RESPOSTA DO ALGODOEIRO SUBMETIDO A REGULADORES DE CRESCIMENTO EM FUNÇÃO DA LAVAGEM POR CHUVA SIMULADA

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1 RESPOSTA DO ALGODOEIRO SUBMETIDO A REGULADORES DE CRESCIMENTO EM FUNÇÃO DA LAVAGEM POR CHUVA SIMULADA Fábio Suano de Souza (Instituto Agronômico do Paraná IAPAR / fssouza@iapar.br), Thiago de Souza Tozi (UNESP - Botucatu), Vanessa Van Melis (UNESP - Botucatu), Ciro Antonio Rosolem (UNESP - Botucatu) RESUMO - O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de diferentes reguladores de crescimento recomendados para o algodoeiro em função da ocorrência de lavagem por chuva simulada após a sua aplicação. Os tratamentos foram constituídos de uma dose dos reguladores à base de cloreto de mepiquat (PIX HC BASF ) e pentaborato de mepiquat (Pix Pentia BASF ) de 15, g ha 1 do princípio ativo e ocorrência de chuva de 3 mm após 1, 2, 4, 8 e 16 horas da aplicação dos produtos, mais um tratamento sem chuva e um sem aplicação de regulador. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com quatro repetições. Foram avaliadas características de crescimento, estruturas reprodutivas, reposição do regulador lavado pela chuva e concentração do regulador na planta. O regulador de crescimento à base de pentaborato de mepiquat foi mais susceptível à lavagem mesmo por chuvas ocorrendo em momentos mais espaçados entre a aplicação do regulador e chuva simulada, em relação ao cloreto de mepiquat. A persistência/absorção dos produtos estudados no algodoeiro variou de acordo com o princípio ativo utilizado, e isso repercutiu de maneira direta na necessidade de reposição do produto em caso de chuvas ocorridas após a utilização dos mesmos. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, fisiologia, regulador de crescimento, chuva, lavagem. INTRODUÇÃO Segundo Silva et al. (1981), a grande quantidade de massa verde produzida pela planta do algodoeiro dificulta o aproveitamento dos nutrientes alocados para a formação das fibras, que é o seu principal produto. O aumento da quantidade de massa verde é resultante de condições de alta fertilidade natural dos solos ou mesmo de adubações restauradoras. O grande desenvolvimento das plantas pode contribuir para a obtenção de baixas produtividades em razão não só da demanda de nutrientes pela parte vegetativa da planta e autosombreamento, bem como pelas dificuldades existentes na execução dos tratos culturais e fitossanitários e ainda na operação de colheita. A utilização de reguladores de crescimento é uma das estratégias agronômicas para a manipulação da arquitetura das plantas, que pode contribuir para o aumento da produtividade (HODGES et al., 1991). Barbosa e Castro (1983b) relataram que a aplicação exógena de reguladores vegetais poderia uniformizar as plantas, facilitando a colheita manual ou mecanizada. A época de aplicação dos reguladores vegetais recomendada no Brasil corresponde a um período de grandes índices de pluviosidade. Existe, portanto, grande risco dos produtos serem lavados pela água das chuvas sem terem sido absorvidos pela planta.

2 Com a lavagem do regulador aplicado, seria necessário reaplicar a quantidade de produto perdida para que este possa exercer o efeito esperado no controle do crescimento das plantas de algodoeiro. O problema neste caso é se quantificar a dose a ser reaplicada e se existem diferenças na absorção e reposição de diferentes princípios ativos do regulador aplicado. No presente trabalho objetivou-se a avaliação da lavagem de reguladores de crescimento das folhas do algodoeiro pela chuva em função do princípio ativo utilizado, bem como estabelecer padrões de eficiência da absorção dos produtos nestas condições. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado em casa de vegetação no Departamento de Produção Vegetal, Setor Agricultura, na Fazenda Experimental Lageado, da Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Campus de Botucatu/SP em vasos plásticos de 12 litros com solo proveniente da camada arável da Fazenda Experimental Lageado, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas, Campus de Botucatu,SP. A cultivar utilizada foi a Delta Opal, com semeadura de seis sementes, pré germinadas por 36 horas, em cada vaso de 12 litros de capacidade, contendo solo corrigido e adubado e posterior desbaste para 2 plantas por vaso. A temperatura foi monitorada através de termo-higrógrafo, de modo a se obter dados para expressar os resultados em função dos Graus-Dia acumulados. Foram utilizados dois reguladores de crescimento à base de e Pentaborato de Mepiquat e variou-se o intervalo entre a aplicação dos reguladores e chuva simulada de 3 mm de intensidade. Os tratamentos consistiram de: Testemunha (sem aplicação de regulador de crescimento); Cloreto de Mepiquat (PIX HC) sem ocorrência de chuva; (PIX HC) com chuva após 1; 2; 4; 8 e 16 horas após a aplicação do regulador; (PIX Pentia) sem a ocorrência de chuva, (PIX Pentia) com chuva após 1; 2; 4; 8 e 16 horas após a aplicação do regulador. Não foi utilizado nenhum tipo de adjuvante misturado aos reguladores no momento da aplicação. Foram avaliados o crescimento das plantas, a área foliar, massa seca no final do experimento, bem como ramos e estruturas reprodutivas retidas e abortadas, reposição do regulador lavado pela chuva segundo metologia descrita por Souza, 24 e concentração de ingrediente ativo nas plantas para ambos os reguladores utilizados, segundo Souza, 24 e Palladini, 2. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com 4 repetições, em esquema fatorial com 2 produtos e 6 tempos, com uma testemunha sem regulador. As médias foram comparadas pelo teste LSD (ou DMS) (P<,5), e ajustou-se curvas de regressão para os dados de crescimento das plantas. RESULTADOS E DISCUSSÃO De maneira geral, observou-se que plantas tratadas com os reguladores de crescimento e submetidas à chuva simulada, ou que não receberam regulador, tiveram crescimento superior quando comparadas ao tratamento sem chuva, com a aplicação de regulador (Fig. 1). Esse comportamento pôde ser observado para ambos os reguladores aplicados. A testemunha, sem regulador de crescimento, se destacou dentre os demais tratamentos, com crescimento de maneira acentuada. O tratamento que recebeu regulador de crescimento à base de cloreto de mepiquat e não recebeu chuva simulada após a aplicação do regulador teve um crescimento 144% menor em relação ao tratamento sem regulador.

3 O tratamento que não recebeu regulador de crescimento apresentou médias de crescimento, avaliadas aos 361,2 graus dia significativamente diferentes dos tratamentos com chuva simulada ocorrida após oito e 16 horas da aplicação e sem chuva simulada. Tal resultado acentua ainda mais a importância de perdas do regulador ocorridas por chuva em momentos mais próximos da aplicação do regulador, sendo que, tratamentos de chuva ocorridas uma, duas e quatro horas após a aplicação do regulador não apresentaram médias de crescimento significativamente diferentes do tratamento sem regulador (Tab. 1). Crescimento (cm) Testemunha (Sem Regulador) Pix HC Chuva 1 hora Pix HC Chuva 2 horas Pix HC Chuva 4 horas Pix HC Chuva 8 horas Pix HC Chuva 16 horas Pix HC Sem Chuva Crescimento (cm) Testemunha (Sem Regulador) Pix Pentia Chuva 1 hora Pix Pentia Chuva 2 horas Pix Pentia Chuva 4 horas Pix Pentia Chuva 8 horas Pix Pentia Chuva 16 horas Pix Pentia Sem Chuva Graus Dias Acumulados ( C) Graus Dia Acumulados ( C) Figura 1. Crescimento de plantas de algodão nos diferentes tempos de aplicação de chuva após pulverização de pentaborato de mepiquat (PIX Pentia) em função dos graus-dia acumulados. Para o regulador de crescimento à base de pentaborato de mepiquat (Pix Pentia) pode-se observar que chuvas ocorridas até 4 horas da aplicação requerem mais atenção quanto à perda do produto e conseqüente reposição do mesmo. Chuvas ocorridas de 8 a 16 horas da aplicação tiveram efeito menos pronunciado na perda do produto por lavagem e por conseqüência, demandam uma porcentagem de reposição menor (Fig. 2). O tratamento de chuva ocorrida 16 horas após a aplicação deste regulador ainda requer que parte do produto seja reaplicada (2%) para que este exerça sua função no controle de crescimento das plantas, comparativamente ao tratamento que não recebeu chuva simulada.

4 Tabela 1. Crescimento de plantas de algodão aos 361,2 GD, momento em que as plantas foram coletadas, nos diferentes tempos de aplicação de chuva após pulverização de cloreto de mepiquat (PIX HC) e pentaborato de mepiquat (PIX Pentia) com tratamento adicional sem uso do regulador Tratamento Crescimento aos 361,2 Graus Dia (cm) Cloreto Pentaborato Sem regulador 37,3 37,3 1 hr 24,5 31,5 2hrs 24,8 31, 4 hrs 28,3 29,3 8 hrs 21, 21, 16 hrs 16,3 19,5 Sem chuva 15,3 16,8 DMS 13,1 * 9,9 * CV (%) 36,9 25,1 * Significativo pelo teste DMS (P<5%). O regulador à base de pentaborato de mepiquat necessitou de um tempo maior para que o efeito de sua lavagem fosse anulado, podendo-se inferir que, mesmo após 16 horas da aplicação deste princípio ativo, houve perdas do produto por lavagem. Sendo assim, pode-se dizer que a persistência do produto na folha do algodoeiro variou de acordo com o princípio ativo utilizado, e isso repercutiu de maneira direta na necessidade de reposição do produto em casos de chuvas ocorridas após a utilização dos mesmos. Reposição (%) y = -,323x + 54,758 R 2 =,8134 y = -,452x + 44,91 R 2 =, Tempo para ocorrência de chuva (min) Figura 2. Estimativa de reposição de reguladores de crescimento aplicados no algodoeiro em função do tempo para ocorrência de chuva após a sua aplicação. Os resultados de concentração de ingrediente ativo nas plantas de algodão corroboram os obtidos em relação à reposição de parte da dose aplicada dos reguladores após ocorrência de chuva simulada. Sendo assim, tendo sido o regulador à base de pentaborato de mepiquat mais lavado em relação ao regulador à base de cloreto de mepiquat, a concentração deste último nas plantas foi maior durante todo o período avaliado de ocorrência de chuva, como pode ser observado na Figura 3. A concentração dos

5 reguladores nas plantas de algodão foram maiores conforme o aumento do tempo entre a aplicação do regulador e ocorrência de chuva simulada, para os dois princípios ativos utilizados. É possível observar que existe diferença na concentração de ingrediente ativo por grama de matéria seca entre os reguladores usados, sendo o pentaborato de mepiquat encontrado em menor concentração durante o período de ocorrência de chuva. Tal resultado pode também ser observado nas características de crescimento e reprodutivas avaliadas tais como, número de ramos reprodutivos, estruturas reprodutivas, estruturas reprodutivas abortadas, área foliar e massa de matéria seca. Quanto maior foi o tempo transcorrido para ocorrência de chuva após a pulverização do regulador, menor foi o efeito de lavagem e, portanto, menor quantidade do regulador necessitou ser reposta. Tais resultados estão de acordo com o observado por Souza (24) onde chuvas ocorridas em tempos mais próximos às aplicações do regulador tiveram um efeito bem mais pronunciado em relação às ocorridas em momentos mais prolongados. Estão de acordo ainda com os resultados observados por Souza e Rosolem (27), que estudaram o efeito de diferentes lâminas de chuva em doses do regulador e mostraram o mesmo comportamento obtido no presente trabalho, ou seja, menor reposição para chuvas aplicadas em momentos mais distantes entre a aplicação do regulador sua ocorrência. Mateus et al. (24) e Souza (24) concluíram que quanto maior o intervalo entre a aplicação do regulador para aplicação de chuva simulada, menor foi a quantidade de produto a ser reposta, sendo que as mais altas porcentagens de reposição variaram em cerca de 3 a 57% do produto aplicado inicialmente. Concentração de ingrediente ativo (ug g -1 ) 1,6 1,4 1,2 1,8,6,4,2 y = -8E-7x 2 +,14x +,5169 R 2 =,9782 y = -1E-6x 2 +,16x +,5853 R 2 =, Tempo para ocorrência de chuva (min) Figura 3: Relação entre a concentração de regulador a base de cloreto de mepiquat (PIX HC) e pentaborato de mepiquat (PIX Pentia) na matéria seca das plantas de algodão e o intervalo entre a aplicação destes reguladores e ocorrência de chuva simulada. Tabela 2. Número de ramos reprodutivos, estruturas reprodutivas, estruturas reprodutivas abortadas, área foliar e massa de matéria seca do algodoeiro aos 61 DAE em função do regulador de crescimento e tempo sem chuva após a aplicação.

6 Regulador/Chuva 1 h 2 h 4 hs 8 hs 16 hs Sem chuva Número de Ramos Reprodutivos HC 13, 11, 11,3 13, 12,8 9,5 Pentia 11,3 11,8 11,8 12,5 12,6 13,1 DMS / CV(%) 1,5* / 9, Número de Estruturas Reprodutivas HC 7,5 1,8 1,3 11, 11,8 11,6 Pentia 1,8 11,4 1,8 12,4 13,5 13,2 DMS / CV(%) 3,8* / 24, Número de estruturas reprodutivas abortadas HC 5,1 4,4 4,6 4,4 3,5 3,8 Pentia 4,4 3,8 3,8 2,8 3,1 2,8 DMS / CV(%) 3,* / 54,5 Área Foliar (cm²) HC 485,5 4348,3 452,4 464,5 476,3 3741,7 Pentia 485,9 4924,5 4714,8 4441,3 4172,8 434,8 DMS / CV(%) 1187,7 * / 18,8 Massa de Matéria Seca Total (g) HC 75,5 74,4 7,2 71,1 72, 67,5 Pentia 78,7 73,5 75, 73,5 71,7 68,5 DMS / CV(%) 29,8 * / 29,6 * Significativo, teste DMS (P<5%). A aplicação do regulador a base de cloreto de mepiquat e pentaborato de mepiquat prejudicou a formação de ramos produtivos quando as plantas não receberam chuva em relação à testemunha (Tabela 2). A ocorrência de chuva simulada em momentos mais próximos à aplicação dos reguladores proporcionaram, de maneira geral, plantas com maior número de ramos reprodutivos em comparação à chuvas ocorridas em momentos mais distantes à aplicação do regulador e ao tratamento sem chuva. Quanto mais próximo à aplicação dos reguladores, maior foi a lavagem do produto das folhas do algodoeiro, proporcionando nestas condições, plantas com menor numero de estruturas reprodutivas. De modo geral pode-se notar uma tendência de diminuição no número de estruturas perdidas com a utilização de regulador de crescimento e com maior tempo para a ocorrência de chuva. Quando não recebeu chuva simulada, houve uma tendência de o algodoeiro desenvolver menor área foliar com a utilização de reguladores de crescimento à base de cloreto de mepiquat e pentaborato de mepiquat CONCLUSÕES Diferentes princípios ativos possuem persistência distinta no caso de lavagem por chuva simulada e tendem a ser mais lavados em chuvas mais proximas da aplicação dos produtos. A ocorrência de uma chuva de 3 mm de intensidade imediatamente após a aplicação de regulador ou até mesmo 16 horas após, podem lavar o produto das plantas de algodoeiro, pelo menos em parte, fazendo com que a aplicação tenha pouca ou nenhuma ação sobre as plantas. O maior tempo para a ocorrência de chuvas estudado no presente trabalho ainda causa prejuízos na ação dos reguladores estudados.

7 CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO A época de aplicação dos reguladores vegetais recomendada no Brasil corresponde a um período de grandes índices de pluviosidade. Existe, portanto, grande risco dos produtos que estão sendo atualmente usados serem lavados pela água das chuvas sem terem sido absorvidos pela planta. Existe, no caso da ocorrência de lavagem do regulador por chuva, uma demanda muito grande por informações sobre a dose a ser reaplicada e a diferença de absorção e persistência dos produtos disponíveis no mercado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, L.M., CASTRO, P.R.C. Comparação entre diferentes concentrações e épocas de aplicação de cloreto de mepiquat, cloreto de clorocolina e ethephon em algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) cv. IAC 17. Planta Daninha, Campinas, v.6, n.1, p.1-1, HODGES, H.F., REDDY, V.R., REDDY, K.R. Mepiquat chloride and temperature effects on photosynthesis and respiration of fruiting cotton. Crop Science., Madison, v.31, n.5, p , MATEUS, G. P.; LIMA, E. V.; ROSOLEM, C. A. Perdas de no algodoeiro por chuva simulada. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 39, n. 7, p , 24. PALLADINI, L.A. Metodologia para avaliação da deposição em pulverizações. 2, 111f. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP, SP. SILVA, R.J.M. Observações preliminares do comportamento do cloreto de mepiquat em algodoeiro herbáceo no estado de Goiás. Goiás: Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária, (Comunicado Técnico-Científico,5). SOUZA, F.S. Persistência de cloreto de mepiquat em plantas de algodão em função da precipitação. Botucatu, 24, 59f. Dissertação (Mestrado em Agricultura) Faculdade de Ciências Agronômicas. UNESP, SP. SOUZA, F.S.; ROSOLEM, C.A. Rainfall intensity and mepiquat chloride persistence in cotton. Scientia Agricola, Piracicaba, v.64, n.2, p , 27.