AGROTÓXICOS, SAÚDE PÚBLICA E OS LIMITES DOS ATUAIS SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO DE INTOXICAÇÕES. ANÁLISE PRELIMINAR SOBRE O ESTADO DO PARANÁ

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1 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente 19 a 23 de Outubro de Belo Horizonte 1 Eixo 1. Desenvolvimento socioeconômico e conflitos territoriais AGROTÓXICOS, SAÚDE PÚBLICA E OS LIMITES DOS ATUAIS SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO DE INTOXICAÇÕES. ANÁLISE PRELIMINAR SOBRE O ESTADO DO PARANÁ Autores: Eleonora Escobar Tosetto. Mestranda em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável - Universidade Federal da Fronteira Sul - UFSS. eleonoraet@hotmail.com Pedro Ivan Christoffoli. Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS. pedroivanc@gmail.com

2 2 RESUMO O artigo tem por objetivo analisar se os sistemas oficiais de notificações de intoxicações por agrotóxicos permitem mensurar no Estado do Paraná os impactos causados na saúde humana. Será abordado como o conceito de desenvolvimento atrelado ao sinônimo de crescimento econômico, afetou a agricultura no Brasil que mercantilizando os bens da natureza impuseram aos agricultores um pacote agrícola que os expõe a produtos químicos que podem além de causar intoxicações agudas e trazer danos crônicos à saúde física e mental. O artigo é fruto de um projeto de pesquisa em andamento no curso de Mestrado vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Laranjeiras do Sul (PR). Palavras chave: Saúde. Ambiente. Desenvolvimento

3 3 AGROTÓXICOS, SAÚDE PÚBLICA E OS LIMITES DOS ATUAIS SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO DE INTOXICAÇÕES. ANÁLISE PRELIMINAR SOBRE O ESTADO DO PARANÁ Eleonora Escobar Tosetto Pedro Ivan Christoffoli INTRODUÇÃO No atual sistema econômico onde não se consideram limites para o crescimento, com produção regulada pela demanda e com necessidades ilimitadas, parece natural que no meio rural sejam implantadas, a qualquer custo, alternativas que contribuam para o aumento da produtividade, tendo em vista que os recursos naturais são limitados. Em um paradigma onde desenvolvimento seja sinônimo de crescimento econômico e este, expresso pelas taxas do produto interno bruto, torna-se uma meta permanente o aumento da produtividade agrícola, através da mecanização, da biotecnologia, da seleção de variedades com maior rendimento potencial e da ampla utilização de agrotóxicos. Busca-se neste trabalho preliminar questionar os benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos ocorridos na agricultura ao longo do tempo, no sentido de discutir a quem dominantemente este desenvolvimento serve e quais os riscos de natureza social e ambiental eles podem ocasionar, contribuindo para despertar novos paradigmas sobre o termo desenvolvimento. O presente estudo surge a partir de um questionamento inicial: Seria possível dimensionar, no Estado do Paraná, os impactos na saúde humana causados por intoxicação por agrotóxicos através das consultas aos sistemas oficiais de notificações? A partir dessa questão buscaram-se os dados e os resultados foram desapontadores, devido às baixíssimas notificações encontradas. OBJETIVOS O presente artigo tem como objetivo abordar como o termo desenvolvimento rural, está relacionados com os temas agrotóxicos e saúde e discutir se os sistemas oficiais de notificação são capazes de dimensionar os impactos causados na saúde humana no Estado do Paraná MÉTODO

4 4 Este artigo foi organizado em três partes, primeiramente consultado os referenciais bibliográficos sobre os temas: desenvolvimento rural, agrotóxicos e saúde e posteriormente consultados os dados dos sistemas oficiais de notificação sobre intoxicação por agrotóxicos. Com base neste dados consultou-se, no Estado do Paraná, as políticas públicas voltadas a vigilância das populações expostas à agrotóxicos. AGROTÓXICOS E SAÚDE O Protocolo de Atenção à Saúde dos Trabalhadores Expostos a Agrotóxicos destaca que além dos trabalhadores rurais a população em geral também está exposta aos agrotóxicos, seja através de resíduos em alimentos, de contaminação ambiental ou acidental. (BRASIL, pg. 04). A avaliação e análise das condições de exposição aos produtos químicos em geral, e aos agrotóxicos em particular, representam um grande desafio aos estudiosos da relação saúde, trabalho e exposição a substâncias químicas, tendo em vista que poucos dados existem sobre seus impactos a longo prazo na saúde humana pois esbarra-se em métodos e instrumentos clínicos que orientem os impactos na saúde decorrentes de exposição prolongadas ao uso de agrotóxicos. Além da subnotificação em relação às intoxicações agudas por agrotóxicos, uma atenção especial deveria ser dada às intoxicações crônicas, que apesar de se acreditar serem em número muito elevado, são pouco conhecidas. (Bochner, 2007, p.87). O Ministério da Saúde classifica intoxicações crônicas como o surgimento tardio, após meses ou anos, por exposição pequena ou moderada a produtos tóxicos ou a múltiplos produtos, acarretando danos muitas vezes irreversíveis nos indivíduos expostos (BRASIL, 2006, p. 16). Acontece que esse tipo de dados encontra-se subnotificado e invisível nas estatísticas do Sistema Único de Saúde. Entretanto, se pode afirmar que os componentes químicos apresentam risco à saúde humana e estes riscos estão descritos pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Soma-se a isso o fato que muitos agrotóxicos proibidos em outras partes do mundo devido a impactos na saúde são liberados para comercialização no Brasil. (ABRASCO, 2012). RESULTADOS

5 5 Agrotóxicos, saúde pública e os limites dos atuais sistemas de notificação. Com a finalidade de analisar se os sistemas oficiais de notificação possibilitam mensurar os impactos na saúde gerados pela exposição aos agrotóxicos foi efetuada consulta nos principais sistemas de registros de intoxicações por agrotóxicos no Brasil. Foram consultados online os sistemas SINITOX, e o sistemas do Ministério da Saúde de Internações Hospitalares (SIH/SUS). O SINITOX- Sistema Nacional de Informação Tóxico-farmacológicos está disponibilizado no site da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e tem como principal atribuição coordenar a coleta, a compilação, a análise e a divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados no país (FIOCRUZ, 2014). Os dados nacionais e regionais disponíveis abrangem o período de 1999 a Ao analisar os dados regionais do ano de 2010 sobre intoxicações humanas por agentes tóxicos, pode-se observar que nenhum caso foi notificado 1 nas regiões de Cascavel, Curitiba, Maringá e Florianópolis. No ano de 2010 apresentam notificações apenas as regiões de Londrina e Porto alegre e em 2011 apenas Porto Alegre. Para ilustrar disponibilizamos no presente resumo os dados referentes a Tabela 1 Casos registrados de intoxicação humana por agente tóxico Região Sul, Obviamente trata-se de algum problema de outra ordem que não a inexistência de intoxicações nessas regiões. Possivelmente não houve lançamento de dados no sistema nacional. 1

6 6 Agrotóxicos, saúde pública e os limites dos atuais sistemas de notificação. Tais dados causam estranheza, uma vez que essas se constituem nas principais regiões produtoras agrícolas do estado do Paraná. Para elucidar essa questão, buscou-se a seguir identificar as notificações de intoxicações nas internações hospitalares e as morbidades. Utilizou-se dos dados que estão categorizadas na Classificação Internacional de Doenças, CID 10, no sub grupo X48 - Envenenamentos por exposição a pesticidas, X68 Auto intoxicação intencional a pesticidas, X87 Agressão por Pesticidas e Y18 Envenenamento por exposição a pesticidas de intenção não determinada. Os dados foram analisados no período de 2008 a Nesse interregno houve 492 internamentos pelas causas selecionadas, relacionadas à intoxicação por pesticidas. Tabela 2- Internações por ano processamento segundo Causas Externas- Paraná Através de consulta ao sistema SINITOX compilou-se os dados de 2008 a 2011 das notificações de intoxicações informadas pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica nas Regionais de Cascavel, Maringá Londrina e Curitiba, com a finalidade de obterem-se os dados do Paraná a fim de comparar-se com os dados de internamentos hospitalares. Tabela 3- Casos Registrados de Intoxicação Humana por agente: Agente TOTAL Agrotóxicos/ Uso Agrícola Agrotóxicos/Uso doméstico TOTAL FONTE: MS/Fiocruz/SINITOX (elaborado pelo autor) Observa-se que nesta tabela não foram registrados casos de intoxicação no ano de 2011 em nenhum dos Centros de Informação e os Centros de Cascavel e Maringá não realizaram nenhuma notificação no período analisado

7 7 Agrotóxicos, saúde pública e os limites dos atuais sistemas de notificação.. É importante ressaltar saltar que a capital do Estado, Curitiba não informou nenhuma notificação no ano de e GRÁFICO 1- Internações hospitalares intoxicações por pesticidas (X48,X68,X87 e Y18) e Casos Registrado SINITOX /Período: Fonte: elaborado pelo autor Dado que o número de casos registrados no SINITOX foi maior do que o das internações hospitalares (SIH/SUS), pode-se deduzir que nem todas as intoxicações necessitaram de internação hospitalar. Ainda assim, entretanto, o número de registros no SINITOX aparenta encontrar-se subnotificado devido ao fato de que diversos Centros de Informação e Assistência Toxicológica não apresentaram os dados anuais. Diante desta subnotificação no sistema SINITOX analisaram-se dados do SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde referente as notificações de intoxicações no município de Laranjeiras do Sul no período de 2008 e 2013 e este apresentou dados de intoxicações em todos os anos analisados, o que leva a comprovar o fato de erros graves na metodologia de alimentação dos sistemas nacionais e do descaso com que estados e o governo federal tratam da questão. Tabela 4- Laranjeiras do Sul (PR). Notificações de intoxicação por produtos agrotóxicos. Fonte: Prefeitura Municipal de Laranjeiras do Sul. Elaboração dos autores.

8 8 Tais elementos contribuem para consolidar a visão de que o atual sistema de controle de notificações de intoxicações por agrotóxicos é vulnerável, sujeito a lacunas de comunicação e registro e não vem sofrendo auditorias por parte dos órgãos de saúde em vista de identificar a gravidade ou não da situação no território nacional. Diante deste panorama, em 2013 a Secretaria de Estado do Paraná criou o Protocolo de Avaliação das Intoxicações crônicas por Agrotóxicos (SESA, 2013), como parte das ações do enfrentamento aos impactos dos agrotóxicos na saúde pública. Este Protocolo é parte integrante do documento Vigilância das Populações Expostass a Agrotóxicos e faz parte das 14 estratégias que serão executadas no Paraná nos próximos dois anos, uma proposta da saúde pública do Estado em aperfeiçoar os profissionais de saúde da atenção básica para atendimento, diagnóstico e vigilância dos casos de intoxicações crônicas por agrotóxicos, até então invisíveis nos dados do Ministério da Saúde. CONCLUSÃO A busca pelo aumento da produtividade sob o pretexto de acabar com a fome no mundo alterou a base tecnológica produtiva impactando nos paísess em desenvolvimento que amplamente incorporaram os conceitos da Revolução Verde pautados na mecanização, monocultura, plantas altamente selecionadas e uso de defensivos agrícolas. Como resultado houve aumento de produção e produtividade na agricultura, no entanto, o uso de agrotóxicos foi aumentado significativamente, resultando em aumento da periculosidade e com potencialidade de resultar em riscos graves à saúde pública, através de agravos agudos e crônicos que ainda apresentam dificuldades de serem mensurados pelos órgãos de saúde pública.

9 9 Agrotóxicos, saúde pública e os limites dos atuais sistemas de notificação. As consultas realizadas nos sistemas de notificações de intoxicação por agrotóxicos SINITOX e SHI/SUS, relacionados a notificações e internamentos além de apresentaram subnotificações ainda demonstraram que por não estarem interligados apresentam divergências no número de notificações de intoxicações agudas. Buscou-se demonstrar essa inexatidão dos dados oficiais através de cruzamento indireto de dados com um terceiro sistema, o SINAN onde, ainda que aplicado a uma região limitada do território paranaense, o município de Laranjeiras do Sul, identificou uma enorme discrepância de dados com os registros estaduais e nacionais sobre o tema. Através das análise dos dados de diferentes sistemas de notificação constatou-se que há divergência de informações e nenhuma interligação entre eles. Percebe-se a dificuldade de se mensurar os impactos na saúde humana decorrentes da exposição aguda aos agrotóxicos. Soma-se a este fato que nenhum sistema apresenta dados de intoxicações crônicas. Tais fatos ainda são agravados, devido à ausência de instrumentos clínicos no campo da toxicologia que possibilitem e orientem o diagnóstico das intoxicações crônicas decorrentes da exposição aos agrotóxicos e que atualmente encontram-se invisibilizados nos sistemas de notificação. A relevância do tema agrotóxicos e os impactos na saúde humana, a iminente necessidade em monitorar e minimizar os impactos dos agrotóxicos na saúde das populações expostas coloca uma questão relevante em torno da reestruturação do sistema de monitoramento e notificação de intoxicações, para que as bases públicas de dados se interliguem entre si e forneçam subsídios para o planejamento de ações de saúde pública que visem a contribuir na garantia dos direitos à saúde de todos. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ABRASCO Dossiê Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde. Carneiro, F. F.; Pignati, W.; Rigotto, R, M.; Augusto, L. G. S.; Rizzolo, A.; Faria, N. M. X.;Alexandre, V. P.; Friedrich, K.; Mello, M. S. C. Rio de Janeiro: ABRASCO, p. Bochner, ROSANY Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas - SINITOX e as intoxicações humanas por agrotóxicos no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 12(1) 73-89, Disponível em: Acesso 14 de julho de 2014 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Política nacional de ciência, tecnologia e inovação em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência,

10 Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Ciência e Tecnologia 2. Ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, p. (Série B. Textos Básicos em Saúde). 10. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo de atenção à saúde dos trabalhadores expostos a agrotóxicos, Disponível em: cos.pdf. Acesso em 08 de Maio de Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Vigilância em Saúde. Glossário temático: promoção da saúde / Ministério da Saúde. Secretaria- Executiva.Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).Ministério do Meio Ambiente, Agenda 21. Disponível em: Acesso 10 de Maio de 2014).Portal Brasil. Caderno exportações Disponível em: Acesso em 11 de Maio de 2014 DATASUS/SIH. Morbidade hospitalar por causas externas e por local de residência - desde In: Ministério da Saúde DATASUS. Disponível em: Acesso em 20 de julho de DATASUS/SINAN. Intoxicação por agrotóxico - Notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN. Disponível em: Acesso em 31 de Julho de FIOCRUZ- SINITOX- Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas Disponível em: Acesso em 16 de Julho de 2014 OMS, Organização Mundial de Saúde, Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO), 1946 Disponível em: Acesso em: 10 de julho de 2014 ONU, Organização das Nações Unidas, Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Disponível em: acesso, 10 de julho, 2014 SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.p.55