Diferença ou Deficiência? - Um projeto de leitura e produção textual em Língua Portuguesa
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- Luiz Henrique Lisboa Macedo
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1 Diferença ou Deficiência? - Um projeto de leitura e produção textual em Língua Portuguesa Mariana Backes Nunes Sara Souza Filikoski Introdução Este projeto de ensino tem como foco a desconstrução da diferença/deficiência tendo em vista uma pedagogia que prepara os alunos para serem cidadãos ativos, propiciando a eles uma crítica à realidade a fim de desconstruir o estigma de que alguns conhecimentos (ou algumas pessoas) são mais naturais (ou superiores) a outros. Estas aulas foram planejadas para serem aplicadas em uma turma de Ensino Médio na disciplina de Língua Portuguesa. Dessa forma, diferentes culturas e diferentes verdades serão questionadas através de textos e vídeos, sendo por fim problematizadas nas produções textuais dos alunos. Pressupostos Teóricos Segundo o pós-estruturalismo, a prática pedagógica passa a ser não mero conteúdo, mas uma luta político-social (CORAZZA, 1998); assim sendo, um espaço, também para discussão/desconstrução de temas importantes, porém silenciados, como as deficiências. Para tanto, seguimos a perspectiva teórica pós-estruturalista em que a linguagem tem maior ênfase, vista como um sistema de significação. Conforme essa perspectiva, devemos desconfiar da verdade porque a verdade é simplesmente uma questão de verificação empírica (SILVA, 2001, p. 123). Devemos então nos perguntar por que algo se tornou verdadeiro, como ele se legitimou como tal, a que grupos sociais essa verdade favorece e quais grupos sociais ela exclui. Dessa forma, podemos estender a desconfiança da verdade ao saber, afinal, todo conhecimento tem um vínculo com o poder, já que o saber é historicamente produzido e legitimado (saber e poder são mutualmente dependentes, segundo Foucault - outro teórico pós-estruturalista). paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº
2 O pós-estruturalismo propõe vincular a escola ao contexto a que ela se insere ao tentar compreender as realidades existentes e ao procurar entender como certos saberes e certas diferenças se legitimaram como verdade. Nesta pedagogia crítica libertadora, estamos mais atentos às narrativas dos grupos oprimidos, trazendo para a sala de aula diversas perspectivas sobre um mesmo assunto com intenção de quebrar os silenciamentos de algumas vozes e desconstruir visões estereotipadas de culturas minoritárias. Assim, temos como exemplo a construção da significação da palavra deficiência. Por definição, deficiência é anormalidade, imperfeição, falta, lacuna, deformação e, stricto sensu, isso é verdade, pois "a espécie humana tem na "vocação" de sua forma/função a existência de certas características" (AMARAL, 1998, p. 14); porém, deficiência também carrega uma forte conotação preconceituosa, por conta de mitos e ignorância. É este conceito de deficiência que deve ser quebrado e desconstruído. Sumário das Aulas Aula 1 1º momento: Trazer os estereótipos Para dar inicio ao projeto, certos estereótipos que os alunos possam ter sobre pessoas portadoras de necessidades especiais serão trazidos à luz pelo professor. Algumas palavras depreciativas utilizadas para classificar essas pessoas - mongoloide, retardado, inválido, incapaz - serão colocadas no quadro com objetivo de desmitificálas. Após, será mostrado aos alunos como a linguagem carrega certas perspectivas e certos preconceitos somente em uma palavra. Eles serão convidados a refletirem sobre o assunto. O politicamente correto e o não dito serão também tópicos desta aula: paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº
3 Será que ao evitar essas palavras estaremos mesmo respeitando o outro? Ou somente estamos querendo parecer legais e bonzinhos, não querendo nos comprometer na nossa fala? Será que, apesar de não utilizarmos palavras discriminatórias, a discriminação não está implícita em nossos discursos? Se, sim, dê a sua opinião sobre como podemos reverter esse quadro. Por fim, quatro vídeos que desconstroem imagens estereotipadas¹ serão apresentados aos alunos e debatidos pelo grande grupo. 2º momento: O que é diferença e o que é deficiência? Neste momento será apresentado o vídeo "Deficientes"². Nesse vídeo, o mundo é adaptado para cadeirantes, cegos, surdos, enquanto as pessoas tidas como normais é que são os diferentes. Através desse vídeo, alguns questionamentos serão levantados: O que aconteceria se o mundo fosse totalmente adaptado para pessoas portadoras de necessidades especiais? Se o natural fosse ser cadeirante, surdo, cego, etc.? Quem então seriam os deficientes desse mundo? Se tivéssemos alunos cadeirantes, surdos, cegos nesta escola, que mudanças teriam que ser feitas para tornar a escola um local acessível e confortável a elas? Exemplos de vivência dos alunos com pessoas portadoras de necessidades especiais, pessoas que eles têm contato no seu círculo social, serão solicitados pelo professor, tornando a temática e as discussões mais próximas do cotidiano desses alunos. Em conjunto com os alunos, professor montará um quadro sobre quais diferenças são consideradas aceitáveis e normais em nossa sociedade e quais não são, e o porquê dessas distinções será também debatido. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº
4 Aula 2 1º momento: O texto literário Nesta aula haverá a leitura de um fragmento do livro de Cristovão Tezza O filho eterno (2007). O livro conta a história de um pai que rejeita o filho logo no nascimento devido ao fato de que ele nasceu com síndrome de Down. Após a leitura, será dada uma tarefa que se constitui em questões relacionadas ao texto a serem discutidas em grupos e respondidas individualmente. Haverá um momento de debate em que os alunos trazem suas respostas ao grande grupo. 2º momento: Produção textual Finalizando o nosso projeto, uma produção de um texto dissertativo argumentativo será sugerida aos alunos sobre a temática Diferença ou Deficiência?. Nesse momento, assim como nos debates anteriores, eles terão espaço para trazem suas reflexões sobre o assunto tratado neste projeto. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº
5 Referências AMARAL, Lígia. Sobre crocodilos e avestruzes: falando das diferenças físicas, preconceitos e sua superação. In: AQUINO, Júlio (org.) Diferenças e preconceitos na escola. Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summos, 1998, p CORAZZA, S. M. Temas Culturais: um modo de luta curricular. Panambi: Palestra concedida no 7º Seminário Municipal e no 4º Seminário Regional de Educação. 03 ago ²EDF (França). Quand Votre Monde s\'éclaire Disponível em: Acesso em: 08/06/2015 Deficiência Visual Disponível em: Acesso em: 08/06/2015 Deficiência Física Disponível em: Acesso em: 08/06/2015 Deficiência Auditiva Disponível em: Acesso em: 08/06/2015 Deficiência Intelectual Disponível em: Acesso em: 08/06/2015 SILVA, Tomaz Tadeu. A crítica pós-estruturalista do currículo. In:. Documentos de identidade - Uma introdução às teorias de currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p TEZZA, Cristovão. O filho eterno. 10ª ed. Rio de Janeiro: Record, paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº
6 Mariana Backes Nunes Graduanda em Letras Licenciatura com ênfase em Língua Portuguesa e Língua Inglesa e suas respectivas literaturas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente atua como bolsista de Iniciação Científica (SEAD/UFRGS) nas áreas de Linguística Aplicada e Tecnologia Educacional. Sara Souza Filikoski Graduanda em Letras Licenciatura com ênfase em Língua Inglesa e suas respectivas literaturas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente atua como professora de Inglês em curso de idiomas. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº
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