Organismos Geneticamente Modificados
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1 Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Ciência, Tecnologia e Inovação Biotecnologia Organismos Geneticamente Modificados Breve Panorama da Soja Transgênica no Brasil e no Mundo Antônio Carlos Roessing Londrina, PR 2004
2 2 Biotecnologia
3 Roessing et alii (200X) citam que desde 1971, quando foi desenvolvido o primeiro organismo geneticamente modificado, a biotecnologia tem tomado lugar de destaque na agricultura mundial. Análises preliminares indicam que existem significantes e múltiplos benefícios do uso de culturas geneticamente modificadas, entre eles, podem ser considerados: i) o aumento da produtividade, ii) a possibilidade de redução dos custos de aplicação de inseticidas e herbicidas, iii) o melhor controle da plantas daninhas, iv) as menores quantidades de resíduos de herbicidas no solo, e v) a maior flexibilidade no manejo da cultura. De acordo com estes autores, em 1997 a área global sob culturas transgênicas era de 12,8 milhões de hectares, 4,5 vezes os 2,8 milhões de hectares de Considerando-se todas as culturas, a proporção de área com transgênicos nos países industrializados aumentou de 57%, em 1996, para 74%, em 1997, e é quase 4 vezes maior do que área destinada a esta cultura em países em desenvolvimento (7,9 milhões contra 2 milhões de hectares). Roessing et alii (200X) acrescentam que a cultura transgênica mais difundida no mundo, atualmente, é a de soja resistente a herbicida, seguida pelas culturas de milho Bt, algodão Bt e canola resistente a herbicida. Citam, ainda, que o plantio de soja e milho contribuiu com 75% do aumento global de transgênicos, entre 1996 e 1997, e os transgênicos tolerantes a herbicidas foram responsáveis por 63% (6,2 milhões de hectares) do aumento global na utilização de culturas geneticamente modificadas, no mesmo período. Já a resistência a insetos contribuiu com 29% e a resistência a vírus com 7% do aumento total. Dados da pesquisa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), em Roessing et alii (200X), mostram que, nas safras de 2000, 2001 e 2002 dos Estados Unidos, as médias das áreas totais com o uso da soja com o gen Roundup Ready, resistente ao herbicida glyphosate, foram de 54%, 68% e 75%, respectivamente. No caso da Argentina, a adoção foi maior: partindo, em 1997, de 0,25%, chega em 2000/2001 a 90% a 95% do total. A partir da Tabela 1, é possível observar que, a despeito de ainda não se ter obtido a liberação do plantio da soja transgênica no Brasil, ao final do mês de abril de 2003, o País apresentou, nos últimos 10 anos, uma taxa anual de crescimento de área e de produção deste cultivo de 2,83% e 6,23%, respectivamente, sendo 3
4 que no que tange à produção, o Brasil superou a taxa mundial de 4,93%, no período. De acordo com estes dados, os estados brasileiros que apresentaram as maiores taxas de crescimento de área e produção de soja transgênica, nos últimos 10 anos, foram: Bahia, Mato Grosso, Goiás e Paraná, com: 12,6%/15,8%; 7,18%/9,88%; 4,73%/9,7%; 3,95%/7,35% ao ano, respectivamente. Tabela 1 - Taxa de crescimento anual da área e produção de soja % Área Produçã Estado/País o Mato Grosso 7,18 9,88 Mato Grosso do -0,85 2,03 Sul Goiás 4,73 9,7 Minas Gerais 1,44 4,8 Bahia 12,6 15,8 São Paulo 0,51 2,78 Paraná 3,95 7,35 Rio Grande do -0,68 2,65 Sul Brasil 2,83 6,23 Estados Unidos 2,82 3,93 Argentina 6,84 7,35 China 1,41 3,72 Índia 7,94 8,62 Mundo 3,23 4,93 Fonte: Roessing, A. et alii (200X). A respeito da produtividade do cultivo de soja transgênica, Roessing et alii (200X) mostram, a partir da Tabela 2, que o Brasil registrou,, a maior taxa de crescimento de produtividade do mundo, 3,4% ao ano, entre os anos de 1990 e 2000, muito acima da taxa mundial de 1,7% para o período. De acordo com estes dados, os estados brasileiros que apresentaram as maiores taxas de crescimento de produtividade no período foram: Santa Catarina, Goiás, Minas Gerias e Rio Grande do Sul, com 6,53%, 4,97%, 3,36% e 3,33% ao ano, respectivamente. 4
5 Tabela 2 - Taxa de crescimento anual da produtividade de soja (%) Estado/País Mato Grosso 2,7 Mato Grosso 2,88 Goiás 4,97 Minas Gerais 3,36 Bahia 3,2 São Paulo 2,27 Paraná 3,4 Santa Catarina 6,53 Rio Grande do 3,33 Brasil 3,4 Estados Unidos 1,11 Argentina 0,51 China 2,31 Índia 0,68 Mundo 1,7 Fonte: Roessing, A. et alii (200X). Roessing, A. (200X) cita que a disposição ao uso de sementes do cultivo de soja resistente ao glyphosate pelos produtores brasileiros é diferente nas diversas regiões produtoras do País. De acordo com o autor, já existe plantio de soja RR em mais de 90% da área de cultivo do Rio Grande do Sul, o que significa que os custos de produção levantados para esta região são referentes à soja transgênica. No entanto, a partir da safra 2003/2004, os produtores passaram a pagar royalties ao detentor da patente, no valor de R$ 0,60/saca de 60 kg. Além disso, acrescenta que, a não ser que haja segmentos de mercado para soja diferenciada, com preços diferenciados (soja orgânica, soja específica para alimentação humana), a tendência é de que a área total do estado passe a ser semeada com soja transgênica. Roessing (200X) propõe uma comparação dos custos entre o plantio de soja convencional e não convencional no Rio Grande do Sul, a exemplo da região produtora de Palmares das Missões, como pode ser observado nas Tabelas 3 e 4. 5
6 Para tanto, foram considerados os custos da safra 2003/2004 em comparação com um custo de produção anterior de soja convencional, corrigindo-se os preços das máquinas e insumos. Tabela 3 - Plantio Convencional - Palmares das Missões/RS (Safra 2003/2004) (resultados por hectare) Fixo Variável Total R $ 192, , ,58 % 15,7 84,3 100 Fonte: Roessing, A. (200X). Tabela 4 - Plantio Transgênico - Palmares das Missões/RS (Safra 2003/2004) (resultados por hectare) Fixo Variável Total R$ 197,09 893, ,60 % 18,1 81,9 100 % rel. convencional -2,4 15,63 15,1 Fonte: Roessing, A. (200X). É possível observar que o plantio transgênico excede o convencional em 2,4% de seu custo fixo de produção. Já com relação ao custo variável, ocorre uma diferença de custo de 15,63%, o que confere ao produtor uma economia em custos totais de 15,1%. É importante mencionar a taxa tecnológica calculada está aquém do que pretende cobrar o detentor da patente, US$ 20,00/ha ou cerca de R$ 60,00/ha, o que faz com que a diferença entre os custos do plantio convencional e transgênico seja menor. Contudo, Roessing (200X) cita que as vantagens e desvantagens entre o plantio de soja transgênica e o convencional transcendem a simples planilha de custos, tornando-se tema extremamente polêmico quando são considerados os efeitos a longo prazo. 6
7 De acordo com o autor, em outros estados, todos os produtores foram unânimes em afirmar que, caso fosse liberado o plantio, utilizariam, no mínimo 30% de sua área para soja RR, com ressalva dos estados do Mato Grosso, norte do Mato Grosso do Sul e Goiás, que apresentaram preocupação com a aceitação do produto pelo mercado. Acrescenta que, no entanto, quando estes agricultores verificam a pauta de importações da China e União Européia, composta por 50% de soja transgênica, a preocupação com o mercado diminui. Roessing (200X) acredita que se houver liberação do plantio da soja transgênica, sem desestruturação do sistema de produção de sementes, e com taxa tecnológica compatível, haverá área significativa dessa cultivar no Brasil, podendo chegar, em apenas três safras, a mais de 60% da área, como aconteceu na Argentina. De qualquer maneira, como assinalam Roessing et alii (200X), o uso de organismos geneticamente modificados é, sob o ponto de vista científico, mais um grande passo em direção à substituição da massiva utilização da química fina tanto na agricultura como no tratamento dos seres humanos. Para estes autores, a polêmica que se criou em torno da soja RR é natural, principalmente pelo fato de que é uma tecnologia que está ligada à venda de um produto químico (herbicida), envolvendo considerável valor econômico. No entanto, a utilização de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) na agricultura não se restringe a plantas resistentes a herbicidas, mas pode ter aplicação bastante ampla no futuro, como na resistência a doenças, resistência a pragas, estabilidade de produção, tolerância a estresse hídrico, tolerância a alumínio tóxico, melhoria de qualidade nutricional e outros. 7
8 Referências ROESSING, A.; LAZZAROTTO, J.; MELLO, H. Soja transgênica - perspectivas do crescimento da produção diante da liberação do plantio comercial. ROESSING, A. Soja transgênica no Brasil Considerações. 8
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