DALZOTTO, Edilaine & CARNIATTO, Irene Grupo de Pesquisa Monitoramento e Preservação de Ecossistemas, Ciências Biológicas UNIOESTE, Cascavel, PR

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1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ATIVIDADES DE PERCEPÇÃO E INSTRUÇÃO PARA A PRESERVAÇÃO DE NASCENTES EM ÁREAS DEGRADADAS UM DESAFIO PRA CONSTRUÇÃO DA AGENDA 21 LOCAL DALZOTTO, Edilaine & CARNIATTO, Irene Grupo de Pesquisa Monitoramento e Preservação de Ecossistemas, Ciências Biológicas UNIOESTE, Cascavel, PR INTRODUÇÃO Os progressos na modificação das atitudes e do comportamento dos seres humanos dependem fundamentalmente da instrução e sensibilização dos cidadãos, e é na educação que reside uma das principais possibilidades para o problema ser superado, para despertar uma consciência geral na população da necessidade e importância da conservação do ecossistema terrestre (SICK, 1997). Para compreender qual é o conhecimento e o que condiciona os comportamentos de um indivíduo, ou um grupo, em relação ao meio ambiente, é fundamental o estudo da percepção ambiental. Conforme Oliveira (2000), a percepção se define como um conhecimento que o ser humano adquire através do contato com o meio em que vive. A construção do conhecimento acontece durante o estabelecimento de relações no convívio social, tanto na escola quanto em casa, no parque de diversões e até mesmo durante algum passeio pela cidade. Pois este é o momento em que o aluno aprofunda o estudo e faz suas relações, que podem ser realizadas pela exposição dialogada do professor, pela pesquisa teórica, de campo e pela experimentação (VASCONCELLOS, 1992). A EA se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura formar no educando uma consciência crítica sobre a problemática

2 ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais (AMBIENTE BRASIL, 2007). Em função da crescente conscientização sobre a importância da preservação ambiental e do avanço das leis que disciplinam a ação humana sobre as florestas de proteção. As matas ciliares degradadas demandam prioridade para as ações de revegetação e/ou enriquecimento, essas matas tem um papel estratégico na conservação da biodiversidade de flora e fauna e na preservação das águas (NAPPO et al, 2006), e enfatizando que a água é um recurso natural insubstituível para a manutenção da vida saudável e bem estar do homem. Nas últimas décadas o desmatamento de encostas e das matas ciliares, além do uso inadequado dos solos vêm contribuindo para a diminuição da quantidade e qualidade de água (CARVALHO, 2004). Portanto, as atividades realizadas em um ambiente natural, podem revelar os significados e as características do ambiente, pois estas se utilizam de objetos naturais e originais, sendo experiências diretas, ao invés de simplesmente comunicar informação. O estudo do meio leva o aluno a produzir trabalhos onde se obtém informação que auxiliam na sua formação, pois será orientado para a aquisição de atitudes, de observação e de crítica da realidade (ZÓBOLI, 2002). Por isso que o objeto fundamental de estudo é o Meio Ambiente, considerando assim seus aspectos físicos, químicos e biológicos, incorporando, também, toda uma rede de relações sociais, econômicas, culturais, políticas, ecológicas, éticas e estéticas (TELLES et al, 2002). Trata-se assim, de construir uma cultura ecológica que compreenda a relação entre natureza e sociedade e que desta maneira sejam estimulados a construir uma Agenda Ambiental, atendendo aos preceitos da Agenda 21 brasileira.

3 OBJETIVOS Desenvolver pesquisa, atividades de Educação Ambiental e interpretação de trilhas para a sensibilização e reconhecimento da interação existente entre o homem e o meio ambiente, observando fatos como assoreamento na região das nascentes do Rio Cascavel e a construção inadequada de trilhas no parque, contribuindo para a formação de cidadãos comprometidos e participativos na preservação ambiental, atendendo aos preceitos da Agenda 21. METODOLOGIA Ancorado na metodologia do Estudo do meio, Zóboli (2002), CAPRA (2003), PÁDUA e TABANEZ (1998), reconhecem ser essencial um ambiente de aprendizagem rico e multisensorial para que ocorra uma mudança de comportamento e atitude social, sendo que o trabalho com educação ambiental deve contar com atividades que envolvam o aluno em situações de aprendizagem mútua, onde o conhecimento é construído com base em experiências de vida, antigas e novas, que possam servir de exemplos, buscando assim respostas às perguntas surgidas durante a exploração do meio, além de gerar questões que ampliem a investigação sobre o assunto. Com este foco, foi escolhido o espaço educativo do Parque Municipal Danilo Galafassi criado com o intuito da preservação das nascentes do Rio Cascavel, manancial de captação da cidade de Cascavel-PR. Esta área encontra-se inserida no Parque Ecológico Paulo Gorski, no qual existem diversas trilhas, o Lago e o Zoológico Municipal, onde são realizadas atividades como palestras e teatros para estudantes, envolvendo questões de meio ambiente e podem ser observados animais empalhados, rochas, entre outros. Os participantes da pesquisa totalizaram 78 alunos entre 10 e 16 anos das

4 escolas da cidade de Cascavel - PR e de cidades vizinhas, que visitaram o Parque. Como critério de seleção e/ou exclusão foi utilizado a presença do aluno, considerando todos os presentes como participantes da pesquisa. Para sensibilização destes alunos foi realizada entrevista investigando as suas concepções sobre os conceitos ambientais, os impactos gerados pelas suas atividades e as possibilidades de mudança. Mostrou-se na prática os problemas ambientais encontrados durante as atividades na interpretação da Trilha Botânica, escolhida como objeto para o estudo, pois se localiza em torno das nascentes, identificação das áreas que apresentam problemas ambientais, possível origem dos problemas, conseqüências e ações para recuperação. Ao término das atividades foram realizadas as entrevistas com dez alunos participantes do projeto, escolhidos aleatoriamente, a fim de verificar os conhecimentos adquiridos durante as atividades. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das atividades práticas realizadas com os alunos participantes e analisando as respostas obtidas nos questionários, observou-se que existe um distanciamento entre os conhecimentos já adquiridos e expressos pelos alunos e a prática de sua vida cotidiana. Buscando compreender suas concepções sobre o ambiente, foi perguntado: O que você entende por Meio Ambiente? Através das entrevistas e da observação evidenciou-se que, para a maioria dos alunos consultados, a expressão Meio Ambiente (MA) engloba os seres vivos e os aspectos naturais de um lugar, como: água, a vegetação e o ar. Assim 59,3% incluíram todos os fatores que afetam diretamente um ser vivo ou de uma espécie, incluindo a luz, o ar, a água, o solo. 13,5% tem noção que o MA é apenas natureza e 27,1% responderam que são apenas os animais. Os alunos que responderam estas últimas alternativas podem

5 ter sido influenciados pelo local e pelas atividades de EA, realizadas. Pode-se supor também, terem sido influenciados por alguns professores ou até familiares que possuem esta visão de MA. Reigota (1995), realizou um estudo envolvendo professores do ensino fundamental e médio, sobre como eles conceituavam MA, nesse estudo constatouse que a maioria, relaciona MA como sinônimo de natureza. Assim, pode-se dizer que o homem dificilmente se considera elemento da natureza, mas sim como um observador e explorador da mesma, isso explica suas ações exploratórias, cujas consequências são graves (REIGOTA, 2001). Sobre as respostas à pergunta O que você entende por qualidade de vida? Quase todos os alunos possuem uma noção do que é melhor para se viver, sendo que 89,8% marcaram a opção: ter saúde, estar de bem com a vida, com as pessoas que os cercam, e com a natureza. Uma minoria de 10,1% marcou: ter o que quer. Percebe-se assim, que a maioria possui uma visão ampla que envolve tanto os elementos naturais, como aqueles construídos pelo homem, e que estes devem sempre estar em equilíbrio para o bem estar de todos. Com este foco, no PRINCÍPIO 7 segundo o qual os Estados deverão cooperar com o espírito de solidariedade mundial para conservar, proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema da Terra, a EA deve ser entendida como educação política, no sentido que ela objetiva preparar os cidadãos para se relacionarem socialmente e com a natureza, enfatizando a questão por que fazer e como fazer (REIGOTA, 2001). Indagados sobre O que você faz para melhorar o ambiente? A opção mais escolhida foi: separando e reciclando os materiais como o papel, vidro e plástico entre outras coisas, totalizando 77,9% das respostas. Enquanto que 22,03% marcaram a alternativa: reduzindo apenas o uso de energia, procurando sempre apagar as luzes. Embora a utilização dos recursos naturais seja inerente às necessidades de

6 sobrevivência da humanidade, a crescente intervenção do homem sobre a natureza baseada no desejo de dominação aumentou exponencialmente, sem que ao mesmo tempo houvesse uma equivalência na recuperação natural do ambiente. Esse comportamento poderá levar a humanidade a enfrentar sérios problemas ambientais (SILVA, 2006). Portanto é absolutamente vital que todos os cidadãos percebam a necessidade e tomem medidas de apoio a um tipo de crescimento econômico que não seja nocivo à população e ao MA (REIGOTA, 2001). Solicitados a Citar três problemas observados no trecho das trilhas, os mais citados foram: o lixo e o assoreamento na região das nascentes, já que durante o percurso foram observados copos de plástico e papéis, principalmente na ponte sobre o rio Cascavel, muito próximo das nascentes. Portanto, é de extrema importância falar sobre o lixo durante as atividades nas trilhas, enfatizando que resíduos jogados nas ruas são levados pela ação da chuva e dos ventos para os cursos d`água. Na questão Você sabe de onde vem a água que bebemos?, observou-se que muitos alunos não sabem de onde vem a água que abastece a cidade de Cascavel, pois apenas 50,8% responderam que vem do Rio Cascavel, 13,5% marcaram que a água vem de qualquer rio; e 35,5% não sabem. As respostas demonstraram a necessidade de enfatizar a função do Parque como área de preservação das nascentes do Rio Cascavel, que é o manancial de abastecimento do município, destacando sua importância ambiental, econômica, estética e histórica. Indagados sobre Como melhorar a qualidade da água dos rios? Mais de 90% dos entrevistados responderam que a melhor forma é de evitar jogar lixo nas ruas e nos rios. Apesar de ter sido explicado durante a atividade, os alunos registraram outras possibilidades. Este fato pode estar relacionado à falta de uma total compreensão sobre este aspecto o que evidenciou a necessidade de trabalhar mais este tema, num processo de ensino e prática, pois se acredita que as respostas deveriam ter sido mais variadas.

7 Portanto, é necessário que as escolas auxiliem nesta compreensão, já que o parque é um do local privilegiado para a realização de EA, buscando-se enfatizar o estudo do ambiente onde vive o aluno como ponto de partida e referência para levantar os principais problemas e as possibilidades de solução. Com esta análise observou-se que existem preocupações sócio-ambientais, mas que poucos agem de maneira correta, apesar deles saberem muitas vezes como agir. Muitos criticaram a presença de lixo doméstico no manancial, pois estes são levados pelas águas das chuvas através de ligações à galeria pluvial, feitos pela prefeitura, demonstrando assim que compreendem que sua contaminação não ocorre apenas pelas pessoas que visitam o parque. Também, percebe-se que a maioria dos alunos reconhece o risco provocado pela contaminação e que estão dispostos a mudar esta realidade, através da mudança de suas atitudes e idéias relativas à preservação. No seu PRINCÍPIO 10, a agenda 21 firma que toda pessoa deverá ter acesso adequado à informação sobre o ambiente de que dispõem as autoridades públicas, incluída a informação sobre os materiais e as atividades que oferecem perigo em suas comunidades, assim como a oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões. Assim, quanto às atividades de sensibilização realizadas com crianças de 1ª a 4ª séries obtiveram êxito, pois a maioria delas participou e gostou. Um relato interessante foi: professora, achei bem legal a brincadeira, porque dá para sentir a natureza, quando chegar em casa vou brincar de novo. Essas atividades estimulam habilidades de empatia, olfativas e táteis dos participantes, além de liberar a imaginação e a percepção para captar melhor tudo o que se encontra ao nosso redor, segundo recomenda Telles (2002).

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Zoológico Municipal de Cascavel é uma unidade de conservação, para garantir a preservação dos seus recursos naturais. A EA oferece oportunidades de enriquecer o conhecimento sobre este local, sua relação com as atividades humanas e a importância de sua conservação. Uma das atividades mais importantes que o Zoológico apresenta é o trabalho de EA, iniciado na década de 80. Esta atividade vincula os processos educacionais e a realidade, estruturando as atividades em torno de problemas concretos. As preocupações iniciais deste trabalho foram de abranger uma série de questões a serem investigadas, entre elas a importância da relação homem-natureza no contexto atual da Educação Ambiental. Durante as atividades desenvolvidas, as crianças e adolescentes mostraramse preocupadas com a preservação desta unidade e que estão cientes da necessidade de recuperação de algumas áreas. A EA nessas unidades de conservação faz-se necessária pelo fato de auxiliar na conservação do ambiente legalmente preservado (BOCCASIUS, 2001). Com isso a realização de projetos de EA representa um bom caminho para buscar a harmonia na relação homem-natureza, no que diz respeito à conservação da biodiversidade e manutenção dos ciclos ecológicos naturais (CAPRA, 2003). Segundo Dias (2003, p.110) a EA deve chegar a todas as pessoas, onde elas estiverem dentro e fora das escolas, nas associações comunitárias, religiosas, culturais, esportivas e profissionais, ela deve ir onde estão as pessoas. Portanto, este trabalho demonstrou aos participantes, que numa aplicação prática dos preceitos da Agenda 21 Local, a necessidade da diminuição da poluição e recuperação das nascentes, como em todo o ambiente desta região. Destacando os cuidados e as medidas para a recuperação dos nossos mananciais urbanos, os quais sofrem hoje degradação pela contaminação por resíduos sólidos e líquidos.

9 Sendo assim, a EA é o resultado da orientação e articulação de diversas disciplinas e experiências educativas, além de ser facilitadora da percepção integrada do ambiente, possibilitando a ação mais racional, para responder às necessidades sociais. REFERÊNCIAS AMBIENTE BRASIL. Disponível: nteudo=./educacao/educacao.html. Acesso: 05 jun BOCCASIUS-SIQUEIR, André. Odireito ambiental na legislação brasileira: um contributo para o resgate da história. Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambient, Rio Grande, v. 9, n., p , Semestral. Disponível em: < vol9/a15art10.pdf>. Acesso em: 17 maio CARVALHO, L. S. Medidas que Preservam Nascentes e Mananciais. Jornal Sem Limites, Castilho/ São Paulo, Disponível: Acesso: 05 junh CAPRA, F. Alfabetização Ecológica: O desafio para a Educação do século 21. In: TRIGUEIRO, A. Meio ambiente no século ed. Rio de Janeiro, DIAS, G. F. Educação ambiental: Princípios e Práticas. 9 ed. São Paulo: Gaia, 551p., NAPPO, E. M.; GOMES, J.L.; CHAVES, F.M.M.; Reflorestamentos mistos com essências nativas para recomposição de matas ciliares. Disponível:. pdf/bol_30.pdf. Acesso: OLIVEIRA, E. M. Educação ambiental uma possível abordagem. 2 ed. Brasília: ed. IBAMA, 2000.

10 PÁDUA, S. M.; TABANEZ, M.F. Participação comunitária: elemento chave na proteção de unidades de conservação. In: CASCINO, F.; JACOBI, P.; OLIVEIRA, J.F. Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA/CEAM, REIGOTA, M. Meio Ambiente e representação social. São Paulo: Cortez. 87p SILVA, B.S.; CECCON, S.; RISSATO, G.C.; SILVEIRA, R.T.; TEDESCO, D.C.; GRANDO, V.J. Educação Ambiental: Interação no Campus Universitário Através da Trilha Ecológica. Vol. 17, jul/dez SICK, HELMLT. Ornitologia Brasileira. 2º ed. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, TELLES, M.Q.; ROCHA, B.M.; PEDROSO, M.; MACHADO, C.M.S. Vivências integradas com o meio ambiente. Ed. Sá, São Paulo, VASCONCELLOS, C.S. Metodologia dialética em sala de aula. Revista de Educação, AEC. Ano 21.n. 83, abr/jun ZÓBOLI, G. B. Prática de Ensino Subsídios para a atividade docente. Editora Ática, 2002.