A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino superior
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- Caio Lopes Belo
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1 UNIrevista - Vol. 1, n 2: (abril 2006) ISSN A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino superior Marilú Mourão Pereira Resumo Fisioterapeuta especialista em neurofuncional e mestranda em educação marilumouraopereira@via-rs.net Programa de pós-graduação em educação da UFRGS, Núcleo de Políticas Inclusivas da UERGS/FADERS, RS Nesse trabalho buscamos refletir sobre o papel social da universidade na inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais, garantindo o acesso e permanência desses alunos no ensino superior. Para essa discussão e análise, apresentamos um projeto desenvolvido no estado do Rio Grande do Sul, com a parceria de duas instituições públicas estaduais. Uma delas é a FADERS, Fundação de articulação e desenvolvimento de políticas públicas para pessoas portadoras de deficiências e altas habilidades no Rio Grande do Sul e a outra é a UERGS, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Este projeto visa ampliar as políticas públicas para democratização dos espaços acadêmicos, a partir de um diagnóstico da realidade, com a identificação das dificuldades demandadas pelos alunos, priorizando assim assessorias e suportes necessários, para que possam participar desse processo de ensino e aprendizagem com sucesso. Ao aluno com deficiência está garantida a entrada na universidade, no entanto ao chegar neste espaço, freqüentemente costuma depara-se com diversas barreiras físicas, curriculares, atitudinais e metodológicas que acabam dificultando por vezes, a sua atuação no processo acadêmico na universidade. Não adianta a garantia de cotas a partir de uma legislação, pois ela por si só, não garante os avanços desse aluno. Palavras-chave: Educação Especial //Ensino Superior //Inclusão Introdução Este trabalho tem como objetivo apresentar o projeto desenvolvido na universidade Estadual do Rio Grande do Sul em parceria com a Fundação de Articulação e desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de deficiências e Altas Habilidades no Rio Grande do Sul visando à inclusão de alunos portadores de necessidades educativas especiais que estudam nessa universidade, a partir de reflexões do cotidiano do contexto atual que nos leva a pensar sobre esses novos paradigmas. 1
2 Todo cidadão tem direito de participar da vida social, e nessa perspectiva estamos incluindo ai o direito ao ensino superior. Mas na verdade é impossível não ressaltar que na prática, poucos avanços tiveram nessa área. A partir de uma realidade observada no nosso cotidiano, percebemos com muita freqüência a dificuldade enfrentada pelos alunos que demandam alguma limitação durante o processo de ensino e aprendizagem na universidade. Contudo é relevante que possamos refletir sobre questões significativas para o processo de inclusão no ensino superior, que nos causa muitas vezes, constrangimentos frente a circunstâncias inesperadas por parte de instituições das quais temos uma grande expectativa de serem estas, as mais avançadas em termos de propostas e de novos paradigmas. A experiência de mais de vinte e três anos na área da educação especial e dos cinco anos como docente do ensino superior, nos fez refletir sobre a relevância da aproximação entre esses dois campos, considerando principalmente o momento de grandes avanços que perpassam a sociedade. Nos últimos anos, foram bastante intensas as discussões no que se refere à inclusão no ensino fundamental e médio, mas pouco se falou no ensino superior. Contudo mais recentemente esse assunto tem sido trazido com grandes preocupações no âmbito do governo, tornando-se uma das prioridades da atual Política Educacional do MEC, a partir da universalização do acesso ao ensino superior, provocado com isso importante debates e discussões em vários espaços sociais. Ao refletirmos mais profundamente sobre essa questão, nos damos conta de que o acesso ao ensino superior, dos alunos com necessidades educativas especiais, tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, apesar de ainda não ser um número tão significativo, se compararmos com o número geral dos alunos que ingressam na universidade. Isso se justifica pela exigência de um mercado para que essa formação profissional possa melhor qualificar os serviços oferecidos às comunidades, que também tem solicitado maior competência e dinamismo por parte dos mesmos. É a partir dessa constatação que colocamos o foco de nossa análise das questões da inclusão no ensino superior. Partindo do entendimento da deficiência como diversidade humana e o respeito as suas singularidades, exige-se um novo olhar que possa levar em conta o ritmo e estilos de aprendizagem. A luta pela inclusão social tem sido constante na vida das pessoas com deficiências. Podemos verificar isso através de expressivos movimentos sociais que a história nos apresenta. O inicio se dá, à medida que a concepção dos direitos humanos que se fundamenta no reconhecimento da dignidade e na universalidade dos direitos de todas as pessoas, que foi introduzida com a Declaração dos Direitos Humanos. Assim o valor de igualdade e respeito à diversidade e de suas peculiaridades e singularidades, impulsionam o inicio de movimentos que garantam os direitos dessa parcela da população. Já se sabe de antemão que não é o individuo que precisa se adaptar a sociedade, mas sim a sociedade que precisam adaptar-se as especificidades desse sujeito. Entretanto essa não tem sido a realidade enfrentada no cotidiano dessas pessoas. UNIrevista - Vol. 1, n 2: (abril 2006) 2
3 A universidade, que faz parte dessa sociedade, precisa estar preparada para receber adequadamente estudantes com deficiência, bem como mantê-lo com sucesso sem barreiras que levem ao constrangimento do aluno. O desconhecimento e despreparo dos funcionários, professores e alunos sobre essa temática, faz com que aumente os obstáculos do aluno com deficiência, dado as constantes atitudes de discriminação e preconceitos. Mas é obvio que essa exclusão não se dá somente pelas barreiras atitudinais, senão por várias dificuldades demandas pelos alunos portadores de deficiências. Nessa perspectiva também é prioridade que se avance nas questões pedagógicas para que possam beneficiar a todos os alunos independentemente das dificuldades que possam advir de suas limitações. Como diz Marcos Tarciso Masetto sobre a prática docente: Todos os professores querem que seus alunos aprendam, mas nem todos estão atentos a algumas características do processo de aprendizagem(masetto, 2003). Masetto fala das competências pedagógicas do professor de ensino superior que poderão estar contribuindo para o processo de inclusão. O papel do professor não é mais o de mero repassador de informações e técnicas necessárias para determinada profissão, mas de mediador atento às questões referentes ao seu aluno, bem como de suas dificuldades e habilidades. A preocupação do professor que por muito tempo esteve centrada no conteúdo e não nas formas de como esse aluno pode aprender melhor interferiu muito nos possíveis avanços dos alunos com deficiências, os quais com freqüência desistiam de seus objetivos abandonando o ensino superior. Mas nos perguntamos então, como é que esses alunos conseguiam chegar até a universidade? Será que os professores de ensino fundamental e médio estão mais aptos ao ensino de crianças e adolescentes que apresentam alguma deficiência? Ou será que esses alunos foram empurrados para outras séries mesmo sem as devidas condições? A construção de uma política inclusiva para o ensino superior estará garantindo um dos direitos sociais fundamentais, contribuindo desta forma para que esse novo paradigma venha reafirmar o espaço de cidadão, impedindo a desqualificação desse sujeito em sua comunidade. Além disso, não é admissível que os alunos com deficiências tenham que enfrentar cotidianamente os obstáculos usualmente vivenciados nos espaços das universidades, bem como as burocracias inconvenientemente estabelecidas, interferindo muitas vezes no processo de inclusão desse aluno. Sabemos o quanto à educação é essencial para o desenvolvimento intelectual e pessoal de todos os indivíduos. No entanto em se tratando de pessoas com deficiência, ela adquire um caráter prioritário e decisivo para sua inserção na sociedade. UNIrevista - Vol. 1, n 2: (abril 2006) 3
4 Consideramos de extrema valia as iniciativas de parcerias interinstitucionais no âmbito público. Apresentamos aqui a proposta da UERGS 1 e FADERS 2, as quais formalizaram uma parceria com o objetivo de criar o Núcleo de Políticas Inclusivas para apoio do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais. A Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades no Rio Grande do Sul FADERS, entidade de direito privado, vinculada à Secretaria da Educação, criada pela Lei nº 6.616, de 23 de outubro de 1973 e, com as modificações introduzidas pelo Decreto nº , de 23 de agosto de 1999, e sua nova Lei nº , de 06 de setembro de A FADERS é o órgão responsável pela deflagração de uma mudança de paradigmas no tratamento das questões relacionadas a pessoas portadoras de deficiências, negando a posição assistencialista e paternalista adotada até então. Esta Fundação tem como missão propor, articular, coordenar e promover, em conjunto com a sociedade e através da participação desta, a implantação de políticas públicas que garantam a cidadania das Pessoas Portadoras de Deficiência e das Pessoas Portadoras de Altas Habilidades, em todas as áreas de atuação do Estado. A UERGS foi criada pela lei de 10 de julho de 2001, que determina que seus cursos de graduação, de responsabilidade da pró-reitoria de ensino, sejam adaptados às necessidades regionais e planejados para atender as peculiaridades de cada região. Os cursos oferecidos pela UERGS não são necessariamente permanentes, podendo periodicamente ser adaptado a novas necessidades e circunstancias regionais. Esta proposta que se caracteriza pelo compromisso dessas instituições para beneficiar o desenvolvimento de uma universidade para todos, onde juntos buscam uma mudança de pensamento e reformulação de conceitos acerca da deficiência para que se multipliquem os espaços inclusivos e as conquistas sociais, favorecendo assim a elaboração de propostas de políticas públicas viáveis para outras universidades e significativas para esse segmento da população. Como política ela objetiva a inclusão de um grupo historicamente excluído da sociedade e nessa perspectiva propõe o rompimento com esse paradigma, em que os indivíduos deveriam se adaptar aos distintos ambientes. O Núcleo tem com objetivo geral, garantir a todos os alunos com necessidades educacionais especiais o acesso e permanência com sucesso, na universidade sem qualquer discriminação ou preconceito, a fim de promover sua integração social e educacional, priorizando a construção de uma nova relação entre educadores e educandos, para que juntos possam transformar a realidade acadêmica, possibilitando o resgate da identidade e favorecendo o desenvolvimento da autonomia deste sujeito. 1 Universidade Estadual o Rio Grande do Sul 2 Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiências e Altas Habilidades no Rio Grande do Sul. UNIrevista - Vol. 1, n 2: (abril 2006) 4
5 Para que a inclusão incida apropriadamente, será necessário pensar numa adequação do espaço físico da universidade, bem como no apoio acadêmico e a promoção de espaços de discussões referentes a essa temática com professores e alunos para juntos propormos ações que venham contribuir para o processo de inclusão de alunos com deficiências no ensino superior. Para isso precisamos saber qual é a maior dificuldade resultante da deficiência enfrentada para estudar, detectando assim suas limitações e assim poder ajudá-lo nessas especificidades. Isso inclui, a nossa preocupação e olhar para questões mais amplas, como a necessidade de observar os espaços do entorno da própria universidade apontando assim às várias dificuldades encontradas para o aluno chegar até a mesma. Com isso torna-se indispensável à ampliação de articulações com outras instituições para o uso de suportes técnicos que possam facilitar a inclusão desses alunos na sociedade como um todo. Não podemos deixar de lembrar que esse aluno no futuro estará contribuído com o desenvolvimento da região e município, que é um dos objetivos dos cursos específicos criados pela universidade. Por isso nossa proposta é de articulação com gestores municipais da região onde estão inceridas as unidades da UERGS estimulamos a discussão sobre a acessibilidade em seus aspectos gerais, para que, possamos juntos estabelecer prioridades para facilitar o acesso desses alunos na universidade. É preciso ressaltar que no futuro esta comunidade, será também beneficiada com a inclusão desse aluno no mercado de trabalho. Estamos na fase de implantação, mas já realizamos o mapeamento do número de alunos e tipos de deficiências em cada unidade através das matriculas. No momento estamos indo a essas unidades, na perspectiva de fazer um diagnóstico da realidade referente ao processo de inclusão na universidade e que a partir da identificação desse panorama vamos, junto com os professores e alunos, estabelecer prioridades para assim podermos desenvolver ações especificas e de interesse de todos. A metodologia usada para se chegar a um diagnóstico situacional para conhecimento das condições relativas às barreiras para a inclusão, são através de entrevistas com estudantes que apresentam alguma dificuldade, os coordenadores das unidades, os professores e os alunos com deficiências que se evadiram da universidade. O objetivo do foco nos alunos evadidos é para podermos detectar o motivo desse abandono e assim buscarmos novas alternativas para as dificuldades identificadas, caso essas tenham sido motivadas pela universidade. Nosso propósito principal é garantir o acesso e fundamentalmente a permanência do aluno, com sucesso dos alunos com necessidades educativas especiais na UERGS. Para isso é imprescindível também, que se invista no processo de conscientização dos alunos com necessidades educativas especiais sobre a importância do acesso de todos aos bens que a Universidade produz e dispõe independente de suas dificuldades. Outro aspecto que consideramos fundamental para a inclusão desse aluno na universidade é a sensibilização da comunidade acadêmica para as questões referentes à diversidade humana, para o UNIrevista - Vol. 1, n 2: (abril 2006) 5
6 entendimento, valorização e respeito a essa diferença facilitando assim a convivência de todos da forma mais adequada possível. Além disso, será preciso discutir, no âmbito da universidade, o uso de recursos tecnológicos para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiências, perante os desafios da inserção social. Esta preocupação na busca de alternativas para o processo inclusivo dos alunos portadores de necessidades educativas especiais é uma das prioridades dessa universidade e espera-se que no futuro o desenvolvimento dessa proposta possa servir de modelo a outras universidades. Referências CÃMARA DOS DEPUTADOS, Os Desafios do ensino superior e da UERGS, centro de documentação e informação, Brasília. MASSETTO, M.T Competência pedagógica do professor universitário, São Paulo, summus editorial. UNIrevista - Vol. 1, n 2: (abril 2006) 6
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