A solidariedade é este laço social que une cidadãos livres e iguais; o que não implica que a caridade desapareça.
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- Walter de Almeida Custódio
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1 Jean Louis laville, é sociólogo, professor no CNAM e co-director do laboratório interdisciplinar para a sociologia económica Lise. Autor de um dicionário da Outra Economia (Desclée de Brouwer) Aborda aqui a origem da solidariedade e vê nas suas actuais manifestações a oportunidade de repor a economia e as relações económicas, no centro do debate público. - Quando surge o conceito de solidariedade? R. A solidariedade aparece no vocabulário moderno no sec. XIX com Pierre Leroux. Segundo ele, a solidariedade é a nova forma de elo social ligada à democracia. A partir do momento em que a democracia abrange todos, com a consequente igualdade entre os cidadãos, à caridade sucede a solidariedade. A caridade, de facto, supõe uma assimetria do relacionamento entre doador e donatário. A desigualdade não é mais possível, quando se vive numa sociedade onde se afirma que homens e mulheres são livres e iguais. A solidariedade é este laço social que une cidadãos livres e iguais; o que não implica que a caridade desapareça. Algumas pessoas que vivem uma situação mais favorável ocupam-se das dificuldades das outras, - isto é a filantropia. Para lá da caridade e da filantropia aparece a solidariedade democrática, ou seja, um conjunto de práticas desenvolvidas em torno desta noção, nomeadamente, a livre associação ( ) centrada na organização do trabalho. 1 / 5
2 A ideia principal é a de que a solidariedade pode ser um elemento integrador, um elo social fundador duma economia fraterna e solidária. Uma outra maneira de abordar a solidariedade é a da escola dos solidaristas (Bourgeois, Durkeim ), que afirmaram existir uma espécie de contracto de cada pessoa com os seus semelhantes, através da acção redistributiva do Estado P. A solidariedade resume-se á actuação do Estado? R. Convém distinguir a solidariedade horizontal da solidariedade vertical. A primeira consiste na auto-organização dos indivíduos para a solução dos problemas comuns(associações, sindicatos ), a segunda consiste na acção compensadora do Estado. Ao impedir que as desigualdades se perpetuem. A sociedade funciona sobre dois pilares: o mercado e o Estado social, contudo, há um certo número de problemas que não podem ser resolvidos pela acção social do Estado e requerem acções comuns. P. A solidariedade democrática não foi posta em causa com o crescente individualismo? R. Assiste-se ao regresso duma certa filantropia. É uma regressão. Porque se questionou a burocracia do Estado, chegou a por-se em causa a acção redistributiva de serviço público. 2 / 5
3 Hoje, diz-se mesmo, que bastaria a filantropia e que as pessoas escolheriam a forma de ser solidárias. É perigoso, porque é uma via de exclusão relativamente aos destinatários. Observa-se, também, uma crescente filantropia de empresa: um paternalismo mais generalizado e globalizado. Sob o pretexto da responsabilidade social das empresas, dispensam o controlo do estado e organizam-se entre elas. No fundo, há dois projectos distintos: O mercado como centro da sociedade, completado pela filantropia privava, mas não obrigatória; e a acção filantrópica do Estado que garante a distribuição. A filantropia pode ajudar a resolver alguns problemas. Mas de forma alguma se pode afirmar que é suficiente. Deve ser integrada por uma solidariedade democrática. Esta diferença entre solidariedade filantrópica e democrática é da maior importância. Pode considerar-se o maior legado dos dois últimos séculos. P. Como se compreende a multiplicação de novas formas de solidariedade? R. Quando se fala de novas solidariedades, importa não esquecer que a relação com a solidariedade evolui. As pessoas têm necessidade de refundar relações de solidariedade, e, ao mesmo tempo, observar os efeitos directos dessa solidariedade. Esta multiplicação de formas apresenta dificuldades de duas ordens. Há preocupações 3 / 5
4 diferentes e actores diferentes. É preciso criar relações entre eles, só assim poderão ter futuro. Outro problema é que as formas de solidariedade privadas ou associativas não devem substituir a acção dos actores colectivos como o Estado, mas articular-se com ele; quer interpelando-os, quer propondo soluções ou fazendo pressão para que sejam aplicadas. P. Como vê o futuro e a evolução da solidariedade? R. Novas formas de solidariedade têm permitido dar visibilidade ao que foi erradicado do debate público a economia. Isso parece muito interessante. O liberalismo triunfante afirmava que a economia era um domínio reservado a peritos, que se decidia longe das pessoas, em Wall Street, em Londres Não tínhamos que discutir a economia. Paralelamente, assiste-se a uma perda de legitimidade da democracia com uma desconfiança face ás elites. Ainda não saímos desta crise, mas há alguns sinais de esperança. As pessoas apercebem-se de que existem possibilidades de intervenção ao seu nível e na vida quotidiana. Como se produz? Como se distribui? Como se consome? Podem até questionar-se os poderes de algumas grandes empresas. Ao nível económico, formas de consumo e de produção mais solidárias e respeitadoras do 4 / 5
5 ambiente, são a prova de que existe uma outra economia que não está contra a sociedade Fonte: Messages (Secours Catholique) Agosto / 5
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