Unidade curricular. Desigualdades e Políticas Públicas (Opção IX, 3º ano, 1º semestre)

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1 Instituto de Ciências Sociais Departamento de Sociologia Licenciatura em Sociologia Ano lectivo de 2007/2008 Unidade curricular Desigualdades e Políticas Públicas (Opção IX, 3º ano, 1º semestre) I. Introdução Os temas em torno das formas de desigualdade e exclusão social, bem como os seus contrapontos de justiça, igualdade e solidariedade sociais têm constituído amiúde expressões ora de justificação ora de contestação de determinada ordem social. Eles foram, ao longo da história, objecto, primeiro, da reflexão teológica e filosófica e, em particular, da filosofia social e, seguidamente, dos fundadores da sociologia. Se, duma ou outra forma, os vários fundadores e escolas sociológicas se debruçaram, em maior ou menor medida, sobre os referidos temas sobretudo em relação à época contemporânea, cada uma das escolas de pensamento sociológico apresenta sobre os mesmos não só uma tradição própria como uma perspectiva e, eventualmente, uma solução diferente. Os próprios conceitos de desigualdade e sobretudo de exclusão social serão filtrados e confrontados tendo justamente em conta as diferentes perspectivas não só em termos de teoria sociológica geral, mas convocando certamente a contribuições relevantes de Sociologias específicas tais como a Sociologia da Estratificação e das Classes Sociais, a Sociologia do Poder e a Sociologia do Desenvolvimento, entre outras. Por isso, após uma breve panorâmica filosófica e protosociológica em torno das formas de desigualdade social ao longo dos tempos, assumiremos como ponto de viragem fundamental a reflexão de filósofos sociais iluministas e, em particular, Rousseau os quais, em boa verdade, representam o ponto de viragem nas reflexões filosóficas em torno da (des)igualdade social. Este tema, mais no presente que no passado, torna-se relevante não só pelos problemas teóricos que levanta mas sobretudo pelas implicações socio-políticas e repercussões práticas na vida quotidiana dos cidadãos. Após esta parte introdutória na qual procurar-se-á dar conta dalguns dos problemas sociais contemporâneos mais prementes, focalizaremos de seguida a exposição e a reflexão sobre a desigualdade e a exclusão social, tendo em conta as principais correntes sociológicas, a começar pelos próprios pais fundadores da sociologia, nomeadamente Durkheim, Weber, Simmel, Goffman e Marx. Os seguidores de cada uma das escolas têm produzido sobre o tema reflexões, cujas linhas mais relevantes procuraremos desenvolver. Apesar de o tema ser frequentemente tratado mas de modo fragmentado, há ainda poucos textos que de

2 forma sistematizada façam uma exposição teórica sobre as desigualdades sociais. Tem sido contudo nas últimas décadas que o tema tem suscitado maior atenção não só em termos da desigualdade em termos de estratificação e classes sociais, mas também e crescentemente em torno das desigualdades do género, étnicas, regionais, geracionais e outras, tópicos estes que constituirão o cerne da parte II do programa. A pobreza e a exclusão social são, sem dúvida, fenómenos complexos e diversificados, em processo de intensificação; neste sentido, mais complexas e exigentes se irão tornar as prioridades das políticas sociais de combate a tais fenómenos (criação de emprego, reforço dos sistemas de educação e qualificação, reforma no sistema de protecção social no quadro de aprofundamento e reformulação do Estado Providência, desenvolvimento de medidas específicas de combate à pobreza e à exclusão). Neste quadro dar-se-á relevância às políticas sociais e, em particular, às políticas públicas no concernente ao ensino, à saúde, à habitação, às questões ambientais, temas estes mais focalizados na 2ª parte do programa. Contudo, a criação de um sistema especializado na inserção dos mais desfavorecidos não poderá ser entendido, como tradicionalmente o eram as políticas de acção social. O apelo à solidariedade tem de ir mais longe do que a mera estratégia de responsabilização individual dos cidadãos e de mobilização da sociedade civil que ignora os factores estruturais geradores de rupturas sociais, bem como os processos/dinâmicas de poder que, produtores de fortes diferenciações sociais, conduzem a autênticos processos de exclusão/ marginalização no acesso aos recursos colectivamente produzidos por parte de determinadas categorias de indivíduos: os desempregados, os idosos, famílias monoparentais, sem-abrigo, exclusões territoriais, discriminação sexual, violência na família, violência e abuso sexuais; grupos de risco toxicodependentes, portadores de HIV, prostitutas/os, alcoólicos, reclusos, crianças/jovens em risco; grupos étnicos minoritários. Produzir alterações significativas nas práticas dos protagonistas sociais mais vulneráveis à exclusão e à pobreza passa, necessariamente, não só pela reformulação dos contextos de socialização (habitação, escola, emprego, saúde, família, justiça/protecção), mas também pela problematização do actual sistema capitalista, pois grande é o risco de tratar os excluídos sem tratar dos mecanismos de reprodução e transformação das desigualdades sociais estruturais. A análise sociológica das formas e grupos mais afectados será efectuada pelo confronto com problemas teórico-práticos da realidade portuguesa, que se prendem com as referidas formas de desigualdade e exclusão sociais, dando conta dos diversos estudos teóricos e empíricos realizados por sociólogos e outros cientistas sociais. II. Programa 1. Introdução 1.1. Objecto, métodos e questões centrais na Sociologia das Desigualdades Sociais. A desigualdade social como controverso problema científico e político. Desigualdade, pobreza e exclusão social: conceitos e relações conceptuais. A ambiguidade do conceito de exclusão social: visão durkheimiana, weberiana e marxista. 2

3 1.2. A sociologia da desigualdade e da exclusão social: um velho e novo tema. As desigualdades sociais nos diferentes tipos de sociedade. Desigualdades: o iluminismo e, em particular, o pensamento de Rousseau e a revolução francesa. O liberalismo, o conservadorismo e o socialismo. As desigualdades sociais nas sociedades modernas industriais: capitalistas e socialistas. 2. Desigualdade e Exclusão social: principais perspectivas analíticas 2.1. A perspectiva (estruturo)funcionalista nomeadamente no pensamento de Durkheim: solidariedade mecânica e solidariedade orgânica; ordem e coesão social, (des)integração e anomia social; a reforma da herança e o papel dos corpos intermédios. A ordem, o consenso e a estratificação social em Parsons A perspectiva interpretativa e accionalista nomeadamente em Weber: classe, status e poder ; o poder de disposição sobre recursos e recompensas; o processo de racionalização, tecnocratização e burocratização. O estrangeiro e a distância social (Simmel) A perspectiva interaccionalista-simbólica nomeadamente em Goffman: proximidade e distância, a instituição total, o estigma, a rotulagem A perspectiva marxista, nomeadamente em Marx e Engels: a desigualdade social estrutural e os modos de produção: esclavagismo, feudalismo, despotismo asiático, capitalismo. A contradição fundamental no capitalismo: o carácter social da produção e o carácter privado da sua apropriação Estruturação das desigualdades sociais e da acção social: níveis de análise e abstracção, a saber, o socio-estrutural, o organizacional e o interaccional. Mecanismos de reprodução e transformação das desigualdades sociais. 3. Da desigualdade/ exclusão e pobreza às políticas sociais 3.1. Desigualdades de género: retrospectiva histórica e situação actual. Perspectivas biologistas, psicológicas, psicosociais, marxista e femimista. Género e Classe: linhas de convergência e clivagem. Por uma articulação conceptual entre classe e género. Desigualdades raciais e étnicas: retrospectiva histórica e situação actual. Raça e etnia. Etnicidade e classe. Discriminação e racismo: preconceitos, estereótipos e (pseudo)teorias Grupos e categorias mais vulneráveis à desigualdade/ exclusão social: os desempregados, os idosos, famílias monoparentais, sem-abrigo ; exclusões territoriais; discriminação sexual, violência na família, violência e abuso sexuais; grupos de risco (toxicodependentes, portadores de HIV, prostitutas/os, alcoólicos, reclusos, crianças/jovens em risco); grupos étnicos minoritários As sociedades tradicionais: processos de diferenciação e a entreajuda. A sociedade providência: virtualidades e limites. A sociedade moderna e o Estado- Providência. O caso português e a transição para a sociedade moderna. 4. A problematização das políticas públicas 4.1. Conceito de política pública. Os intervenientes nas políticas públicas. O papel dos partidos, do governo, das organizações sindicais e associações empresariais. 3

4 4.2. A tomada de decisão no quadro das políticas públicas. Das perspectivas racionalistas à decisão em contexto de anarquia organizada Tipos de políticas públicas. A classificação de T. Lowi: políticas distributivas, reguladoras, redistributivas e constituintes. O lugar das políticas de tipo simbólico: reforço das identidades colectivas e a busca de legitimidade. 5. Políticas públicas em contexto de desigualdade social 5.1. Das políticas de desigualdade às políticas de justiça e solidariedade sociais: dispositivos de inserção social e modelos de acção Os domínios-chave de incidência das políticas públicas e a experiência portuguesa de um Estado-Providência incompleto: a educação, a saúde e a segurança social. 5.3 Outros domínios emergentes das políticas públicas: o emprego e a formação profissional, o território e a descentralização, as alterações climáticas e o desenvolvimento sustentável, a economia e o investimento privado, a cidadania e a nacionalidade, a igualdade de género e a sexualidade. O cruzamento entre políticas europeias e nacionais. III. Resultados de Aprendizagem Com esta unidade curricular pretende-se que os alunos sejam capazes de: 1. Definir as principais perspectivas sociológicas em torno da desigualdade; 2. Identificar as principais formas de desigualdade nas sociedades contemporâneas; 3. Identificar a diferença entre actuações políticas promotoras de desigualdade e promotoras de solidariedade e equidade; 4. Conhecer os principais dispositivos políticos vocacionados para a inserção e a inclusão sociais. IV. Bibliografia básica COSTA, A. Bruto (1998), Exclusões Sociais. Lisboa: Gradiva. HESPANHA, Pedro e CARAPINHEIRO, Graça (2001), Risco Social e incerteza: pode o estado social recuar mais? Porto: Edições Afrontamento. MOZZICAFREDDO, Juan (2002), Estado-Providência e cidadania em Portugal. Oeiras: Celta. PASQUINO, Gianfranco (2002), Curso de Ciência Política. Cascais: Principia. SILVA, Pedro A. (2002), "O Modelo de welfare da Europa do Sul: reflexões sobre a utilidade do conceito", in Sociologia, Problemas e Práticas, nº 38, p VIEGAS, J. M. Leite e COSTA, A. Firmino (1998), Portugal: que modernidade? Oeiras: Celta. 4

5 XIBERRAS, Martine (1993), As teorias da exclusão. Para uma construção do imaginário do desvio. Lisboa: Instituto Piaget. V. Avaliação A avaliação poderá ser de 2 tipos: 1. Contínua Envolve a realização de 1 prova escrita, a ter lugar na penúltima semana lectiva, e de 1 trabalho prático, que será realizado, com acompanhamento progressivo, ao longo do semestre. A prova escrita e o trabalho terão um peso equivalente (50%) no cálculo da nota final. Na prova escrita é exigida uma classificação mínima de 8 valores, ao passo que no trabalho é exigida uma nota mínima de 10 valores. Nos termos do RIAPA, a reprovação no trabalho prático impede os alunos de acederem ao exame final. A classificação média deverá ser superior a 9,5 valores (de 0 a 20). 2. Final A avaliação por exame final destina-se aos alunos que reprovaram na prova escrita, ou que, por terem estatuto de trabalhador-estudante ou equiparável, tenham optado por não realizar essa prova. Em qualquer caso, é exigível uma classificação suficiente no trabalho prático. A este exame final, de natureza teórica, aplica-se o disposto no RIAPA. VI. Presença nas aulas Os alunos em regime normal de frequência ( ordinários ) têm de frequentar 2/3 das horas de aulas previstas. Aos casos em que esta situação não se verifique, aplica-se o disposto no RIAPA, nomeadamente no seu Artigo 2º (pontos 9, 10 e 11). Os docentes Manuel Carlos Silva Joel Felizes 5