Educação Ambiental: a formação continuada do professor

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1 Educação Ambiental: a formação continuada do professor

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4 2012 Keila Maria de Alencar Bastos Andrade Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. An248 Andrade, Keila Maria de Alencar Bastos Educação Ambiental: A formação continuada do professor/keila Maria de Alencar Bastos Andrade. Jundiaí, Paco Editorial: p. Inclui bibliografia. Inclui tabelas. ISBN: Educação Ambiental 2. Formação Continuada 3. Construção do Conhecimento 4. Meio Socioambiental. I. Andrade, Keila Maria de Alencar Bastos. CDD: 370 Índices para catálogo sistemático: Educação Pedagogia 370 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal Rua 23 de Maio, 550 Vianelo - Jundiaí-SP contato@editorialpaco.com.br

5 Ao meu esposo Eliézer Aos meus filhos Danielle Eline e Eliézer Júnior Aos meus pais Eliézer (in memoriam) e Marlene Aos meus irmãos Ebenézer, Eliéber, Neila, Neida, Neiva, Itaciara e Antônia

6 As palavras do sábio são: Para se conhecer a sabedoria e a instrução, Para se entender as palavras da prudência, Para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade, Para dar aos simples a prudência e aos jovens o conhecimento, Para o sábio ouvir e crescer em sabedoria e o entendido adquirir sábios conselhos......o temor do Senhor é o princípio de toda ciência. Prov. 1: 2-5, 7

7 Sumário Introdução...9 Capítulo 1 Educação ambiental e os rumos da sociedade Retrospectiva histórica da construção do conhecimento A natureza na antiguidade grega A natureza na época medieval A natureza nos tempos modernos (séc. Xvi e xvii) A natureza no século xix A natureza na visão contemporânea Educação frente aos desafios contemporâneos Novos rumos para a educação Educação ambiental no cenário de transformação...38 Capítulo 2 Bases epistemológicas da educação ambiental Epistemologia da complexidade Epistemologia genética de Jean Piaget e o sociointeracionismo de Vygotsky A epistemologia da racionalidade ambiental Referênciais internacionais da educação ambiental Referenciais nacionais da educação ambiental Década da educação para o desenvolvimento sustentável..95 Capítulo 3 A metodologia Propacc e a formação de professores em educação ambiental Formação de multiplicadores em educação ambiental Metodologia Propacc: fundamentação teórica Resultados da metodologia Propacc no cenário nacional O contexto da pesquisa A prática docente da educação ambiental em codajás..127 Capítulo 4 Formação continuada como estratégia de mudança Formação continuada e o Propacc Resultados da metodologia Propacc em codajás...139

8 2.1 Análise documental Formação continuada e planejamento curricular Reflexões finais Referências Lista de Tabelas Quadro 1 Resultado da aplicação do Propacc Quadro 2 Modelo da Matriz de Identificação de Problemas Socioambientais Quadro 3 Matriz I - Identificação de Problemas Socioambientais Elaborada pelos Professores do 1º ao 5º Ano Quadro 4 Modelo da Matriz de Potencialidades do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Quadro 5 Matriz Ii - Potencialidade do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Elaborada pelos Professores do 1º ao 5º ano Quadro 6 Matriz Iii - Inter-Relações Complexas entre os Problemas Ambientais Identificados Quadro 7 Modelo da Matriz de Problemas e Possíveis Soluções Quadro 8 Matriz VI Seleção de Problemas e Possíveis Soluções Elaborada pelos Professores do 1º ao 3º Ano do Primeiro Ciclo Quadro 9 Modelo da Matriz de Currículo I Quadro 10 Matriz Síntese de Currículo I Elaborada pelos Professores do 6º Ano do Ensino Fundamental Quadro 11 Modelo da Matriz de Currículo II Quadro 12 Matriz Síntese de Currículo II...166

9 INTRODUÇÃO É urgente a necessidade de mudança do comportamento humano em relação ao meio socioambiental numa contraposição ao modelo de desenvolvimento econômico fundamentado no pensamento cartesiano, no sentido de promover a harmonia entre os seres e melhor qualidade de vida para todos. A degradação ambiental exige reflexão, discussão e ações que aprofundem a articulação entre educação, trabalho, ambiente e desenvolvimento econômico, visto que a busca de alternativas viáveis para um modelo econômico ecologicamente sustentável torna-se imprescindível. Diante da realidade presente, a educação emerge como um instrumento de transformação, como possibilidade de melhoria da atual conjuntura. Para tanto, faz-se necessário um modelo educativo que possibilite o diálogo entre os saberes e um currículo que permita a visão complexa do conhecimento, da realidade e conduza a reflexões mais aprofundadas acerca da inter-relação homem-natureza-sustentabilidade. A busca da ressignificação da educação escolar (mais especificamente do ensino e da aprendizagem) e da condução das ações educativas no âmbito político e social é condição necessária para o favorecimento da compreensão do homem na sua individualidade, realidade e totalidade. Diante de tal afirmação podemos concluir que a escola (como instrumento a serviço da sociedade), mais explicitamente a sala de aula, é um ponto de referência para a construção da formação do indivíduo que interaja no meio social com consciência político-crítica (consciente dos seus direitos e deveres, articulador nas relações e na busca de soluções de problemas), compreenda o poder da participação no coletivo e comprometa-se com um projeto de desenvolvimento justo, solidário e sus- 9

10 Keila Maria de Alencar Bastos Andrade tentável para a humanidade. Nesse contexto, a Educação Ambiental crítica e transformadora surge como uma forma de reestruturação do processo educativo e de mudança de valores aplicados à prática social e ao sistema educativo vigente, fragmentado e superficial. Através de práticas voltadas para as atividades transversais e interdisciplinares, ela pode contribuir para consolidação da educação escolar. Segundo a Carta de Belgrado (Unesco, 1975), a Educação Ambiental deve desenvolver um cidadão consciente do ambiente como um todo, preocupado com os problemas associados ao meio e que tenha conhecimento, atitudes, motivações, envolvimento e habilidades para trabalhar de forma individual, coletiva, resolver problemas atuais e prevenir os futuros. A Educação Ambiental, portanto, propõe que os indivíduos e a coletividade compreendam a natureza complexa do ambiente natural e daquele criado pelo homem, resultante da integração de seus aspectos biológicos, físicos, sociais, políticos, econômicos, culturais e adquiram conhecimentos, valores, comportamentos e habilidades necessários para a convivência humana e com o meio natural de forma saudável. Nesse sentido, a ação profissional do educador é de fundamental importância. No entanto, a deficiência na formação do educador para esse trabalho é evidente. Em muitos contextos escolares não existe uma proposta pedagógica nem política de formação profissional norteada pela Educação Ambiental. Existe, sim, uma lacuna teórica de conceitos e concepções, tornando a prática pedagógica mecânica e descontextualizada. Os professores ficam presos ao livro didático sem, muitas vezes, contextualizar os conteúdos, sem levar em consideração o acontece no contexto socioambiental em que os atores estão envolvidos, seja no âmbito local ou global. Portanto, com o despreparo profissional e uma proposta curricular desarticulada das questões ambientais, a Educação Ambiental deixa 10

11 Educação Ambiental: a formação continuada do professor de ser praticada na escola de forma coerente com as necessidades locais e globais, o que requer, urgentemente, investimento em políticas públicas que visem o fortalecimento da formação profissional e a elaboração ou reelaboração de conhecimentos e práticas voltados para a sala de aula. Partindo da necessidade de compreender o referencial teórico e as práticas dos educadores que atuam no ensino fundamental (1º ao 6º Ano) propomos um trabalho de formação continuada, fundamentada nos pressupostos da Educação Ambiental, buscando, primeiramente, conhecer as representações, conceitos e concepções dos professores sobre o tema, os fundamentos da proposta escolar e as atividades desenvolvidas em sala de aula, a fim de intentar uma metodologia capaz de responder às necessidades educativas. Este livro está voltado à identificação e análise das ações pedagógicas direcionadas à Educação Ambiental, relacionadas à formação do professor, pondo em evidência conceitos e concepções, além dos problemas concretos enfrentados pelos profissionais nas suas atividades educacionais. Esse aspecto tornou-se relevante para a caracterização do universo da Educação Ambiental e criação de alternativas condizentes com a realidade socioambiental do contexto estudado. Para tanto, optamos por construir uma base epistemológica com as referências de Edgar Morin para a complexidade, o construtivismo de Jean Piaget, o sociointeracionismo de Vigotsky e a Epistemologia da Racionalidade Ambiental de Henrique Leff. A Educação Ambiental inserida no currículo escolar de forma transversal e interdisciplinar implica o conhecimento dos referenciais internacionais, nacionais e estaduais e de estratégias educativas capazes de responder aos desafios impostos pela modernidade. Assim, a Proposta de Participação-Ação para a Construção do Conhecimento-Propacc, um processo de formação continuada de educadores que tem como finalidade a 11

12 Keila Maria de Alencar Bastos Andrade introdução da Educação Ambiental no ensino formal através da reforma curricular, foi a estratégia de trabalho proposta. A metodologia problematiza as questões ambientais globais, nacionais, estaduais e municipais para, em seguida, propor soluções, incorporando-as às práticas educativas ambientais nas escolas e nas políticas das Secretarias de Educação. Por meio de uma planilha matricial que possibilita a análise crítica e abrangente dos sistemas ambientais, suas inter-relações, problemas e potencialidades, os participantes elaboram, coletivamente, propostas de políticas e de reestruturação curricular. Este livro tem a intenção de refletir sobre a Educação Ambiental e os rumos da sociedade, as bases epistemológicas, os referenciais voltados para o tema e a formação continuada como estratégia de mudança. É feita uma retrospectiva histórica da construção do conhecimento com a finalidade de compreender a experiência humana de concepção de mundo, que desencadeia as relações entre os homens e entre estes e a natureza. A retrospectiva histórica foi construída a partir da Antiguidade grega e medieval, destacando o pensamento renascentista e iluminista do século dezoito (que desencadeou a evolução do conhecimento em escala exponencial e faz, ainda hoje, com que o homem continue a acreditar nos sonhos modernos de que pode controlar seu destino e tudo que o cerca) até chegar à visão contemporânea situando a Educação Ambiental como instrumento de transformação. Esse aspecto tornou-se relevante, pois, diante da necessidade de dominar o mundo, o ser humano, em benefício próprio ou da sociedade da qual faz parte, vem acumulando conhecimentos e desenvolvendo ações capazes de transformá-lo. Na singularidade e na diversidade de sua existência, na relação consigo mesmo e com os outros semelhantes e ainda com o meio que o cerca, o homem encontra subsídios para sua humanização ou desumanização. 12

13 Educação Ambiental: a formação continuada do professor O livro também trata das bases epistemológicas que sustentam a Educação Ambiental, identificando as teorias que reorientam os paradigmas atuais de conhecimento, ensino e aprendizagem e as novas alternativas de relações e desenvolvimento para a humanidade na esfera planetária. Essas teorias contribuíram para o entendimento de que a reforma do pensamento necessária é aquela que gera um pensamento do contexto (político, social, econômico, demográfico, ecológico, cultural, procurando sempre a relação de inseparabilidade entre todo o fenômeno e seu contexto e de todo contexto com o contexto planetário) e do complexo (pensamento que reúne o que está separado, compartimentado, respeitando o diverso sem deixar de reconhecer o uno, discernindo as interdependências). Os referenciais para a Educação Ambiental também foram abordados com vistas ao entendimento que a educação é um meio viável para que a transformação aconteça e uma nova concepção de vida se concretize no planeta. Para isso, várias conferências internacionais e nacionais foram realizadas, decisões foram tomadas e referenciais instituídos para a construção de um novo caminho no mundo em que a solidariedade, a justiça e o respeito ao ambiente se tornem parte integrante da vida humana. Os educadores, em geral, não atribuem ao tema a devida importância e se sentem despreparados para lidar com questões relacionadas às possibilidades e problemáticas ambientais no currículo escolar. Por conseguinte, a Educação Ambiental tem sido tratada de forma pontual, restringindo-se às informações dos livros didáticos, às datas comemorativas e, no geral, projetos desarticulados da realidade social. Durante a realização do estudo que deu origem a este livro, comprovamos a existência de contradições e um vazio no uso de conceitos e métodos utilizados na sala de aula e escassa produção e distribuição de materiais didáticos. Observamos, ainda, deficiência na formação do educador e seu 13

14 Keila Maria de Alencar Bastos Andrade despreparo mediante a aplicação do princípio da interdisciplinaridade no contexto curricular. Havia evidentes sinais de que a Educação Ambiental não se efetuava de forma eficiente, com a relevância que lhe é própria. O trabalho com a metodologia Propacc permitiu avanços significativos na inserção da dimensão ambiental no currículo, resultando em uma proposta de trabalho diferenciada para ser executada na escola logo após a formação. Partindo desse princípio, podemos afirmar que as políticas públicas para educação precisam contemplar a dimensão ambiental, tratando essa questão como algo vital para o indivíduo. A escola precisa reorganizar o currículo a fim de que sejam superadas as dificuldades enfrentadas pelos professores no cotidiano do ensino e da aprendizagem. Tais iniciativas são necessárias e devem ser efetivadas de forma urgente para que se possa pensar desenvolvimento e crescimento socioeconômico com ações ecologicamente responsáveis, suscitando o bem-estar social dos munícipes. 14

15 Capítulo 1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS RUMOS DA SOCIEDADE A vida em sociedade pressupõe, de modo permanente, a produção de significados. A cada época histórica, a humanidade cria seus sistemas de representações, classificações, nomeações de novos conhecimentos, possibilitando a compreensão destes a partir de ideias, das culturas, valores, teorias e práticas preexistentes e aceitas socialmente. O mundo antigo e o medieval concebia uma visão orgânica de mundo e um modo de situar-se no cosmos ordenado e determinado. A vida em comunidades pequenas e coesas, com relativa autonomia, permitia a vivência, mais proximamente, dos processos socionaturais com interdependência entre fatores espirituais e materiais. Cientistas medievais, investigando os fenômenos naturais, tinham enorme consideração pelas questões relativas a Deus, à alma e à ética (Capra, 1982 apud Pelizzoli, 2002). Do século XVI ao XVIII a humanidade vivenciou uma de suas maiores transformações existenciais. O Renascimento, o Humanismo e o Iluminismo impuseram uma mudança de era: o ato criador e preservador da criação foi substituído pelas leis naturais e as novas descobertas relativizaram a posição humana no cosmos. A Revolução Científica trouxe a metáfora de conhecimento do mundo como uma máquina, apresentando o universo como um grande aparelho mecânico. Nessa perspectiva, todos os eventos são determinados inteiramente por leis naturais, em um encadeamento de causa e efeito, e os seres humanos retomam o prazer de pensar e produzir o conhecimento através das ideias. O nascimento da ciência moderna foi caracterizado por um cunho generalizante, antropocentrista e mecanicista. Se- 15