CULTURA MATERIAL E O ENSINO DE HISTÓRIA: PERSPECTIVAS ACERCA DAS CULTURAS INDÍGENAS ENQUANTO PARTE INTEGRANTE NA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO
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1 153 CULTURA MATERIAL E O ENSINO DE HISTÓRIA: PERSPECTIVAS ACERCA DAS CULTURAS INDÍGENAS ENQUANTO PARTE INTEGRANTE NA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO Maria Helena Azevedo Ferreira (PIBID- UEM) Orientadora: Isabel Cristina Rodrigues (UEM) Resumo: Nosso trabalho está orientado sob duas principais perspectivas: a primeira diz respeito aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 1997 e a segunda perspectiva se refere às novas exigências do cenário escolar brasileiro, onde o estudo das culturas indígenas, tornou-se obrigatório a partir da lei nº de O trabalho consiste em fornecer uma abordagem do tema referente ao estudo das culturas indígenas por meio da cultura material, primeiramente explicitando seu o conceito e oferecendo um breve panorama das suas abordagens. Além disso, entendemos a que a cultura material, por meio dos artefatos, sendo uma forma de mediação do conhecimento no processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, as culturas indígenas podem adquirir materialidade aos olhos dos alunos. Assim, contextualizando tais objetos, temos uma alternativa de ensino que vem ao encontro das novas realidades no ensino brasileiro. A proposta ainda consiste em atender ao PCN de história, cuja orientação é fornecer uma problematização ao aluno com relação à formação do povo brasileiro, apresentando, um novo olhar na medida em que a os conteúdos sobre os povos indígenas no Brasil, na maioria dos livros didáticos, ainda se apresentam carregados de estereótipos e exotismos com relação às culturas indígenas e privilegiando a cultura europeia. Desse modo temos uma alternativa de abordagem neste tipo de estudo, que se apresenta como meio de enfrentar a realidade atual do ensino de história. Palavras-chave: Cultura material; Povos Indígenas; Ensino de história. O presente artigo tem o intuito de explicitar as inclinações do ensino de cultura material no âmbito da história, inserindo, também um contexto de formação de um primeiramente dando um panorama do conceito, também tentando historicizar sua utilização como objeto de estudo e suas formas de abordagem. Em seguida abordaremos a importância do estudo dos povos indígenas através da cultura material, assim também indicando encaminhamentos acerca do trabalho com esse tipo de fonte e dando ênfase nos aspectos que nos ajudam a pensar a sociedade indígena. Utilizando, primeiramente duas principais perspectivas que é da Lei nº e os Parâmetros Curriculares Nacionais de O assunto é de vital importância no conhecimento das populações indígenas, visto que é grande a necessidade de aprender-se sobre este tipo de assunto, fazendo o aluno conhecer suas origens, conhecer uma parte importante da história do Brasil. Essa concepção, de que o aluno tem estar em contato com essa realidade, levou a constituição da lei nº de 2008, que se preocupa com que o aluno esteja ciente da formação da população brasileira, tanto no sentido cultural, como também considerando os diversos
2 154 aspectos de sua história. Desse modo a instauração de tal lei leva à necessidade de diferentes abordagens, desligando-se portanto do ensino tradicional que era abordado frequentemente, que circundava o estudo da cultura europeia. Com relação ao PCN de história, são colocados os principais intuitos para com a formação do aluno. O primeiro aspecto notado é a questão da cidadania, ou seja, espera-se que o discente compreenda seu papel na sociedade, como possuidor de direitos e deveres e ao mesmo tempo situandoo dentro de um contexto social, onde as diferenças entre os indivíduos devem ser respeitadas. Assim, com a pretensão de formar, sobretudo um cidadão crítico, os parâmetros curriculares nacionais mostram que discente deve compreender a formação do Brasil como um todo, nos sentidos sociais, materiais e culturais, compreendendo, inclusive a realidade indígena. Dessa forma o ensino de história ganha objetivos específicos, que circundam a formação de nossa identidade: Assim, é primordial que o ensino de história estabeleça relações entre as identidades individuais, sociais e coletivas, entre as quais se constituem como nacionais. Esse movimento se faz necessário na medida em que se é observado um perca de identidade de caráter nacional, pretende-se fazer isso buscando um passado em comum desses alunos, fazendo-os compreender que fazem parte de uma mesma coletividade, que diz respeito a uma realidade brasileira posterior. O ensino de história, portanto, se prende em duas vertentes: a compreensão do eu, ou seja, entender nossa própria sociedade e a compreensão do outro. Para isso é preciso reconhecer as diferenças dos indivíduos dentro da própria sociedade, para assim melhor assimilar a presença do outro. Tendo isso em mente, podemos considerar o ensino dos povos indígenas por meio da cultura, um meio eficaz de aprendizagem, na medida em que corresponde à lei e ao mesmo tempo atende a necessidade de um material didático para se tratar desse assunto, entendendo que a lei ainda é, de certo modo recente, portanto acreditamos que os estudo através da cultura material é um bom meio de tratar a cultura desses povos. Primeiramente trataremos do conceito de cultura material colocado por Marcos Pires Leodoro (2001), assim a noção existente hoje acerca do tema cultura material provém da segunda metade do século XIX, época essa que se desenvolvem vários estudos relacionados com o homem e a sociedade. Mais tarde ainda no século XIX a perspectiva material de uma sociedade é enquadrada na ideia de infra-estrutura apregoada pelo marxismo, enquanto fenômeno tangente ao materialismo histórico. A partir da chegada da Escola dos Annales há uma mudança no sentido anexar novos problemas, novas abordagens e novos objetos ao quadro de estudo de historiográfico, essa nova concepção permite a disciplina ampliar seus objetos de análise de forma a abranger campos de estudo que até então não eram alcançados pela história, assim a fonte não fica reduzida somente a documentos escritos e ganha novas possibilidades. Assim a cultura material passou a estar vinculada as áreas de história e arqueologia, podendo ser delimitada como campo de estudo. Sérgio Baptista da Silva aponta que a cultura material é reflexo de uma cultura concebida como patrimônio abstrato (SILVA, 1996, p.267), elucidando o contexto mental da sociedade.
3 155 Podemos entender também o conceito de cultura material separadamente como sugere Leodoro, baseado em Bucaille e Pesez (1989), no que se refere à cultura o autor se remete a coletividade e repetição ausentando-se de qualquer individualidade, já o termo material diz respeito a objetos concretos que está implícito ao seu modo de fabricação e suas características, possuindo, desse modo uma autonomia. Em seu ensaio, Marcelo Rede (1996) aborda as novas tendências no estudo da cultura material enquanto agente histórico, assim nos permite entender quais as implicações do uso da mesma como fonte. Além da do aspecto físico, Rede chama atenção para a relação sujeito/objeto, nessa associação é importante destacar o modo de observação desse individuo, onde o objeto ganha um status de identidade na medida em que é conferido a ele valores a ele a partir dessa observação, sendo, como aponta o autor, o reflexo mental de uma sociedade. Remetendo-se ao artigo de Jules D. Prown, Marcelo Rede coloca que essas impressões em torno do objeto são como ficções, fazendo uma analogia entre os artefatos e os sonhos, o autor aponta que os primeiros são como representantes de uma verdade cultural representada do cotidiano, que muitas vezes não é percebido e está subentendido no inconsciente. Para melhor assimilar o que seria a cultura material nos é necessário, como coloca Rede, entender um processo de contextualização, onde é levado em consideração universo mental do criador, compreendo o aspecto social na formação do ideário do objeto e ao mesmo tempo o traço psicológico contido nele. Dessa forma Rede apresenta uma linha comportamental para pensar o estudo da cultura material, dessa forma o indivíduo é visto como meio das relações culturais, onde as atitudes individuais que revelam a cultura e consequentemente são expostas na cultura material e ao mesmo tempo Rede, baseado em Mihaly Csikszentmihalyi, aponta que a relação entre homem e objeto faz parte de uma dependência psíquica do homem, pelo fato de este necessitar fundamentar sua personalidade em bases concretas, expressando assim sua ligação com o objeto. Essa dependência se expressaria de variadas formas como, por exemplo, como instrumento de demonstração de poder. Em suma podemos compreender o estudo da cultura material como parte de uma de uma esfera que engloba tantos os planos sociais, que envolvem o pensamento de um todo, como também pelo viés comportamentista, que trata um plano mais individual, tanto um como o outro revelam o papel fundamental do sujeito na cultura material, onde ser deve ser analisado o aspecto da observação. Há, além disso, uma corrente fetichista que tenta considerar o objeto somente a partir dele mesmo, agregando valores somente a ele e também subtraindo a perspectiva social em torno dele, no entanto é importante frisar, como coloca Marcelo Rede, que mesmo quando a materialidade fala por si mesma, é preciso considerar as aspectos de sua produção, no qual inegavelmente estão implícitas as relações imateriais, como aponta o autor: Nesse quadro, a materialidade é uma atributo inerente, mas que, porém, não esgota o objeto culturalmente considerado, Do contrário, tomado por suas características físicas, objeto informaria apenas sobre a sua própria materialidade.
4 156 Logicamente, mesmo as características físicas são resultado de um processo social que atua desde a seleção da matériaprima (REDE, 1996, p.274) No que diz respeito ao uso da cultura material como fonte, Rede salienta que muitas vezes ela é utilizada quando os documentos escritos são precários, sendo vista como um documento de segunda categoria, no entanto Rede aponta a importância do uso desse tipo de fonte, uma vez que esta fala pelo fato estudado de forma mais direta, sem a intervenção de um interlocutor, como no caso dos documentos escritos, mas o autor destaca o fato de que a experiência sensorial não exclui a necessidade de interpretação por intermédio do pesquisador, assim é preciso formar um discurso que relaciona esses dois tipos de fonte, não privilegiando um em detrimento do outro. Entretanto Rede mostra que por certas vezes o objeto, por vezes, pode apontar questões, até então ausentes na analise da fonte escrita. Identificando o objeto como fonte podemos analisar o contexto de sua criação, ou seja, a finalidade pela qual o mesmo foi feito, assim suas características físicas ganham novas atribuições, agora a função principal do estudo dos objetos é de identificar as alterações e explicar suas razões (REDE, 1996, p. 276), entendemos portanto, que o objeto ultrapassa o limiar de sua criação no momento em que é pensado seu contexto, se enquadrando no trabalho do historiador. Dado esse panorama geral acerca do conceito de cultura material e suas diferentes abordagens, passaremos agora pensar a materialidade relacionada com o ensino de história, em outras palavras pensar o a utilização da cultura material utilizada como fonte nas salas de aula. Entendemos o ensino dos povos indígenas por meio da cultura material através do método de mediação do conhecimento, onde o docente faria parte nesse processo como um mediador a fim de incentivar o desenvolvimento cognitivo dos alunos, assim José Carlos Libâneo coloca: Com efeito, as crianças e jovens vão à escola para aprender cultura e internalizar os meios cognitivos de compreender e transformar o mundo. Para isso, é necessário pensar estimular a capacidade de raciocínio e julgamento, melhorar a capacidade reflexiva e desenvolver as competências do pensar. (LIBÂNEO, 2004, p. 5) Em seu artigo 1, Soraia Freitas Dutra coloca que o uso de objetos como fonte no ensino, no caso das crianças, é imprescindível, pois estas não possuem um nível de abstração para compreender o método histórico, dessa forma este não pode ser assimilado, no sentido cognitivo, pelo aluno lendo e memorizando, nesta situação o aprendizado por meio dos objetos seria essencial para uma melhor construção por parte do aluno da realidade histórica, assim na concepção da autora esse tipo de fonte ajuda criar um meio mais acessível de compreensão por parte dos alunos, por se tratarem de evidências mais concretas e assim eles podem estabelecer as realidades implícitas nele. 1 Extraído de > acesso em 23/02/2013
5 157 Em suma, podemos entender que o estudo da cultura e costumes indígenas se tornam essenciais para a assimilação da formação do povo brasileiro, assim nosso enfoque, torna-se imprescindível na medida em que visa englobar duas esferas importantes no ensino de história, primeiramente os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997 e a lei mais recente de 2003, que torna obrigatório o estudo das culturas indígenas. Assim a proposta no aprendizado dessas culturas, é a utilização da cultura material como fonte, sendo que nesse processo o professor e a escola passam a adotar uma postura mediadora no processo do conhecimento e a criança, por meio dos artefatos consegue adquirir uma certa materialidade do que tema que venha a ser estudado. Referências Bibliográficas: DUTRA, Soraia Freitas. Objetos da cultura material como mediadores no desenvolvimento do raciocínio histórico em crianças. LEODORO, Marcos Pires. A Educação pelos artefatos. IN: Educação científica e cultura material: os artefatos lúdicos. São Paulo: FEUSP, 2001 LIBÂNEO, José Carlos. Os desafios da escola e da didática atual e a contribuição da Teoria Histórico-social da Atividade. IN:. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a Teoria Histórico-cultural da Atividade e a contribuição de Vasili Davydov. Revista Brasileira de Educação: Rio de Janeiro, n. 27, 2004 PREGNOLLATO, Felipe Pascuet. O livro didático, a cultura material e a história no Brasil. IN: A cultura material na didática da história. São Paulo: USP, 2006 SILVA, Sérgio Baptista. Repensando objetos, artes e cultura material. Horizontes Antropológicos: Porto Alegre, ano 17, n. 36, 2011 REDE, Marcelo. História através das coisas: tendências recentes nos estudos de cultura material. Anais do Museu Paulista: São Paulo. N. Sér. v.4 p , 1996
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