PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante ELEVARTEL COMÉRCIO E CONSERVADORA DE ELEVADORES LTDA - ME sendo apelado CONDOMINIO RESIDENCIAL GUILHERMINA ESPERANÇA. ACORDAM, em 36ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PALMA BISSON (Presidente) e ROMEU RICUPERO. São Paulo, 15 de dezembro de EDGARD ROSA RELATOR -Assinatura Eletrônica-

2 2 APELAÇÃO SEM REVISÃO N APELANTE: ELEVARTEL COMÉRCIO E CONSERVADORA DE ELEVADORES LTDA ME APELADO: CONDOMÍNIO RESIDENCIAL GUILHERMINA ESPERANÇA COMARCA DE SÃO PAULO 1ª. VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL DA PENHA DE FRANÇA JUIZ PROLATOR: JOSÉ APARÍCIO COELHO PRADO NETO VOTO Nº PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO DE ELEVADORES CONDOMÍNIO - DESTINATÁRIO FINAL DO SERVIÇO PRESTADO HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA INCIDÊNCIA DAS REGRAS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS NÃO INCLUÍDOS NO ÂMBITO DA MANUTENÇÃO INTEGRAL CONTRATADA AUSÊNCIA DE ORÇAMENTO PRÉVIO OU DE SUA APROVAÇÃO APLICAÇÃO ANALÓGICA DO DISPOSTO NO ART. 39, PARÁGRAFO ÚNICO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR CONTRAPRESTAÇÃO INDEVIDA SENTENÇA MANTIDA. - Recurso desprovido. Trata-se de tempestiva e preparada apelação (fls. 144/151), interposta contra a r. sentença (fls. 135/141), que julgou improcedente a demanda proposta pela autora. Inconformada, esta apela pretendendo a reforma do julgamento. Aduz, em suma, que a execução dos serviços cobrados resta devidamente comprovada através dos documentos juntados

3 3 às fls. 117/120, que substituíram a prova testemunhal anteriormente requerida e não foram impugnados pelo apelado. Faz ainda menção à cláusula oitava do contrato celebrado entre as partes, na qual são descritos os serviços já inclusos no âmbito da manutenção contratada, dentre os quais não figura a troca de quadro comando e dos painéis de gerenciamento e monitoramento, o que justifica a cobrança do valor pleiteado. Argumenta também que as próprias testemunhas arroladas pela recorrido admitiram que houve a efetiva execução dos serviços. Quanto ao orçamento prévio e à sua aprovação, sustenta que ambos são dispensáveis, porquanto a testemunha JOANA D'ARC GUERREIRO, síndica do condomínio à época dos fatos, afirmou em Juízo que solicitou a prestação dos serviços em caráter de urgência. Em decorrência de tais ponderações, considera que faz jus ao recebimento de contraprestação no montante de R$ ,00. Aguarda o provimento do recurso. 166/168). O apelado apresentou contrarrazões (fls. É o relatório. O apelado contratou da empresa ré, ora apelante, prestação de serviços de conservação e manutenção dos elevadores pertencentes a este último, passando a vigorar tal pactuação a partir de 05/03/2004, sendo rescindida um ano depois.

4 4 Além disso, previa o instrumento contratual que haveria cobrança adicional no caso de substituição ou reparação de peças do sistema mecânico ou elétrico, o que dependeria de prévia aprovação do recorrido caso o custo ultrapassasse o dobro do valor referente à contraprestação mensal pela conservação realizada. Sucede que, segundo alega a apelante, esta procedeu à substituição do quadro de comando e dos painéis de gerenciamento e monitoramento relativos a alguns dos elevadores de propriedade do apelado, após sua autorização verbal. Conduto, a contraprestação devida em razão da execução de tal serviço restou inadimplida, o que ensejou a propositura da presente demanda. O apelado, por sua vez, afirma que o valor perseguido pela parte adversa é indevido, pois os componentes citados não foram realmente substituídos, limitandose a apelante, na ocasião, a executar o reparo na placa de abertura de portas. Cumpre assentar, inicialmente, que o contrato firmado entre as partes configura relação de consumo, o que faz incidir as normas do Código de Defesa do Consumidor. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. (Artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor). O art. 2º do Código de Defesa do Consumidor deixou clara sua opção pela adoção de uma noção

5 5 objetiva de consumidor, e malgrado não esteja prevista expressamente no referido dispositivo legal a figura do condomínio, este pode assumir tal posição, sempre que se apresentar como destinatário final do produto ou serviço, como é o caso dos autos. Neste sentido: Agravo de instrumento - Prestação de serviços Relação de consumo - Código de Defesa do Consumidor - Aplicabilidade - Recurso parcialmente provido. Restando evidente a relação de consumo havida entre as partes, nada obsta que o condomínio (ente despersonalizado com capacidade processual) seja considerado consumidor final dos serviços prestados pela agravada. Prestação de serviços - Inversão do ônus da prova - Apreciação por ocasião da prolação da sentença - Honorários periciais a serem suportados pelo autor - Exegese do artigo 33, do Código de Processo Civil. A regra de inversão do ônus da prova não se estende ao encargo de custeio da perícia, de modo que, tendo sido a produção de prova pericial requerida pelo autor, deverá por ele ser suportada, nos termos do artigo 33, do Código de Processo Civil. (Agravo de Instrumento n ª Câmara do D. SEXTO Grupo (Ext. 2 TAC) - Rel. Des. Orlando Pistoresi).

6 6 Assenta-se, portanto, a incidência do Código de Defesa do Consumidor, devendo a questão ser analisada sob este prisma. Emerge, desta feita, a disposição contida no art. 40, caput, do referido diploma legal: O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-deobra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços. Percebe-se que a apelante não se desincumbiu do ônus de comprovar que efetivamente apresentou orçamento com a discriminação de cada serviço que alega ter prestado e seus respectivos custos, ou que o apelado autorizou sua execução, pois ausente a assinatura deste no documento de fls. 17/19. Ademais, ao contrário do que sustenta a recorrente, se extrai da prova testemunhal colhida que fora solicitado apenas o reparo dos componentes dos elevadores que apresentavam mau funcionamento, sendo que tal serviço resta incluso no âmbito da manutenção integral contratada mediante contraprestação fixa mensal, conforme previsto na cláusula oitava do instrumento contratual colacionado às fls. 11/16. Desta feita, irrelevante a discussão acerca da substituição ou não do quadro comando e dos painéis de gerenciamento e monitoramento, haja vista que a ausência de orçamento e da respectiva aprovação dos termos propostos torna inexigível o montante pleiteado. Isto porque, nestes casos, cabe a aplicação analógica do disposto no parágrafo único do art. 39 do Código de Defesa do Consumidor, conforme se depreende da lição

7 7 doutrinária abaixo transcrita: "(...) a prestação de serviço depende de prévio orçamento (art. 40). Só que a simples apresentação do orçamento não implica autorização do consumidor. Para que o fornecedor possa dar inicio ao serviço, mister é que tenha a autorização expressa do consumidor. A esta equivale a aprovação que o consumidor dê ao orçamento (art. 20, parágrafo 2 ), desde que expressa. Se o serviço, não obstante a ausência de aprovação expressa do consumidor, for realizado, aplica-se, por analogia, o disposto no parágrafo único do art. 39, ou seja, o serviço, por não ter sido solicitado, é considerado amostra grátis." (Ada Pellegrini Grinover e Outros, Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, Editora Forense Universitária, 4ª ed., p. 243). Observa-se, destarte, que as Ordens de Serviço juntadas a fls. 117/120 dos autos apresentam termos técnicos que impossibilitam sua completa compreensão por parte dos representantes do apelado, o que potencializa a necessidade de fornecimento de informações adequadas e suficientes ao consumidor, com o escopo de suprimir sua hipossuficiência técnica e equilibrar a relação contratual existente entre as partes. Forçosa, por conseguinte, a aplicação do dispositivo legal em comento ao presente caso, em decorrência da inequívoca violação a direito básico do consumidor por parte da

8 8 apelante, que não prestou as informações necessárias acerca dos serviços que alega ter prestado. Nega-se provimento ao recurso. EDGARD ROSA Relator -Assinatura Eletrônica-