Francesco Mangani. Entrevista

Transcrição

1 Entrevista Francesco Mangani Graduação em Medicina e Cirurgia Geral. Pós-graduação em Odontoestomatologia. Professor Titular da Faculdade de Medicina e Cirurgia da Faculdade de Odontologia da Universidade Tor Vergata, Roma. Presidente de Odontologia Restauradora da Faculdade de Odontologia da Universidade Tor Vergata, Roma. Presidente de Estética Dental, Dental School of Higienist, Universidade Tor Vergata, Roma. Chefe da Área Funcional de agregação de Odontologia Estética Restauradora, da Universidade Tor Vergata Hospital das Clínicas, Roma. Professor Consultor Honorário da Universidade Maimonides, Faculdade de Odontologia, Buenos Aires. Professor Adjunto Honorário na Universidad Benemérita Autônoma de Puebla, México. Mestre em Estomatologia Integral. Membro da Academia Italiana de Odontologia Conservadora. Membro da Sociedade Italiana de Endodontia. Membro da Sociedade Italiana de Medicina Dentária Conservadora. Membro e cofundador da Academia Italiana de Odontologia Estética. Autor de 200 publicações científicas e mais de 80 resumos de sessões de pesquisa sobre Odontologia Conservadora e Endodontia. Autor do Livro-texto para o projeto morfologia dentária (Martina, ed. 1999). Coautor de Restauração conservadora dos dentes anteriores (Promoden, ACME 2004). Coautor de Restauração conservadora indireta de dentes posteriores (UTET, 2008). Coautor de Diretrizes para Odontologia Adesiva: a chave do sucesso. Autor de Restaurações estéticas conservadoras para dentes posteriores tratados endodonticamente (UTET 2008). Autor do capítulo Castings Gold no livro Odontoiatria Conservatrice (R. Grandini, Rengo S., Stromenger L.), Edizioni UTET, Torino, Autor do capítulo Restaurações Pós-Endo no livro Endodonzia (Edizioni Masson, Milão, 2006). Tradutor, juntamente com outros autores, da última edição do livro Caminhos da polpa Cohen-Burns (Delfino Editore, Roma, 2008). Tradutor, juntamente com outros autores, da última edição do livro Cárie Dentária - a doença e seu manejo clínico (Delfino Editore, Roma, 2009). Palestrante internacional, com foco em Odontologia Restauradora, Estética e Endodontia. Como citar esta seção: Mangani F. Entrevista. Rev Dental Press Estét jul-set;9(3): Rev Dental Press Estét jul-set;9(3):12-6

2 Mangani F Rev Dental Press Estét jul-set;9(3):

3 Entrevista O senhor tem ministrado palestras em muitos congressos ao redor do mundo. Como vê as habilidades dos dentistas, o gosto pela estética, a paixão pela Odontologia, o envolvimento que dentistas especialistas têm com a profissão? Eu posso ver muito entusiasmo e um desejo inato de aprender e crescer sem parar. Mesmo na Europa, onde atualmente estamos vivendo uma situação econômica dramática, tudo isso parece não influenciar a nossa área. Eu não quero dizer que a grande crise não está afetando o nosso trabalho, mas que, apesar da crise, a nova geração de dentistas é determinada, motivada e está em busca da excelência, porque eles entendem que a excelência não é um slogan publicitário para exibir na internet, mas sim uma busca constante pela qualidade. A excelência, por si só, representa a melhor estratégia de marketing! Isso me deixa otimista. Acredito que aqueles que fazem desse conceito a sua própria fé terão um futuro de sucesso. Conte-nos sobre sua carreira e por que você decidiu envolver-se em Odontologia Estética. Peguei o certificado de pós-graduação em Odontoestomatologia, em Roma, depois que me formei em Medicina e Cirurgia. No início, eu me interessei pela Endodontia e áreas diferentes da Dentística. Mas, quando participava assistindo a muitos cursos, eu tive grandes mestres, dentre os quais gostaria de mencionar alguns nomes que escreveram e ainda escrevem a história dessas disciplinas: Herbert Schilde e Cliff Ruddle, em Endodontia; Jim Vernetti e Harold Schnepper, professores de Restaurações Diretas com Folha de Ouro; Richard V. Tucke, professor extraordinário, inesquecível, de Restaurações com Ouro direto ele, mais do que qualquer outro, ensinou-me a respeitar o tecido dentário. Muitos outros, ainda, me ajudaram a crescer nessa profissão maravilhosa. Em 1984 fui chamado para ensinar na Universidade Tor Vergata, de Roma, pelo homem que se tornaria meu mentor, meu grande mestre, professor Mario Martignoni. Junto a ele, iniciei a minha carreira como pesquisador e depois como professor de Dentística e clínico. Em 1988 aprendi a usar o microscópio, procurando absoluta precisão e função em restaurações. No final dos anos 80, tive a primeira experiência com diferentes tipos de cerâmica e dediquei-me mais e mais ao que hoje é chamado de Odontologia Estética. Naquela época, resinas e compósitos não eram valorizados e foi nessa época que conheci meu grande amigo Lorenzo Vanini, com quem partilhei muitos anos de experiência e pesquisas, e de quem tive a oportunidade de aprender muito sobre as técnicas que hoje nos permitem utilizar esses materiais da melhor maneira. Hoje em dia, juntamente com Lorenzo, Pascal Magne, Michel Magne e Gaetano Calesini um protético italiano muito conhecido e respeitado tenho a honra de ser o mentor de um grupo extraordinário de jovens clínicos e pesquisadores que, sob o nome de Bio-Emulação, já representam o futuro. Esse grupo será um ponto de referência para quem vai se interessar em Odontologia Adesiva Conservadora. Entre eles, P. Bazos, J. Tapia Guadix, G. Politano, J. Smithson, L. Pereira, S. Browet, S. Hein e C. Pisacane. Hoje em dia, qual é a sua percepção sobre atitudes de dentistas e pacientes, não só sobre a solicitação dos procedimentos estéticos, mas sobre a participação dos pacientes nas decisões do tratamento, sobre a divisão das responsabilidades? Tudo mudou em comparação ao início de minha carreira, há mais de 30 anos! Em termos de educação, a oferta hoje é maior, existe mais oportunidade, mais acessibilidade. Obviamente, o nível científico não é uniforme, mas, a partir de minha 14 Rev Dental Press Estét jul-set;9(3):12-6

4 Mangani F experiência como professor na universidade e nas academias e sociedades científicas, pude perceber imediatamente, como usuário dessa educação, quem são os reais professores. Essa oferta melhora a qualidade da profissão, sobretudo nos últimos 10 anos, e, consequentemente, a qualidade dos tratamentos, tanto do ponto de vista estético como do ponto de vista de segurança, em termos de previsibilidade e longevidade. Por outro lado, graças à Internet, nossos pacientes estão extremamente informados sobre técnicas e materiais e, muitas vezes, eles no sugerem o que desejam. Sobre esse assunto tenho opinião clara e acredito que precisamos levar em consideração os desejos e necessidades dos pacientes mas, muitas vezes, não aceito esses pedidos, principalmente em relação aos tratamentos desnecessários, muito invasivos, que podem causar danos ao paciente ou que preterem a função por escolha de um resultado estético. Agir de forma diferente significaria, para mim, trair o princípio mais básico da profissão, que é a conservação de estrutura dentária sadia. Quais são suas maiores preocupações dentro do consultório odontológico? Pessoalmente, eu não tenho preocupações maiores com a gestão do meu consultório odontológico, mas acho importante considerar: a) Satisfação estética e funcional do paciente e seu bem-estar. b) Satisfação de quem trabalha comigo, de minha equipe. Temos visto grandes avanços no desenvolvimento de materiais estéticos. O senhor acha que as restaurações metálicas finalmente serão descartadas? Por quê? Infelizmente, minha resposta é sim. Os materiais metálicos definitivamente vão cair no esquecimento e se tornarão história da Odontologia moderna, e isso vai acontecer mesmo sabendo-se que, até hoje, nenhuma resina ou cerâmica pode alcançar resultados, em longo prazo, comparáveis aos resultados alcançados pelo amálgama de prata ou, melhor ainda, pelas restaurações em folha de ouro e de ouro direto. Na minha opinião, a razão desse declínio se dá: a) Pela alta demanda estética nos dias de hoje, pressionando mais do que nunca as escolhas dos profissionais e a seleção dos planos de tratamento. b) Pela luta contra o mercúrio e os metais pesados contidos no amálgama de prata. c) Pela ausência quase total do ensino das maravilhosas técnicas restauradoras, diretas e indiretas, que preveem o ouro como material de escolha. Como o senhor vê o uso de cerâmica e resina para a resolução de problemas estéticos? Essa é, talvez, a pergunta mais comum que muitas pessoas tentam responder há algum tempo, mas que absolutamente ninguém pode responder e demonstrar de uma forma científica qual dos dois materiais oferece o melhor desempenho. Isso depende dos parâmetros aplicados para a avaliação laboratorial e clínica e dos parâmetros utilizados para a indicação clínica. Universalmente, sabemos que, quando se fala de coroa total ou de grande reconstrução ou overlays, resistência ao desgaste e estabilidade oclusal, a cerâmica é capaz de oferecer garantias de grande sucesso. Mas, quando se considera a simplicidade de utilização, o custo definitivamente mais baixo, a indicação mais clássica da Odontologia adesiva conservadora (Classes I, II, III, IV e V), a possibilidade de ser reparada e corrigida, as resinas compostas prevalecem, sem dúvida. Rev Dental Press Estét jul-set;9(3):

5 Entrevista Pensando na resina para restauração dos dentes anteriores, qual é a vantagem em usar um composto com alto índice de refração? Eu uso resina com alto índice de refração (HRI) na minha prática clínica, desde O índice de refração de um material compósito para esmalte, em torno de 1.62, faz com que apresente um comportamento óptico semelhante ao comportamento óptico do esmalte natural. A grande vantagem é que é possível evitar a linha cinza sobre a margem da preparação porque não há desvio da luz que passa através dos dois corpos (esmalte natural e compósito para esmalte), que têm o mesmo índice de refração. O índice de refração médio de materiais compósitos de cerâmica é de 1.50, que é próximo do índice de refração do vidro, e aumentar a espessura do material diminui esse valor; enquanto os compósitos com HRI têm o mesmo comportamento do esmalte natural e o aumento da espessura corresponde a um aumento desse valor. No sistema de resinas com HRI, podemos escolher entre três esmaltes com valor diferente para reproduzirmos o esmalte dos jovens, adultos e idosos e, por isso, é possível planejar e executar a restauração de acordo com a idade do paciente. Uma vantagem adicional é que, em restaurações do esmalte incisal livre, é possível alcançar uma perfeita integração, substituindo o esmalte natural pelo compósito para esmalte, sem o uso do corpo da dentina. dentes, onde introduzimos um novo protocolo de análise de cores e três dimensões novas de cores (opalescência, intensivos e caracterização). Para obtenção de um resultado estético previsível restaurador, é necessário utilizar um sistema composto onde tons compostos selecionados podem ser aplicados para reproduzir todas as cinco dimensões da cor dos dentes. O que o senhor considera a grande descoberta da Odontologia nos últimos anos? Sem dúvida, eu reconheço que a Implantodontia e a Odontologia Adesiva são as duas grandes novidades que mudaram totalmente a nossa forma de trabalhar. Deixando a Implantodontia de fora, é claramente evidente que as técnicas adesivas levaram a uma revolução na área de tratamento restaurador, permitindo a realização de tratamentos mais conservadores, com preservação dos tecidos dentários sadios e obtenção de elevado resultado estético. Qual técnica de estratificação permite reproduzir as características dos dentes naturais? Para reproduzir o dente de uma forma natural, é necessário utilizar uma técnica de estratificação anatômica com o compósito que imite a anatomia do dente. Dessa maneira se alcança uma relação com a luz semelhante à que acontece quando a luz passa pela estrutura do dente natural. Publiquei em 2001, com o Dr. Lorenzo Vanini, um artigo sobre as cinco dimensões da cor dos Entrevistadora Enviado em: 15/06/2012 Revisado e aceito: 23/06/2012 Claudia Cia Worschech Especialista em Dentística, UNICAMP. Mestre e Doutora em Clínica Odontológica, Dentística, UNICAMP. Presidente da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética (SBOE), Vice-presidente da Academia Americana de Microscopia, AMED. Editora Sênior da Revista de Microscopia MICRO, AMED, EUA. 16 Rev Dental Press Estét jul-set;9(3):12-6

6 Copyright of Revista Dental Press de Estética is the property of Dental Press International and its content may not be copied or ed to multiple sites or posted to a listserv without the copyright holder's express written permission. However, users may print, download, or articles for individual use.