SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES

Transcrição

1 SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES MENINGITES: SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA A meningite é um processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, podendo ser causada por uma grande variedade de bactérias, vírus, fungos e parasitas 1. Pode ser causada por uma grande variedade de bactérias. A prevalência de cada bactéria está associada a um dos seguintes fatores: idade do paciente, porta de entrada, foco séptico inicial; tipo e localização da infeção no Sistema Nervoso Central; estado imunitário prévio; situação epidemiológica local. Os principais agentes bacterianos causadores de meningite são: Neisseria meningitidis (meningococo) com 12 sorogrupos identificados, cinco deles (A, B, C, W135 e X) podem causar epidemias; Streptococcus pneumoniae (pneumococo); Haemophilus influenzae, bactéria gram-negativa classificada em seis sorotipos (A, B, C, D, E, F) 2,3. O principal reservatório é o homem e o modo de transmissão é de pessoa a pessoa, por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções da nasofaringe. A suscetibilidade é geral. As crianças menores de cinco anos, principalmente as menores de um ano, e pessoas com mais de 60 anos são mais suscetíveis à doença. Em relação à meningite pneumocócica, idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos ou de doenças imunossupressoras apresentam maior risco de adoecimento. No caso do pneumococo, H. influenzae sorotipo B e M. tuberculosis a imunidade é conferida por meio de vacinação específica 2. No Brasil, as principais ocorrências de meningite bacteriana, de relevância para a saúde pública, são as causadas por N. meningitidis (meningococo), S. pneumoniae (pneumococo) e Hib. O pneumococo é a segunda maior causa de meningite bacteriana no Brasil. Também é responsável por outras doenças invasivas, como pneumonia, bacteremia, sepse e doenças não invasivas, como otite média, sinusite, entre outras. No Brasil, as crianças de até dois anos de idade são as mais acometidas pela meningite pneumocócica. A partir de 10, a vacina conjugada 10-valente, que protege contra dez sorotipos do pneumococo, foi disponibilizada no calendário de vacinação da criança para crianças menores de um ano de idade. Em 1999, foi introduzida no país a vacina contra o Hib, responsável por várias doenças invasivas, como meningites e pneumonias, sobretudo em crianças. O Hib era a segunda causa mais comum de meningite bacteriana no Brasil, sendo responsável por uma incidência média anual em menores de um BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 1

2 Número de notificações SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES ano de 23,4 casos/ hab. até Observou-se, após a introdução da vacina, uma redução de mais de 90% no número de casos e de óbitos por meningite por H. influenzae 2. Os principais objetivos da vigilância epidemiológica deste agravo são: (i) detectar precocemente um surto; e (ii) monitorar a prevalência dos sorotipos e o perfil de resistência bacteriana das cepas de H. influenzae e S. pneumoniae circulantes no país. As meningites são doenças de notificação compulsória, sendo os surtos e os aglomerados de casos ou óbitos de notificação imediata. Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados às autoridades competentes, por profissionais da área de assistência, vigilância e pelos de laboratórios públicos e privados, por meio de contato telefônico, fax, e- mail ou outras formas de comunicação. A notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), por meio do preenchimento da Ficha de Investigação de Meningite ou da Ficha de Investigação de Surtos 2. MENINGITES EM RORAIMA SÉRIE HISTÓRICA No estado de Roraima, no período de 13 a 17, foram notificados 294 casos, sendo que o maior número de notificações ocorreu no ano de 13 com 70 (23,8%) casos e o menor em 17 com 42 (14,3%) casos (Figura 1) Ano Figura 1. Distribuição de casos notificados de meningites, Roraima, BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 2

3 Número de notificações SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES Entre os casos notificados nesse período, 109 (37%) foram confirmados, 176 (59,9%) descartados, 2 (0,7%) foram classificados como inconclusivos e 7 (2,4%) como ignorado/branco. Observou-se maior frequência de casos confirmados nos anos de 15 e 17, sendo 28 (25,7%) casos em cada um dos referidos anos (Figura 2) Ano Ign/Branco Confirmado Descartado Inconclusivo Figura 2. Distribuição de casos notificados de meningite segundo critério de classificação final, Roraima, Dos 294 casos notificados em Roraima no período de 13 a 17, 264 casos (89,8%) eram de residentes em Roraima. Na Tabela 1 são apresentados os casos notificados por município de residência. Dentre os 30 casos não residentes em Roraima, 14 eram residentes na Venezuela e sete na Guiana (Figura 3). Com relação aos nove casos residentes em outros Estados do Brasil, foram notificados cinco casos de residentes no Amazonas, dois do Pará, um do Ceará e um do Mato Grosso. No período de 13 a 17, as notificações foram realizadas por seis serviços de saúde, sendo o Hospital Geral de Roraima (HGR) a unidade que realizou o maior número de notificações [234 (79,6%)], seguido pelo Hospital da Criança Santo Antônio [53 (18%)]. Além destes serviços, notificaram casos de meningite a Clínica Médica Coronel Mota (Boa Vista), o Hospital José Guedes Catão (Mucajaí), o Hospital da Unimed (Boa Vista) e a Unidade Mista de Caracaraí (Figura 4). BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 3

4 SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES Tabela 1. Distribuição de casos notificados de meningite por município de residência, Roraima, Municípios Total Alto Alegre Amajari Boa Vista Bonfim Cantá Caracaraí Caroebe Iracema Mucajaí Normandia Pacaraima Rorainópolis São João da Baliza São Luiz Uiramutã Figura 3. Distribuição de casos notificados de meningite por local de residência, Roraima, BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 4

5 SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES Figura 4. Distribuição de casos notificados de meningite por serviços de saúde notificadores, Roraima, No estado de Roraima, dos 109 casos confirmados de meningite, 35 (32,1%) casos foram classificados como meningite bacteriana, oito (7,3%) como meningite viral e 66 (60,6%) como meningite não especificada ou meningite de outra etiologia (Figura 5). Com relação ao critério de confirmação dos casos, observou-se que, no período supracitado, 26 (23,9%) foram confirmados por cultura, 36 (33%) por quimiocitológico, 27 (24,8%) pelo critério clínico, e 19 (17,4%) por outros critérios. Um caso apresentou resultado em branco (0,9%) (Figura 6). Figura 5. Distribuição de casos confirmados de meningite por agente etiológico, Roraima, BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 5

6 Faixa etária SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES Figura 6. Distribuição de casos confirmados de meningite por critério de confirmação, Roraima, No período estudado, o maior número de casos confirmados foi em indivíduos com idade entre 15 e 49 anos (Figura 7). Em todos os anos analisados, verificou-se a predominância de casos em indivíduos do sexo masculino, com um total de 71 (65,1%) notificações (Figura 8). Já em relação a raça/cor, predominam casos confirmados entre indivíduos pardos [83 (76,1%)] (Figura 9). 80 anos e mais 70 a 79 anos 60 a 69 anos 50 a 59 anos 40 a 49 anos 30 a 39 anos a 29 anos 15 a 19 anos 10 a 14 anos 5 a 9 anos 1 a 4 anos Menor 1 ano Ign/Branco Confirmado Descartado Número de notificações Figura 7. Distribuição de casos notificados de meningite por classificação final e faixa etária, Roraima, BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 6

7 Número de casos confirmados Número de casos confirmados SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES Masculino Feminino Ano Figura 8. Distribuição de casos confirmados de meningite por sexo, Roraima, Ign/Branco Preta Amarela Parda Indigena Ano Figura 9. Distribuição de casos confirmados de meningite por raça, Roraima, Em 17, a incidência de meningite no estado de Roraima foi de 5,35/100 mil hab. Entretanto, a análise do perfil epidemiológico e o monitoramento do sistema de informação (SINAN NET) demonstram a necessidade de melhoria na qualidade das informações sobre os casos notificados e o aumento da confirmação pelo critério laboratorial, garantindo o diagnóstico etiológico correto. Em 18, para os BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 7

8 SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES meses de janeiro e fevereiro, não foram notificados casos de meningite. CONSIDERAÇÕES FINAIS As meningites infecciosas constituem importante problema de saúde pública mundial e no Brasil. Na década de 90, foram notificados no País uma média de casos anuais; em 18%, a etiologia era meningocócica. A elevada proporção de etiologia não especificada interfere diretamente na assistência prestada. A confirmação laboratorial da etiologia é fundamental para a vigilância epidemiológica das meningites, assim como para o adequado tratamento dos casos. A integração dos vários níveis da vigilância epidemiológica pode não apenas favorecer as atividades clássicas de controle dessas doenças, por exemplo, agilizando a quimioprofilaxia, mas também fornecer informações adequadas para prevenção de surtos e epidemias 4. REFERÊNCIAS 1. Roraima. Secretaria de Estado de Saúde. Coordenação Geral de Vigilância em Saúde. Diretoria de Agravos Respiratórios. Relatório técnico de série histórica para Difteria, Coqueluche e Meningite, dezembro, Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume 1 / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia e Serviços. 1. ed. atual. Brasília: Ministério da Saúde, v.: il. 3. Organização Mundial da Saúde OPAS/OMS. Busca pela melhoria da vigilância e caracterização da doença meningocócica na América Latina. Disponível em: org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=3730:busca-pela-melhoria-daigilancia-e-caracterizacao-da-doenca-meningococica-na-america-latina-2&itemid=812?> 4. Escosteguy CC et al. Vigilância e avaliação das meningites. Rev Saúde Pública, 04;38(5): BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO - MENINGITES 8