1. Introdução. 84 Neste estudo todos os sujeitos são identificados por pseudônimos.

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1 609 INCLUSÃO DE ESTUDANTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS NO ENSINO AGRÍCOLA: EXPERIÊNCIAS DOCENTES DO INSTITUTO FEDERAL MINAS GERAIS CAMPUS SÃO JOÃO EVANGELISTA-MG Cláudia Marisa Ferreira Machado Pimenta IFMG Campus São João Evangelista. Eixo Temático: Formação de professores e processos de inclusão/exclusão em educação. Categoria: Comunicação 1. Introdução Após vivenciar situações de inclusão escolar ou social, no ambiente de trabalho ou familiar, no ano letivo de 2010 ao atuar como professora no Campus São João Evangelista do Instituto Federal Minas Gerais, me deparei com a presença de um estudante cego em sala de aula. Este estudante, neste estudo está identificado como Davi84 e confesso que vários questionamentos me ocorreram ao entrar em sua turma, dentre eles menciono: que atitudes/ações seriam necessárias para acolher pedagogicamente este estudante em minha sala de aula? Como atuar na sala de aula com um estudante cego? Era grande a minha vontade de ajudá-lo, no sentido de conceder a ele todas as condições necessárias para o seu sucesso escolar, mas a minha formação acadêmica não havia possibilitado nenhum conhecimento acerca do atendimento de estudantes com necessidades especiais. Os demais colegas professores do Campus também sentiam as mesmas aflições que as minhas diante daquela realidade. Após várias manifestações de nossas angústias, a Coordenação de Ensino organizou, para os professores que iriam atuar com o estudante Davi, dois módulos de um curso do sistema de escrita Braile. Após isso, decidi buscar nos estudos e pesquisas as respostas que me permitiriam atender melhor as demandas presentes na situação em que me encontrava. As experiências anteriormente vividas me permitiram refletir criticamente sobre a minha atuação e a dos outros professores que também se encontravam diante do desafio da inclusão de estudantes com necessidades especiais, tanto o estudante cego que chegara ao Campus como outros que chegariam a partir daquele 84 Neste estudo todos os sujeitos são identificados por pseudônimos.

2 610 momento. Entretanto, percebi que nem todos os profissionais da escola se sensibilizaram frente ao desafio que nos era posto a partir da inclusão de Davi, o que poderia contribuir para a reflexão de nossas práticas docentes com vistas ao atendimento daquele estudante. Diante da situação exposta, algumas questões emergiam: como poderia colaborar no processo de inclusão dos estudantes com necessidades especiais no Campus São João Evangelista do Instituto Federal Minas Gerais (IFMG)? Como promover o debate sobre as práticas dos professores desta escola em relação ao acolhimento dos estudantes com necessidades especiais? Como enfrentar os desafios presentes no processo de inclusão de estudantes com necessidades especiais na escola? Com base nestes questionamentos acima, apresentamos nossas contribuições neste estudo, tendo como base teórica o pensamento de Adorno, representante da Teoria Crítica da Sociedade, aliada as contribuições de Stuart Hall sobre as mudanças estruturais que estão ocorrendo nas sociedades pós-modernas, em relação ao convívio com a diversidade, sendo este movimento um pressuposto importante para a inclusão dos estudantes com necessidades especiais. Nosso desejo é que este estudo possa contribuir para a reflexão sobre a formação docente, e sua prática consequente na escola contemporânea, desdobrando-se em outros estudos que tenham como foco a inclusão escolar, social e humana de estudantes com necessidades especiais com base nas experiências vividas em um dos Institutos Federais de Educação Profissional do Brasil. 2. Referencial Teórico Debatemos a formação de professores para autonomia e emancipação, buscando a compreensão sobre formação no pensamento de Adorno, e seus comentadores, como Costa, Damasceno, dentre outros. Debatemos as mudanças estruturais que estão ocorrendo nas sociedades modernas, tendo como base o pensamento de Stuart Hall e seus comentadores, focando o convívio com a diversidade como um pressuposto importante para a inclusão dos estudantes com necessidades especiais. Analisamos também os

3 611 aspectos da fundamentação histórica, política, filosófico e legal presente no processo de inclusão escolar. 3. Objetivos A pesquisa teve os seguintes objetivos: Caracterizar o processo de inclusão de estudantes com necessidades especiais com base nas experiências docentes no/do cotidiano do IFMG - Campus São João Evangelista; Identificar as dificuldades e obstáculos enfrentados pelos professores no atendimento das demandas educacionais e pedagógicas dos Estudantes com Necessidades Especiais (ENEs); Avaliar a política institucional do IFMG - Campus São João Evangelista no que se refere ao desenvolvimento de ações que objetivam o apoio docente para o atendimento das necessidades especiais dos estudantes. 4. Metodologia A pesquisa teve dois momentos metodológicos: o primeiro teve como foco a pesquisa qualitativa de cunho exploratório com o objetivo de obter uma visão geral do processo de inclusão no lócus da pesquisa e no segundo momento realizamos uma pesquisa de campo fundamentada no pensamento de Garcia, Oliveira & Alves e alguns de seus comentadores, como Cupolillo na perspectiva de análise da realidade da prática docente contando com a riqueza dos cotidianos na coleta de dados da pesquisa. As contribuições deste estudo teve como base teórica o pensamento de Adorno, representante da Teoria Crítica da Sociedade, aliada as contribuições de Stuart Hall sobre as mudanças estruturais que estão ocorrendo nas sociedades pós-modernas, em relação ao convívio com a diversidade, sendo este movimento um pressuposto importante para a inclusão dos estudantes com necessidades especiais. 5. Desenvolvimento Durante a pesquisa realizamos os seguintes procedimentos:

4 612 Identificação das especificidades dos ENEs ; Após identificar a presença de um estudante cego no curso de Nutrição e Dietética, primando pela riqueza nos resultado da pesquisa, optamos por analisar especificamente as práticas docentes deste referido curso, Mapeamento dos docentes que atuam na área de formação profissional do Curso de Nutrição e Dietética; Identificação das condições e elementos presentes no Campus que o caracterizam ou não como uma instituição que promove a inclusão de ENE; Identificação de elementos da formação acadêmica dos docentes do referido curso para a organização e atendimento da diversidade dos ENE; Na elaboração do estudo foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados: Entrevistas semiestruturadas de cunho exploratório que nos possibilitou uma visão geral acerca do foco da pesquisa. Observações envolvendo docentes e ENEs do curso pesquisado. Entrevista e pesquisa de campo acompanhando a prática de dois professores do curso pesquisado com registro no diário de campo. O resultado da pesquisa transitou de maneira crítico reflexiva por essas questões com o objetivo de caracterizar o processo de inclusão no Campus SJE IFMG com base nas experiências docentes e analisar a cultura existente de uma educação na/para as diferenças 6. Conclusões Após a realização do estudo, obtivemos as seguintes conclusões: Foram identificados e caracterizados estudantes com necessidades especiais matriculados no Campus e dentre eles, um estudante cego; Percebemos que o Campus não possui ainda uma cultura institucional e escolar de acessibilidade, no entanto, os ENEs estão se matriculando e isso, às vezes, vem

5 613 causando/provocando medidas emergenciais e a busca de adequações quanto ao atendimento desses estudantes. Não percebemos a ênfase necessária na adequação dos diferentes tipos de acessibilidade, no entanto, reconhecemos que o Campus está se mobilizando e se reorganizando com vistas ao estabelecimento de diretrizes e de ações que promovam a inclusão escolar, social e humana de seus estudantes. Percebemos a existência de momentos formativos que contemplassem questões do âmbito da educação de ENE. Por meio das narrativas das experiências dos docentes sobre a inclusão de ENEs no Campus foi possível identificarmos três categorias de análise, sendo: 1. Sobre suas concepções sobre a educação inclusiva: Reconhecem o atual estágio da educação inclusiva como um caminho rumo à possibilidade de tornar a sociedade mais justa e humana. 2. Sobre as diretrizes e ações formativas em prol da inclusão dos ENE s no Campus: Entendem, enfrentam e superam os desafios e limites pedagógicos postos à inclusão dos estudantes. 3. Revelação de protagonismo docente: Práticas autônomas e emancipadas diferenciadas, no âmbito de suas formações em atendimento às demandas de aprendizagem do estudante cego presente na turma. Esse estudo revelou também que se o professor se empenhar sensibilizado pela inclusão dos estudantes com necessidades especiais, terá êxito, pois essa sensibilização será o combustível para a aquisição dos saberes e fazeres que resultem no aprendizado de como se ensinar a um estudante com necessidades especiais. Isso nos remete, mais uma vez, à necessidade de uma formação crítica destes professores, voltada para a emancipação e não para a adaptação, como proposto pela Teoria Crítica, com ênfase no pensamento de Adorno. Após isso, podemos considerar que, no caso do Campus São João Evangelista do IFMG com vistas à organização de uma escola inclusiva, o que fez a grande diferença no processo

6 614 inclusivo no contexto pesquisado, foi a presença do estudante cego no Curso Técnico em Nutrição e Dietética, conforme exposto anteriormente. Como instituição pública que tem como foco a equidade e um compromisso social, a escola pesquisada precisa se revisitar em sua dimensão político-pedagógica, uma vez que ações insipientes se encontram instituídas objetivando o apoio aos professores em relação ao atendimento das demandas de aprendizagem dos seus estudantes, incluindo os que possuem necessidades especiais. Para ratificar a importância do diferente neste processo de inclusão escolar, recorro à afirmação de Skliar, pois se não contássemos com a presença do estudante cego no Campus São João Evangelista do IFMG, só nos restaria a vacuidade e a opacidade de nós mesmos, a nossa pura miséria, a própria selvageria que nem ao menos é exótica. Nesse sentido, Adorno destaca a necessidade do desenvolvimento de uma postura emancipadora: [ ] mesmo na literatura pedagógica não se encontre esta tomada de posição decisiva pela educação para a emancipação, como seria de se pressupor o que constitui algo verdadeiramente assustador e muito nítido. Com o auxílio de amigos acompanhei um pouco a literatura pedagógica acerca da temática da emancipação. Mas, no lugar de emancipação, encontramos um conceito guarnecido nos termos de uma ontologia existencial de autoridade, de compromisso, ou outras abominações que sabotam o conceito de emancipação atuando assim não só de modo implícito, mas explicitamente contra os pressupostos de uma democracia. (1995, p.172) O autor nos revela o propósito de confundir o entendimento da concepção de emancipação, apontando-a como a direção necessária a ser dada à educação. Fazendo uma análise do pensamento do autor, cotejando com o objeto e resultados desse estudo, podemos afirmar que a emancipação é necessária para os professores atuarem na perspectiva da educação democrática, para a superação dos diferentes desafios postos pela inclusão de estudantes com necessidades especiais na escola contemporânea. 7. Referências: ADORNO, T. W. Educação e Emancipação. São Paulo: Paz e Terra, CUPOLILLO, A. V. Corporeidade e conhecimento: Diálogos necessários à Educação Física e à Escola. Tese (Doutorado Área de concentração: Estudos do cotidiano da Educação Popular). Universidade Federal Fluminense. Niterói - Rio de Janeiro, 2007.

7 615 DAMASCENO, A. R. A formação de professores e os desafios para a escola inclusiva: as experiências da Escola Municipal Leônidas Sobrino Porto. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal Fluminense. Niterói - Rio de Janeiro, GARCIA, R. L. (Org). Método: pesquisa com o cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A Editora HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª edição. Rio de Janeiro: DP&A Editora, SILVA. TOMAZ TADEU DA. (Org.) Stuart Hall & Kathryn Woodward. Identidade e diferença A perspectiva dos Estudos Culturais. 6ª edição. Petrópolis: Vozes SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença e se o outro não estivesse aí?. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003.