Seminário de Projeto Metodologia de Pesquisa em Relações Internacionais
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- Maria do Pilar de Figueiredo da Costa
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1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Prof.: Marco A. C. Cepik Disciplina: PRI 0039 Seminário de Projeto 2006 / 2 o semestre Dois créditos - 30h/a Quarta-feira 14:00 18:00 Seminário de Projeto Metodologia de Pesquisa em Relações Internacionais I Ementa: O objetivo da disciplina é explorar algumas das implicações teóricas e metodológicas do esforço de transformar questões de pesquisa em desenhos de pesquisa. O duplo contexto de validação (lógico e empírico) de qualquer resposta tentativa a uma pergunta relevante sobre o mundo exige dos pesquisadores uma reflexão crítica sobre os aspectos conceituais, técnicos e éticos do esforço de pesquisa em si mesmo. Assim, embora a finalidade prática da disciplina seja evidente (ajudar a preparação de projetos de pesquisa para a redação de dissertações de mestrado em Relações Internacionais), a discussão dos projetos de cada estudante será precedida pela leitura de textos relevantes de metodologia. O texto principal da disciplina será o volume organizado por Detlef Sprinz e Yael Wolinsky- (Models, Numbers & Cases: methods for studying International Relations), publicado em Neste volume, além de contarmos com reflexões sistemáticas sobre os métodos qualitativos (estudos de caso e comparações com poucos casos), métodos quantitativos e métodos formais (sobretudo Teoria dos Jogos), há uma apresentação sistemática dos usos recentes de diferentes metodologias em três áreas de pesquisa em RI, a saber: Economia Política Internacional, Estudos Ambientais e Segurança Internacional. Além da leitura e discussão de Sprinz & Wolinsky- (2004), enfatizaremos a reflexão sobre a lógica da inferência científica e os trade-offs entre validade interna e externa a partir da leitura do volume coletivo escrito por Pennings & Keman & Kleinnijenhuis (Doing Research in Political Science: na introduction to comparative methods and statistics), publicado em Finalmente, a reflexão sobre o significado da metodologia e da pesquisa para o avanço teórico e a sustentabilidade de programas de pesquisa será feita a partir da leitura e discussão de um texto de Imre Lakatos (História da Ciência e suas Reconstruções Racionais), publicado em português apenas em II - Procedimentos didáticos: Estão previstas oito semanas de trabalho, com quatro horas-aula em cada semana. As aulas serão expositivas, mas espera-se uma participação ativa dos alunos e a leitura prévia dos materiais indicados. A avaliação será feita por meio da apresentação, no último dia de aula, de um projeto de pesquisa em Relações Internacionais. Além das leituras obrigatórias que constam no programa (item III), na seção sobre Bibliografia (item V) estão sugeridas algumas leituras adicionais de filosofia da ciência, metodologia e técnicas de estudo, elaboração de projetos e redação de trabalhos acadêmicos. A discussão dos projetos dos estudantes será feita seguindo o modelo de exercício de metodologia desenvolvido pelo professor Bruno Reis (Departamento de Ciência Política da UFMG), cujo roteiro encontra-se no item IV. 1
2 III Programa: Semana Tópico Autor/Páginas 1 Leis, hipóteses, teorias: notas sobre metodologia e desenhos de pesquisa Pennings & Keman & Kleinnijenhuis (2003: 02-72) Van Evera (1997:07-48) 2 Discussão dos Projetos de Pesquisa 3 Estudos de Caso e Pesquisa em Relações Internacionais 4 Métodos Quantitativos e Pesquisa em Relações Internacionais 5 Métodos Formais e Pesquisa em Relações Internacionais Sprinz & Wolinsky- (2004: ) Sprinz & Wolinsky- (2004: ) Sprinz & Wolinsky- (2004: ) 6 Integrando Teoria e Método Sprinz & Wolinsky- 7 Discussão dos Projetos de Pesquisa 8 Discussão dos Projetos de Pesquisa (2004: ) Lakatos (1998:11-114) 2
3 IV Roteiro para Exercício de Metodologia: Bruno Reis (2007) 1. Enuncie a pergunta a ser respondida (o seu problema). Se você não tiver ainda definido com precisão o problema de que pretende se ocupar na dissertação, não se preocupe: é legítimo e quase saudável, a esta altura. Mas invente um, que será o seu problema nesta disciplina. Lembre-se: ele deve ser formulado como uma pergunta. 2. Reflita descritivamente sobre as categorias conceituais empregadas na pergunta. Esboce as taxonomias que contêm as categorias relevantes à sua pergunta. Em seguida, delineie os atributos que permitiriam classificar algum conjunto de fenômenos ou objetos no interior de cada categoria (ou seja, defina as categorias relevantes). 3. Reflita analiticamente sobre as categorias lógicas empregadas na pergunta. Elas efetivamente descrevem com precisão os nexos que você pretende postular (ou contestar) entre os conceitos envolvidos? Lembre-se de que a escolha das palavras na formulação de um problema não é trivial, e tem implicações sobre o desenho da pesquisa. 4. Com base nas inevitáveis hesitações que terão permeado o esforço de responder as três primeiras questões, explicite aqui uma ou duas formulações alternativas do seu problema que você terá chegado a imaginar. Porque você acabou por preferir a sua? Especule: por que razões alguém poderia vir a preferir alguma das formulações alternativas? 5. Identifique um conjunto de proposições que a sua pergunta, tal como se encontra formulada, presume serem verdadeiras (ou seja, identifique algumas premissas de que você parte). Justifique a razoabilidade de suas premissas e, acima de tudo, certifiquese de que elas não estejam respondendo de antemão à sua pergunta (ou, dito de outro modo, que elas não estejam comprometendo previamente o seu trabalho com a aceitação de uma hipótese específica como solução do seu problema). 6. Isto pode soar trivial, mas não é: lembre-se de que a sua pergunta deve admitir em princípio mais de uma resposta. Quais seriam as respostas logicamente plausíveis que você consegue imaginar para a sua pergunta? Dito de outro modo, enumere algumas hipóteses concebíveis para a solução do seu problema. Feito isso, escolha a sua preferida: seu melhor palpite para a resposta da pergunta, a solução do seu problema em que você preliminarmente acredita (sua hipótese de trabalho). Dentre as demais respostas concebíveis, aponte agora aquela hipótese que você julga contrariar mais crucialmente a sua própria: aquela que você quer contestar a sua, digamos, hipótese rival. Explicite as razões pelas quais você julga que essa outra hipótese é a rival crucial da sua hipótese de trabalho. 7. Identifique variável independente e variável dependente em sua hipótese de trabalho. 8. Agora, antes de prosseguir, detenha-se por um momento e pergunte-se, em termos puramente especulativos, não empíricos, por que você acredita na sua hipótese de trabalho? Por que lhe parece razoável em princípio atribuir o comportamento da sua variável dependente à variável independente que você escolheu? Quais seriam os mecanismos a que você atribuiria a vinculação aqui postulada entre essas duas variáveis? Como eles vinculam as duas variáveis? Em suma, esboce em poucas linhas a teoria subjacente à sua hipótese de trabalho e, só para não perder o hábito, bem rapidamente, também aquela subjacente à hipótese rival. 9. Aponte alguns falseadores potenciais da sua hipótese, ou seja, eventos que, se acontecerem no mundo, te farão acreditar que a sua hipótese está errada. Reflita: esses eventos te fariam acreditar na hipótese rival? Faça agora o experimento mental oposto, e imagine falseadores potenciais da hipótese rival. Em que medida eles constituiriam uma corroboração da sua hipótese de trabalho? 10. Comece agora a esboçar o desenho de sua pesquisa. Imagine maneiras de você testar a sua hipótese contra o mundo real. Que perguntas você faria ao mundo para tentar estabelecer se a sua hipótese de trabalho é verdadeira ou falsa? Em outras palavras 3
4 (mais precisamente): o que você buscaria observar no mundo, para procurar saber se sua hipótese está correta ou não? 11. Como você observaria essas coisas? Em outras palavras: imagine uma maneira de você operacionalizar empiricamente as suas variáveis, ou seja, identificar no mundo diferentes formas de se manifestarem as variáveis, diferentes valores que elas podem assumir (isto pode ser uma mensuração quantitativa ou não mas lembre-se: uma variável deve variar...). 12. Esboce o desenho da pesquisa usando O s (para diferentes observações da variável dependente) e X s (para tratamento, ou seja, o momento de operação do nexo entre a variável independente e a dependente). 13. Em que medida o seu desenho elimina explicações (hipóteses) alternativas à sua? Ou seja, digamos que dê tudo certo, e a sua hipótese se veja corroborada pelos dados empíricos produzidos na observação do seu caso: o que poderia, ainda assim, ter saído errado? Que outra hipótese (imaginada ou não nas questões anteriores) seria ainda consistente com os mesmos dados? 14. Especifique um desenho alternativo que também poderia ser usado para se tentar responder à sua questão. E procure assegurar-se de que ele poderia eliminar a maldita hipótese que sobreviveu ao desenho anterior. Lembre-se, porém, de que nenhum desenho elimina todas as conjecturas alternativas Explique em quê o desenho afinal escolhido é melhor e pior que o desenho alternativo. O que é que cada um controla e o outro não? 16. Mais especificamente, avalie em que medida os variados tipos de ameaças à validação são eliminados ou não pelo desenho escolhido (e pelo desenho alternativo). 17. Descreva o desenho adotado agora com palavras, para uma pessoa normal... Faça de conta que você está escrevendo para um amigo seu que nunca tenha estudado metodologia científica. Faça-o entender a maneira como a pesquisa aqui desenhada o ajuda a resolver o problema que você se propôs. 18. Lembre-se de que mecanismos teóricos e nexos causais não são diretamente observados, mas sim inferidos. Em última análise, porém, o que de fato importa do ponto de vista da ciência não é tanto a sobrevivência ou não da sua hipótese, mas sobretudo a teoria que resulta ainda que de maneira um tanto indireta do experimento. Situe o seu problema no contexto mais amplo da literatura corrente, e responda: por que sua pesquisa deveria ser feita? 4
5 V Referências Bibliográficas: BABBIE, Earl. (1999). Métodos de Pesquisa de Survey. Belo Horizonte, ed. UFMG. [1997]. BAUER, Martin W. & GASKELL, George. (2000). Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: um manual prático. Petrópolis-RJ, Vozes. BLOSSFELD, Hans-Peter & PREIN, Gerald [ed.]. (1998). Rational choice theory and large-scale data analysis. Oxford, Westview Press. [parte três, páginas ] CHALMERS, Alan F. (1982). What s this thing called science? London, Routledge. 2nd edition revised. CHALMERS, Alan F. (1994). A Fabricação da Ciência. São Paulo, Unesp. [1990]. ECO, Umberto. (1989). Como se faz uma tese. São Paulo, Editora Perspectiva. ELSTER, Jon. (1994). Peças e engrenagens das ciências sociais. Rio de Janeiro, Relume-Dumará. FERNANDES, Antônio Sérgio Araújo. (2002). Path Dependence e os Estudos Históricos Comparados. BiB Revista Brasileira de Informação Bibliográfica, São Paulo, número 53, 1 o semestre de 2002, pp FRANÇA, Julia Lessa & VASCONCELLOS, Ana Cristina de. (2004). Manual para Normalização de Publicações Técnico-Científicas. Belo Horizonte, Editora UFMG. GEDDES, Barbara. (2003). Paradigms and Sand Castles: theory building and research design in comparative politics. Ann Harbor-MI, The University of Michigan Press. GEORGE, Alexander L. & BENNETT, Andrew. (2004). Case studies and theory development in the social sciences. Cambridge, MA, Belfer Center for Science and International Affairs. GOODIN, Robert E. & KLINGEMANN, Hans-Dieter. [ed.]. (2000). A new handbook of Political Science. Oxford-UK, Oxford University press. [parte IV, páginas , e parte VII, páginas ] GRANGER, Gilles-Gaston. (1994). A Ciência e as Ciências. São Paulo, Unesp. KING, Gary and KEOHANE, Robert O. and VERBA, Sidney. (1994). Designing Social Inquiry: Scientific Inference in Qualitative Research. Princeton-NJ, Princeton University Press. KUHN, Thomas S. (1989). A tensão essencial. Lisboa, Edições 70. LAKATOS, Imre. (1979). O Falseamento e a Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica. In: LAKATOS, Imre & MUSGRAVE, Alan. [orgs]. (1979). A Crítica e o Desenvolvimento do Conhecimento: quarto volume das atas do Colóquio Internacional sobre Filosofia da Ciência, realizado em Londres em São Paulo, Cultrix/Edusp. Páginas LAKATOS, Imre. (1998). História da Ciência e suas Reconstruções Racionais. Lisboa, Edições 70. LANE, Jan-Erik & ERSSON, Svante. (1994). Comparative Politics: an introduction and new approach. Cambridge-MA, Polity Press. LAVILLE, Christian & DIONNE, Jean. (1999). A Construção do Saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre-RS, Artmed/Editora da UFMG. 5
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