Doses de Fósforo na Produção de Sementes de Alface.

Transcrição

1 Doses de Fósforo na Produção de Sementes de Alface. Cristiaini Kano 1 ; Antonio Ismael Inácio Cardoso 1 ; Roberto Lyra Villas Bôas 2 1 UNESP FCA Depto Produção Vegetal, C. Postal 237, , Botucatu, SP. 2 UNESP FCA Depto Recursos Naturais, C. Postal 237, , Botucatu, SP. criskano@fca.unesp.br RESUMO Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a influência de doses de fósforo na produção de sementes de alface crespa cultivar Verônica. O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental São Manuel, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Botucatu/SP no período de setembro de 2003 a fevereiro de Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com cinco repetições e cinco tratamentos (0, 200, 400, 600 e 800 kg ha -1 de P 2 O 5 ). Observouse um aumento linear na produção de sementes por planta de alface com o aumento da dose de P 2 O 5 aplicado. Palavras-chave: Lactuca sativa L., adubação mineral, P 2 O 5 ABSTRACT Rates of phosphorus in the lettuce seed production. This work was carried out with the objective to evaluate the influence of phosphorus rates in the seed production of lettuce cultivar Verônica. The experiment was conducted from September 2003 to February 2004 at Experimental Farm São Manuel, Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu/SP. The experiment was conducted in randomized complete blocks, with five replications and five treatments (0, 200, 400, 600 e 800 kg ha -1 of P 2 O 5 ). It was observed a linear increase in the lettuce seed production with the increase of P 2 O 5 rate applied. Keywords: Lactuca sativa L., mineral fertilization, P 2 O 5 A alface (Lactuca sativa L.) é uma hortaliça de grande importância, por ser bastante consumida como salada, sendo provavelmente a hortaliça para consumo de folhas com maior área plantada no Brasil. A produção total comercializada de alface crespa, durante os anos de 2001 e de 2002 foi de aproximadamente e toneladas, respectivamente (FNP,

2 2003). Para se obter esta produção há a necessidade de um grande volume de sementes de cultivares adaptadas. No Brasil, o segmento de sementes de hortaliças movimenta, anualmente, aproximadamente 10% do movimento comercial do segmento de sementes de grãos e oleaginosas e cerca de 37% do mercado de sementes forrageiras. Em 2000 foram gastos cerca de 17 milhões de dólares com importação de sementes de hortaliças e estima-se que existam aproximadamente 100 empresas operando no Brasil como produtoras, atacadistas e/ou importadoras de sementes de hortaliças (Nascimento, 2001; Virgílio, 2001). O fósforo é essencial para a boa formação de sementes e frutos e participa de um grande número de compostos das plantas essenciais em diversos processos metabólicos, além de estimular o desenvolvimento radicular. Sua deficiência provoca atraso no florescimento e redução no número de sementes e frutos. A fitina é a principal forma de armazenamento de fósforo na semente e possui função durante a germinação da semente (Malavolta, 1980; Raij, 1991; Marschner, 1995). Para alface, quando se busca a produção de sementes ocorre aumento no seu ciclo e as informações relacionadas às exigências nutricionais são raras o quê, provavelmente, possa estar influenciando a produtividade de sementes. Em função disso, tem-se a necessidade de se conhecer a melhor adubação a ser utilizada. Devido à importância do fósforo na semente, percebe-se a necessidade do conhecimento da quantidade desse nutriente a ser utilizada para obtenção de uma melhor produtividade e, conseqüentemente, melhor benefício aos produtores e às empresas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de doses de fósforo na produção de sementes de alface. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido na Fazenda Experimental São Manuel, localizada no município de São Manuel SP, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus de Botucatu/SP. Está localizada à latitude de 22 o 44 S, longitude 48º34 O e altitude de 750 m. As plantas de alface crespa cultivar Verônica foram conduzidas em estufas com 20m de comprimento, largura de 7m e pé-direito de 2,5m, com altura de 3,8m na sua parte mais alta. O solo utilizado no experimento foi o LATOSSOLO VERMELHO Distrófico Típico (Embrapa, 1999) com os seguintes resultados obtidos da análise química: ph(cacl 2 )=5,8;

3 P resina =14mg dm -3 ; matéria orgânica=7g dm -3 ; V%=63; H+Al=13mmolc dm -3 ; K=0,8mmolc dm -3 Ca=14mmolc dm -3 ; Mg=8mmolc dm -3 ; SB=22mmolc dm -3 e CTC=34mmolc dm -3. A calagem foi realizada 30 dias antes do transplante das mudas, utilizando-se calcário de alta reatividade, de modo a elevar-se à saturação por bases a 80% e faixa de ph próximo de 6,0 conforme a recomendação sugerida por Raij et al. (1996). Para a adubação de plantio foram utilizados como fonte de potássio, fósforo e matéria orgânica o cloreto de potássio, o superfosfato triplo e o Biomix, respectivamente. Todo fósforo foi fornecido apenas no plantio e a aplicação de potássio foi realizada de modo a elevar o seu teor para 3mmolc dm -3. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com cinco repetições, cinco tratamentos sendo quatro plantas por parcela. Devido ao fato de o ciclo da alface para produção de sementes ser maior do que para o cultivo comercial, adotaram-se os seguintes tratamentos: zero, a metade da dose de fósforo recomendada por Raij et al. (1996), a dose recomendada, uma vez e meia da dose recomendada e o dobro da dose recomendada (sendo conforme a análise química do solo utilizado, o equivalente a 0, 200, 400, 600 e 800 kg ha -1 de P 2 O 5 ). A semeadura foi realizada no dia 25/09/03 em bandejas de poliestireno expandido de 128 células contendo substrato comercial para hortaliças colocando-se duas a três sementes por célula com posterior desbaste para uma planta por célula. As mudas foram transplantadas em 30/10/03, em vasos de plástico com volume de 13 litros sendo conduzida uma planta por vaso, totalizando seis linhas de vasos no sentido longitudinal da estufa, espaçadas de 1,0m e os vasos espaçados de 0,5m entre plantas (centro a centro dos vasos). As plantas foram tutoradas de modo a evitar o tombamento das mesmas na fase reprodutiva. O controle fitossanitário foi realizado sempre que necessário e para a irrigação utilizaram-se gotejadores instalados individualmente nos vasos. A colheita das sementes foi realizada manualmente iniciando-se aos 117 dias após a semeadura (DAS) e finalizando-se aos 138 DAS. Após a análise de variância, realizou-se a análise de regressão em função das doses de P 2 O 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO A resposta da utilização de P 2 O 5 na produção de sementes de alface ajustou-se estatisticamente ao modelo linear (Figura 1), podendo-se observar uma tendência de maior

4 necessidade de fósforo quando o objetivo é produzir sementes em relação à produção de folhas para o consumo in natura. Em relação à testemunha, observa-se que a produção de sementes foi praticamente duplicada com a maior dose utilizada (800 kg ha -1 de P 2 O 5 ). Porém, deve-se destacar que o experimento foi realizado utilizando-se um solo com baixo teor de fósforo, e que o ciclo da cultura foi cerca de três vezes maior do que o normal para o cultivo para o consumo in natura. Ressalta-se que no início da fase reprodutiva, a exigência nutricional para a maioria das espécies torna-se mais intensa, sendo mais crítica por ocasião da formação das sementes, quando considerável quantidade de nutrientes, como o fósforo e o nitrogênio, são para elas translocada (Carvalho & Nakagawa, 2000). Verifica-se que a produção de sementes obtida neste trabalho esteve próxima da relatada por Viggiano (1990) para a cultivar de verão Regina que foi de 3,86 g planta -1. Conclui-se que a necessidade de fósforo para produção de sementes é bem maior do que para a produção de alface para consumo in natura. Produção de sementes (g planta -1 ) 4,74 4,24 3,74 3,24 2,74 2,24 y = 2, ,0027 x Dose de P 2 O 5 (kg ha -1 ) Figura 1. Produção de sementes de alface (g planta 1 ) em função de doses de P 2 O 5. AGRADECIMENTOS À CAPES pela concessão da bolsa à primeira autora. LITERATURA CITADA

5 CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4. ed. Jaboticabal: FUNEP, p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: Embrapa, p. FNP CONSULTORIA & COMÉRCIO. AGRIANUAL 2003: anuário da agricultura brasileira. São Paulo, p : alface: volume comercializado. MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo: A. C., p. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2. ed. London: A. P., p. NASCIMENTO, W.M. Mercado de sementes de hortaliças no Brasil. Horticultura Brasileira, Brasília, v.19, Suplemento, Palestras, julho RAIJ, B. Van. Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba: POTAFÓS, p. RAIJ, B. Van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: INSTITUTO AGRONÔMICO & FUNDAÇÃO IAC, p. VIGGIANO, J. Produção de sementes de alface. In: CASTELLANE, P.D.; NICOLOSI, W.M.; HASEGAWA, M. ed. Produção de sementes de hortaliças. Jaboticabal: FCAV/FUNEP, 1990, p VIRGÍLIO, I.G.F. Sementes da mudança. Revista de agronegócios da FGV, São Paulo, v.21, n.8, p.13-15, agosto 2001.