PRODUCÃO DE MUDAS DE MAMOEIRO (CARICA PAPAYA L.) EM DIFERENTES SUBSTRATOS ORGANICOS

Transcrição

1 VI Fórum Regional de Agroecologia Às terras inocentes que nos libertam as mãos, ao povo que entende os segredos deste chão. 22 a 24 de agosto de 2013 PRODUCÃO DE MUDAS DE MAMOEIRO (CARICA PAPAYA L.) EM DIFERENTES SUBSTRATOS ORGANICOS ADALGISA DE JESUS PEREIRA 1, FRANCISCO CÉSAR GONÇALVES 2. 1 Mestranda em Agroecologia, Universidade Federal de Viçosa adalgisa.pereira@ufv.br. 2 Professor, IF Sudeste de Minas cahico@ifsudestemg.edu.br. RESUMO: O experimento foi conduzido em casa de vegetação situada no viveiro do Horto Florestal do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnológica do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba (IF-RP). As sementes do mamoeiro Sunrise Solo foram semeadas em sacos de polietileno preto com furos, colocando-se três sementes por recipiente. Após a germinação, as mudas foram desbastadas, deixando-se apenas a mais vigorosa por recipiente. O objetivo do trabalho foi avaliar as melhores composições de substratos para a produção de mudas de mamoeiro. As mudas foram avaliadas 60 dias após a semeadura, considerando-se características tais como: comprimento da parte aérea e sistema radicular das plântulas (cm); diâmetro do colo (mm), peso da matéria fresca da parte aérea e raiz (g), e peso da matéria seca da parte aérea e raiz (g). Foram obtidos resultados satisfatórios para comprimento da raiz, diâmetro do coleto e pesos das massas fresca e seca dos tratamentos T5 e T6 com adição de 50 e 25% de esterco bovino unicamente. PALAVRAS-CHAVE: Agroecologia, Mamoeiro, Produção Orgânica. INDRODUÇÃO: O mamoeiro (Carica papaya L.) pertencente à família Caricaceae, é cultivado até 32 de latitude Norte ou Sul e encontra no Brasil ótimas condições para o seu desenvolvimento, principalmente no Estado do Espírito Santo e na região nordeste (Schmildt et al., 2005). O Brasil, o maior produtor de mamão, responde por aproximadamente 32,1% da produção mundial. É cultivado em quase todo território nacional, merecendo destaque os estados da Bahia, Espírito Santo e Pará. Na Bahia são mais de 12,5 mil hectares cultivados, produzindo 600 mil toneladas da fruta por ano em 16 municípios. A produção do extremo sul baiano corresponde a 78% do total produzido no Estado, com escoamento diário em torno de 1560 toneladas. Isso representa 55% da produção brasileira de mamão (Carvalho, 2005). A semeadura do mamoeiro é feita em recipientes plásticos, mas ainda usa-se a semeadura em leiras ou canteiros e posterior repicagem para recipientes específicos de produção de mudas. Como recipientes, utilizam-se sacos de plástico e canteiros móveis (bandejas de isopor ou tubetes), sendo a embalagem de polietileno preto o tipo mais usado (Trindade & Oliveira, 1999), utilizando-se como substrato de uma mistura de solo, areia e esterco curtido na proporção de 3:1:1 ou 2:1:1, ou ainda substratos comerciais encontrados em lojas especializadas (Melleti & Teixeira, 2000). A fruticultura brasileira tem grandes privilégios quando se pensa em extensão territorial e disponibilidade da mesma para seu cultivo. Porém este mesmo cultivo, em face da presente degradação gerada pela convencional utilização do solo, tem proporcionado sua degradação e perda quase irrecuperável. Para tanto, esta produtividade só é alcançada com elevadas fontes e doses de nutrientes. E tendo em vista que a Agroecologia, como ciência, consegue fazer inter-relação 13

2 com produção e preservação do meio de produção é, portanto ferramenta para obtenção de lucro na produção agrícola em função da preservação e manutenção dos agroecossistemas.. Estes nutrientes que são essenciais ao metabolismo das plantas, asseguram o crescimento, o desenvolvimento e, consequentemente, a maior produção e produtividade das espécies vegetais cultivadas. Com o avanço da tecnologia e dos estudos acadêmicos tem surgido cada vez mais rapidamente a necessidade de busca por alternativas para que as ações antrópicas se tornem menos degradantes. Tendo isto em vista que se faz necessário a busca por novas fontes de nutrientes para as plantas sem que seu resíduo seja persistente, a Agroecologia pode ser de grande valia, por se tratar de uma ciência holística e completa. A produção agroecológica de mudas frutíferas em escala comercial é viável, desde que se estabeleçam políticas de manejo adequadas. Existem no mercado, diferentes recipientes para a formação de mudas frutíferas, sendo o critério de escolha definido em função da disponibilidade e custo. Para a cultura do mamoeiro, sacos plásticos com dimensões de 14 x 16 x 0,006 cm; 15 x 20 x 0,006 cm e 12 x 20 x 0,006 cm são os mais utilizados (Soares, 1998). Assim, torna-se necessária a execução de trabalhos visando à adequação do melhor recipiente para a propagação do mamoeiro, já que tubetes, bandejas e sacos plásticos ocupam volumes diferentes de substrato, o que pode influenciar na qualidade final da muda. O tamanho do recipiente tem influência direta no custo final, pois resulta na quantidade do substrato a ser utilizado, no espaço que irá ocupar no viveiro, na mão-de-obra utilizada no transporte, remoção para aclimatação e retirada para entrega ao produtor, além da influência na quantidade de insumos demandada (Queiroz et al., 2001). Assim, o conhecimento dos melhores substratos para produção e o estabelecimento das plantas no local definitivo são fundamentais para o sucesso de qualquer programa de plantio de espécies vegetais. MATERIAL E MÉTODOS: O experimento foi conduzido em casa de vegetação situada no viveiro do Horto Florestal do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnológica do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba. As sementes do mamoeiro Sunrise Solo foram semeadas em sacos de polietileno, colocando-se três sementes por recipiente. Após a germinação, as mudas foram desbastadas, deixando-se apenas a mais vigorosa. Foram delineados inteiramente ao acaso 08 tratamentos com quatro repetições, em ambiente sombreado com sombrite 50%. Os tratamentos foram repetidos 10 vezes cada um, para aumentar a confiabilidade dos resultados gerando parcelas de 40 tratamentos. Os 08 tratamentos podem ser assim descritos: T1-100% solo puro (SP); T2- SUBSTRATO CONVENCIONAL T3-25% de esterco de ave (EA) + 20% A + 55% SP; T4-50% de EA + 20% A + 30% SP; T5-25% de esterco bovino (EB) + 20% A + 55% SP; T6-50% EB + 20% A + 30% SP; T7-25% de composto orgânico (CO) + 20% A + 55% SP; T8-50% de CO + 20% A + 30% SP. 14

3 Como recipientes a receber as sementes foram utilizados sacos de polietileno preto com furos. Muito usado, o saco de polietileno tem dimensões 7 cm x 18,5 cm x 0,06 cm ou 15 cm x 25 cm x 0,06 (largura x altura x espessura). Estes com capacidade de 750 ml e foram colocadas três sementes por recipiente. As mudas foram avaliadas 60 dias após a semeadura, considerando-se as seguintes características: Comprimento da parte aérea e sistema radicular das plântulas (cm); Diâmetro do colo (mm) Matéria fresca da parte aérea e raiz (g), Matéria seca da parte aérea e raiz (g). Na determinação da altura das mudas, foi usada uma régua graduada em centímetro, tomando como referência a distância do colo ao ápice da muda. A parte aérea e o sistema radicular, após pesados separadamente, secos em estufa com circulação de ar forçado à temperatura de 65 C, no laboratório de Cultura de Tecidos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnológica do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba, até atingirem o peso constante, sendo este obtido cerca de 48 horas após e, em seguida, determinado o peso da matéria seca da parte aérea e raiz. Os resultados obtidos foram submetidos a uma analise de variância e foram comparados pelo teste de probabilidade de Kruskal Wallis. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Figura 1 abaixo, observa-se que, se comparados ao tratamento da testemunha, composta por solo puro, todos os outros tratamentos apresentaram diferença significativa para comprimento do sistema radicular. Resultados semelhantes foram encontrados por Decarlos Neto et al. (2002). Fazendo se um comparativo entre a figura 1 e figura 2 podemos perceber que, tanto para a variável comprimento da raiz como para comprimento da parte aérea, as melhores interpretações são feitas nos tratamentos em que receberam dosagens de 50% de esterco bovino na composição do substrato. Figura 1. Comprimento da raiz e da parte aérea em função do substrato. 15

4 A figura a seguir mostra os substratos que tiveram acréscimo de 25% e 50% de esterco bovino na sua composição permitindo diferenças significativas para diâmetro do coleto quando comparadas ao tratamento testemunha composta somente por solo puro. Figura 2. Diâmetro coleto parte aérea em função do substrato. A altura das plantas foi influenciada pelos diferentes substratos analisados, verificando-se melhor desenvolvimento no substrato composto por esterco bovino combinado com areia e solo puro, sendo que substratos com solo puro (testemunha), de adubação convencional e o substrato com composição de 25% de esterco de ave, promoveram menor desenvolvimento da muda. Com relação ao diâmetro do caule, também o tratamento 06 e 08 foram os que proporcionaram um maior diâmetro, mostrando-se superiores aos demais substratos. Na figura 3 podemos observar que resultados mais expressivos de matéria seca podem ser observados nos tratamentos como T3 com 25% de esterco de ave. Figura 3. Massa seca da raiz e da parte aérea parte aérea em função do substrato. Ainda na Figura 3 observa-se que, maiores valores de leituras ocorreram nos tratamentos T3, T6 e T8, porem as medianas analisadas para os tratamentos T3 e T8 ficaram em valor inferior se comparado ao tratamento T6. Resultados semelhantes foram encontrados por Decarlos 16

5 Neto et al. (2002), que verificaram queda da altura dos porta-enxertos cítricos, propagados em tubetes. O melhor valor estimado para a matéria seca da parte aérea foi de aproximadamente 7,00g, quando sua mediana ficou próxima de 2g. Para a matéria seca da raiz, Figura 3 a melhor resposta foi observada quando se utilizou o substrato contendo 50% de esterco bovino em sua composição. CONCLUSÕES: De acordo com resultados e para as condições em que este trabalho foi realizado, podemos concluir que o melhor substrato para produção e desenvolvimento de mudas de mamoeiro deve conter dosagens de 50% de esterco bovino na formação do substrato. REFERÊNCIAS CARVALHO, J. E. B. Manejo de solos e cobertura verde em solos de tabuleiros costeiros para o cultivo do mamão. In: MARTINS, D. dos S. (Ed.). Papaya Brasil: mercado e inovações tecnológicas para o mamão. Vitória, ES: INCAPER, p DECARLOS NETO, A.; SIQUEIRA, D. L. de.; PERREIRA, P. R. G.; ALVAREZ, V. H. Crescimento de portaenxertos de citros em tubetes influenciados por doses de N. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 24, n. 1, p , FAGUNDES, G. R.; MACHADO FILHO, J. A.; VALONE, G. V.; YAMANISHI, O. K. Avaliação de diferentes substratos e duas formas de adubação na produção de mudas de mamoeiro da cultivar Tainung 1, em bandejas de poliestileno. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 16., 2000, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBF, p. 393 GOMES, F.P. Curso de estatística experimental. 14. ed. Piracicaba: USP, 2000: 477p. SCHMILDT, E. R.; TEIXEIRA, S. L.; SCHMILDT, O. Estabelecimento e multiplicação in vitro do mamoeiro Sunrise Solo Line 72/12 e Tainung 01. In: MARTINS, D. dos S. (Ed.). Papaya Brasil: mercado e inovações tecnológicas para o mamão. Vitória, ES: INCAPER, p SOARES, N. B. Mamão Carica papaya L. In: FAHL, J. I et al. (Ed.) Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas. Campinas-SP: IAC, p (Boletim, 200) QUEIROZ, J. A.; MELÉM JÚNIOR, N. J. Efeito do tamanho do recipiente sobre o desenvolvimento de mudas de açaí (Euterpe olaracea Mart.). Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 21, n. 1, p , agosto, LUNA, J.V.U. Variedades de mamoeiro. Informe Agropecuário, v.12, p.14-18, SOUZA, G. DE Características físicas, químicas e sensoriais do fruto de cinco cultivares de mamoeiro (Carica papaya L.) produzidas em Macaé-RJ. Campos dos Goytacazes, p. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual do Norte Fluminense. 17

6 TRINDADE, A. V.; OLIVEIRA, J. R. P. Propagação e plantio. In: SANCHES, N.F.; DANTAS, J.L.L. O Cultivo do mamão. Cruz das almas: EMBRAPA, p MARCO, C. A.; KESTEN, E.; SILVA, J. G. C. da. Influência do etefon, ácido indolbutírico e substrato no enraizamento de estacas de goiabeira (Psidium guajava L.). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 15., 1998, Poços de Caldas. Anais... Poços de Caldas: SBF, p. 372 VIEIRA, M.R.; COREA, L. de S.; CASTRO T.M.M.G. de. Efeito do cultivo do mamoeiro (Carica papaya L.) em ambiente protegido sobre a ocorrência de ácaros fitófagos e moscasbrancas. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 26, n. 3, p , SÃO JOSÉ, A. R.; SOUZA, I. V. B.; DUARTE FILHO, J.; LEITE, M. J. N. Formação de mudas de maracujazeiros. In: RIZZI, L. C.; RABELLO, L. R.; MOROZINI FILHO, W.; SAVAZAKI, E. T.; KAVATI, R. Cultura do maracujá-azedo. Campinas: CATI, p (Boletim Técnico, 235) MAIA, A. J.; INNECCO, R. Substrato para a produção de mudas de cajueiro-anão-precoce (Anacardium occidentale L.) em tubetes. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 16., 2000, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBF, p OLIVEIRA, R. B. de et al. Produção de mudas deessências florestais em diferentes substratos e acompanhamento do desenvolvimento em campo.ciênc. Agrotec., Lavras-MG, v.32, n.1, p , jan./fev., OLIVEIRA, J. A. de; SILVA, R. P. da; PEIXOTO, J. R.; JUNQUEIRA, N. T. V.; SANZONOWICZ, C. Influência de diversos substratos no desenvolvimento de mudas de maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deneger). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 16., 2000, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBF, 2000a. p OLIVEIRA, D. B. de; SOUZA, V. A. B. de; VASCONCELOS, L. F. L.; SOUZA, C. L. C. de; OLIVEIRA, F. C. Avaliação de diferentes genótipos, substratos e concentração de ácido indolbutírico no enraizamento de estacas de cajá. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 16., 2000, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBF, 2000b. p