Palavras-chave: pulgão do algodoeiro, tabela de vida, adubo sintético, adubo orgânico. INTRODUÇÃO

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1 TABELAS DE FERTILIDADE DE Aphis gossypii Glover (HEMIPTERA: APHIDIDAE) EM ALGODOEIRO SUBMETIDO A DIFERENTES DOSES E FORMAS DE FERTILIZAÇÃO NITROGENADA. José Alexandre da Silva (Universidade Estadual do Mato Grosso), Icilária Pereira Leite (Universidade Estadual da Paraíba / icilariapereira@yahoo.com.br), Joana Danielle Melo da Silveira (Universidade Estadual da Paraíba), Cristina Schetino Bastos (Embrapa Algodão), Fábio Akiyoshi Suinaga (Embrapa Algodão) RESUMO - Aphis gossypii está entre as pragas-chave do algodoeiro e seu ataque é influenciado pela fertilização nitrogenada do solo. Este trabalho objetivou avaliar o efeito de diferentes doses e fontes de nitrogênio sobre A. gossypii através de tabelas de vida de fertilidade. Os tratamentos constituíram de cinco doses de fertilizante sintético nitrogenado (uréia: 1,056, 2,112, 3,168, 4,224 e 5,28 g/vaso), cinco doses de fertilizante nitrogenado orgânico (esterco bovino: 40, 120, 160, 240 e 400 g/vaso) e o controle (sem fertilização). O delineamento foi inteiramente casualizado com cinco repetições. As plantas foram infestadas com 10 ninfas recém emergidas de A. gossypii e acompanhadas até sua morte, sendo os dados utilizados para construção da tabela de vida de fertilidade. De um modo geral, o ataque do inseto foi favorecido nas plantas que receberam as maiores doses da fonte sintética de nitrogênio (2,112, 3,168 e 4,224 g de uréia) uma vez que os maiores valores dos parâmetros da tabela de vida do inseto (, T, R0, rm e λ) ocorreram nestes tratamentos. Apesar deste fato, os valores de R0 e de rm também foram elevados nas plantas fertilizadas com 120 e 240 g de esterco bovino. Palavras-chave: pulgão do algodoeiro, tabela de vida, adubo sintético, adubo orgânico. INTRODUÇÃO A fibra do algodoeiro é considerada a mais importante das fibras têxteis, cuja planta oferece os mais variados produtos de utilidade (PASSOS, 1977). O pulgão Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae), está entre as pragas-chave da cultura do algodoeiro, sendo capaz de se alimentar da seiva das plantas e de transmitir viroses para variedades suscetíveis. Vivem em colônias nas folhas das plantas e sua reprodução é predominantemente por partenogênese ovovivípara (GALLO et al., 2002). O nitrogênio é um nutriente bastante estudado, e a sua disponibilidade é um dos fatores que limitam o crescimento e a produtividade das plantas, pois é requerido em todas as fases do desenvolvimento vegetal (FERNANDES e ROSSIELLLO, 1995) estimulando o crescimento e o florescimento, regularizando o ciclo da planta, aumentando a produtividade e melhorando o comprimento e a resistência da fibra. Este nutriente é considerado fator-chave no crescimento e reprodução de insetos fitófagos pois é componente de aminoácidos essenciais e vitaminas requeridos para a nutrição de insetos sugadores (PARRA, 1990) e pode influenciar o ataque dos mesmos (BI et al., 2003; 2005). Por isso, o manejo da fertilização nitrogenada pode ser utilizado para controlar esse inseto reduzindo a necessidade de pulverização contra essa praga. O crescimento de uma população de insetos é estimado com base em dados de sobrevivência e fertilidade que são sintetizadas em tabelas de vida de fertilidade. Essas tabelas são de grande importância para a compreensão da dinâmica populacional de insetos (SILVEIRA NETO et al., 1976) favorecendo a previsão de ocorrência de pragas nas culturas.. HARCOURT (1969)

2 Objetivou-se avaliar o efeito de diferentes doses e fontes de nitrogênio sobre A. gossypii através da construção de tabelas de vida de fertilidade. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em casa de vegetação, pertencente à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, localizado na cidade de Campina Grande, PB. Antes do plantio, realizou-se análise dos teores de nutrientes do substrato utilizado para preenchimento dos vasos. Os tratamentos constaram de cinco doses de fertilizante sintético nitrogenado (uréia: 1,056 g/vaso, 2,112 g/vaso, 3,168 g/vaso, 4,224 g/vaso e 5,28 g/vaso), cinco doses de fertilizante nitrogenado orgânico (esterco bovino: 40 g/vaso, 120 g/vaso, 160 g/vaso, 240 g/vaso e 400 g/vaso) e o controle (sem fertilização). O delineamento foi inteiramente casualizado com cinco repetições. Na implantação do ensaio, baldes plásticos de oito litros de capacidade receberam uma mistura de substrato com a dose e fonte de nitrogênio correspondente ao respectivo tratamento, Com exceção da testemunha, os demais tratamentos receberam 20 g de superfosfato simples e 3,2 g de cloreto de potássio por vaso. Os tratamentos que receberam a fonte sintética de adubo nitrogenado (uréia) foram fertilizados com a mesma fonte em cobertura (aos 20 dias após a emergência) na seguinte dosagem: 0,352 g/vaso 0,704 g/vaso, 0,704 g/vaso 1,408 g/vaso, 1,056 g/vaso 2,112 g/vaso, 1,408 g/vaso 2,816 g/vaso, 1,76 g/vaso 3,52 g/vaso totalizando 1,056 g de uréia/vaso, 2,112 g de uréia/vaso, 3,168 g de uréia/vaso, 4,224 g de uréia/vaso e 5,28 g de uréia/vaso. O esterco e demais fontes de fertilizantes sintéticos foram homogeneizados ao solo antes do preenchimento dos vasos. A uréia foi aplicada na forma de solução (diluída em 800 ml de água e vertida sobre os vasos), tanto na implantação dos ensaios quanto por ocasião da adubação de cobertura. Após a fertilização, cada vaso recebeu cinco sementes da variedade BRS Safira, sendo mantida apenas duas plantas por vaso após o desbaste. Infestou-se a terceira folha a partir do ápice de uma planta de cada vaso com dez pulgões adultos dois dias após adubação de cobertura. As folhas contendo os pulgões foram confinadas em sacos de organza, fixados às folhas com barbante amarrado ao pecíolo das mesmas. Um dia após a infestação, os pulgões adultos foram removidos, deixando-se apenas dez ninfas de até 24 horas de idade por folha, as quais foram acompanhadas até o término de seu ciclo de vida. Foram avaliados, diariamente, o número de pulgões vivos e mortos e o número de exúvias. Os dados foram utilizados para construção da tabela de vida de fertilidade do pulgão (SILVEIRA NETO et al., 1976). RESULTADOS E DISCUSSÃO A fertilidade específica, a duração média da geração, a taxa líquida de reprodução, a razão infinitesimal de aumento populacional e a razão finita de aumento apresentaram seu menor valor no tratamento controle (sem fertilização) (Tab. 1). Os maiores valores da fertilidade específica ocorreram nas plantas que receberam 2,112 g e 4,224 g de uréia por vaso (Tab. 1). A maior duração de uma geração foi observada nas plantas fertilizadas com 4,224 e 5,280 por vaso (Tab. 1). A maior razão infinitesimal de aumento populacional ocorreu nas plantas que receberam 2,112 g de uréia por vaso e 120 e 240 g de esterco bovino por vaso (Tab. 1). Os maiores valores da razão finita de aumento ocorreram nas plantas fertilizadas com 2,112 g e 3,168 g de uréia por vaso (Tab. 1). As diferenças encontradas podem ser atribuídas a diferenças no balanço mineral das plantas, já que segundo Phelan et al. (1996) um balanço ótimo é mais provável de ocorrer em solos manejados organicamente. Enquanto a adubação mineral coloca todos os nutrientes prontamente disponíveis às plantas, a adubação orgânica libera-os lentamente, já que é necessário a mineralização pelos microorganismos existentes no solo (TAIZ e ZEIGER, 1991).

3 O menor ataque na ausência de fertilização possivelmente ocorreu em decorrência do fato de que plantas nutricionalmente debilitadas ou que são cultivadas em condições não favoráveis ao seu crescimento, sofrem mais com o ataque de insetos (TOUMI et al., 1984; MATTSON e HAACK, 1987). De uma maneira geral, em todos os tratamentos o período reprodutivo de A. gossypii iniciou-se no sexto dia, com exceção da testemunha onde este se iniciou no oitavo dia (Figs. 1 a 3). Tabela 1. Parâmetros da tabela de vida de fertilidade de Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae) em algodoeiro fertilizado com diferentes fontes e doses de adubação nitrogenada. Tratamentos 2 T 3 R0 4 rm 5 λ 6 Sem adubação 3,89 6,02 0,78 0,02 1,06 1,056 g de uréia/vaso 44,20 9,08 17,26 0,23 1,35 2,112 g de uréia/vaso 74,90 10,47 27,54 0,31 1,37 3,168 g de uréia/vaso 54,47 8,69 24,96 0,25 1,38 4,224 g de uréia/vaso 71,80 11,89 22,02 0,24 1,28 5,280 g de uréia/vaso 51,37 10,72 12,42 0,22 1,25 40 g de E.B. 1 /vaso 69,68 10,55 23,96 0,29 1, g de E.B./vaso 63,40 10,38 25,74 0,30 1, g de E.B./vaso 61,64 10,25 24,46 0,31 1, g de E.B./vaso 53,58 9,40 20,70 0,29 1, g de E.B./vaso 62,20 10,53 17,78 0,27 1,31 1 esterco bovino; 2 fertilidade específica; 3 duração média da geração; 4 taxa líquida de reprodução; 5 razão infinitesimal de aumento populacional; 6 razão finita de aumento. 5,50 4,50 3,50 2,50 1,50 0,50 Figura 1. Sobrevivência durante cada intervalo de idade () e fertilidade específica () para Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae) em algodoeiro fertilizado com 5,280 g de uréia/por vaso (superior esquerda), 400 g de esterco bovino/vaso (superior direita), 4,224 g de uréia/vaso (inferior esquerda) e 240 g de esterco bovino/vaso (inferior direita) em função do tempo em dias.

4 9,00 8,00 Figura 2. Sobrevivência durante cada intervalo de idade () e fertilidade específica () para Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae) em algodoeiro fertilizado com 3,168 g de uréia/por vaso (superior esquerda), 160 g de esterco bovino/vaso (superior direita), 2,112 g de uréia/vaso (inferior esquerda) e 120 g de esterco bovino/vaso (inferior direita) em função do tempo em dias.

5 8, ,00 8,00 Figura 3. Sobrevivência durante cada intervalo de idade () e fertilidade específica () para Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae) em algodoeiro fertilizado com 1,056 g de uréia/por vaso (superior esquerda), 40 g de esterco bovino/vaso (superior direita) e sem fertilização (inferior) em função do tempo em dias. CONCLUSÃO De um modo geral, o ataque do inseto foi favorecido nas plantas que receberam as maiores doses da fonte sintéticas de nitrogênio (2,112, 3,168 e 4,224 g de uréia) uma vez que os maiores valores dos parâmetros da tabela de vida do inseto ocorreram nestes tratamentos. Apesar deste fato, a taxa líquida de reprodução e a razão infinitesimal de aumento populacional também foram elevadas nas plantas fertilizadas com 120 e 240 g de esterco bovino. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA A manipulação da adubação poderá controlar a população desse inseto evitando que o mesmo atinja o status de praga. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BI, J.L.; TOSCANO, N.C.; MADORE, M.A. Effect of urea fertilizer application on soluble protein and free amino acid content of cotton petioles in relation to silverleaf whitefly (Bemisia argentifolii) populations. Journal of Chemical Ecology, v.29, p , BI, J.L.; LIN, D.; LII, K.S.; TOSCANO, N.C. Impact of cotton planting date and nitrogen fertilization on Bemisia argentifolii populations. Insect Science, v.12, p.31-36, 2005.

6 FERNANDES, M.S.; ROSSIELLO, R.O.P. Mineral Nitrogen in Plant Physiology and Plant Nutrition. Critical Reviews in Plant Sciences, v.14, p , GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA, G.C. de; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba: Fealq, p. HARCOURT, D.G. The development and use of life tables in the study of natural insect populations. Annual Review of Entomology, v.17, p , MATTSON, W.J.; HAACK, R.A. The role of drought stress in provoking outbreaks of phytophagous insects. In: BARBOSA, P.; SCHULTZ, T. (Eds.). Insect outbreaks: ecological and evolutionary perspectives. Orlando: Academic Press, p PARRA, J.R.P. Consumo e utilização de alimentos por insetos. In: PANIZZI, A.R.; PARRA, J.R.P. (Eds.). Ecologia nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas. São Paulo: Manole/CNPq, pp PASSOS, S. M. de G. Algodão. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, p. 1-9 SILVEIRA NETO, S.; NAKANO, O.; BARBIN, D.; VILLA NOVA, N. Manual de ecologia dos insetos. São Paulo: Agronômica Ceres, p. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant Physiology. Redwood: The Benjamin/Cummings, pp. TOUMI, J.; NIEMELA, P.; HAUKIOJA, E.; SIVEN, S.; NEUVONEN, S. Nutrient stress: an explanation for plant anti-herbivore responses to defoliation. Oecologia, v.61, p , 1984.