FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR E NA PÓS- GRADUAÇÃO.

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1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR E NA PÓS- GRADUAÇÃO. Vilma M. Marcassa Barra NIMAD/ UFPR O conceito de Educação Ambiental mais aceito hoje em dia estabelece que esta é um processo educativo permanente mediante o qual os indivíduos adquirem conhecimento, desenvolvem valores, atitudes, habilidades e comportamentos que permitem-lhes tomar decisões responsáveis no que se refere à sua interação no meio ambiente visando a sustentabilidade ambiental. A concordância com esse conceito possibilita algumas considerações: - A Educação Ambiental é definida como um processo educativo dotado de identidade e fundamentação teórica; - O meio ambiente deixa de ser apenas uma fonte de conhecimentos, um recurso educativo para transformar-se no componente essencial e, consequentemente, prioritário da educação; - O objetivo dos processos educativos desloca-se da prioridade na formção e aperfeiçoamento do Homem como sujeito ( visão antropocêntrica), para a formação e aperfeiçoamento do Homem com vistas à melhoria do ambiente ( visão biocêntrica). A questão central passa a ser não mais o destino dos homens mas o destino da Planeta, numa visão solidária em que o Homem e os demais componentes da natureza agem como uma totalidade na busca permanente da preservação da vida; - Uma nova ética é estabelecida no que se refere às relações entre o Homem e os demais componentes da natureza : esses passam a ter valor intrínseco; - A Educação Ambiental, com base nessa ética deverá promover, nos indivíduos, o desenvolvimento de valores que os levem à ação, à prática de novos e positivos comportamentos ambientais resultantes da tomada de decisões responsáveis para com o meio ambiente. Essas considerações estão implícitas nos objetivos da Educação Ambiental estabelecidos na

2 Conferência de Tbilisi (1978) e demonstram que a sua tarefa educacional é ambiciosa: alcançar um conjunto de objetivos que incluem conhecimentos, valores, atitudes e habilidades que preparam os indivíduos para uma participação ativa e responsável na sociedade. Especificamente no que se refere à Educação Ambiental nas Universidades, a Recomendação nº. 13 da citada Conferência estabelece que essas devem: - Romper com os modelos tradicionais de educação; - Encorajar a aceitação da interdisciplinaridade para a solução dos problemas ambientais em todas as áreas de desenvolvimento; - Favorecer o desenvolvimento de materiais didáticos apropriados às características locais; - Favorecer o estabelecimento de parcerias locais, nacionais e internacionais no sentido de promover capacitação humana e troca de experiências. O que podem as universidades fazer para alcançar tais objetivos? Delinear o papel das universidades no que se refere à Educação Ambiental não é uma tarefa simples e fácil e, com certeza, exige muitos estudos e debates. Como professora do Setor de Educação da UFPR a minha preocupação centra-se nos cursos de licenciatura e, mais especificamente, na capacitação de professores para a Educação Ambiental. Essa preocupação se deve, também, ao fato de que, devido às características das disciplinas que estiveram sob minha responsabilidade durante 31 anos-prática de Ensino de Ciências e de Biologia estive sempre em contato direto com escolas, professores e alunos do ensino fundamental e do ensino médio, o que me permitiu identificar algumas das deficiências apresentadas pelos cursos de licenciatura e, mais recentemente, por estar participando do Projeto Vamos cuidar do Brasil com as escolas, elaborado pela Comissão Orientadora de Educação Ambiental (COEA) do MEC, cujo objetivo é o enraizamento da Educação Ambiental no Brasil via formação de professores. Desse modo, para subsidiar o presente artigo, fiz uma rápida e,por conseguinte não aprofundada, pesquisa para coletar dados junto a professores, funcionários e coordenadores de nove cursos de licenciatura ofertados na UFPR. Pelos depoimentos cheguei às seguintes conclusões: - Os nove cursos não têm em seus currículos disciplinas voltadas à Educação Ambiental; - Três dos cursos oferecem disciplinas relacionadas às questões/ problemas ambientais e a Ecologia; - Dois dos cursos ofertam uma disciplina optativa denominada Meio ambiente e Educação Ambiental;

3 - Apesar do depoimento de um dos coordenadores de que todas as disciplinas do curso são voltadas à Educação Ambiental não são realizadas atividades de Educação Ambiental, fato que se repete nos demais cursos. Num dos cursos é ofertada uma disciplina que aborda os problemas ambientais e possibilita, aos alunos, a elaboração de diagnósticos em comunidades que apresentam situações de risco para a saúde da população. Embora não tenha aprofundado a análise dos dados é possível afirmar que os alunos de pelo menos seis dos cursos de licenciatura não recebem, durante a sua formação, os conhecimentos fundamentais, essenciais à sua atuação, no ensino fundamental e no ensino médio, de modo a alcançar os objetivos estabelecidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) no que se refere à inclusão, nos currículos escolares, do tema transversal Meio Ambiente, ou seja, da Educação Ambiental. Em três dos cursos, mesmo com a inclusão de disciplinas relacionadas às questões ambientais como por exemplo, Ecologia ou Planejamento Ambiental, a ênfase está na transmissão de informações e de fatos e não em uma educação pela ação ambiental que é a característica fundamental da Educação Ambiental. O mesmo pode-se afirmar a respeito da disciplina optativa Meio Ambiente e Educação. Verifica-se, então,nesses cursos, a ocorrência do que GOUVÊA (2004), denomina de dispedagogia ambiental, isto é, a carência de um projeto educacional que enfatize a importância dos aspectos político, social, cultural, teórico e prático da educação na construção da complexidade ambiental. Essa dispedagogia ambiental, segundo a autora, faz com que a Educação Ambiental perca suas finalidades e se descaracterize enquanto processo educativo permanente e contínuo porque torna-se acrítica e reprodutora, deixando de lado tanto os fundamentos da Pedagogia para responder aos desafios de nosso tempo quanto os fundamentos da própria Educação Ambiental para fomentar novas atitudes críticas e éticas nos indivíduos na coletividade. Assim,a conseqüência da dispedagogia ambiental é a deseducação ambiental. Mas o que caracteriza, então, a educação para a ação ambiental? É, justamente, o fato da ação a favor do ambiente ser assumida pelos participantes e ser encarada como uma forma de contribuir para uma mudança duradoura do ambiente, quando os participantes escolhem, organizam e implementam as ações e podem dar razões para apoiar a sua crença na sua eficácia na resolução de problemas e não só sua redução temporária. Somente então, ocorre uma educação verdadeiramente a favor do ambiente e para o ambiente, a partir da competência para a ação baseada em valores e atitudes claramente assumidas. Percebe-se, então, que para a formação de educadores ambientais não basta a aquisição de conhecimentos teóricos a respeito do meio nem aqueles obtidos em estudos no meio, ainda

4 que sejam essenciais para a sua atuação. É necessária a aplicação dos saberes, o desenvolvimento da competência para a ação,da capacidade de clarificar e escolher valores, de decidir quais os saberes a serem aplicados e em que situações e quando devem ser aplicados. Isto porque, como diz FONTES (2001.p.359), desenvolve-se competência de vida, vivendo; competências sociais, agindo em grupo e competências ambientais, participando na construção do meio ambiente em que se vive. Por mais que seja recomendável e necessária a incorporação da Educação Ambiental nos cursos de licenciatura essa não é uma tarefa fácil de se colocar em prática. Existem numerosos fatores que dificultam e, até mesmo, impedem essa incorporação, como por exemplo, a ênfase dada aos conteúdos e metodologias de ensino tradicionais, a falta de interesse por parte dos professores, alunos e órgãos administrativos, a falta de recursos, inclusive financeiros, a necessidade de nova postura ética frente às questões ambientais e o engajamento na busca de soluções para os problemas, excesso de burocracia.... A UFPR, no entanto, oferece cursos de pós-graduação em nível de especialização, mestrado e doutorado que buscam possibilitar, aos alunos, a vivência de uma educação para o ambiente. Há que se destacar, também,, o Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento (NIMAD), que há vinte anos vem desenvolvendo atividades variadas, além do curso de especialização em Educação para a Sustentabilidade, que incluem pesquisas e atividades de extensão com enfoque interdisciplinar em meio ambiente e desenvolvimento no litoral do Paraná e Região Metropolitana de Curitiba. No litoral, desde 1996, o Laboratório de Educação Ambiental e Conservação, do Centro de Estudos do Mar, vem desenvolvendo atividades no balneário de Pontal de Sul. O NIMAD, atualmente, abriga a Rede Paranaense de Educação Ambiental, em funcionamento desde No que se refere a ações de extensão, no Laboratório de Ensino de Matemática e Ciências Físicas e Biológicas, do Setor de Educação, desenvolve-se já há alguns anos, um projeto com alunos dos cursos de licenciatura em Matemática e Física, denominado de Matemática Ambiental. Um dos objetivos do projeto, como sugere o seu nome, é incluir no currículo dos dois cursos, a dimensão ambiental, de modo que os futuros professores possam desenvolver, nas aulas de Matemática e de Física, os conceitos básicos de Educação Ambiental numa visão planetária, a partir de valores ambientais. Mesmo que no início do artigo tenha me referido aos cursos de licenciatura da UFPR gostaria de citar dois cursos que se destacam pelas oportunidades oferecidas aos seus alunos, de praticar uma Educação Ambiental para o ambiente: o curso de Engenharia Florestal e o curso de Engenharia Ambiental.

5 Não obstante a oferta de cursos e atividades direcionadas à Educação Ambiental citadas, inúmeras e importantes ações ainda deverão ser implementadas para que sejam formados, pela UFPR, educadores ambientais habilitados a planejar e a desenvolver ações educativas que possibilitem o alcance das metas e objetivos da Educação Ambiental. Citarei algumas recomendações que, a meu ver, podem e devem ser consideradas; - Planejar e implementar a Educação Ambiental na perspectiva da educação pela ação no ambiente, de forma interdisciplinar, nos currículos dos cursos de graduação, especialmente dos cursos de licenciatura, bem como nos programas de pesquisa e extensão, de forma a familiarizar os professores e alunos com a complexidade dos problemas ambientais e com os aspectos inerentes à sustentabilidade. Isto é, implicando o ambiente com a intenção de aprender. Enfatiza-se, aqui, a educação dos alunos, uma vez que meras ações para melhorar o ambiente não podem ser qualificadas como educação. Isso por que o ambiente pode ser melhorado sem que tenha ocorrido a educação dos alunos, sem que tenha havido qualquer aprendizagem (FONTES,2001.p.360); - Para o saber contribuir para a ação tem de ser um saber adquirido pela exploração e pela manipulação; é a exploração e a manipulação do ambiente à procura do desvelamento da realidade. È a ação investigativa. De acordo com SONNTAG (Apud FONTES, p. 361), a competência é muito mais do que mero saber- implica a capacidade de aplicar o saber. Aprende-se a competência para a ação ambiental experimentando saberes estratégicos em contextos práticos e as características dessas interações são quatro: a autenticidade, a criação de situações realistas e complexas, de forma que o aluno adquira simultaneamente o saber e as condições da sua aplicação ; a concretização da situação; contextos e perspectivas múltiplas, sendo o saber aplicado em situações e problemas diferenciados, com várias possibilidades de ação e contextos sociais em que haja cooperação entre alunos e sua integração com pesquisadores e peritos; - Promover redes interdisciplinares e estimular professores e alunos a adotar a perspectiva da Educação Ambiental qualquer que seja a área de estudo em que atuem; - Desenvolver seminários permanentes que possibilitem a troca de informações, estudos e pesquisas relacionadas à Educação Ambiental; - Estimular a elaboração e possibilitar a publicação de materiais didáticos que apoiem as ações de Educação Ambiental e favoreçam a socialização dos resultados de pesquisas relativas às questões ambientais; - Estimular e promover ações de Educação Ambiental na perspectiva da educação pela ação ambiental, educação verdadeira e verdadeiramente para o ambiente, visando a

6 competência para a ação. (FONTES, 2001.p.360), envolvendo toda a comunidade universitária, objetivando a sua inserção como política efetiva; - Fomentar a criação de cursos e programas universitários com diferentes temáticas,que reflitam e enfatizem o aspecto interdisciplinar da EA,baseados em atividades e métodos pedagógicos análogos aos que poderão utilizar quando profissionais, com o objetivo de formar educadores ambientais. As Instituições de Ensino Superior devem assumir o papel de principais responsáveis pela formação de educadores ambientais implantando um processo que possibilite a aproveitamento do seu potencial, fortalecendo centros de excelência e impulsionado a implementação de novos e eficientes projetos que contribuam para a construção de sociedades sustentáveis; - Estimular a criação de núcleos/centros integrados de investigação (a exemplo do NIMAD da UFPR), que favoreçam a participação de pesquisadores em equipes interdisciplinares, inclusive com alunos de diferentes cursos, visando o estudo e a busca de soluções para as questões ambientais. O conhecimento assim produzido subsidiaria o projeto pedagógico dos diversos cursos de graduação e pós-graduação; - As IES devem assumir o papel de promotoras de mudanças a partir da condição de sua auto-transformação em conformidade com as exigências do mundo atual, requisito essencial para que possa influir positivamente nas ações no/pelo ambiente. Reafirmo, aqui, que cabe às IES possibilitar aos alunos experiências de vida pois como afirma FONTES (2001.p.364 ), experiências de vida vivem-se. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FONTES, P.J. Educação pela e para a ação ambiental. In: SANTOS, J.E; SATO, M.A contribuição da Educação Ambiental à esperança de Pandora. São Carlos. RIMA GOUVÊA, G.R.R. Dispedagogia e deseducação ambiental: reflexões sobre as práticas usualmente utilizadas em Educação Ambiental. IV Encontro Sul Brasileiro de Educação Ambiental. Goiânia

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