DIREITOS HUMANOS: REFLEXÕES QUE EMERGEM PELA MEDIAÇÃO DA LEITURA Nelma Menezes Soares de Azevêdo UFRPE / FUNDAJ
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- Daniel Rui Bicalho Diegues
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1 DIREITOS HUMANOS: REFLEXÕES QUE EMERGEM PELA MEDIAÇÃO DA LEITURA Nelma Menezes Soares de Azevêdo UFRPE / FUNDAJ Resumo Este trabalho é recorte de uma pesquisa, em andamento, desenvolvida no curso do mestrado. Nossa pesquisa investiga a mediação da leitura, tendo a literatura como suporte e gênero, na sala de aula da educação infantil, com vistas à verificação de como ocorre à promoção da discussão entre as crianças de temas que reflitam as questões relacionadas aos Direitos Humanos. A leitura, compreendida como uma atividade de natureza transdisciplinar, que congrega em si os três pilares que sustentam essa abordagem: complexidade, diferentes níveis de realidade e lógica do terceiro incluído; quando mediada de modo coerente, possibilita discussões em sala de aula as quais fazem emergir problemáticas relacionadas aos Direitos Humanos. Utilizamos como aportes teóricos Nicolescu (1999), Yunes (2003), Brandão e Rosa (2011). A análise inicial aponta para a necessidade de ações direcionadas ao desenvolvimento de uma cultura de leitura e de respeito integral aos Direitos Humanos, assim como, a formação de sujeitos mais acolhedores e humanos. Palavras-chave: Mediação da leitura, Direitos Humanos, Transdisciplinariedade. DIREITOS HUMANOS: REFLEXÕES QUE EMERGEM PELA MEDIAÇÃO DA LEITURA Introdução A leitura, compreendida aqui como uma atividade de natureza transdisciplinar, uma vez que congrega em si os três pilares que sustentam essa abordagem, a saber: complexidade, diferentes níveis de realidade e lógica do terceiro incluído; quando mediada de modo coerente, pode possibilitar discussões em sala de aula as quais façam emergir problemáticas relacionadas aos direitos humanos.
2 Este texto, exceto de nossa pesquisa que está sendo desenvolvida, no curso do mestrado, investiga a mediação da leitura, tendo a literatura como suporte e gênero, em sala de aula, na educação infantil, com vistas à análise de como ocorre a promoção da discussão entre as crianças sobre temas emergentes relacionados aos Direitos Humanos. Entendemos que tal discussão é essencial na formação plural de crianças pequenas. Consideramos que processos de letramento exigem, para além das problemáticas relacionadas ao sistema de leitura e escrita alfabética, reflexões acerca de assuntos os quais serão nos dias atuais tratativas para cidadãos e cidadãs. Nesse sentido, parece-nos fundamental que, nas mediações de ensino e aprendizagens realizadas em sala de aula, sejam consideradas e pontuadas reflexões acerca de temas caracterizados por ocorrências biopsicoantroposociais. A leitura uma atividade transdisciplinar A leitura, ocorrência necessariamente humana, de natureza transdisciplinar, quando realizada em sala de aula de modo coerente, possibilita a promoção da discussão sobre temáticas emergentes relacionadas às questões de Direitos Humanos. Isto porque, a leitura, atividade intersubjetiva, faculta ao leitor reflexões em torno daquilo que lhe é prévio e daquilo que lhe é novo (GATÉ, 2001). Entendemos que a leitura é transdisciplinar, uma vez que compreendemos transdisciplinar por aquilo que permite contemplar o que é transversal, inter-relacional e propositivo. Nicolescu (2002) assinala que a transdisciplinaridade é uma abordagem
3 cuja explicação etimológica propõe compreensões e explicações sobre o que está entre, através e além da disciplina e cuja raiz epistêmica, ontológica e metodológica se filia aos princípios e aos pressupostos do paradigma emergente (SANTOS, 2004). O paradigma emergente, conforme explica Moraes (2010), fundamenta-se na crença de que fenômenos humanos individuais e coletivos caracterizam-se pela complexidade, pela diferenciação de níveis de realidade e pela discussão sobre a lógica do terceiro incluído, logo trabalhar pedagogicamente sob a regência de tal paradigma implica uma revisão sobre quais temas são tratados em sala de aula e sobre quais modos esses temas são tratados quando os alunos e as alunas são crianças pequenas. Temáticas emergentes exigem, em razão de suas características, filiações com emergências paradigmáticas dissonantes das matrizes paradigmáticas positivistas. De um ponto de vista epistêmico e metodológico, inexiste congruência entre temas como diferenças de gênero, pluralidade de etnias e crenças, diversidade de saberes, e a chamada racionalidade abstrata e tecnicista proposta pelo pensamento comtiano, porém há congruência com a lógica transdisciplinar. Para Moraes (2010), precisamos de espaços que provoquem no aluno momentos de fruição, alimentem o seu saber interior, o autoconhecimento e a autoformação. O texto literário é esse espaço de pluralidade de vozes, do diálogo e da reflexão. Provoca e promove três dimensões fundamentais que caracteriza a transdisciplinariedade no ensino: o conhecer, o interagir e o fazer. Dessa forma, desenvolver um trabalho transdisciplinar leva em conta o ser humano na sua totalidade, suas diferentes realidades, criando condições para atitudes flexíveis, de tolerância, respeito e reflexão sobre a vida. E a experiência da leitura literária nos permite descortinar outras formas de existência, abrir horizontes insuspeitados, refletir de forma significativa. Os direitos humanos e a transdisciplinaridade na escola O que chamamos por direitos humanos pode ser cronologicamente situada a partir da publicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), documento que simboliza avanços importantes para a convivência entre diferentes. A emergência da Declaração tem relação direta com a revisão paradigmática que o Ocidente atravessa desde a segunda parte do Século XX.
4 E ao ser elaborado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sob a Lei nº de 13 de julho de 1990, que estabelece diretrizes para a criança e os adolescentes, definindo como base principal a proteção integral e declarando seus direitos como: Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência familiar e comunitária, Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, é uma conquista. Entretanto, é necessário pensar em estratégias diferenciadas para combater as graves violações que ainda persistem desses direitos, pois ainda são acintosamente desrespeitados em nosso país. A vulnerabilidade que as crianças apresentam em relação ao uso de drogas, abuso sexual, o bullying são alguns dos problemas que hoje ocorre em diferentes classes sociais. A escola deve ser sensível à diversidade, pronta para trabalhar com realidades variadas. De acordo com Oliveira (2011), o conhecimento não pode ser visto como algo de estruturas imutáveis, mas como uma rede de significações, constituída de nós e conexões em um espaço de representações em permanente transformação. Não cabe mais a simplificação ou a redução linear do conhecimento, a transmissão de um conjunto de preceitos teóricos (como apresentar as temáticas Direitos Humanos, ecologia, família, entre outros), sem o compromisso de traduzir em ações educativas, como por exemplo, através da leitura literária. Somente a vivência dos Direitos Humanos e as temáticas emergentes, que vem a tona no momento de discussão, abrirão espaços para o diálogo, a crítica, a tolerância, a compreensão e o respeito. Tendo em vista que a criança da educação infantil não tem ainda a autonomia de leitura, o contato das crianças com a história é mediado pela voz da professora. O docente exerce o papel de mediador entre a cultura escrita e as crianças, acolhendo-as nesse período da vida. Para Brandão e Rosa (2011, p. 37), Ser capaz de ouvir traz o potencial de ser capaz de dizer. A educação infantil é um espaço de aprendizagem tanto psicossocial quanto cognitiva, afetiva e locomotora. Sabendo que a criança aprende interagindo com outras crianças e com os adultos educadores, atividades embasadas nos valores dos direitos humanos e na realidade social, deve permear todo o planejamento escolar para uma gradual melhora da qualidade de vida das crianças.
5 Caminhando na investigação: as primeiras descobertas A primeira etapa da pesquisa (em andamento) é uma entrevista semiestruturada, porque se aproxima mais duma conversação (diálogo), do que uma entrevista formal. A entrevista teve como objetivo conhecer o que as professoras (Rede municipal de Recife) compreendem sobre transdisciplinariedade, como costumam mediar a leitura literária e a inter-relação com os Direitos Humanos da infância. De acordo com as diretrizes da educação, exige-se que o professor enquanto mediador da aprendizagem do seu aluno tenha uma bagagem teórica capaz de responder não só aos conteúdos programados, mas de criar estratégias de aprendizagem ou de intercâmbio com seus alunos que ultrapassem uma metodologia pronta e acabada. Diante de tais constatações, passamos agora a analisar os resultados obtidos até agora. Investigamos primeiramente alguns pontos que nos inquietavam: Como as temáticas emergentes, especificamente, os direitos humanos da infância, estão sendo abordados na educação infantil? Como o professor, enquanto mediador da leitura literária vem conduzindo suas atividades com vistas à formação de ouvintes ativos /leitores críticos? Conhecem a transdisciplinariedade? De maneira geral, as professoras demonstraram desconhecer total ou parcialmente, os direitos da criança. Algumas se referiram ao ECA e, quanto as temáticas emergentes, as mais citadas foram: idoso, ecologia, questões étnicas-raciais. Também as professoras revelaram que utilizam as obras apenas como meio para facilitar o trabalho de conteúdos. Na opinião das docentes, o livro de literatura infantil tem a função de transmitir uma mensagem e entreter a criança. Alegam, em sua maioria, que não é necessário contar histórias todos os dias, uma ou duas vezes na semana seriam suficientes. Em relação às estratégias, os professores valorizam as aulas em que apenas leem para os alunos textos curtos, pois afirmam que de outra forma os alunos ficam dispersos por não serem acostumados a momentos de escuta. E desconhecem a abordagem transdisciplinar.
6 Conclusões Diante desses resultados, percebemos que o modo de proceder do educador, aquele que está mais próximo à criança e que apresenta o livro e introduz ou não a atividade na sua vida, é o que fará a diferença na formação da criança leitora. Conforme Santos (2009), explorar o imaginário, usar metáforas, mitos, arte, literatura é trabalhar transdisciplinarmente. Sabemos que a divisão disciplinar em que nos pautamos contribui para focar a atenção e o estudo em aspectos específicos dos conteúdos trabalhados. Entretanto, essa maneira de abordar o conhecimento faz perder de vista o todo de que faz parte e as interações que resignificam os campos de saber (YUNES, 2003, p. 277). Diante dessa afirmação, o papel do professor, enquanto mediador entre o conhecimento (Direitos Humanos da Infância) e o aluno, tem o desafio de oportunizar situações (através da leitura literária) em que o estudante possa adquirir o saber e que este possa ser assimilado como algo que dê sentido à vida, que seja capaz de ser mais tolerante, acolhedor e flexível com o outro. Quando as percepções de mundo são ampliadas por variadas atividades articuladas entre si, estas possibilitam um conhecimento cada vez mais significativo e abrangente. Reconhecemos que os dados apresentados são insuficientes para alcançar respostas para o problema delimitado e atingir os objetivos propostos na pesquisa. Daremos prosseguimento as nossas pesquisas cientes dos nossos desafios. Referências BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Sousa. Entrando na roda: as histórias na educação infantil. In: BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Sousa (Orgs.). Ler e escrever na Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, GATÉ, Jean-Pierre. Educar para o sentido da escrita (Trad. Maria Elena Ortega Ortiz Assumpção). Bauru: EDUSC, MORAES, Maria Cândida; NAVAS, Juan Miguel Batalloso (orgs.). Complexidade e transdisciplinaridade em educação: teoria e prática docente. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010.
7 NICOLESCU, Basarab. Fundamentos metodológicos para o estudo transcultural e transreligioso In CETRANS (coord.). Educação e transdisciplinariedade II. São Paulo: TRIOM, OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, SANTOS, Akiko; SOMMERMAN, Américo (Orgs.). Complexidade e transdisciplinariedade: em busca da totalidade perdida. Porto Alegre: Sulina, SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, YUNES, Elyana. Poiesis In: CARVALHO, Edgar de Assis; MENDONÇA, Terezinha (Orgs.). Ensaios de complexidade 2. Porto Alegre: Sulina, 2003.
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