ATENDIMENTOS POR INTOXICAÇÕES EXÓGENAS NO ESTADO DE SERGIPE
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- Micaela de Sousa Cortês
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1 ATENDIMENTOS POR INTOXICAÇÕES EXÓGENAS NO ESTADO DE SERGIPE Vanessa Oliveira Amorim (DMEL/UFS) Jamylle Souza Rodrigues (DMEL/UFS) Aécio Lindenberg Figueiredo Nascimento (DMEL/UFS) Rayssa Morgana Araújo de França (DMEL/UFS) Marco Aurélio de Oliveira Góes (DMEL/UFS) RESUMO As intoxicações exógenas constituem um importante motivo de atendimento nos serviços de urgência, podendo afetar todas as faixas etárias e em circunstâncias diversas. Este estudo tem o objetivo de descrever o perfil epidemiológico dos casos de intoxicação exógena notificados no estado de Sergipe e registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de 2012 a Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo com análise de variáveis sociodemográficas e clínicoepidemiológicas. No período estudado foram registrados 3394 indivíduos com intoxicação exógena, sendo 50,1% no sexo masculino. A faixa etária mais acometida foi entre 20 e 39 anos (46,8%). A principal unidade de atendimento foi o hospital estadual (47,6%) e a regional de Aracaju apresentou a maior concentração de casos (72,2%). A tentativa de suicídio foi a circunstância mais frequente (30,1%), seguida pelo abuso de drogas ou álcool (19,2%) e os casos acidentais (16,5%). Dentre os agentes tóxicos, os medicamentos tiveram destaque (29,1%), seguidos por drogas de abuso (17,1%) e raticidas (10,3%). A via de exposição mais comum foi a digestiva (64,9%). Entre os casos ocorreram 71 óbitos (2,1%), destacando a maior letalidade quando a intoxicação foi por raticida (10.1%). Verifica-se que as intoxicações exógenas é um grave problema de saúde pública, sendo um importante meio utilizado na tentativa do suicídio. Desta forma, configura-se uma urgência/emergência médica que exige intervenções precisas, eficazes a curto e médio prazo, além de ações preventivas em populações de maior vulnerabilidade. PALAVRAS-CHAVE: Envenenamento; Substâncias tóxicos; Emergência; Suicídio INTRODUÇÃO A intoxicação exógena é causada por exposição inadequada a agentes tóxicos e se caracteriza por uma emergência médica, merecendo, portanto, grande atenção neste cenário. Usualmente se manifesta com dados clínicos evidentes de risco de vida, e tais ocorrências podem ser caracterizadas como acidentais ou intencionais. Em intoxicações intencionais, a principal causa é a tentativa de suicídio. Dentre as principais substâncias utilizadas destacam-se os medicamentos, álcool e pesticidas (SANTOS et al., 2013). A severidade da intoxicação está relacionada ao produto utilizado e a sua dosagem, logo, qualquer substância pode causar intoxicação, se for excedida sua dose (VANZELLA; HILLESHEIM, 2016). Existe uma dificuldade dos serviços de saúde para identificar adequadamente a intoxicação como intencional ou não intencional, assim como devido a subnotificação da tentativa/suicídio por motivos socioculturais e econômicos, e devido aos óbitos por causa indeterminada. Tais fatos tornam difícil o conhecimento real da magnitude do problema de saúde (SANTOS et al., 2013).
2 No Brasil, em 2015, foram notificados, no SINAN, casos de intoxicação exógena, apresentando destaque para a região sudeste. Destes, 595 indivíduos evoluíram para óbito. E o principal agente tóxico apontado na tentativa de suicídio foi o uso inadequado de medicamentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). Desta forma, é notório que os serviços de urgência e emergência se apresentem como uma importante fonte de informação, essencial para o planejamento de serviços e ações preventivas (VELOSO et al., 2017). Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar o perfil dos indivíduos atendidos por intoxicação exógena, nos diversos serviços de saúde do estado de Sergipe. METODOLOGIA Realizou-se um estudo epidemiológico descritivo dos casos de intoxicações exógenas notificados no estado de Sergipe durante o período de 2012 a Foi utilizado como fonte de dados do banco estadual o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), considerando todos os casos de intoxicação exógena notificados de 01 de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2016, residentes em Sergipe. Para delineamento do perfil das vítimas de intoxicação exógena, determinadas variáveis foram analisadas. Procurou-se identificar interferências quanto ao sexo e faixa etária (< 04, 5-9, 10-19, 20-39, 40-59, 60 anos). Além de outras variáveis, como: local do atendimento, região de residência, agentes tóxicos, via de administração, circunstâncias e evolução. O estudo utilizou dados secundários dos sistemas de informação da Secretaria de Saúde de Sergipe, sem acesso a identificação nominal dos sujeitos, atendendo a resolução 466/2012 no Conselho Nacional de Saúde. RESULTADOS E ANÁLISE Foram registrados 3394 casos de atendimentos por intoxicação exógena nos serviços de saúde do estado de Sergipe no período avaliado, sendo 1699 (50,1%) do sexo masculino. Ocorreram casos em todas as faixas etárias, apesar de uma maior concentração entre anos (46,8%), destaca-se as faixas pediátricas, ocorrendo 2,6% dos casos em menores de 1 ano, 12,1% entre 1 e 4 anos e 3,8% entre 5 e 9 anos. A faixa etária de 10 a 19 anos foi responsável por 18,1% dos casos. Apesar da pouca diferença entre o número de casos em homens e mulheres, alguns aspectos merecem destaque como as diferenças quanto às circunstâncias e agentes tóxicos envolvidos. No sexo feminino a tentativa de suicídio é responsável por 41,1% dos casos, seguindo pelas circunstâncias desconhecidas (20,5%) e os casos acidentais (15,5%). Já entre homens destaca-se o abuso de substâncias potencialmente tóxicas (28,5%), seguido de circunstâncias desconhecidas (20,1%) e tentativa de suicídio (19,2%).
3 Ainda com relação aos casos de tentativa de suicídio, embora estudos como o de Santos et al. (2013) onde predominaram as tentativas de suicídio entre os homens, a apontaram o sexo feminino como mais prevalente (LIMA, 2009; VELOSO et al., 2017; VERAS at al, 2016; Ministério da Saúde, 2016). Destaca-se também as diferenças quanto aos agentes tóxicos envolvidos, sendo entre homens as drogas de abuso responsáveis por 26,3% dos casos, seguida pelos medicamentes (19,1%). Em mulheres os medicamentos representam os principais agentes de intoxicação exógena (39,9%). Verifica-se que mesmo com venda proibida, raticidas possuem destaque de uso entre homens e mulheres (Figura 1), Alimento e bebida Drogas de abuso Cosmético Produtos veterinário Agrotóxico Desconhecido 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 Feminino Masculino Figura 1. Distribuição percentual por sexo e principais agentes tóxicos envolvidos nos casos de intoxicação exógena em Sergipe, A faixa etária também influencia nas circunstâncias das intoxicações, sendo na infância a ocorrência acidental a mais relevante, responsável por 76,7% dos casos, tendo como principais agentes os medicamentos e produtos de uso domiciliar que, muitas vezes, são guardados ao alcance das crianças (Figura 2). A tentativa de suicídio foi a principal circunstância nas demais faixas etárias, sendo atribuída a 42,9% entre anos e 34,7% a partir dos 20 anos, e os medicamentos se configuraram também como importantes agentes nesses grupos (Figura 2). Outro Alimento e bebida Planta tóxica Drogas de abuso Produtos químicos Cosmético Produtos de uso domiciliar Produtos de uso veterinário Raticida Agrotóxico agrícola Medicamento Desconhecido 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 20 anos ou mais anos até 9 anos
4 Figura 2. Distribuição percentual por faixa etária dos principais agentes tóxicos envolvidos nos casos de intoxicação exógena em Sergipe, O atendimento foi hospitalar em 97,9% dos casos, sendo os hospitais públicos responsáveis por 96,4% destes. Houve casos em todas as regionais de saúde, mas os casos se concentraram principalmente na regional de Aracaju (72,7%), seguidas por Socorro (14,6%), Propriá (7,1%), Estância (1,8%), Lagarto (1,6%), Itabaiana (1,5%) e Glória (0,7%). Do total de casos, 71 evoluíram para óbito, indicando uma letalidade de 2,1%. Destaca-se uma maior letalidade nos indivíduos que sofreram intoxicação por raticidas (10,1%) e produtos veterinários (6,0%). O presente estudo não diferencia casos agudos, subagudos ou crônicos dentre os indivíduos intoxicados. No entanto, este fato não altera a identificação do perfil das vítimas de intoxicação exógena no estado. Em todos os estudos analisados, a tentativa de suicídio está apontada como principal causa, condizendo com o presente estudo. Desta forma, percebe-se que este fato se correlaciona diretamente com a ausência de um bem-estar físico e psíquico entre as vítimas (SANTOS et al., 2013), e por isso requer estratégias de prevenção voltada ao público vulnerável e também voltada aos fatores associados à violência auto infligida (VELOSO et al, 2017). O principal agente tóxico apontado pelos estudos analisados foi o uso de praguicida, diferente do presente estudo, e seguido pelo abuso de medicamentos por mulheres e de álcool por homens. O elevado consumo de bebidas alcoólicas e drogas psicotrópicas, cada vez mais precoce, pela população de adolescentes e adultos jovens pode ser apontado como causa para os fatos supracitados (VANZELLA; HILLESHEIM, 2016). No que diz respeito a faixa etária, houve maior prevalência entre 11 e 59 anos, considerando todos os estudos, com pico entre anos, semelhante a faixa etária do atual estudo. Veras e Katz (2011) relacionam muitas das vítimas de intoxicações com a baixa renda familiar. Dos 3394 casos de Sergipe notificados no SINAN, houveram 71 óbitos no período em estudo. Desta forma, observou-se um coeficiente de letalidade de 2,1%, perdendo apenas para mortes por enforcamento e armas de fogo (SANTOS et al., 2013). Comparativamente, através de dados obtidos por meio de notificações registradas no SINAN referentes às intoxicações exógenas no Brasil, no período de 2012 a 2015, foi encontrado um valor referente a 1,06 % (Ministério da Saúde, 2016). Embora a prevalência da letalidade no âmbito Brasil tenha sido encontrada por meio de dados que não incluem o ano de 2016, ainda assim se mostra, de forma relativa, inferior à média do estado de Sergipe. CONCLUSÃO Apesar da limitação do estudo por utilizar dados secundários, onde nem todas as variáveis são preenchidas e considerando a subnotificação desse agravo, ele aponta para características importantes
5 das intoxicações exógenas em Sergipe. Identifica-se particularidades locais que diferem em alguns aspectos de estudos realizados em outras localidades. A análise dos diferentes riscos nas diferentes faixas etárias e sexo merecem destaque especial, tanto quando se pensa nos agentes tóxicos, como nas circunstâncias envolvidas, que refletem em intervenções distintas. Estes achados enfatizam a necessidade de incentivarem vítimas e familiares a buscarem apoio psicológico, de se criarem embalagens mais seguros para produtos químicos e para o desenvolvimento de atividades educativas, a fim de modificar esta realidade. REFERÊNCIAS LIMA, M. A. et al. Perfil epidemiológico das vítimas atendidas na emergência com intoxicação por agrotóxicos. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 7, n. 3, SANTOS, S.A. et al. Substâncias tóxicas e tentativas e suicídios: considerações sobre acesso e medidas restritivas. Cadernos Saúde Coletiva, [s.l.], v. 21, n. 1, p.53-61, mar FapUNIFESP (SciELO). VANZELLA, S.; HILLESHEIM, A. C. PERFIL DE PACIENTES COM INTOXICAÇÕES EXÓGENAS NOTIFICADAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA. UNIEDU. Disponível em: < Acesso em: 15 out VELOSO, C. et al. Violência autoinfligida por intoxicação exógena em um serviço de urgência e emergência. Revista Gaúcha de Enfermagem, [s.l.], v. 38, n. 2, p.38-40, FapUNIFESP (SciELO). VERAS, J.L.A.; KATZ, C.R.T. Suicide attempts by exogenous intoxication among female adolescents treated at a reference hospital in the city of Recife-PE, Brazil. Revista Brasileira de Enfermagem, [s.l.], v. 64, n. 5, p , out FapUNIFESP (SciELO). MINISTÉRIO DA SAÚDE. Datasus. Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Intoxicação exógena: notificações registradas no Sinan Net. Brasília: Ministério da Saúde; Disponível em: < >. Acesso em 10 out
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