de um gás, ou à enorme quantidade de núcleos que participam do fenômeno da radioatividade. Uma vez que a teoria fundamental da Física Clássica a Mecânica de Newton descreve a evolução temporal de um sistema composto de um pequeno número de partículas por equações diferenciais ordinárias, pressupunha-se que seu comportamento seria completamente determinado por sua condição inicial. 1 A aleatoriedade e o acaso em um fenômeno, ou em um experimento, eram atribuídos à incapacidade do observador em determinar as condições iniciais, ou à complexidade dos arranjos experimentais. Em princípio, uma teoria fundamental deveria ser determinística, tal que uma dada condição inicial estaria associada a um único resultado para a evolução de um sistema físico. Assim, teorias probabilísticas não seriam fundamentais, uma vez que poderiam admitir vários possíveis resultados para a evolução de um sistema, ao associar expectativas distintas a cada um desses possíveis resultados. 2 1 Caracterizada pelas posições e velocidades iniciais de suas partículas constituintes. 2 Sabe-se hoje que, mesmo para sistemas com poucos graus de liberdade, descritos por teorias causais, em princípio, determinísticas, pequenas perturbações iniciais podem dar origem a fenômenos caóticos não previsíveis.
9 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 3 Última Sair Essa visão dos fenômenos, há milênios arraigada no homem, foi também compartilhada por grandes expoentes do pensamento ocidental: Nada acontece aleatoriamente; tudo acontece por alguma razão e por necessidade. Leucipo Todos os eventos, mesmo aqueles que por sua irrelevância parecem não se relacionar às grandes leis da natureza, delas constituem uma série tão necessária quanto as revoluções do Sol. Deus não joga dados. P. S. Laplace A. Einstein No entanto, com o surgimento da Mecânica Quântica, em 1925, a aleatoriedade passa a ser uma característica intrínseca da evolução dos fenômenos e sistemas físicos, mesmo aqueles com poucos graus de liberdade. A Mecânica Quântica estabelece que, para cada problema, há de se calcular uma distribuição de probabilidades que conterá as informações necessárias à descrição do fenômeno estudado. Segundo a Mecânica Quântica[8], as medidas das grandezas físicas estão associadas a certas distribuições de probabilidades de ocorrência. Ou seja, mesmo que as medidas associadas a uma grandeza não sejam inteiramente previsíveis quando efetuadas sob as mesmas condições experimentais, elas não se manifestam de
10 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 4 Última Sair modo totalmente imprevisível, uma vez que, em geral, seus valores, além de limitados a um intervalo denido, estão associados a certas expectativas de ocorrência. Assim, uma teoria probabilística para o estudo dos fenômenos naturais ou dos sistemas físicos deve prover regras que permitam determinar: os valores (medidas) possíveis para as grandezas associadas ao fenômeno ou ao sistema físico; as respectivas probabilidades de ocorrência das medidas das grandezas, ou a distribuição dessas probabilidades. Em geral, uma distribuição de probabilidades associadas às medidas de uma grandeza é caracterizada por parâmetros que indicam o valor esperado de cada grandeza. Desse modo, os objetivos de qualquer experimento em Física que envolva processos aleatórios podem ser expressos como: A partir de amostras de medidas de grandezas associadas a um fenômeno, e de um modelo ou de uma teoria física, os objetivos de um experimento em Física são: determinação de valores esperados; observação de um resultado previsto pela teoria. Na linguagem da Estatística, os objetivos dos experimentos do primeiro grupo estão associados aos chamados problemas de estimação de parâmetros e, os do segundo, aos chamados testes de hipóteses.
11 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 5 Última Sair 1.2. Experimentos em altas energias Todo experimento em Física de Partículas envolve processos aleatórios e, portanto, seus resultados devem ser confrontados com as distribuições de probabilidades que se obtêm a partir de modelos baseados em teorias quânticas como a Eletrodinâmica (QED), a Eletrofraca e a Cromodinâmica (QCD). Por exemplo, as Fig. 1.1 e 1.2 mostram possíveis distribuições de momentum transverso (p t ) e de pseudorapidez (η) de múons resultantes de colisões próton-próton. PT pt_tag_jet_maxpt Entries 1498 Mean RMS Figura 1.1: Distribuição de p t de múons.
12 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 6 Última Sair Segundo as teorias quânticas, alguns desses múons resultam de vários processos físicos aleatórios (como a hadronização e o decaimento de hádrons) que ocorrem após uma colisão (quark-quark) entre os constituintes dos prótons. Mesmo que esses processos elementares sejam bem descritos por modelos teóricos, as distribuições das grandezas físicas associadas a esses múons são modicadas por interações com os materiais que compõem o sistema de detecção de um experimento de colisões de partículas em altas energias. η eta_tag_jet_maxpt Entries 1498 Mean RMS Figura 1.2: Distribuição de η de múons. Desse modo, para a comparação das distribuições experimentais e teóricas, em geral, utilizam-se modelos aleatórios dos diversos processos que modicam as grandezas (momentum, energia e pseudorapidez)
13 associadas aos múons (partículas observadas), quando esses atravessam os vários subsistemas de detecção do experimento. Assim, todo experimento em altas energias envolve tanto a elaboração de programas de simulação de amostras aleatórias (geração de eventos) segundo distribuições teóricas, como a de programas de simulação de interação de partículas com diversos materiais que compõem os detectores (simuladores de detectores). Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 7 Última Sair
14 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 8 Última Sair Capítulo 2 As distribuições de probabilidades 2.1. Probabilidades a priori Os observáveis na ciência são as distribuições estatísticas que descrevem as probabilidades associadas às observações. K. Pearson (1892) A teoria da probabilidade teve sua origem na análise dos jogos de azar (Bennet, David), ao se quanticar a expectativa de ocorrência do resultado associado a um fenômeno não aleatório, como um jogo de cartas ou o lançamento de dados. Essa quanticação iniciou-se com a correspondência entre os matemáticos franceses
15 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 9 Última Sair Blaise Pascal ( ) e Pierre Fermat ( ), em 1654, e foi sintetizada pelo também francês Pierre Simon Laplace ( ), em sua clássica obra Théorie analytique des probabilités, em Devido a essa gênese, associada aos jogos, os conceitos e métodos probabilísticos elementares são usualmente apresentados a partir de exemplos que envolvem processos combinatoriais Eventos equiprováveis O lançamento de dados proporciona um meio simples e acessível para se estudar e estabelecer as regras básicas dos fenômenos aleatórios ou do acaso. Os únicos resultados possíveis para os lançamentos de um dado são os números naturais {1, 2, 3, 4, 5, 6}. Para um dado não viciado, devido à simetria do problema, a probabilidade a priori atribuída a ocorrência de um determinado número possível é igual a 1/6. Assim, a denição de probabilidade, segundo Laplace, é dada pela razão entre o número de casos favoráveis possíveis para a ocorrência de um evento e o número total de alternativas igualmente possíveis, ou equiprováveis. P (i) = 1 6 (i = 1, 2, 3, 4, 5, 6) Nesse sentido, o cálculo de probabilidades consiste na contagem das possibilidades de ocorrência de um evento. Esse tipo de cálculo ou estimativa, porém, é possível somente em situações simples, nas quais os possíveis resultados, em número nito, são conhecidos a priori, e por hipótese têm as mesmas chances de ocorrência, ou seja, os eventos são igualmente prováveis. P (evento) = número de casos favoráveis número de casos possíveis (probabilidade para eventos equiprováveis)
16 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 10 Última Sair Um exemplo ainda mais simples de eventos equiprováveis são os lançamentos de uma moeda. Nesse caso, a probabilidade associada a cada um dos dois únicos resultados possíveis e equiprováveis, {cara, coroa}, é igual a 1/2, ou seja, P (cara) = P (coroa) = 1 2 A denição clássica de Laplace torna-se impraticável quando o número de casos possíveis for muito grande, como no caso dos estados acessíveis às moléculas de um gás As regras básicas A partir da análise da ocorrência de eventos simples, no entanto, pode-se estabelecer as regras básicas para o cálculo de probabilidades. Por exemplo, no lançamento de dados, a probabilidade de ocorrência de um resultado (i) maior que 4 é igual a probabilidade associada à ocorrência dos dois resultados, 5 ou 6, entre os seis igualmente possíveis e mutuamente excludentes, ou seja, igual à soma das respectivas probabilidades, P (i > 4) = P (5 ou 6) = 2 6 = 1 3 P (5 ou 6) = P (5) + P (6) = = 1 3 Por outro lado, a probabilidade de um resultado par, {2, 4, 6}, ou maior que 4, {5, 6}, é dada por P (i = par ou i > 4) = 4 6 = 2 3
17 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 11 Última Sair pois, entre os cinco resultados igualmente possíveis, mas não mutuamente excludentes, aqueles distintos são {2, 4, 5, 6}. Nesse caso, P (i = par ou i > 4) = P (i = par) + P (i > 4) P (i = par e i > 4) = = 2 3 Assim, quando a ocorrência de um evento implica necessariamente a não ocorrência do outro, como a ocorrência dos números A = 5 ou B = 6 no lançamento de um dado, ou seja, quando os eventos são ditos mutuamente excludentes, a probabilidade associada à ocorrência de um ou de outro é dada pela soma das probabilidades: P (A ou B) = P (A) + P (B) (A e B mutuamente excludentes) (2.1) Por outro lado, se a ocorrência de um evento A = {i = par} não exclui a ocorrência de outro evento B = {i > 4}, a probabilidade associada à ocorrência de A ou B é dada por P (A ou B) = P (A) + P (B) P (A e B) (A e B não excludentes) (2.2) onde P (A e B) é a probabilidade de ocorrência simultânea dos eventos A e B. Se dois eventos A e B são independentes, no sentido de que a ocorrência de um não afeta a ocorrência do outro, isto é, não está condicionado ao outro, a probabilidade de que A e B ocorram simultaneamente é igual ao produto de suas probabilidades individuais, ou seja, P (A e B) = P (A) P (B) (A e B independentes) (2.3)
18 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 12 Última Sair Uma vez que P (A) e P (B) são menores que a unidade, a probabilidade de que A e B ocorram simultaneamente nunca pode ser maior que as probabilidades individuais. Um exemplo um pouco mais complicado consiste em um dos problemas propostos a Pascal pelo jogador francês Chevalier de Méré, que originou a correspondência entre Pascal e Fermat. Méré queria uma explicação sobre o fato de que, em quatro lançamentos de um mesmo dado de pôquer, as chances de ocorrência de uma face marcada com um ás (i = 1) eram maiores do que, em vinte e quatro lançamentos de dois dados, a ocorrência de dois ases (i = 2). Para ele, as chances seriam as mesmas, pois: se em uma jogada a chance de se obter um ás é de uma em seis, em 4 jogadas as chances de sair pelo menos um ás seria 4 vezes maior, ou seja, = 2 3 ; se as chances de se obter um par de ases ao se lançar um par de dados é de uma em 36, em 24 lançamentos seria 24 vezes maior, ou seja, = 2 3. Aplicando-se esse conceito, quando uma moeda é lançada duas vezes, uma vez que as chances de sair cara em um lançamento é de uma em duas (1/2), as chances de sair pelo menos uma cara em duas jogadas seria = 1, o que não é correto. O erro nesse tipo de argumento está no fato de que, apesar de os eventos serem independentes, eles não são excludentes, ou seja, a ocorrência de um não exclui a do outro. Nesses casos, para o cálculo da probabilidade conjunta de eventos independentes, deve-se subtrair a probabilidade de interseção dos eventos.
19 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 13 Última Sair O resultado pode ser obtido a partir da contagem de vezes da ocorrência de pelo menos um ás (i = 1) na listagem das 1296 (6 N=4 ) possíveis sequências dos resultados de eventos equiprováveis nos quatro lançamentos de um dado. ( ), ( ),... ( ), ( ),... ( ),... ( ),... ( ) ( ), ( ),... ( ), ( ),... ( ),... ( ),... ( ) ( ), ( ),... ( ), ( ),... ( ),... ( ),... ( ) ( ), ( ),... ( ), ( ),... ( ),... ( ),... ( ) ( ), ( ),... ( ), ( ),... ( ),... ( ),... ( ) ( ), ( ),... ( ), ( ),... ( ),... ( ),... ( ) Esse processo trabalhoso seria impraticável no caso de 24 lançamentos (N = 24) de dois dados. No entanto, sabendo-se que a probabilidade de ocorrência de dois ases, P (i = 2, N = 1), em um único lançamento de dois dados é igual a P (i = 2, N = 1) = = 1 36 a probabilidade de não ocorrência de duplo ás é dada por P (i 2, N = 1) = = Assim, em 24 lançamentos (N = 24) de dois dados, a probabilidade de ocorrência de pelo menos dois ases é dada por ( ) P (i = 2, N = 24) = 1 0,49 36
20 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 14 Última Sair ou seja, ligeiramente inferior a 50%. É claro que, aumentando-se o número de tentativas de um evento, as chances de êxito também aumentam. Mas o mesmo acontece para todos os tipos de eventos, mesmo os indesejáveis: as chances de acidentes aumentam com o número de vezes que uma pessoa atravessa uma rua, viaja de automóvel ou de avião, ou com o número de dias de operação de uma usina nuclear, ou com a quantidade de vezes que uma pessoa se submete a uma cirurgia. 1 Por exemplo, cada vez que um avião sai para uma missão de guerra, as chances de ser abatido é de 2%. Aumentando-se o número de missões as chances de ser abatido também aumentam. Em 50 missões o avião será certamente abatido? Eventos compostos Para eventos compostos, mesmo que em número nito, a situação pode ser mais complicada. Galileu Galileu ( ), em um texto escrito por volta de 1613, 2 identicou corretamente os 216 resultados equiprováveis no lançamento de três dados, sendo capaz de prever a ligeira diferença entre as probabilidades dos três dados somarem 9 e 10. Apesar de cada resultado estar associado a seis partições distintas, cada partição corresponde a diferentes multiplicidades. 1 Deve-se observar que esses eventos não são puramente aleatórios. Cuidados com a segurança certamente reduzem as chances dos acidentes. A maioria das pessoas morrem de outras causas. 2 Sopra le scoperte dei dadi, tradução inglesa em David.
21 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 15 Última Sair soma (S) de partições partições multiplicidade três dados equivalentes 9 (126) (135) (144) (225) (234) (333) (136) (145) (226) (235) (244) (334) Uma vez que o número total de casos possíveis é 216, com um total de 25 resultados possíveis para a soma 9, e de 27 para a soma 10, as respectivas probabilidades são dadas por P (S = 9) = 25/216 e P (S = 10) = 27/216 O fato de que muitos resultados, apesar de conhecidos pelos jogadores mais experientes da época, não serem por eles explicados, mostra que eventos compostos podem ser complexos demais para que suas alternativas ou resultados equiprováveis sejam diretamente determinados. No entanto, utilizando-se as propriedades estabelecidas para a união e a intersecção de conjuntos de
22 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 16 Última Sair eventos, pode-se fazer prever probabilidades associadas a eventos compostos. Por exemplo, a partir dos 36 pares ordenados de resultados possíveis e equiprováveis no lançamento de dois dados, pode-se denir os seguintes conjuntos de eventos (1,1) (1,2) (1,3) (1,4) (1,5) (1,6) (2,1) (2,2) (2,3) (2,4) (2,5) (2,6) (3,1) (3,2) (3,3) (3,4) (3,5) (3,6) (4,1) (4,2) (4,3) (4,4) (4,5) (4,6) (5,1) (5,2) (5,3) (5,4) (5,5) (5,6) (6,1) (6,2) (6,3) (6,4) (6,5) (6,6) A = { (i, j) i + j = 7 } (pares de resultados com soma igual a 7) B = { (i, j) i = 1 } (pares nos quais o primeiro valor é igual a 1) C = { (i, j) i = 1 e j 4 } (pares nos quais o primeiro é 1 e o segundo menor ou igual a 4) Desse modo, de acordo com as regras de cálculo de probabilidades, pode-se escrever para cada conjunto de eventos P (A) = 6 36 = 1 6 P (B) = 6 36 = 1 6
23 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 17 Última Sair P (C) = 4 36 = 1 9 A e B independentes = A e C excludentes = C B = B = { } (1, j) i 1 P (A e B) = P (A) P (B) = = 1 36 P (A ou B) = P (A) + P (B) P (A e B) = = P (A e C) = 0 P (A ou C) = P (A) + P (C) = = 5 18 P (C e B) = P (C) = 4 36 = 1 9 P (C ou B) = P (B) = = 1 6 = P (B) == = 5 6 P (A e B) = P (B) = 5 36
24 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 18 Última Sair 2.2. Probabilidade condicional e a fórmula de Bayes A probabilidade de ocorrência de B condicionada à ocorrência de A, denominada probabilidade condicional de B relativa a A, e denotada por P (B A), é igual a razão entre o número de ocorrências conjuntas de B e A e o de A, ou seja, de acordo com exemplo anterior (lançamento de dois dados), P (B A) = P (B e A) P (A) = 1/36 1/6 = 1 6 Assim, a probabilidade condicional de um evento B com relação a um evento A, equivale a considerar o evento A como o universo dos resultados possíveis (população) para a ocorrência de B. Ainda com relação ao exemplo anterior, os eventos B e A são independentes, portanto, Analogamente, P (A B) = P (B A) = P (B) P (A e B) P (B) = 1/36 1/6 = 1 6 = P (A) Por outro lado, no caso de eventos não independentes, como C e B, e P (C B) = P (C e B) P (B) P (B C) = = 1/9 1/6 = 2 3 P (C) ou P (C B) = 4 6 = 2 3 P (B e C) P (C) = 1 ou P (B C) = 4 4 = 1
25 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 19 Última Sair Assim, de um modo geral, a probabilidade de ocorrência simultânea de dois eventos A e B é dada por Como a probabilidade de ocorrência conjunta é simétrica, P (A e B) = P (A B) P (B) (2.4) P (A e B) = P (B e A) a relação entre probabilidades condicionais entre eventos não excludentes pode ser expressa pela fórmula de Bayes, 3 P (A B) P (B) P (B A) = (2.5) P (A) De acordo com as propriedades dos conjuntos, a cada conjunto A de eventos, relativos a um universo de resultados possíveis, corresponde uma coleção A (excludente à A) de eventos complementares tal que P (A) + P (A) = 1 pois, a condição (A ou A) é igual ao Universo de resultados possíveis. No exemplo dos dois dados, o complemento A é o conjunto de pares, dentre os resultados possíveis, com soma diferente de 7, A = { (i, j) i + j 7 } 3 Estabelecida pelo reverendo inglês Thomas Bayes ( ), em Essay towards solving a problem in the doctrine of chances, publicado postumamente em 1763.
26 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 20 Última Sair a probabilidade associada P (A) é dada por P (A) = 1 P (A) = = 5 6 e P (A B) = 5 30 = 1 2 = P (B A) P (B C) = 6 32 = 1 P (C B) = 0 16 Desse modo, se A e B são complementares, respectivamente, a A e B, pode-se escrever P (A) = P (A B) P (B) + P (A B) P (B) P (B) = P (B A) P (A) + P (B A) P (A) Assim, alternativamente, a fórmula de Bayes pode ser expressa como P (A B) P (B) P (B A) = P (A B) P (B) + P (A B) P (B) Por exemplo, em uma dada cidade, estima-se que uma em mil pessoas estejam infectadas por um vírus. Um exame para a detecção do vírus tem 95% de eciência e 6% de ineciência. 4 Qual a probabilidade de que uma pessoa com resultado positivo esteja realmente infectada? Como a probabilidade de que uma pessoa qualquer esteja infectada (I) é dada por P (I) = 0,001 (uma 4 Enquanto a eciência de um exame ou teste médico é determinada pela fração de casos (de resultados do teste médico) que classicam um paciente realmente doente como portador de um vírus ou de uma doença, a ineciência, chamada também de taxa de resultados falsos-positivos, é fração do número de casos que classicam um paciente saudável como infectado. (2.6)
27 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 21 Última Sair em mil), a probabilidade do complemento P (I), ou seja, de que uma pessoa não esteja infectada é dada por P (I) = 0,999. A probabilidade (condicional) de ocorrer um resultado positivo (P ) quando uma pessoa está infectada é dada por P (P, I) = 0,95 (eciência do exame), e a probabilidade de ocorrência de resultados falsos-positivos (ineciência do exame), ou seja, a probabilidade de ocorrer um resultado positivo quando a pessoa não está infectada, é dada por P (P, I) = 0,06. Assim, de acordo com a fórmula de Bayes, a probabilidade de que uma pessoa esteja infectada, se o resultado for positivo, é dada por P (I P ) = = P (P I) P (I) P (P I) P (I) + P (P I) P (I) P (P I) P (I) P (P I) P (I) = ,016 Esse resultado não deve surpreender pois, apesar do resultado positivo do exame, a probabilidade (a priori) de que uma pessoa qualquer esteja infectada é muito baixa (uma em mil). Essa a probabilidade a priori é muito difícil de ser estimada, pois não se sabe o número exato de pessoas infectadas por um vírus mas, de qualquer modo, se essa estimativa for muito baixa, a fórmula de Bayes indica que qualquer que seja o resultado do teste a probabilidade de uma pessoa estar infectada também é muito baixa. Portanto, a aplicação da fórmula de Bayes nesse tipo de teste só é útil em regime de epidemia de um determinado vírus, quando a probabilidade a priori de infecção for relativamente alta.
28 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 22 Última Sair Eventos excludentes Em geral, não existe, necessariamente, relação entre as probabilidades condicionais P (A B) e P (A B). No entanto, para eventos excludentes, como nos casos de testes de conabilidade na identicação de acidentes (problema do táxi), essas probabilidades estão relacionadas por P (A B) = 1 P (A B) De modo geral, se {B i } é um conjunto de eventos mutuamente excludentes, a fórmula de Bayes pode ser expressa também como P (B i A) = P (A B i) P (B i ) j P (A B j) P (B j ) Ou seja, se {B i } é um conjunto de hipóteses mutuamente excludentes e A é um resultado que pode ser associado a cada uma das hipóteses, pode-se utilizar a fórmula de Bayes para se calcular a probabilidade a posteriori, P (B i A), de qualquer uma das hipóteses condicionada à observação do resultado A, a partir das probabilidades a priori das hipóteses, P (B i ), e das probabilidades de ocorrências de A devido a cada uma das hipóteses. Atualmente, a grande aplicação da fórmula de Bayes talvez se dê no combate à disseminação de spam pela internet, utilizando os chamados ltros adaptativos bayesianos, propostos pela primeira vez em 1996 por Jason Rennie e, desde 2002, difundidos pela rede por Paul Graham. Se a cada palavra suspeita A i contida nas principais partes de um (header, sender, subject, body,...) associa-se uma probabilidade P (A i, S) de que essa palavra apareça em do tipo spam, e uma probabilidade P (A i, S) de que apareça em que não seja spam, a partir da probabilidade (a priori) (2.7)
29 P (S) de que um qualquer seja um spam, a fórmula de Bayes permite avaliar a probabilidade P (S A i ) de que um futuro que contenha a palavra suspeita A i seja um spam. P (S A i ) = P (A i S) P (S) P (A i S) P (S) + P (A i S) P (S) onde P (S) = 1 P (S). Fazendo-se esse cálculo para cada palavra suspeita, se a probabilidade total execer um certo nível (por exemplo, 95%), o ltro classica o como junk, removendo-o para um junk folder ou apagando-o. Além de eciente, esse processo é adaptativo, pois a cada vez que o dono da conta classica um como junk, aumenta-se a probabilidade condicional P (A i, S) de que uma palavra suspeita A i apareça em do tipo spam. A fórmula de Bayes é utilizada também como a principal ferramenta dos chamados métodos estatísticos bayesianos, que consideram a probabilidade como o grau de crença associado a um evento. No exemplo da infecção por vírus, a probabilidade de que uma pessoa qualquer esteja infectada não sendo estimada a partir de observações estatísticas de casos, na concepção bayesiana, representa a expectativa de ocorrência de infecção antes de qualquer teste para detecção do vírus, ou seja, do grau (subjetivo) de crença de que uma certa parcela da população esteja infectada. De qualquer modo, se essa estimativa for muito baixa, a fórmula de Bayes indica que qualquer que seja o resultado do teste a probabilidade de uma pessoa estar infectada também é muito baixa. Portanto, a aplicação da fórmula de Bayes nesse tipo de teste só é útil em regime de epidemia de um determinado vírus, quando a probabilidade a priori de infecção for relativamente alta. Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 23 Última Sair
30 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 24 Última Sair 2.3. Probabilidades a posteriori A probabilidade de 1/6, que pode ser a priori atribuída à ocorrência de um determinado resultado no lançamento de um dado não viciado, pode ser obtida, também, a posteriori. Tabela de distribuição de frequências (n i ) de cada uma das faces (i) de um dado, resultante da simulação de N = 120 lançamentos, 5 e o histograma correspondente. face (i) freq. (n i ) n i i 5 A simulação de amostras de eventos ou fenômenos aleatórios é um procedimento usual no estudo desses fenômenos e será abordado e esclarecido em tópicos posteriores.
31 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 25 Última Sair A tabela de frequências 2.1 mostra, por sua vez, a simulação de várias amostras de lançamentos de um dado. face (i) n i n i /N n i n i /N n i n i /N N Tabela 2.1: Simulação de amostras de lançamentos de dados. Desse modo, à medida que o número de lançamentos aumenta, a frequência relativa (f i ) de ocorrência de uma face i, f i = n i (2.8) N aproxima-se cada vez mais de um número denido entre 0 e 1, nesse caso, igual a 1/6. Considerando que o número total N de medidas x i de uma grandeza x em um experimento, ou que o número n i de ocorrências de um evento sejam sucientemente grande, a probabilidade de ocorrência P (x i ) da medida ou do evento em questão é denida como o limite da razão entre a frequência de observação do
32 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 26 Última Sair evento e o número total de eventos observados, ou seja, como o limite da frequência relativa, n i P (x i ) = lim f i = lim N 1 N 1 N (2.9) A concepção frequentista ou estatística de probabilidade a posteriori, introduzida em 1718 por Abraham De Moivre ( ), na obra The doctrine of chances, foi adotada por John Venn, em 1822, e sistematizada por Richard von Mises ( ), em 1931, e pode ser aplicada mesmo quando o número total de eventos possíveis seja innito, bastando que a frequência relativa aproxime-se de um limite experimental. Assim as frequências relativas determinam uma distribuição de probabilidades associada às ocorrências de um determinado evento e, no caso dos lançamentos de um dado, em que a probabilidade de ocorrência de cada face é a mesma, essa distribuição é uniforme (gura 2.1). Do mesmo modo que o valor médio (x) de uma coleção {x i } de N valores distribuídos segundo um conjunto de frequências {n i } é caracterizado pela média dos valores ponderados pelas respectivas frequências relativas (f i = n i /N), x = N f i x i (2.10) i=1 o valor médio ou esperado, E(x) = µ = x, associado a uma coleção {x i } de N valores associados a uma distribuição de probabilidades, P (x i ), é dado por E(x) = µ = x = N x i P (x i ) (2.11) i=1
33 Figura 2.1: Distribuição de probabilidades para lançamentos de dados. Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 27 Última Sair
34 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 28 Última Sair Analogamente, a dispersão desses valores pode ser caracterizada pela variância, E [ (x µ) 2] = V (x) = σx, 2 denida por E [ (x µ) 2] N = V (x) = σx 2 = (x i x ) 2 P (x i ) (2.12) ou pelo desvio-padrão, onde σ x = E [ (x µ) 2] = Do ponto de vista prático, a variância pode ser calculada por 6 i=1 N (x i x ) 2 P (x i ) (2.13) i=1 σ 2 x = x 2 x 2 (2.14) x 2 = é a média dos quadrados dos valores da coleção {x i } N x 2 i P (x i ) (2.15) i=1 6 V (x) = E[(x µ) 2 ] = E(x 2 2µxµ 2 ) = σx 2 = E(x 2 ) 2µ E(x) + µ 2 = x 2 x 2 }{{}}{{}}{{} x 2 µ x 2
35 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 29 Última Sair Assim, se a probabilidade associada as ocorrências de cada face de um dado é 1/6, o valor médio ou valor esperado dos resultados é dada por a média dos quadrados por e a variância, por µ = x = x 2 = 6 i 1 6 i=1 6 i i=1 = ( ) }{{} 21 = ( ) }{{} = = 91 6 σ 2 = 91 6 (3.5)2 = σ = 1.71 A expressão, satisfeita pela totalidade das possibilidades de ocorrências dos dados, P (x i ) = 1 (2.16) i=1 a denominada condição de normalização, é utilizada como uma equação de vínculo que deve ser satisfeita por função que representa uma distribuição de probabilidades associada a uma dada população de dados. O valor médio e a variância dos dados de uma população são denominados parâmetros de uma distribuição de probabilidades. Por isso, a procura ou determinação do valor esperado de uma grandeza aleatória e sua incerteza denomina-se estimação de parâmetros.
36 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 30 Última Sair 2.4. Distribuições de probabilidades contínuas Para o caso de grandezas cujas variações são hipoteticamente contínuas, como as coordenadas (x) de uma pedra atirada aleatoriamente sobre um canaleta, os dados observados, que são as medidas das coordenadas, podem ser agrupados em intervalos discretos [x k, x k+1 ), de amplitudes x k = x k+1 x k. 7 Desse modo, se n k é a frequência das medidas associadas ao intervalo (x k, x k+1 ), obtém-se o histograma das coordenadas mostrado na Fig Assim, a probabilidade de ocorrência de uma medida da coordenada x em um dado intervalo [x k, x k+1 ) é dada pela razão entre a área n k x k da parte do histograma correspondente ao intervalo dado e a área total ( N ) n i x i = A do histograma, ou seja, i=1 P (x k x < x k+1 ) = n k x k = N n i x i i=1 n k A x k o que implica onde N é o número total de medidas. N P (x k x < x k+1 ) = 1 k=1 7 Em geral, mas não necessariamente, esses intervalos possuem a mesma amplitude.
37 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 31 Última Sair n n k x x k k+1 x Figura 2.2: Histograma (hipotético) das coordenadas (x) de uma pedra e a distribuição de frequência limite.
38 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 32 Última Sair A representação gráca dos termos ρ(x k ) = n k /A associados aos intervalos [x k, x k+1 ) é denominada distribuição normalizada de frequência. No limite de um grande número de observações (N 1), os intervalos [x k, x k+1 ) ou classes de frequência podem ser tais que a amplitude x k de cada classe seja tão pequena quanto se queira. Nessas condições, os termos limites ρ(x) xk = P (x k < x < x k+1 ) n k lim = lim x k 0 x k N 1 A k = 1, 2, 3, N denem uma distribuição contínua normalizada de frequências relativas por unidade de medida da coordenada x, denominada função densidade de probabilidade ou pdf, 8 ρ(x), para os possíveis resultados contínuos de x, tal que a probabilidade associada à medida de x entre dois valores a e b é dada por P (a < x < b) = e a chamada condição de normalização da distribuição por xmax b a ρ(x) dx (2.17) x min ρ(x) dx = 1 (2.18) onde x min e x max são, respectivamente, o mínimo e o máximo valores possíveis para a medida de x, que delimitam o domínio D = (x min, x max ) de valores possíveis para as ocorrências de x. 8 Acrônimo do inglês probability density function.
39 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 33 Última Sair Assim, para variáveis contínuas, como as coordenadas ou momenta de uma partícula, ou os intervalos de tempo de vida de uma partícula instável, ou as massas ou alturas dos alunos de uma turma, não se pode atribuir uma medida de probabilidade como no caso de variáveis discretas, pois a soma de uma quantidade não enumerável de números positivos não pode satisfazer a condição de normalização. Em vez de se atribuir, como no caso discreto, probabilidades aos valores de uma variável contínua, associase probabilidades a intervalos de valores da variável contínua, a partir de uma função densidade de probabilidade, análoga à função densidade de massa de um corpo rígido. Nesse sentido, a densidade de probabilidade é análoga à densidade de massa de uma barra de massa unitária, para qual ρ(x) dx = 1, e, portanto, o valor médio E(x) = µ = x de uma variável x, associada a D uma densidade de probabilidade ρ(x), em um domínio D, dada por E(x) = µ = x = x ρ(x) dx (2.19) equivale ao centro de massa de uma barra de massa unitária distribuída de acordo com a função densidade ρ(x). Assim, o desvio-padrão é dado por D E [ (x µ) 2] σ x = x 2 x 2 (2.20) Além de estar associada à distribuição de valores da variável x, a densidade de probabilidade ρ(x) determina também a expectativa de ocorrência dos valores de qualquer outra função f(x). Por exemplo, se x D = (0, ) representa as possíveis medidas para o raio de um círculo, os possíveis valores para a área f(x) = πx 2
40 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 34 Última Sair estarão associadas à mesma distribuição de probabilidade ρ(x), de modo que o valor médio f será dado por f = f(x) ρ(x) dx (2.21) D e a respectiva variância (σ 2 f ) por σ 2 f = f 2 f 2 (2.22) Para uma pdf ρ(x) denida no domínio (, ), a função F (t) = P (x t) = t ρ(x) dx (2.23) que indica a probabilidade associada à medida de x para valores menores que t é denominada função de distribuição acumulada (fd). Algumas das propriedades da função de distribuição são: P (x > t) = 1 P (x t) = 1 F (t) F ( t) = = t t ρ(x) dx = P (a x b) = F (b) F (a) t ρ(x) dx ρ(x) dx = P (x > t) = 1 F (t)
41 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 35 Última Sair P ( x t) = P ( t x t) = F (t) F ( t) = 2F (t) 1 As distribuições de probabilidades utilizadas nos experimentos de Física deveriam ser determinadas a posteriori, uma vez que a evolução dos fenômenos e o próprio processo de medição são aleatórios. No entanto, a denição a priori de probabilidade é também amplamente usada na fundamentação de estudos teóricos, nos quais são utilizados conceitos probabilísticos, como no desenvolvimento da Mecânica Estatística (Boltzmann,Gibbs, Pathria). Nesses casos, distribuições de probabilidades especiais (Maxwell-Boltzmann, Planck, Fermi-Dirac e Bose-Einstein), adequadas à descrição de sistemas de muitas partículas quase-independentes, são deduzidas e mostram-se compatíveis com os comportamentos experimentais observados em diversos sistemas como os gases moleculares a baixa pressão, os elétrons em metais e semicondutores e, ainda, em diversos fenômenos, como a variação do calor especíco dos sólidos a baixas temperaturas e a radiação de corpo negro. Uma abordagem mais geral da Mecânica Estatística, iniciada pelo físico austríaco Ludwig Boltzmann ( ), em 1877, e sintetizada pelo físico norte-americano Josiah Willard Gibbs ( ), em 1901, ao utilizar, também, o conceito a priori de probabilidade, permite o estabelecimento de distribuições de probabilidades gerais (microcanônica, canônica e gran-canônica) não associadas apenas a gases, pois são expressas em termos de variáveis dinâmicas que caracterizam qualquer sistema de partículas. Nesse caso, para cada classe de problema, a partir das formas gerais dessas distribuições, é possível a obtenção de uma distribuição de probabilidades especíca. Até o primeiro quarto do século XX, a utilização na Física do conceito a priori de probabilidade, estava associada apenas à impossibilidade prática da caracterização simultânea do estado de todas as partículas de um sistema com um grande número de graus de liberdade. Ou seja, o problema resultava da complexidade dos sistemas observados. Com o surgimento da teoria da Mecânica Quântica, que utiliza também um conceito a priori de probabilidade, a aleatoriedade passa a ser uma característica intrínseca da evolução de qualquer
42 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 36 Última Sair fenômeno ou sistema, mesmos aqueles com poucos graus de liberdade Os axiomas de Kolmogorov A concepção frequentista, apesar de mais próxima a intuição física e estatística do que a concepção de Laplace, sempre foi rejeitada por muitos físicos e matemáticos. A simulação de 1000 lançamentos de uma moeda (Fig. 2.3) mostra que o limite experimental da frequência relativa de ocorrências de caras não é uma operação matematicamente bem denida. O conceito de probabilidade foi apropriadamente axiomatizado logo após o primeiro quarto do século XX, em 1933, pelo matemático russo Andrei Nikolaevich Kolmogorov ( ), ao estabelecer que qualquer conjunto discreto de números não-negativos {P i }, que esteja associado a uma coleção discreta de elementos S = {x 1, x 2, x 3,...}, como os possíveis valores para as medidas de uma grandeza, tal que e, para elementos distintos, 9 P (x i ) = 1 i (condição de normalização) P (x i ou x j ) = P i + P j (x i x j ) é denominado um conjunto de probabilidades {P i }, associado à coleção S. 9 Na linguagem estatística, eventos mutuamente excludentes.
43 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 37 Última Sair flutuacoes das frequencias relativas Figura 2.3: Frequência relativa do número de caras em termos do número de lançamentos.
44 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 38 Última Sair Ou seja, do ponto de vista axiomático, não é necessário atribuir nenhum signicado ao conceito de probabilidade, como a expectativa ou a crença na ocorrência de um evento; basta que se associe aos possíveis resultados independentes de um experimento, como as medidas de uma grandeza, um número positivo menor que a unidade, cuja adição sobre todos os possíveis eventos (igual à unidade), expressa a certeza em se obter um dos possíveis resultados (condição de normalização). Nesse sentido, tanto a concepção clássica a priori de Laplace (expectativa de ocorrência), como a concepção frequentista a posteriori de von Mises satisfazem aos chamados axiomas de Kolmogorov para probabilidades discretas. Durante a primeira metade do século XX, o ponto de vista frequentista foi adotado de forma quase unânime pelos principais estatísticos e matemáticos como Venn, von Mises, Reichenback, Gosset, Neyman, Fisher, Pearson, Cramér e Borel. A concepção de Laplace teve dois desdobramentos: o defendido pela escola da lógica matemática, como Keynes, Jereys e Carnap, considerando a probabilidade como uma relação lógica entre duas proposições a evidência e a hipótese que determina o grau de implicação da hipótese pela evidência; o defendido por Ramsey, de Finetti e Savage subjetivo considerando a probabilidade como uma avaliação do grau de credibilidade que uma pessoa atribui a uma dada hipótese, na posse de uma evidência. A Estatística Clássica, em geral, utiliza o conceito frequentista a posteriori de probabilidade, e suas inferências são obtidas unicamente por amostragem, a partir dos dados experimentais.
45 Por outro lado, a chamada Estatística Bayesiana utiliza o conceito subjetivo a priori de probabilidade para caracterizar certas hipóteses e, a partir da fórmula de Bayes, os dados amostrais são ponderados. De qualquer modo, a componente amostral ou experimental é comum a ambos os métodos estatísticos: os clássicos e os bayesianos. Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 39 Última Sair
46 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 40 Última Sair 2.6. Distribuições limites de frequências A tabela de frequências a seguir (Tab. 2.2), apresenta as idades dos 72 calouros que ingressaram no curso de Física da UERJ, no segundo semestre de 2001, com idades entre 17 e 37 anos distribuídas em 21 intervalos de 1 ano, representadas também no histograma da Fig onde n i é o número de alunos (frequência) que têm idades no intervalo [x i, x i+1 ), tal que x 1 = 17, x i+1 = x i +1 m e n i = N (m = 21 e N = 72). Assim, a média de idades é igual 21,33. i=1 Desse modo, ao se escolher casualmente algum aluno da turma, a probabilidade (p i ) de que a idade desse aluno esteja no intervalo [x i, x i+1 ) é dada por p i = n i N uma vez que dentre os N alunos apenas n i deles têm idades entre x i e x i+1. Ou seja, a probabilidade, nesse m caso, é igual à frequência relativa de idades no intervalo [x i, x i+1 ), pois, de acordo com a relação n i = N, esses números satisfazem à condição de normalização, m m n i p i = N = 1 i=1 i=1 Essa relação expressa simplesmente a certeza de que a idade de um aluno casualmente escolhido esteja no intervalo [17, 37] Esse intervalo, ou seja, o coleção de idades entre 17 e 37 anos é a população das idades dos alunos da turma. i=1
47 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 41 Última Sair idade (x i - anos) n i Tabela 2.2: Distribuição de frequências de idades de uma turma de 72 alunos.
48 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 42 Última Sair Distribuicao de frequencia das idades h1 Entries 72 Mean RMS Figura 2.4: Histograma da Tab. 2.2.
49 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 43 Última Sair De modo análogo, a probabilidade de que a idade (x) de um aluno escolhido pertença a um dos intervalos distintos [x i, x i+1 ) e [x j, x j+1 ) é dada por p { x [x i, x i+1 ) ou x [x j, x j+1 ) } = n i + n j N = p i + p j uma vez que dentre as N idades possíveis apenas (n i + n j ) pertencem aos intervalos [x i, x i+1 ) e [x j, x j+1 ). Se, após o sorteio do primeiro aluno, sorteia-se um segundo aluno, sem excluir a possibilidade de escolhêlo novamente, a probabilidade de que a idade do primeiro sorteado (x 1 ) pertença ao intervalo [x j, x j+1 ), e a idade do segundo (x 2 ) ao intervalo [x k, x k+1 ) é dada por p { x 1 [x i, x i+1 ) e x 2 [x k, x k+1 ) } = p (x 1 i e x 2 k ) = p i p k uma vez que para cada uma das n i idades no intervalo [x i, x i+1 ) correspondem n k idades no intervalo [x k, x k+1 ), e que existem N idades possíveis para a primeira escolha e para cada uma delas N possíveis escolhas para a segunda, ou seja, n i n k N N = p i p k Ao se observar as idades (x) de um número cada vez maior de alunos (N 1), como, por exemplo, as idades de todos os alunos de uma Universidade, ou de todas as Universidades de uma grande cidade ou de um país, os intervalos de cada classe de idade podem ser diminuídos até que a distribuição de frequências limite, n(x), seja proporcional a uma distribuição contínua de probabilidades, a pdf ρ(x), no intervalo (a = 17, b = 37), ρ(x) = b a n(x) n(x) dx 0 b a ρ(x) dx = 1
50 Capa Volta Anterior Próxima Tela cheia Pág. 44 Última Sair onde os limites de integração delimitam o domínio (D) de valores possíveis para as ocorrências de x, e a probabilidade de ocorrência de valores de x entre a e b é dada por 11 P (a < x < b) = b a ρ(x) dx (2.24) Assim, qualquer distribuição de frequências devidamente normalizada representa uma distribuição de probabilidades para os possíveis valores da variável envolvida. 11 Nem todas as distribuições limites são contínuas. Distribuições limites contínuas derivam do fato de a variável observada estar associada a um domínio contínuo de valores. No caso do lançamento de dados ou de moedas, a distribuição limite também é discreta (Fig. 2.1).
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