INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E LAMINITE EM BEZERROS MESTIÇOS PELA ADMINISTRAÇÃO INTRARRUMINAL DE OLIGOFRUTOSE

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E LAMINITE EM BEZERROS MESTIÇOS PELA ADMINISTRAÇÃO INTRARRUMINAL DE OLIGOFRUTOSE"

Transcrição

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E LAMINITE EM BEZERROS MESTIÇOS PELA ADMINISTRAÇÃO INTRARRUMINAL DE OLIGOFRUTOSE Antônio Dionísio Feitosa Noronha Filho Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva GOIÂNIA 2017

2 ii

3 iii ANTÔNIO DIONÍSIO FEITOSA NORONHA FILHO INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E LAMINITE EM BEZERROS MESTIÇOS PELA ADMINISTRAÇÃO INTRARRUMINAL DE OLIGOFRUTOSE Tese apresentada para obtenção do título de Doutor em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás Área de concentração: Patologia Clínica e Cirurgia Animal Linha de pesquisa: Alterações clínicas, metabólicas e toxêmicas dos animais e meios auxiliares de diagnóstico Orientador: Prof. Dr. Luiz A. Franco da Silva EVZ/UFG Comitê de orientação: Profa. Dra. Maria C. S. Fioravanti EVZ/UFG Prof. Dr. Paulo H. J. da Cunha EVZ/UFG GOIÂNIA 2017

4 iv

5 v

6 vi

7 vii Dedico esse trabalho a meus pais, Antônio Dionísio e Maria Piedade, e a minha irmã, Ana Clara

8 viii AGRADECIMENTOS Agradeço inicialmente a Deus por permitir inúmeras benções em minha vida, entre elas a formação profissional e acadêmica; Agradeço meus pais, Maria Piedade Bueno Teixeira e Antônio Dionísio Feitosa Noronha, e minha irmã, Ana Clara Bueno Teixeira Feitosa Noronha, por sempre terem me apoiado em todos os momentos; Agradeço ao meu orientador, professor Luiz Antônio Franco da Silva, por todo o acompanhamento, desde o mestrado, no qual pude aprender bastante, além de partilhar da amizade e respeito; A Sabrina Lucas Ribeiro de Freitas, pela amizade e por ter compartilhado o desafio que representou este trabalho; Aos companheiros da república, Carlos Vinicius de Miranda Faria e Thiago Nogueira Marins, pela amizade fraterna, os momentos de descontração e o apoio frente aos desafios; Aos amigos da pós-graduação Danilo Rodrigues Ferreira, Fernanda Figueiredo Mendes, Paulo José Bastos Queiroz e Danilo Conrado Silva, pelo companheirismo ao longo desses anos; Aos alunos da graduação, hoje quase todos colegas, que participaram diretamente do projeto, sempre com seriedade e boa vontade, Lucas Alves Rodrigues Martins, Damila Batista Caetano, Marina Magalhães Rezende, Luíza Costa Barcelos; Josyanne Rodrigues de Freitas, João Messias Carvalhaes Filho, Daniela Ferreira Cordeiro Gomes, Lucas Andrade Mendes, Maria Madalena dos Santos Costa e Laiz Alves Pereira. Sem vocês esse trabalho não passaria de mais um projeto no papel; A professora Marina Pacheco Miguel, pela inestimável ajuda com as avaliações histológicas; A professora Heloísa Maria Mendes Falcão, pela inestimável ajuda nas biópsias de casco; Ao comitê de orientação, a professora Maria Clorinda Soares Fioravanti e professor Paulo Henrique Jorge da Cunha pelas sugestões ao longo de todas as etapas do projeto; Ao Hospital Veterinário da EVZ/UFG, nas pessoas do professor Paulo Henrique Jorge da Cunha e professora Danieli Brolo Martins, pelo apoio na execução do projeto;

9 ix A dona Vilda, uma verdadeira mãe, e ao Agapita e o Aníbal, pelo apoio prestado ao longo do experimento; A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa concedida; Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio financeiro ao projeto; A Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, por ter me proporcionado, desde a Residência, inúmeras oportunidades de aprendizado e crescimento; Aqueles de quem eu eventualmente me esqueci, minhas sinceras desculpas.

10 x Encontrar a verdade é difícil, e o caminho é acidentado. Como buscadores da verdade, o melhor é não julgar e não confiar cegamente nos escritos dos antigos. É preciso questionar e examinar criticamente o que foi escrito, por todos os lados. É preciso aceitar apenas o argumento e a experiência, em vez do que qualquer pessoa diz, pois todo ser humano é vulnerável a todos os tipos de imperfeição. Como buscadores da verdade, devemos suspeitar e questionar nossas próprias ideias ao investigarmos fatos, para evitar preconceitos ou pensamentos descuidados. Sigam este caminho e a verdade vos será revelada Ibn al-haytham (Alhazen)

11 xi SUMÁRIO CAPÍTULO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Introdução, justificativa e objetivos Objetivos Revisão de literatura Estrutura e função do dígito bovino Patogenia da laminite bovina Acidose ruminal e laminite Alterações circulatórias na laminite bovina Metaloproteinases de matriz Achados macro e microscópicos da laminite bovina Aspectos metodológicos da pesquisa em laminite bovina...13 Referências...20 CAPÍTULO 2 ARTIGO DE REVISÃO: INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL EM BOVINOS...26 Introdução...27 Aspectos gerais sobre a acidose ruminal...28 Prejuízos econômicos decorrentes da acidose ruminal...28 Etiopatogenia da acidose ruminal...29 Aspectos relacionados ao diagnóstico da acidose ruminal...32 Indução de acidose ruminal...32 Aspectos metodológicos dos protocolos de indução de acidose ruminal...33 Avaliação de parâmetros ruminais...34 Protocolos de indução de acidose ruminal aguda...37 Acompanhamento clínico em quadros de acidose aguda induzida...38 Protocolos de indução de acidose ruminal subaguda...39 Aplicações dos protocolos de indução de acidose ruminal...40 Considerações finais...41 Referências...42 CAPÍTULO 3 CARACTERIZAÇÃO DA ACIDOSE RUMINAL E DA FASE INICIAL DA LAMINITE INDUZIDAS POR OLIGOFRUTOSE EM BEZERROS MESTIÇOS...47 Resumo Introdução Materiais e métodos...50

12 xii 3. Resultados Discussão Conclusão...64 Referências...65 CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...69 ANEXO I...71

13 xiii LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 1 FIGURA 1 - Regiões externas do casco bovino, vistas palmar (A) e dorsal (B)....5 FIGURA 2 Corte sagital do dígito bovino com a derme e epiderme de cada segmento 6 FIGURA 3 Estrutura da inulina, similar a oligofrutose, se diferindo desta apenas pelo maior número de monômeros de frutose...17 CAPÍTULO 2 FIGURA 1 Sequência de alterações químicas e microbianas características da acidose ruminal aguda. AGV: ácidos graxos voláteis...30 FIGURA 2 Sequência de alterações químicas e microbianas características da acidose ruminal subaguda...31 FIGURA 3 Componentes de sistema de aferição contínua de ph ruminal...36 FIGURA 4 Manejo alimentar nos dias de indução de acidose subaguda...40 CAPITULO 3 FIGURA 1 Biópsia da região da muralha do casco de bovino FIGURA 2 Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. Fragmento da região da muralha de animal do grupo GE evidenciando edema perivascular. Coloração HE, aumento de 10X FIGURA 3 Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. Fragmento de região da coroa de animal do grupo GP evidenciando infiltrado inflamatório subepidérmico. Coloração HE, aumento de 4X FIGURA 4 Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. A Fragmento de coroa de animal do grupo GE evidenciando destacamento multifocal discreto da membrana basal. B - Fragmento de muralha de animal do grupo GP evidenciando irregularidades da membrana basal. Coloração PAS, aumento de 40X... 59

14 xiv LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 3 TABELA 1 - Médias e desvio padrão de frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), movimentos ruminais em cinco minutos (MR), temperatura retal (T C) e tempo de preenchimento capilar (TPC) para bezerros recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em TABELA 2 - Médias e desvio padrão de ph ruminal e momento de término de redução do azul de metileno (AM) para bezerros recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em TABELA 3 - Médias e desvio padrão de hematócrito (HCT) e proteína plasmática (PTN) para animais recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em TABELA 4 - Médias e desvio padrão dos valores de ph sanguíneo, pressão de CO2 (PCO2), bicarbonato (HCO3), excesso de base (BE) e intervalo aniônico (AG) para animais recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em TABELA 5 - Escores de alterações histológicas, em amostras de casco, coroa e muralha dorsal, de bezerros que receberam 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em TABELA 6 Escores de alterações histológicas em amostras de casco, coroa e muralha dorsal do casco, agrupados por membro pélvico e torácico, para bezerros recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em TABELA 7 - Escores de alterações histológicas em amostras da coroa e muralha dorsal do casco, agrupados por coroa e muralha, para bezerros recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em

15 xv LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ARSA ALRA MMP CHD FC FR MR AM HCT PTN ph Acidose ruminal subaguda Acidose láctica ruminal aguda Metaloproteinases de matriz Claw horn disruption Frequência cardíaca Frequência respiratória Motilidade ruminal em cinco minutos Azul de metileno Hematócrito Proteína plasmática Potencial hidrogeniônico PCO2 Pressão parcial de CO 2 HCO3 BE Bicarbonato Excesso de base

16 xvi RESUMO Entre as doenças que acometem bovinos em sistemas de alta produtividade estão a acidose ruminal e a laminite. Objetivou-se inicialmente realizar revisão de literatura sobre indução experimental de acidose ruminal em bovinos e, posteriormente, avaliar o quadro de acidose ruminal e da fase inicial de laminite induzidas pela administração de oligofrutose em bezerros. Nos diferentes protocolos de indução podem ser avaliados aspectos fermentativos e clínicos da acidose ruminal, nas formas aguda e subaguda. Para o estudo, utilizaram-se seis bezerros mestiços (Bos taurus X Bos indicus) de um ano de idade. Inicialmente usaram-se três animais em um grupo piloto (GP) recebendo oligofrutose na dose de 13 g/kg e em seguida um grupo experimental (GE) recebendo na dose de 17 g/kg. Avaliaram-se alterações clínicas, laboratoriais e histológicas do casco. A sobrecarga de oligofrutose provocou acidose ruminal caracterizada por baixo ph em ambos os grupos. Observou-se também acidose metabólica com redução de ph, PCO2, bicarbonato e excesso de base. Não se observou aumento da sensibilidade dos cascos ou claudicação. Apesar disso, muitos animais apresentaram apatia e marcha mais lenta, possivelmente devido a acidose metabólica. Histologicamente observaram-se alterações circulatórias e infiltrado inflamatório na derme, irregularidades de membrana basal e alterações morfológicas na camada basal da epiderme. O protocolo de indução de laminite com administração intrarruminal de oligofrutose se mostrou eficaz em bezerros mestiços de um ano. Na fase inicial a laminite se caracterizou por sinais clínicos da enfermidade primária, no caso acidose ruminal, e por alterações histológicas indicativas de inflamação aguda e comprometimento de membrana basal e epiderme. Palavras-chave: Bovino, acidose metabólica, claudicação, casco, histologia dos dígitos ABSTRACT Among diseases of cattle in intensive production systems are rumen acidosis laminitis. It was produced initially a literature review about experimental induction of rumen acidosis and after this, was evaluated rumen acidosis and initial phase of laminitis in calves, both induced by intrarruminal administration of oligofructose. In the different protocols, in both acute and subacute forms of acidosis, are usually evaluated fermentative and clinical aspects. In the study were used six crossbred male calves (Bos taurus X Bos indicus) aging one year and weighting 175 ± 22,6 kg. Initially were used three animals in a pilot group (GP), receiving oligofructose in the dose of 13g/kg and after this, three animals were used as experimental group (GE) receiving oligofructose in the dose of 17 g/kg. Were evaluated parameters from clinical exam, hematocrite, plasmatic protein, blood gas analysis and histology of hoof samples. Oligofructose overload induced rumen acidosis in both groups. It was also observed metabolic acidosis with reduction of blood ph, PCO2, bicarbonate and base excess. Was observed neither elevation in hoof sensibility nor lameness. Despite this, many animals presented apathy and slower gait, possibly due to metabolic acidosis. In histologic evaluation, were observed circulatory changes and inflammatory infiltrate in dermis, irregularities in basement membrane and morphologic changes in basal epidermis. Protocol for laminitis induction with intrarruminal administration of oligofructose in crossbred calves was well succeeded. In the initial phase, laminitis was characterized by clinical signs of the primary disease, in this case rumen acidosis, and histologic lesions indicative of acute inflammation and compromise of basement membrane and basal epidermis. Keywords: Bovine, hoof, hoof histology, lameness, metabolic acidosis

17 CAPÍTULO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1. Introdução, justificativa e objetivos Nas últimas décadas os rebanhos de bovinos vêm passando por mudanças que resultam em produtividade cada vez maior, tanto na produção de carne quanto na produção de leite. Esse fenômeno, que ocorre ao redor do mundo, também se faz presente na pecuária brasileira 1,2. Apesar dos benefícios obtidos por essas transformações e do melhor desempenho zootécnico apresentado pelos rebanhos em geral, algumas enfermidades tipicamente associadas à intensificação do sistema de produção se tornaram mais comuns, especialmente aquelas de caráter nutricional e metabólico, como acidose ruminal e a cetose 3,4. Acidose ruminal é um desequilíbrio da fermentação ruminal associada ao consumo de grande quantidade de carboidrato de rápida fermentação. O distúrbio se caracteriza pela acidificação acentuada e prolongada do conteúdo ruminal 5. Em função do consumo de carboidratos de alta fermentação, animais criados em sistemas intensivos de produção são mais susceptíveis à acidose ruminal. Essa indigestão pode ocorrer nas formas aguda e subaguda. Na forma aguda a acidose se caracteriza por sinais clínicos evidentes como distensão ruminal com liquido, diarreia, desidratação e apatia. Os animais nesse estado requerem tratamento clínico ou, em algumas situações, cirúrgico 6. Na forma subaguda, a acidose não provoca sinais clínicos específicos, entretanto, a longo prazo o desequilíbrio na fermentação ruminal pode causar prejuízos à saúde do animal na forma de rumenite e paraqueratose, abscessos hepáticos, comprometimento da função imune e doenças de casco 5,7-9. Juntamente com a acidose ruminal, as doenças de casco constituem um grupo de enfermidades que também vem comprometendo os rebanhos bovinos ao redor do mundo 1, Em função da dor, os animais se locomovem e comem menos, fatores que combinados levam a diversos desdobramentos e causam prejuízos aos produtores. Vacas leiteiras com doença podal diminuem a produção, perdem peso, tem sua eficiência reprodutiva comprometida, estão predispostas a outras enfermidades e consequentemente tem uma vida produtiva mais curta, sendo muitas vezes descartadas precocemente 1,13. Nos rebanhos de corte, as doenças de casco podem ser observadas tanto em confinamentos quanto em sistemas de criação extensiva 8,14. Quando os rebanhos de cria são manejados extensivamente e se emprega amonta natural, touros podem apresentar lesões no casco

18 2 comprometendo seriamente sua função como reprodutores Outro aspecto importante sobre as doenças de casco é o significativo impacto negativo no bem-estar animal dos bovinos, especialmente na pecuária leiteira 17,18. Nos rebanhos leiteiros já se constataram diversas alterações comportamentais secundárias à claudicação como menor ingestão de alimentos, maior tempo em decúbito, menor oposição a animais dominantes do mesmo lote e epressão de comportamento de estro atenuada 19. Como causa dessas enfermidades são apontados fatores microbiológicos, metabólicos e ambientais atuando isoladamente ou em conjunto. Uma das enfermidades podais mais comuns é a laminite, considerada uma doença sistêmica com manifestação local nos dígitos A laminite pode se manifestar de forma clínica, subclínica ou crônica levando a claudicação grave ou lesões como hemorragia de sola, úlcera de sola, úlcera de pinça e doença da linha branca 8,21,23. É uma doença de etiologia complexa e que vem sendo estudada há muito tempo. Na sua etiologia considera-se a interação de fatores nutricionais e metabólicos, especialmente associados à acidose ruminal 8,20,21,24. Apesar de aparentemente simples, demonstrar e compreender a relação entre acidose ruminal e laminite, não tem se mostrado tarefa simples para a comunidade científica veterinária 11, Uma das formas de se estudar a laminite é a sua indução experimental. Os protocolos usados na tentativa de indução de laminite bovina envolveram sobrecarga com grãos, ou administração de substâncias possivelmente envolvidas na patogenia da enfermidade como ácido lático, histamina e endotoxinas. Os resultados não se mostraram muito consistentes. Apesar de apresentarem alterações nos dígitos, nem sempre os animais desenvolveram claudicação ou mesmo os critérios para indicar a ocorrência da enfermidade foram pouco claros 7,8, O protocolo com administração intrarruminal de oligofrutose, desenvolvido na última década, tem se mostrado o mais promissor na indução da laminite em bovinos, considerando a acidose ruminal como um dos principais fatores envolvidos na patogenia da doença 7,8. Muitos animais testados desenvolveram claudicação e maior sensibilidade no casco, características da enfermidade, e alterações microscópicas nos dígitos, detectadas histologicamente ou por outras metodologias. Apesar disso, alguns não desenvolveram claudicação ou não apresentaram alterações microscópicas indicativas de laminite 7,8, Essa situação leva a necessidade de mais estudos utilizando esse protocolo, testando diferentes situações como o uso de animais jovens ou com padrão racial

19 3 representativo do rebanho nacional. Uma categoria animal que poderia ser testada é a de animais jovens, já desmamados. Apresentam um trato digestório semelhante ao do adulto, peso corporal baixo em relação ao adulto, mais fácil o manejo, ocupam menos espaço e requerem menores investimentos financeiros. Existem também relatos de ocorrência de laminite nessa categoria de bovinos 21,33,34. Além da idade, seria interessante a realização de protocolo de indução em animais zebuínos ou mestiços (Bos taurus X Bos indicus), que compõem a maior parte do rebanho nacional. Todos os protocolos de indução de laminite encontrados na literatura utilizaram animais taurinos, de raça pura ou mestiços (Bos taurus X Bos taurus) 7,8, Apesar de não haverem relatos de estudos de indução experimental em zebuínos, ou mestiços, na literatura consultada 7,8,25-28, sabe-se que a laminite ocorre nesses animais, tanto em sistemas de produção de corte 35 quanto de leite 36. Além da escolha do animal, outro aspecto que poderia ser melhor explorado nos estudos é a caracterização da fase inicial da doença. O período entre o fator desencadeante e o surgimento de sinais clínicos de laminite é denominado fase prodrômica, ou de desenvolvimento. Nesse período, já bem descrito na espécie equina 37,38, apesar de não serem observados sinais característicos da lamintie, como claudicação, ocorrem alterações sistêmicas e locais nos dígitos 8,37,39. Adicionalmente, podem surgir sinais de outras enfermidades envolvidas, como a acidose ruminal 7,8. O melhor entendimento dessa fase permitiria a adoção de medidas mais eficientes de monitoramento e, talvez, até de tratamento precoce, como também já ocorre no cavalo 38,40,41. Considerando a demanda por mais informações sobre aspectos da laminite em bovinos, um estudo empregando oligofrutose na indução da enfermidade em animais mestiços (Bos taurus X Bos indicus), com ênfase na fase prodrômica, poderia gerar informações de grande importância para sua prevenção e controle no nosso meio Objetivos Com esse trabalho objetivou-se avaliar alterações clínicas, ruminais, hemogasométricas e histológicas da acidose ruminal e da fase prodrômica da laminite em bezerros mestiços (Bos taurus X Bos indicus) submetidos a protocolo de indução experimental com administração intrarruminal de oligofrutose, tendo como objetivos específicos:

20 4 Realizar revisão de literatura sobre protocolos de indução experimental de acidose ruminal; realizar avaliação clínica, escore de claudicação e sensibilidade digital em bezerros após administração intrarruminal de oligofrutose; avaliar parâmetros do suco ruminal; identificar alterações de hematócrito, proteína plasmática e hemogasometria; descrever lesões histológicas de fragmentos do casco.

21 5 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Estrutura e função do dígito bovino A compreensão da estrutura e função do dígito é essencial para o melhor entendimento dos eventos patológicos que ocorrem no seu interior 21,42. O dígito bovino compreende a extremidade dos membros torácicos e pélvicos e envolve as estruturas distais à articulação metacarpo/metatarsofalangeana dos terceiros e quartos metacarpo/metatarso. Aproximadamente na altura da articulação interfalangeana distal o dígito passa a ser envolvido pelo estojo córneo, chamado comumente de casco, que é uma camada epidérmica modificada, sendo altamente espessada e queratinizada. O casco é uma estrutura rígida sobre a qual os membros apoiam seu peso e que forma uma barreira impermeável ao ambiente para proteger suas estruturas internas. Externamente o casco pode ser dividido nas regiões de coroa, parede ou muralha, axial e dorsal, linha branca, sola e talão 42 (Figura 1). FIGURA 1 - Regiões externas do casco bovino, vistas palmar (A) e dorsal (B). Internamente ao estojo córneo tem-se a derme que encobre a terceira falange, osso sesamoide distal, tendão extensor digital, tendão flexor digital profundo e coxim digital. Todos os segmentos do casco são camadas epidérmicas que dependem de uma derme subjacente para sua nutrição celular. Ao corte sagital pode-se observar o par, derme e epiderme, formando as distintas regiões do casco 42,43 (Figura 2).

22 6 FIGURA 2 Corte sagital do dígito bovino com a derme e epiderme de cada segmento Fonte: Modificado de Budras 44 Apesar de ser uma estrutura rígida, internamente o casco é ricamente vascularizado. A irrigação do casco se dá pelas artérias digital palmar/plantar III que se dividem em artéria digital palmar/plantar própria III e IV. As arteríolas formam ramos terminais que irrigam a derme de todo o casco. O leito capilar é drenado por uma rica rede de vênulas que confluem originando as veias digital dorsal e digital palmar/plantar abaxial e axial 45. Em diversas regiões do casco existem comunicações diretas entre arteríolas e vênulas chamadas anastomoses arteriovenosas (AVA). Quando fechadas, as AVA permitem que todo o sangue aferente pelas arteríolas chegue a derme, quando abertas desviam parte do sangue diretamente para as vênulas sem passar pelo leito capilar. As AVA são um mecanismo de regulação da perfusão do dígito e permite adaptações a mudanças de temperatura e pressão no interior do mesmo. Acredita-se que uma desregulação na ação das AVA, e até sua proliferação, sejam parte da fisiopatologia da laminite 46. Diversas forças estão envolvidas no interior do casco visando manter a integridade e o bom funcionamento de suas estruturas e tecidos. A terceira falange é envolvida pela derme digital. Suportando o peso do membro, a tendência natural do osso

23 7 seria o afundamento dentro do casco. Porém, caso isso ocorresse, a derme abaixo da face solear da falange seria comprimida. Considerando que a derme é um tecido ricamente inervado e vascularizado, essa compressão pela falange provocaria lesões na derme e consequentemente dor ao animal 47. Para garantir a estabilidade mecânica da terceira falange dentro do casco, e consequentemente a integridade da derme subjacente, existem duas estruturas estabilizadoras, o coxim digital e o aparato suspensório da falange 21. O coxim digital é composto por cilindros de tecido adiposo envoltos por tecido conjuntivo que correm paralelamente abaixo da face solear da terceira falange. A cada passada do animal, o coxim auxilia na absorção de impacto bem como na transmissão de forças lateralmente, da sola para as paredes axial e abaxial 48,49. O aparato suspensório consiste em uma rede de fibras colágenas que, abaxialmente, se insere na face lateral da terceira falange e na outra extremidade na membrana basal da transição derme/epiderme do segmento laminar. Estas estruturas permitem que a dinâmica de forças dentro do dígito durante a passada ocorra sem comprometimento da derme, camada interna sensível do casco 29,43. O estojo córneo cresce e se desgasta continuamente mantendo sua forma aparentemente inalterada. O processo pelo qual as células da camada basal da epiderme se diferenciam para formarem a camada córnea se chama queratinização 50. Nesse processo as células morrem e se amontoam na camada córnea, sendo chamadas de queratinócitos. Além de se afastarem da membrana basal, os queratinócitos produzem e acumulam queratina no seu interior, bem como cemento intercelular, que mantem a adesão entre as células. O que faz as células se modificarem e se afastarem da membrana basal é a contínua divisão celular que ocorre na camada basal. Células jovens surgem e empurram células mais antigas para o exterior. A camada mais externa da epiderme, camada córnea, forma uma verdadeira parede com os queratinócitos, como tijolos, amontoados e aderidos uns aos outros pelo cemento intercelular 21. Para que o processo de queratinização ocorra adequadamente é necessária que a derme, subjacente à epiderme, se encontre íntegra. Isso porque a epiderme, apesar de possuir uma camada interna viva e em constante divisão, é avascular e o oxigênio mais os nutrientes necessários para seu metabolismo chegam por difusão da derme, atravessando a membrana basal. Portanto, a formação de um estojo córneo saudável é inteiramente dependente da integridade da derme subjacente. Como consequência, processos patológicos da derme digital, como a laminite, afetam diretamente o aporte de

24 8 oxigênio e nutrientes à epiderme e dessa forma interferem na queratinização e, consequentemente, na formação do tecido córneo 42,50, Patogenia da laminite bovina O termo laminite significa literalmente inflamação das lâminas, camada laminar da derme digital, porém, como todos os segmentos dérmicos são acometidos, um termo mais preciso seria pododermatite asséptica difusa. A laminite ocorre nas formas clínica, com claudicação grave nos quatro membros; subclínica, na qual eventos patológicos na derme levam em longo prazo à formação de lesões no estojo córneo como úlcera de sola e doença da linha branca; e crônica, na qual ocorre deformação característica do estojo córneo, com alongamento e concavidade exagerados da muralha dorsal. Considera-se que as diferentes formas clínicas apresentem uma base patológica semelhante, vindo a se diferir especialmente na intensidade com que ocorrem e em decorrência de determinados fatores de risco 7,21. O fator de risco mais comumente associado à laminite é a acidose ruminal. Alterações hormonais durante o parto, cetose em vacas leiteiras, enfermidades como mastite e metrite e pisos abrasivos, principalmente de concreto, também seriam fatores associados à laminite, especialmente na forma subclínica. Os fatores desencadeantes da afecção levam a alterações inflamatórias da derme digital que resultam na perda da estabilidade mecânica da terceira falange e no comprometimento da queratinização no estojo córneo. Esses dois fatores ocorrem simultaneamente, cada um em graus variados de intensidade dependendo de uma série de fatores internos e externos ao animal. Esta interação resulta em diferentes apresentações clínicas da laminite bovina 20, O período entre o início da ação dos fatores desencadeantes e o surgimento dos primeiros sinais clínicos da laminite, nas suas diferentes formas, é denominado fase de desenvolvimento ou fase prodrômica. Neste período, apesar de não serem observados sinais clínicos, estão ocorrendo alterações microscópicas internamente no casco, como alterações circulatórias, infiltrado de células inflamatórias e ativação de proteases 7,8,36,55. A duração da fase prodrômica é variável, de um a dois dias nos casos de laminite clínica e de dois a três meses nos casos de laminite subclínica 7,8,21,50,56. O melhor entendimento das alterações que ocorrem na fase de desenvolvimento da laminite pode levar a novas possibilidades de tratamento precoce, minimizando a severidade dos sinais clínicos que

25 9 venham a surgir. Na espécie equina isso já é adotado com o uso de antiinflamatórios e crioterapia 40,41. A instabilidade da terceira falange dentro do casco está relacionada à perda de sua ancoragem na junção derme/epiderme. Dependendo da localização e da extensão da perda de ancoragem, a terceira falange pode se deslocar de diferentes maneiras dentro do estojo córneo. Pode ocorrer um movimento de rotação em diferentes eixos, com afundamento do ápice da falange ou de uma de suas laterais, ou um movimento de afundamento da falange de maneira uniforme, sem desvio de seus eixos. Em qualquer das situações, ao se projetar em direção ao solo a falange comprime o cório abaixo de sua face solear. Esta compressão causa inflamação e, eventualmente, necrose da derme solear, provocando ruptura de vasos sanguíneos e dor ao animal. Os componentes sanguíneos extravasados são incorporados na epiderme e tecido córneo 47,57. Além da perda da estabilidade mecânica da terceira falange, outro efeito da laminite é o comprometimento na queratinização. A alteração na derme também leva naturalmente a alterações na epiderme da sola prejudicando a formação de porções de tecido córneo nesse segmento do casco. O tecido córneo produzido é de menor qualidade, o que se manifesta como amolecimento e desgaste acentuado do casco 50,51. Eventualmente ocorre interrupção temporária na queratinização com formação de solas duplas e sulcos côncavos na muralha, denominados linhas de estresse. Clinicamente, a soma de focos de hemorragia e necrose da derme mais comprometimento na queratinização se manifestam na forma de hemorragias, hematomas e úlceras de sola, pinça ou linha branca 11,21,43. O surgimento de lesões na superfície do estojo córneo costuma ocorrer de dois a quatro meses após a ocorrência das alterações mais internas na derme e epiderme profunda 36,57. Essa forma da enfermidade com formação de lesões focais como úlcera de sola e doença de linha branca representa a laminite subclínica. O processo inflamatório agudo, intenso e simultâneo em todos os dígitos provoca dor e claudicação severa no animal, representando a laminite clínica. Além da claudicação podem ser notadas áreas eritematosas no dígito, inclusive em porções despigmentadas do casco 7,21, Acidose ruminal e laminite Um dos principais fatores relacionados à laminite em bovinos é a acidose ruminal. Endotoxinas, ácido lático e histamina são apontados como elementos lesivos ao cório digital e são associados à acidose ruminal 30,34,58,59. A acidose ocorre pela ingestão

26 10 excessiva de carboidrato de rápida fermentação, principalmente o amido presente em grãos. Sistemas intensivos de produção de bovinos de corte e de leite comumente usam grande quantidade de carboidrato de alta fermentação na dieta dos animais, favorecendo a ocorrência de acidose ruminal 4,60. O distúrbio fermentativo pode ocorrer de duas formas, acidose ruminal subaguda (ARSA) e acidose lática ruminal aguda (ALRA). Na ARSA, a dieta rica em carboidratos de alta fermentação leva a fermentação mais intensa no ambiente ruminal com maior produção de ácidos graxos voláteis que, temporariamente, se acumulam reduzindo o ph e causando a acidose ruminal subaguda. Após algumas horas, os ácidos graxos voláteis são absorvidos e o ph ruminal retorna aos valores fisiológicos. Esse quadro se repete diariamente sem aparentemente comprometer a saúde do animal. A acidose ruminal subaguda é a forma mais comum da doença e causadora de maiores prejuízos 5,61. Na sua forma aguda, a acidose ocorre com menos frequência, porém de forma muito mais grave para o animal. Geralmente ocorre pela ingestão excessiva de carboidratos de alta fermentação de uma única vez. A falta de adaptação prévia do animal ao consumo de grande quantidade de concentrado também é um fator de risco para ALRA. Nesta forma da indigestão ocorre rápida proliferação de bactérias produtoras de ácido lático que levam a redução drástica do ph ruminal 6. Quando o animal é previamente adaptado ao consumo de grande quantidade de concentrado, além das bactérias produtoras de ácido lático, há tempo também para proliferação de bactérias consumidoras do ácido, de modo que ele não se acumula 5,60. Quando não há adaptação à introdução de concentrado na dieta, as bactérias lactolíticas não se desenvolvem suficientemente para evitar o acúmulo de ácido lático. O ambiente ruminal excessivamente ácido leva ao desaparecimento da maior parte das bactérias comumente encontradas no rúmen, sendo essas gradativamente substituídas por outro grupo de bactérias, lactobacillus spp., que produz ainda mais ácido lático. Este ciclo vicioso leva ao acúmulo de grandes quatidades de ácido lático que passa a ser absorvido levando à acidose metabólica 60,62. Nas duas formas de acidose ocorrem alterações importantes que fazem com que o desequilíbrio fermentativo no rúmen tenha desdobramentos sistêmicos, como a endotoxemia 5. A dieta rica em concentrado induz alterações na microbiota que resultam na liberação de grande quantidade de lipopolissacarídeos, também conhecidos como endotoxinas 9,11. Endotoxinas são componentes da membrana externa de bactérias Gram negativas e são liberadas em maior quantidade no meio quando ocorrem grandes ciclos de proliferação e morte dessas bactérias, como ocorre na acidose ruminal. Após a

27 11 absorção, as endotoxinas podem ativar mecanismos da imunidade inata, induzindo a produção e liberação de diversas citocinas e proteínas de fase aguda como amiloide sérica A e haptoglobina 9,58,63. Apesar da ênfase na acidose ruminal, outras enfermidades como mastite, metrite e pleuropneumonia também podem cursar com endotoxemia 64,65 e, aparentemente, também predispõem a ocorrência de laminite. Dependendo da quantidade de endotoxinas circulantes, o organismo pode entrar num quadro denominado endotoxemia que, entre outros efeitos, afeta a grande circulação bem como a microcirculação em regiões muito irrigadas, como o dígito 27. Além dos efeitos da microcirculação, é possível que endotoxinas estejam indiretamente associados, pela ativação de neutrófilos, à liberação e ativação de proteases chamadas metaloproteinases de matriz (MMP). Acredita-se que essas enzimas tenham papel importante na patogenia da laminite, tanto em bovinos quanto na espécie equina 21,66,67. Além das endotoxinas, outros fatores associados à acidose ruminal e apontados com possível participação na patogenia da laminite são a histamina e o ácido lático 30,59. A histamina é formada no rúmen de bovinos alimentados com dietas ricas em concentrado e com elevado teor proteico pela descarboxilação do aminoácido histidina. Essa reação seria realizada pela bactéria Allisonella histaminiformis, além de bactérias do gênero Lactobacillus. Após a produção, grandes quantidades são absorvidas e podem causar alterações hemodinâmicas no casco, levando a laminite 24. O ácido lático, produzido e absorvido nos quadros agudos da indigestão por grãos, além de causar acidose metabólica pode levar a lesões no endotélio vascular bem como interferir no funcionamento de neutrófilos. As lesões de endotélio vascular, ao ocorrerem no interior do dígito, permitem o extravasamento de plasma e células sanguíneas, comprometendo a perfusão. Um dos efeitos observados no funcionamento dos neutrófilos sob influência do ácido lático é a liberação de MMP, que podem degradar a membrana basal e o aparato suspensório do dígito 30,39,55, Alterações circulatórias na laminite bovina Diferentes agentes como endotoxinas, histamina e ácido lático comprometem de alguma forma a perfusão dos dígitos. Durante o desenvolvimento da laminite costuma ser observada vasoconstrição na derme e, em alguns casos, são observadas também lesões endoteliais 27,69. No segmento venoso a vasoconstrição diminui a drenagem sanguínea da região, permitindo o acúmulo de sangue, que associado a lesões endoteliais causadas por

28 12 endotoxinas e ácido lático, levam ao extravasamento de sangue para o espaço intersticial aumentando a pressão no mesmo. Outro fator importante é a formação de trombos induzida pela ação de endotoxinas, prejudicando o fluxo sanguíneo. Essas alterações produzem áreas de hemorragia, edema e isquemia na derme. Como o interior do casco é pouco expansível, ocorre aumento acentuado da pressão dentro do dígito, prejudicando ainda mais os tecidos e sensibilizando receptores de dor presentes na derme 21,57. Quando esse quadro ocorre de forma abrupta e acentuada em todos os dígitos, o animal apresenta a forma clínica da laminite, com claudicação severa associada a todos os membros 7,31. Esse conjunto de alterações circulatórias pode resultar em áreas de degeneração e necrose na derme, bem como prejudicar a chegada de oxigênio e nutrientes à epiderme Metaloproteinases de matriz Na patogenia da laminite, concomitantemente, ou em seguida às alterações na derme digital, ocorre progressiva degradação das fibras de colágeno que fazem parte do aparato suspensório da terceira falange 47. As enzimas responsáveis por essa degradação são as metaloproteinases de matriz (MMP), que são dependentes de cálcio e atuam no remodelamento e degradação da matriz extra celular 70. As MMP estão presentes em células inflamatórias, endoteliais, queratinócitos e células do próprio tecido conjuntivo. Podem ser liberadas em excesso sob determinados estímulos locais, como hipóxia, ou sistêmicos como endotoxinas ou ácido lático 30,68,71. Existem diferentes tipos de MMP, as que mais foram estudadas na laminite bovina foram a 2 e 9. A MMP 9 é associada à inflamação, sendo liberada por células inflamatórias, como os neutrófilos, ao passo que a MMP2 não é necessariamente associada à inflamação, sendo liberada por células do próprio tecido conjuntivo 67,72. Ao avaliar o colágeno da derme digital exposto a concentrações crescentes de MMP 2 e 9, observou-se degradação concentração dependente 73. As formas 2 e 9 das MMP foram identificadas em tecido ulcerado na região derme/epiderme 74. A identificação do tipo de colagenase atuante permitiu a identificação de fatores de risco para lesões do estojo córneo, conhecidas como claw horn disruption (CHD), não necessariamente associados ao processo inflamatório característico da laminite. A avaliação da derme digital de vacas antes e após o parto indicou ativação de MMP 2, não associada à inflamação, ao passo que não foi detectada a presença de MMP Nesse estudo foi sugerido que a ação de hormônios como estrógeno e relaxina poderiam induzir o remodelamento do tecido conjuntivo na derme digital. A relaxina atua no tecido conjuntivo das estruturas

29 13 associadas ao canal do parto. Sua ação auxilia a dilatação do canal do parto, que é essencial para a passagem do feto. No dígito poderia aumentar a expressão das MMP resultando em degradação e lassidão do aparato suspensório com perda da estabilidade mecânica da terceira falange 72, Achados macro e microscópicos da laminite bovina Além do histórico, exame do ambiente e exame físico, a avaliação macro e microscópica de peças anatômicas de animais submetidos a eutanásia ou abatidos também é uma ferramenta na avaliação da laminite nos rebanhos. Macroscopicamente, na superfície do estojo córneo podem ser observadas deformações características do casco como alongamento acentuado da pinça com redução da altura do talão além de sulcos na muralha abaxial e axial, conhecidos como linhas de estresse. Na sola podem ser observadas lesões secundárias à laminite subclínica como erosões e ulcerações na pinça, linha branca ou sola 21,36,56. Internamente, o casco pode ser avaliado por destacamento do estojo córneo ou por corte sagital do mesmo. Na derme que recobre a terceira falange podem ser observadas áreas de hiperemia, hemorragia e necrose Histologicamente podem ser observadas na derme alterações circulatórias como edema, hiperemia, trombose e hemorragias além de infiltrado leucocitário. Na epiderme são observados alongamento das projeções entre derme e epiderme, áreas de irregularidade e destacamento da membrana basal e alterações no formato do núcleo das células epidermais da camada basal 29,31,36, Aspectos metodológicos da pesquisa em laminite bovina A complexa etiopatogenia e o envolvimento de muitos fatores de risco na laminite estimulam constantemente novas pesquisas que buscam o melhor entendimento dos mecanismos que ligam os fatores de risco até o desenvolvimento das lesões. Na investigação pela maior compreensão sobre a doença, uma das metodologias de estudo foram as tentativas de indução do quadro. Como a acidose ruminal foi um dos primeiros fatores associados à laminite, tentou-se a indução dessa pela sobrecarga de carboidratos de rápida fermentação, induzindo diretamente a acidose ruminal 7,8,26,28,30,79, ou pela administração de fatores relacionados à acidose como histamina 28 ou endotoxinas 25,27. Na tentativa de se induzir laminite, avaliaram-se as alterações metabólicas em bezerros da raça Holandesa de quatro meses de idade recebendo quatro dietas combinando 88% ou 44% de concentrado com 15% ou 20% de proteína bruta. O

30 14 concentrado era composto por farelo de milho, grão de cevada, melaço e farelo de soja e o volumoso por silagem de milho e silagem de alfafa 26. Avaliou-se lactato ruminal e sérico, ph ruminal, ácidos graxos voláteis totais no rúmen, temperatura do casco e radiografia da extremidade do membro visando avaliar possível rotação da terceira falange. Apesar de apresentarem acidose ruminal e metabólica, os animais não apresentaram claudicação ou outro sinal indicativo de laminite. Não foram observadas alterações radiográficas sugestivas de laminite clínica e as alterações na temperatura dos dígitos não puderam ser explicadas pelas dietas. Entretanto, ao se reavaliarem os mesmos animais após três meses foram observados sinais de laminite subclínica como sulcos na parede do casco e erosão da sola 26. Os aspectos hemodinâmicos do dígito foram avaliados em novilhos recebendo grande quantidade, 3,5% do peso corporal, de mistura de farelo de trigo, cevada e aveia. Para a avaliação os animais foram submetidos a anestesia geral. Após um intervalo que variou de seis a oito horas, foram aferidas a pressão sanguínea de artéria e veia digital, pressão capilar, resistência vascular total e resistência pré e pós capilar 79. Comparando com animais do grupo controle, que receberam apenas água, observou-se elevação da pressão capilar e elevação da resistência pós capilar. Os autores consideraram que constrição venosa seria a responsável pelas diferenças observadas 79. No mesmo estudo, após a avaliação hemodinâmica colheram-se amostras de cório laminar e, na avaliação por PCR, observaram maior expressão de interleucina-1, uma citocina próinflamatória, nos animais que receberam concentrado em comparação aos animais do grupo controle 80. Alguns estudos tentaram induzir laminite utilizando fatores relacionados à acidose ruminal, como histamina e endotoxinas. Em estudo sobre a ação da histamina como indutora de laminite, foram utilizados bovinos taurinos machos de até dois anos 28. Os animais foram divididos em três grupos experimentais: animais com livre acesso a dieta com alto teor de concentrado após período de jejum; administração de difosfato de histamina por cânula implantada na artéria digital comum; associação dos dois primeiros grupos dos dois tratamentos. No primeiro grupo os animais apresentaram sinais de acidose ruminal como diarreia, aparente dor nos cascos, com os animais cruzando os membros e preferindo se manter em decúbito. Essa alteração foi observada com 24 horas de avaliação, porém, teve curta duração, 12 horas após já não era observada. No segundo grupo, observaram-se elevação nas pressões de artéria e veia digital, além de dor e edema discretos nos dígitos que cessaram 24 horas após início da avaliação. Nos animais do

31 15 terceiro grupo, as alterações hemodinâmicas foram semelhantes comparando com o segundo grupo, mas com maior intervalo de claudicação (29 a 110 dias). O desconforto nos dígitos foi maior naquele que recebeu aplicação direta de histamina. Segundo os autores, laminite pode ser induzida de forma consistente pelo fornecimento de grande quantidade de concentrado mais a administração de histamina por via intravascular na artéria digital comum. Elevações nas pressões de artéria e veia digital foram apontados como fatores essenciais para a ocorrência de laminite 28. A ação de endotoxinas como causadoras de laminite foi avaliada em vacas da raça Holandesa 25. Os animais foram divididos em três grupos e receberam aplicações de endotoxinas por três dias. No primeiro grupo, os animais receberam a primeira aplicação por via intradérmica, na parede torácica e as duas seguintes por via intravenosa em bolus. No segundo grupo, a primeira aplicação também foi intradérmica e as duas seguintes foram intravenosas, porém, em infusão contínua durante 15 horas. No terceiro grupo os animais receberam as endotoxinas por infusão contínua. Os animais dos dois primeiros grupos foram submetidos a eutanásia 72 horas após a indução e os do terceiro grupo cinco semanas. Foram avaliados aspectos clínicos, contagem de leucócitos, testes de coagulação e histologia de amostras dos dígitos. Os animais apresentaram alterações sistêmicas como taquicardia, taquipneia e febre. Observaram-se leucopenia, diminuição na contagem de plaquetas e aumento no tempo de coagulação. Nenhum animal apresentou sinais sugestivos de laminite como claudicação ou dor nos dígitos. Histologicamente observaram-se áreas de congestão, hemorragia, trombose e infiltrado de leucócitos. Mesmo com as alterações histológicas, o protocolo não foi considerado eficaz na indução de laminite clínica 25. Outro estudo foi realizado avaliando utilizando endotoxinas para avaliar as alterações nos dígitos 27. Foram utilizados um animal da raça Holandesa e três mestiços (Bos taurus X Bos taurus) com idades variando de 12 a 18 meses, dois machos e duas fêmeas. Em um animal foi administrada dose de endotoxina na artéria metatarsal dorsal e nos outros animais a mesma dose foi aplicada por via intravenosa na jugular. Realizaram-se biópsias do casco cinco e quinze dias após a indução. Depois de cinco semanas os animais foram submetidos a eutanásia e colheram-se amostras do casco 27. Os animais apresentaram alterações sistêmicas como taquipneia, hipersalivação e aumento das frequências de micção e defecação. Apesar disso não se observou claudicação nos animais. Foram observadas alterações vasculares na derme, áreas de separação entre derme e epiderme além de alterações degenerativas em células basais. Mesmo não

32 16 provocando claudicação, os autores consideraram o protocolo eficaz na indução de pododermatite asséptica 27. Os protocolos até então descritos demonstraram fatores que acompanham a laminite como lesões histológicas e alterações hemodinâmicas. Apesar disso, na maioria dos trabalhos não se observou claudicação ou desconforto digital. Dessa forma continuouse a busca por um protocolo mais consistente para indução experimental de laminite na espécie bovina. Um protocolo bem sucedido para a indução do quadro foi o uso de oligofrutose intrarruminal 8. A indução de laminite por oligofrutose foi validada inicialmente na espécie equina 81 e ainda é usada nos protocolos experimentais para essa espécie 82,83. Oligrofrutose é um carboidrato de reserva presente em muitos vegetais como chicória, trigo, banana e alho e é usada na indústria de alimentos como prebiótico. É um polímero de D-frutose com até dez unidades e que inicia a cadeia com uma molécula de glicose. Possui estrutura semelhante à inulina, se diferindo desta apenas pelo número menor de monômeros de frutose 84 (Figura 3). FIGURA 3 Estrutura da inulina, similar a oligofrutose, se diferindo desta apenas pelo maior número de monômeros de frutose Fonte: Bosscher et al. 85 Gramíneas de clima temperado também podem apresentar elevadas concentrações de oligofrutose, especialmente sob determinadas condições climáticas 8. Na espécie equina, apesar de poder induzir laminite, não necessariamente induz quadro de

33 17 abdômen agudo, o que seria esperado em modelos de sobrecarga por grãos 82,86. Em bovinos, a fermentação da oligofrutose pela microbiota ruminal pode provocar acidose ruminal e metabólica caso o açúcar esteja presente em grande quantidade. Secundariamente, observa-se nos animais laminite 7,8,30. A dose de oligofrutose usada no estudo na espécie equina foi baseada no hipotético consumo máximo de gramíneas temperadas com alto teor de oligofrutose 81. No estudo com bovinos os autores não deixaram claro como chegaram as doses 8, mas como muitos participaram do estudo em equinos 81, supõe-se que empregaram o mesmo critério. O primeiro estudo sobre indução de laminite bovina com oligofrutose utilizou 12 novilhas de raças leiteiras 8, divididos em dois grupos: experimental e controle. O grupo experimental foi subdividido em três subgrupos, cada um com uma dose de oligofrutose, 13 g/kg, 17 g/kg e 21g/kg. No trabalho inicial sobre a oligofrutose na espécie equina, a dose foi calculada baseada no consumo máximo da gramínea, com alto teor de oligofrutose, pelo equino 81. No primeiro trabalho com a espécie bovina 8, os autores não descreveram como chegaram as doses e os trabalhos subsequentes empregaram as mesmas doses do primeiro 7,29,30,63. Provavelmente empregaram a mesma estimativa que no trabalho com equinos 81, o consumo, mas isto não está explicitado. Inicialmente os autores submeteram os animais a um período de adaptação de três dias ao longo dos quais os animais receberam 30% da dose total, divididos em dois tratos diários com 5% da dose em cada trato. No dia seguinte os animais receberam uma sobrecarga de oligofrutose com os 70% restante da dose. Os animais do grupo controle receberam apenas água. Foram avaliados aspectos clínicos, laboratoriais, de fluido ruminal e histológicos. Os dois animais que receberam a menor dose foram submetidos a eutanásia 72 horas a pós a sobrecarga de oligofrutose e os demais animais 48 horas após 8. Observou-se que os animais desenvolveram sinais de acidose ruminal e metabólica. Sensibilidade digital foi observada a partir de 33 horas e claudicação foi observada a partir de 39 horas. Dos seis animais que receberam oligofrutose, quatro apresentaram claudicação 8. Após a eutanásia desses animais, foram colhidas amostras para avaliação histológica dos dígitos. Os principais achados foram alongamento das lâminas, as interdigitações entre derme e epiderme, alterações circulatórias e infiltrado de leucócitos na derme, áreas de irregularidades e de destacamento na membrana basal 31. Em função dos resultados clínicos e laboratoriais os autores consideraram o protocolo eficaz na indução de laminite aguda em bovinos 8,31.

34 18 O protocolo foi repetido em um experimento utilizando oito novilhas da raça Holandesa. Empregou-se a dose de oligofrutose de 17 g/kg, fornecida da mesma forma que o protocolo original. Os mesmos sinais de acidose ruminal e metabólica foram observados e claudicação foi evidenciada a partir de 30 horas após a sobrecarga com oligofrutose 7. Apesar de ter confirmado a eficácia do protocolo de indução de laminite em bovinos, os autores observaram que a maioria dos animais apresentou distensão inespecífica da articulação társica, começando a partir do segundo dia. A partir do terceiro dia a distensão foi gradativamente cessando nos animais. Argumentou-se que apesar do protocolo ter sido eficaz na indução de laminite, a alteração articular pode ter contribuído para a claudicação 7. Nesse estudo os animais não foram submetidos a eutanásia ao final do experimento, os mesmos foram mantidos a pasto e após uma semana não se observou mais claudicação. Após um período de recuperação mais longo, não informado, os animais foram mandados para uma fazenda onde aparentemente apresentaram vida produtiva normal até 17 meses após o término do experimento 7. Outros estudos foram conduzidos visando avaliar diferentes aspectos da indução de acidose ruminal e laminite em bovinos com o uso de oligofrutose, como aspectos biomecânicos dos dígitos 29, proteínas de fase aguda 63 e mudanças na função de neutrófilos 30. Apesar de sempre seguirem o protocolo original 8, em um desses estudos os autores relataram apenas a ocorrência de acidose ruminal, não comentando sobre eventual claudicação nos animais 30. Além disso, nos primeiros trabalhos 8,29, também se observaram casos de animais que receberam oligofrutose não terem apresentado claudicação ou não terem apresentado lesões histológicas. Esse tipo de achado reforça a necessidade de novos estudos empregando a oligofrutose, especialmente em condições nacionais. Vários fatores podem influenciar na resposta dos animais à indução de laminite por indução de acidose ruminal. Peso, raça e até mesmo a dieta prévia ao experimento podem interferir nos resultados observados 29,62,87. Um aspecto importante em protocolos de indução de doenças são os critérios adotados para determinar a ocorrência da enfermidade. No caso da laminite bovina, onde a própria definição da doença não é consenso entre pesquisadores 11,58,75,88 isso pode causar confusão na interpretação de resultados. Ao se testar um protocolo, espera-se a surgimento de sinais clínicos do quadro agudo, o que nem sempre acontece 8. Nesse caso, pode ser que o protocolo realmente não seja eficaz ou indique que, apesar de não causar a forma clínica da laminite, pode causar alterações microscópicas no casco compatíveis com a forma subclínica 27. No caso da indução experimental de laminite, mesmo

35 19 adotando-se critérios de avaliação clínica bem definidos, não se pode desconsiderar a ocorrência de alterações detectáveis por outras metodologias como microscopia ou técnicas moleculares 31,32,36. Além da avaliação dos aspectos relacionados ao dígito, muitos protocolos de indução de laminite em bovinos levam a alterações sistêmicas que podem por em risco a vida do animal, especialmente acidose metabólica secundária à acidose ruminal 7,8,30. Para o acompanhamento desses desequilíbrios, preservando a segurança do animal, são usadas algumas técnicas de monitoração como a avaliação do conteúdo ruminal, hematócrito, proteína plasmática e hemogasometria. Esses testes permitem avaliar a magnitude das principais alterações decorrentes da acidose ruminal, diminuição do ph ruminal, hemoconcentração e acidose metabólica 7,8,62,87. Outro fator importante nos estudos envolvendo indução de laminite em bovinos é a escolha dos animais. É interessante que o grupo experimental reflita a população à qual o estudo se destina. Na literatura consultada, todos os protocolos para indução de laminite utilizaram animais taurinos (Bos taurus taurus), puros ou mestiços 7,8,25-28,30. No Brasil, não se pode ignorar a participação dos animais zebuínos (Bos taurus indicus) e seus mestiços na formação do rebanho nacional, em diferentes regiões e sistemas de produção, seja de corte 35 ou de leite 89. Além disso, sabe-se que doenças de casco como a laminite pode ocorrer nesses animais 35,36. Já foram estudadas diferenças entre animais zebuínos e taurinos com relação à acidose ruminal experimentalmente induzida 62,90. Sabe-se também que existem diferenças microestruturais nos dígitos de zebuínos e taurinos. Observou-se que bovinos da raça Gir possuíam em seus dígitos túbulos córneos com maiores diâmetro, espessura da camada de células tubulares e densidade de túbulos quando comparados com animais da raça Holandesa 91,92. É possível que essas diferenças quanto a resposta a acidose ruminal e quanto a aspectos microscópicos dos dígitos entre zebuínos e taurinos também se reflitam na laminite. Evidencia-se, desse modo, a necessidade de estudos sobre a laminite nos zebuínos ou seus mestiços. Além do aspecto racial, a idade dos animais é um ponto importante. Apesar das lesões de casco serem observadas com mais frequência em animais adultos, já em fase produtiva, existem relatos da ocorrência de laminite em bovinos jovens, mesmo bezerros 33,34. Nos estudos de indução experimental são usados com mais frequência animais jovens, geralmente novilhas 7,8,30. Um trabalho chegou a usar bezerros de aproximadamente quatro meses 26. A dificuldade de se conseguir um número significativo

36 20 de vacas com o mesmo número de lactações e sem histórico de problemas clínicos talvez seja também um dos motivos para a escolha por animais mais jovens, ainda em fase não produtiva. Outras vantagens do estudo em bezerros são a maior facilidade de manejo e menores custo e necessidade de espaço. Apesar de muitos estudos envolvendo o tema, ainda restam questionamentos importantes sobre laminte bovina que requerem melhor esclarecimento. A exata etiopatogenia, a adequada caracterização da fase prodrômica, o quadro clínico em animais de diferentes grupos raciais são alguns desses questionamentos. Estudos a campo podem gerar respostas não muito precisas, ou que não possam ser extrapoladas para outros contextos. Dessa forma, a indução experimental em condições controladas é uma opção de estudo onde aspectos importantes da laminite bovina poderiam ser avaliados com mais cuidado. Dentre os diversos protocolos já testados, o uso de oligofrutose é o mais recente e o que vem apresentando maior eficácia. Novos estudos com esse protocolo podem explorar outros aspectos como a indução da enfermidade em diferentes grupos raciais ou a melhor caracterização da fase prodrômica da enfermidade. REFERÊNCIAS 1. Rodrigues M, Deschk M, Santos GG, Perri SH, Merenda VR, Hussni CA, Alves ALG, Rodrigues CA. Avaliação das características do líquido ruminal, hemogasometria, atividade pedométrica e diagnóstico de laminite subclínica em vacas leiteiras. Pesq Vet Bras. 2013;33(Suppl. 1): Food and Agriculture Organization of the United Nations - FAO. FAOSTAT [Internet] [acesso 21 jul 2017]. Disponível em: 3. Nielsen C, Stengarde L, Bergsten C, Emanuelson U. Relationship between herd-level incidence rate of energy-related postpartum diseases, general risk factors and claw lesions in individual dairy cows recorded at maintenance claw trimming. Acta Vet Scand. 2013;55: Lean IJ, Van Saun R, Degaris PJ. Energy and protein nutrition management of transition dairy cows. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2013;29: Nagaraja TG, Lechtenberg KF. Acidosis in Feedlot Cattle. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2007;23: Radostits OM, Gay CC, Hinchcliff KW, Constable P. Veterinary Medicine: a textbook of the diseases of cattle, horses, sheep, pigs and goat. 10th ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; p. 7. Danscher AM, Enemark JM, Telezhenko E, Capion N, Ekstrom CT, Thoefner MB. Oligofructose overload induces lameness in cattle. J Dairy Sci. 2009;92: Thoefner MB, Pollitt CC, van Eps AW, Milinovich GJ, Trott DJ, Wattle O, Andersen PH. Acute Bovine Laminitis: A New Induction Model Using Alimentary Oligofructose Overload. J Dairy Sci. 2004;87:

37 9. Zebeli Q, Metzler-Zebeli BU. Interplay between rumen digestive disorders and dietinduced inflammation in dairy cattle. Res Vet Sci. 2012;93: Archer SC, Bell N, Huxley J. Lameness in UK dairy cows: a review of the current status. In Practice. 2010;32: Bicalho RC, Oikonomou G. Control and prevention of lameness associated with claw lesions in dairy cows. Liv Sci. 2013;156: Ollhof RD, Debas ARB. Is Brazil getting lame? Causes of lameness in cattle in Brazil and perspectives. In: 18th International Symposium & 10th Conference on Lameness in Ruminants; 2015; Valdivia, Chile. Valdivia: Universidad Austral de Chile, 2015 [acesso 03 jul 2016]. Disponível em: Huxley JN. Impact of lameness and claw lesions in cows on health and production. Liv Sci. 2013;156: Moura MI. Características espermáticas de reprodutores nelore com dermatite digital. [Dissetação]. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia; Stokka GL, Lechtenberg K, Edwards T, MacGregor S, Voss K, Griffin D, Groteslueschen DM, Smith RA, Perino LJ. Lameness in Feedlot Cattle. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2001;17: Armstrong CL, Wolf DF, Koziol J, Edmonson MA. Lameness in breeding bulls. In: Society for Theriogenology Annual Conference; 2015; San Antonio, Estados Unidos. San Antonio: Society for Theriogenology, 2015 [acesso 03 jul 2016]. Disponível em: de Vries M, Bokkers EAM, van Reenen CG, Engel B, van Schaik G, Dijkstra T, Boer IJM. Housing and management factors associated with indicators of dairy cattle welfare. Prev Vet Med. 2015;118: Molento C, Bond G. Aspectos éticos e técnicos da produção de bovinos. Cienc Vet Trop. 2008;11(suppl.1): Whay HR, Shearer JK. The Impact of Lameness on Welfare of the Dairy Cow. VVet Clin North Am Food Anim Pract. 2017;33: Cook NB, Nordlund KV, Oetzel GR. Environmental Influences on Claw Horn Lesions Associated with Laminitis and Subacute Ruminal Acidosis in Dairy Cows. J Dairy Sci. 2004;87:E36-E Greenough PR. Bovine Laminitis and Lameness. Philadelphia: Saunders Elsevier; p. 22. Nordlund KV, Cook NB, Oetzel GR. Investigation strategies for laminitis problem herds. J Dairy Sci. 2004;87:E27-E Ferreira P, Leite R, Carvalho A, Facury Filho E, Souza R, Ferreira M. Custo e resultados do tratamento de seqüelas de laminite bovina: relato de 112 casos em vacas em lactação no sistema free-stall. Arq Bras Med Vet Zootec. 2004;56: Garner MR, Flint JF, Russell JB. Allisonella histaminiformans gen. nov., sp. nov. A novel bacterium that produces histamine, utilizes histidine as its sole energy source, and could play a role in bovine and equine laminitis. Syst Appl Microbiol. 2002;25: Boosman R, Mutsaers C, Klarenbeek A. The role of endotoxin in the pathogenesis of acute bovine laminitis. Vet Q. 1991;13: Momcilovic D, Herbein JH, Whittier WD, Polan CE. Metabolic Alterations Associated with an Attempt to Induce Laminitis in Dairy Calves. J Dairy Sci. 2000;83: Singh SS, Murray RD, Ward WR. Gross and histopathological study of endotoxininduced hoof lesions in cattle. J Comp Pathol. 1994;110:

38 28. Takahashi K, Young B. Effects of grain overfeeding and histamine injection on physiological responses related to acute bovine laminitis. Jpn J Vet Sci. 1981;43: Danscher AM, Toelboell TH, Wattle O. Biomechanics and histology of bovine claw suspensory tissue in early acute laminitis. J Dairy Sci. 2010; 93: Concha C, Carretta MD, Alarcon P, Conejeros I, Gallardo D, Hidalgo AI, Tadich N, Cáceres DD, Hidálgo MA, Burgos RA. Oxidative response of neutrophils to plateletactivating factor is altered during acute ruminal acidosis induced by oligofructose in heifers. J Vet Sci. 2014;15: Thoefner MB, Wattle O, Pollitt CC, French KR, Nielsen SS. Histopathology of Oligofructose-Induced Acute Laminitis in Heifers. J Dairy Sci. 2005;88: Tølbøll TH, Danscher AM, Andersen PH, Codrea MC, Bendixen E. Proteomics: a new tool in bovine claw disease research. Vet J. 2012;193: Greenough PR, Vermunt JJ, McKinnon JJ, Fathy FA, Berg PA, Cohen RDH. Laminitis-like changes in the claws of feedlot cattle. Can Vet J. 1990;31: Yeruham I, Avidar Y, Bargai U, Adin G, Frank D, Perl S, Bogin E. Laminitis and dermatitis in heifers associated with excessive carbohydrate intake: skin lesions and biochemical findings: case report. J S Afr Vet Assoc. 1999;70: Oliveira C, Millen D. Survey of the nutritional recommendations and management practices adopted by feedlot cattle nutritionists in Brazil. Anim Feed Sci Tech. 2014;197: Mendes HM, Casagrande FP, Lima IR, Souza CH, Gontijo LD, Alves GE,Vasconcelos AC, Faleiros RR. Histopathology of dairy cows' hooves with signs of naturally acquired laminitis. Pesq Vet Bras. 2013;33: Martins Filho L, Fagliari J, Moraes J, Sampaio R, Oliveira J, Neto JL. Estudo clínico e laboratorial da fase prodrômica da laminite eqüina induzida por sobrecarga de carboidrato. Ars Veterinaria. 2008;23: Van Eps AW. Acute laminitis: medical and supportive therapy. Vet Clin North Am Eq Pract. 2010;26: Visser M, Pollitt C. The timeline of lamellar basement membrane changes during equine laminitis development. Equine Vet J. 2011;43: O Grady S. Managing acute laminitis. In: Sprayberry KA, Robinson NE. Current Therapy in Equine Medicine. 7th ed. St. Louis: Saunders Elsevier; p Van Eps AW, Pollitt CC. Equine laminitis: cryotherapy reduces the severity of the acute lesion. Equine Vet J. 2004;36: Reese S, Budras KD, Mulling C, Konig HE. Tegumento Comum (Integumentum Commune). In: Konig HE, Liebich HG. Anatomia dos Animais Domésticos: texto e atlas colorido. 6a ed. Porto Alegre: ARTMED Editora Ltda; p Mulling CKW, Greenough PR. Applied Physiopathology of the Foot. 24º Congress of the World Association for Buiatrics; 2006; Nice, França. Nice: World Association for buiatrics, [acesso 25 ago 2011]. Disponível em: Budras K-D, Rabel RE. Bovine anatomy: an illustrated text. Hanover: Schlütersche; p. 45. Monte FN, Galotta J. Anatomia del pié bovino. 14º International Symposium & 6th Conference on Lameness in Ruminants; 2006; Colonia del Sacramento, Uruguai. [acesso 28 ago 2011]. Disponível em: Hirschberg RM, Plendl J. Pododermal angiogenesis and angioadaptation in the bovine claw. Microsc Res Tech. 2005;66:

39 47. Lischer Ch J, Ossent P, Raber M, Geyer H. Suspensory structures and supporting tissues of the third phalanx of cows and their relevance to the development of typical sole ulcers (Rusterholz ulcers). Vet Rec. 2002;151: Raber M, Lischer Ch J, Geyer H, Ossent P. The bovine digital cushion--a descriptive anatomical study. Vet J. 2004;167: Mulling C. Functional anatomy of the bovine foot failure of key structures in pathogenesis of claw disease. Cattle Lameness Conference; 2012; Worcester, Inglaterra. [acesso 25 set 2015]. Disponível em: Hoblet KH, Weiss W. Metabolic hoof horn disease. Claw horn disruption. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2001;17: Mills JA, Zarlenga DS, Dyer RM. Bovine coronary region keratinocyte colony formation is supported by epidermal-dermal interactions. J Dairy Sci. 2009;92: Vermunt JJ, Greenough PR. Predisposing factors of laminitis in cattle. Br Vet J. 1994;150: Bergsten C. Causes, risk factors, and prevention of laminitis and related claw lesions. Acta Vet Scand. 2003;98(suppl): Solano L, Barkema HW, Mason S, Pajor EA, LeBlanc SJ, Orsel K. Prevalence and distribution of foot lesions in dairy cattle in Alberta, Canada. J Dairy Sci. 2016;99: Visser MB, Pollitt CC. The timeline of metalloprotease events during oligofructose induced equine laminitis development. Equine Vet J. 2012;44: Boosman R, Németh F, Gruys E. Bovine laminitis: Clinical aspects, pathology and pathogenesis with reference to acute equine laminitis. Vet Q. 1991;13: van Amstel SR, Shearer JK. Review of Pododermatitis circumscripta (ulceration of the sole) in dairy cows. J Vet Intern Med. 2006;20: Dong SW, Zhang SD, Wang DS, Wang H, Shang XF, Yan P, et al. Comparative proteomics analysis provide novel insight into laminitis in Chinese Holstein cows. BMC Vet Res. 2015;11: Nocek JE. Bovine acidosis: implications on laminitis. J Dairy Sci. 1997;80: Owens F. Clinical and Subclinical acidosis. In: 3º Simpósio de Nutrição de Ruminantes; 2011; Botucatu, Brasil. Botucatu: Grupo Nutrir. 1 CD-ROM, sound, color, 4¾in. 61. Kleen JL, Cannizzo C. Incidence, prevalence and impact of SARA in dairy herds. Anim Feed Sci Tech. 2012;172: Ortolani EL, Maruta CA, Minervino AHH. Aspectos clínicos da indução experimental de acidose láctica ruminal em zebuínos e taurinos. Bras J Vet Res Anim Sci. 2010;47: Danscher AM, Thoefner MB, Heegaard PMH, Ekstrøm CT, Jacobsen S. Acute phase protein response during acute ruminal acidosis in cattle. Liv Sci. 2011;135: Andersen PH. Bovine endotoxicosis--some aspects of relevance to production diseases. A review. Acta Vet Scand. 2003;98(suppl): Smith GW. Supportive Therapy of the Toxic Cow. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2005;21: La Rebière de Pouyade G, Serteyn D. The role of activated neutrophils in the early stage of equine laminitis. Vet J. 2011;189: Loftus JP, Johnson PJ, Belknap JK, Pettigrew A, Black SJ. Leukocyte-derived and endogenous matrix metalloproteinases in the lamellae of horses with naturally acquired and experimentally induced laminitis. Vet immunol immunopathol. 2009;129:

40 68. Alarcón P, Conejeros I, Carretta MD, Concha C, Jara E, Tadich N, Hidalgo MA, Burgos RA. d-lactic acid interferes with the effects of platelet activating factor on bovine neutrophils. Vet immunol immunopathol. 2011;144: Dehghani S, editor Digital Vascular Variations in Normal and Laminitic Foot in Dairy Cattle. 15º International Symposium and the 7º Conference on Lameness in Ruminants; 2008; Kuopio, Finlândia. [acesso 28 ago 2011]. Disponível em: Singh D, Srivastava SK, Chaudhuri TK, Upadhyay G. Multifaceted role of matrix metalloproteinases (MMPs). Front Mol Biosci. 2015;2: Medina-Torres CE, Mason SL, Floyd RV, Harris PA, Mobasheri A. Hypoxia and a hypoxia mimetic up-regulate matrix metalloproteinase 2 and 9 in equine laminar keratinocytes. Vet J. 2011;190: Knott L, Tarlton JF, Craft H, Webster AJF. Effects of housing, parturition and diet change on the biochemistry and biomechanics of the support structures of the hoof of dairy heifers. Vet J. 2007;174: Mulling C, Frohberg-Wand D, Budras KD, editors. Matrix overloaded alterations of claw connective tissue and their functional implications. 13º International Symposium and 5º Conference on Lameness in Ruminants; 2004; Maribor, Eslovênia. [acesso 28 ago 2011]. Disponível em: Hendry KA, Knight CH, Galbraith H, Wilde CJ. Basement membrane integrity and keratinization in healthy and ulcerated bovine hoof tissue. J Dairy Res. 2003;70: Mahendran S, Bell N. Lameness in cattle 2. Managing claw health through appropriate trimming techniques. In Practice. 2015;37: Ossent P, Lischer C. Post mortem examination of the hooves of cattle, horses, pigs and small ruminants under practice conditions. In Practice. 1997;19: Ossent P, Lischer C. Bovine lamninitis: the lesions and their pathogenesis. In Practice. 1998;20: Lischer CJ, Ossent P, editors. Pathogenesis of sole lesions attributed to laminitis in cattle. 12º International Symposium on Lameness in Ruminants; 2002; Orlando, Estados Unidos. [acesso 28 ago 2011]. Disponível em: Christmann U, Belknap E, Lin H, Belknap. Evaluation of hemodynamics in the normal and laminitic bovine digit. 12º International Symposium on Lameness in Ruminants. 12º International Symposium on Lameness in Ruminants; 2002; Orlando, Estados Unidos. [acesso 28 ago 2011]. Disponível em: Belknap E, Christmann U, Cochran A, Belknap J, editors. Expression of proinflammatory mediators and vasoactive substances in laminitic cattle. 12º International Symposium on Lameness in Ruminants; 2002; Orlando, Estados Unidos. [acesso 28 ago 2011]. Disponível em: Van Eps A, Pollitt C. Equine laminitis induced with oligofructose. Eq Vet J. 2006;38: Lima LR, Mendes HM, Magalhães JF, Markowicz LC, Cavalcanti CB, Leme FOP, Teixeira MM, Faleiros RR. Avaliação clínica e hematológica de equinos submetidos ao modelo de laminite por oligofructose, tratados ou não com um agente antagonista de receptores CXCR1/21. Pesq Vet Bras. 2013;33:

41 83. Medina-Torres C, van Eps A, Nielsen L, Hodson M. A liquid chromatography tandem mass spectrometry-based investigation of the lamellar interstitial metabolome in healthy horses and during experimental laminitis induction. Vet J. 2015;206: Niness KR. Inulin and oligofructose: what are they? J Nutr. 1999;129: Bosscher D, Breynaert A, Pieters L, Hermans N. Food-based strategies to modulate the composition of the intestinal microbiota and their associated health effects. J Physiol Pharmacol. 2009;60: Milinovich GJ, Klieve AV, Pollitt CC, Trott DJ. Microbial events in the hindgut during carbohydrate-induced equine laminitis. Vet Clin North Am Eq Pract. 2010;26: Ortolani E. Induction of lactic acidosis in cattle with sucrose: relationship between dose, rumen fluid ph and animal size. Vet Hum Toxicol. 1995;37: Huxley J, editor Advances in our understanding of the aetiopathogenesis of claw horn lesions. 18º International Symposium & 10º Conference on Lameness in Ruminants; 2015; Valdivia, Chile. [acesso 03 jul 2016]. Disponível em: Nanzer TADT. Produção de leite no Brasil e participação genética do Girolando com ênfase em reprodução. Uberaba: Associação Brasileira dos Criadores de Gado Girolando, [acesso 20 jan 2017]. Disponível em: Ortolani EL, Maruta CA, Minervino AHH. Influência da raça sobre a volemia e função renal de bovinos com acidose láctica ruminal aguda, induzida experimentalmente. Braz J Vet Res Anim Sci. 2008;45: Mendonça AC, da Silva LAF, Fioravanti MCS, de Moraes JOR, Almeida CF, de Sousa Oliveira K, Oliveira MP, Silva LM. Aspectos morfológicos dos dígitos de bovinos das raças Gir e Holandesa. Cienc Anim Bras. 2003;4: Rabelo RE, Vulcani V, Sant'Ana F, Silva L, Assis B, Araújo G. Microstructure of Holstein and Gir breed adult bovine hooves: histomorphometry, three-dimensional microtomography and microhardness test evaluation. Arq Bras Med Vet Zoot. 2015;67:

42 CAPÍTULO 2 ARTIGO DE REVISÃO: INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL EM BOVINOS INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL EM BOVINOS Antônio Dionísio Feitosa Noronha Filho1, Danilo Ferreira Rodrigues2, Morgana Pontes Abreu3, Jéssica Alves da Silva3, Luiz Antônio Franco da Silva2 1- Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. dionisiofnf@hotmail.com 2- Professor do Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. 3- Acadêmica de Medicina Veterinária da Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. Recebido em: 30/09/2013 Aprovado em: 08/11/2013 Publicado em: 01/12/2013 RESUMO A alta produtividade observada atualmente na bovinocultura de corte e de leite se deve em grande parte ao manejo nutricional que incluiu o fornecimento de dietas com altos teores de concentrado. Apesar de permitir melhores índices zootécnicos, esse tipo de dieta predispõe os animais à ocorrência de acidose ruminal, um desequilíbrio fermentativo com diversos efeitos sistêmicos secundários. Uma das maneiras de se estudar este desequilíbrio é a indução da acidose, podendo ser avaliados aspectos como ph ruminal, produtos finais da fermentação, microbiota e efeitos sistêmicos como desequilíbrio ácido-base ou ativação do sistema imune. Existem protocolos específicos para indução de acidose ruminal aguda ou subaguda, sendo caracterizados pelo tipo de substrato utilizado, quantidade, modo de fornecimento e tipo de avaliação. A indução de acidose ruminal requer rigor na aplicação do protocolo e avaliação das variáveis, do contrário podem ocorrer variações indevidas nos resultados. Os protocolos de indução de acidose ruminal permitem um maior conhecimento da sua etiopatogenia, bem como a avaliação de novas abordagens no tratamento e controle desse importante distúrbio digestivo dos bovinos. PALAVRAS-CHAVE: Experimentação animal, nutrição, ruminantes, acidose metabólica EXPERIMENTAL INDUCTION OF RUMEN ACIDOSIS IN CATTLE ABSTRACT High yieldings observed in beef and dairy cattle production are largely attributed to nutritional management, specifically diets with high concentrate content. Despite ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

43 improving productivity, this type of diet predispose animals to the occurrence of rumen acidosis, a fermentative imnbalance with many secondary systemic effects. One of the ways to study this imbalance is acidosis induction, permitting evaluation of aspects like rumen ph, final products of fermentation, microbiote and systemic effects like acid-base imbalance and immune system activation. There are specific protocols for induction of acute and subacute acidosis, differing in the substrate used, quantity, method of supplementation and type of evaluation. Rumen acidosis induction requires strictness in the application of the protocol and variables evaluation, otherwise can happen some unexpected interferences. Protocols for rumen acidosis induction allows better knowledge on its ethiopatogeny and new approaches to the treatment and control of this important digestive disturbance of cattle. KEYWORDS: Animal experimentation, nutrition, ruminant, metabolic acidosis INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, a bovinocultura, seja de corte ou de leite, vem se aperfeiçoando cada vez mais, visando produzir em maior quantidade, com qualidade e em menor período de tempo. Nessas circunstancias, os criatórios requerem maior atenção aos manejos sanitário e nutricional. Considerando os vários aspectos envolvidos nessa evolução da atividade, um dos que vem permitindo maior expressão do potencial zootécnico dos animais é a nutrição, especialmente o fornecimento de dietas com altos teores de grãos. Esses alimentos possuem maior densidade energética, possibilitando maiores índices de produtividade por parte dos animais. Porém, os bovinos, como outros ruminantes, são anatomicamente e fisiologicamente adaptados para uma dieta composta predominantemente por alimentos fibrosos (RUSSEL & RYCHLIK, 2001; NAGARAJA, 2011). Quando se oferece uma dieta com altos teores de grãos, pode-se desenvolver um desequilíbrio fermentativo denominado acidose ruminal, que dependendo da intensidade, pode-se apresentar de forma aguda ou subaguda (OWENS, 2011; LEAN et al., 2013). Em sua forma aguda os sinais clínicos são mais severos, exigindo intervenção rápida e podendo resultar no óbito do animal (VAN METRE et al., 2005; ORTOLANI et al., 2010). A forma subaguda da acidose é considerada a mais comum, não possuindo sinais clínicos específicos. Porém, sabese que pode provocar lesões no epitélio ruminal, abscessos hepáticos além de interferir na função imunológica, metabolismo energético, de minerais e predispor ao surgimento de doenças digitais (ZEBELI & METZLER-ZEBELI, 2012; BICALHO & OIKONOMOU, 2013). Considerando a crescente demanda por maior produtividade e eficiência dos sistemas produtivos, o uso de grãos, às vezes em grande quantidade, é uma necessidade na maioria dos sistemas intensivos de produção de bovinos. Porém, uma das principais consequências desse manejo é a alta ocorrência de acidose ruminal, seja aguda ou subaguda, e doenças relacionadas como a laminite e desequilíbrios metabólicos (AMETAJ et al., 2010; NAGARAJA, 2011). Portanto, o estudo dos processos fermentativos no ambiente ruminal bem como da patogenia das lesões decorrentes da acidose ruminal torna-se necessário para melhor compreensão dos mesmos. Diversos protocolos de indução foram desenvolvidos e vem sendo empregados no estudo da acidose ruminal, visando melhor entendimento dos ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

44 28 aspectos nutricionais e clínicos relacionados ao distúrbio fermentativo (ORTOLANI, 1995, KRAUSE & OETZEL, 2005; ORTOLANI et al., 2010; ZEBELI et al., 2012). Dependendo do que se deseja avaliar, existem variações importantes quanto à forma de indução e acompanhamento da acidose ruminal, sendo útil, portanto, o conhecimento sobre as possibilidades dos diferentes protocolos. O entendimento aprofundado desses aspectos auxilia na criação de soluções para a prevenção e tratamento tanto da acidose ruminal quanto dos demais eventos secundários (MARUTA et al., 2008; DANSCHER et al., 2009; RODRIGUES, 2009; LI et al., 2012). Assim, devido à importância do tema, das consequências imediatas e tardias do problema e devido aos prejuízos econômicos causados aos criatórios, mesmo diante de inúmeros estudos sobre o tema, ainda existem dúvidas que precisam ser esclarecidas. Esse trabalho objetivou discorrer sobre os protocolos de indução de acidose ruminal em bovinos com ênfase nos aspectos metodológicos gerais e nas diferenças entre estudos em acidose aguda ou subaguda. ASPECTOS GERAIS SOBRE A ACIDOSE RUMINAL O rúmen é uma câmara de fermentação que aproveita substratos, quase sempre de origem vegetal para produção de ácidos orgânicos, metano, dióxido de carbono, amônia e proteína microbiana. A microbiota presente no rúmen e o bovino têm uma relação simbiótica na qual o animal provê substrato e condições microambientais adequadas às bactérias e protozoários presentes, e estes por sua vez, fermentam o alimento ingerido aumentando a disponibilidade de nutrientes para o animal. Desequilíbrios no processo de fermentação ruminal prejudicam não só a produtividade como também podem levar a diversas alterações clínicas (RUSSEL & RICHLYK, 2001; NAGARAJA, 2011; JAMI et al., 2013). A acidose ruminal pode ser definida como um distúrbio fermentativo no rúmen associado à ingestão de grande quantidade de carboidratos não estruturais rapidamente fermentáveis. As principais formas clínicas são a acidose lática ruminal aguda (ALRA), com redução acentuada do ph (ph<5.0) e a acidose ruminal subaguda (ARSA) caracterizada por episódios transitórios de redução do ph ruminal a níveis não tão baixos quanto na forma aguda (5.0<5.5) (NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; KLEEN & CANNIZZO, 2012). Prejuízos econômicos decorrentes da acidose ruminal Os prejuízos econômicos decorrentes da acidose ruminal se devem ao óbito de animais, nos casos agudos, e a redução de desempenho e ocorrência de alterações secundárias, como as doenças digitais, nos casos de acidose subaguda. Por ser a forma mais frequente, a acidose subaguda é a que causa mais prejuízos. Em rebanhos de engorda confinados nos Estados Unidos, SCHWARTZKOPFGENSWEIN et al., (2003) estimaram um prejuízo de variando de U$ 15,00 a U$ 20,00 por animal. Em rebanhos leiteiros de alta produção, também nos Estados Unidos, GARRET et al., (1999) estimaram as perdas em aproximadamente em U$ 1,12 por animal por dia e PLAIZIER et al., (2009) estimaram o prejuízo em U$ 400,00 por animal ao longo da lactação. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

45 29 Etiopatogenia da acidose ruminal A acidose ruminal é um desequilíbrio na fermentação de carboidratos. Na célula vegetal esse grupo de biomoléculas pode ser dividido em carboidratos estruturais e não estruturais. Dentre os primeiros, um dos principais é o amido, que representa a reserva energética das células vegetais. Os carboidratos estruturais, como a celulose e a hemicelulose, fazem parte da parede celular vegetal. A acidose ruminal é causada por excesso de carboidratos não estruturais e falta de carboidratos estruturais. Ambos, amido e celulose, são polímeros de glicose, sendo que a diferença entre os dois está na conformação da ligação entre os monômeros deste monossacarídeo. No rúmen a fermentação de ambos geram basicamente os mesmos produtos, porém, em proporções e taxas distintas. A maior parte dos monossacarídeos, resultantes da hidrólise dos polissacarídeos, é convertida a piruvato após uma série de reações. Este pode então seguir várias rotas metabólicas para formação de produtos mais oxidados, como acetato e butirato ou mais reduzidos, como propionato e lactato. A proporção em que cada ácido graxo volátil é produzido depende do perfil da microbiota ruminal, que por sua vez, depende principalmente da dieta ingerida (KOZLOSKI, 2011; VALADARES FILHO & PINA, 2011). O desequilíbrio fermentativo pode se desenvolver nas formas aguda ou subaguda dependendo de sua magnitude e do tipo de ácido acumulado (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007; OWENS, 2011; KLEEN & CANNIZZO, 2012). A acidose aguda se caracteriza pelo acúmulo de ácido lático no rúmen secundário à ingestão de quantidade excessiva de carboidratos não estruturais. Num primeiro momento, o aumento na oferta de nutrientes favorece a proliferação de todos os grupos bacterianos e a produção de grande quantidade de ácidos graxos voláteis. Porém, essa grande quantidade de ácidos se acumula, pois ultrapassa a capacidade total de absorção de ácidos graxos voláteis pelo epitélio ruminal, provocando uma redução inicial do ph (GOAD et al., 1998; NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; KLEEN & CANNIZZO, 2012). Paralelamente, há produção e acúmulo de glicose no rúmen, que aumenta a osmolaridade de seu conteúdo prejudicando ainda mais a absorção de ácidos graxos voláteis pelo epitélio ruminal (OWENS, 2011). Nesse ambiente ligeiramente mais ácido, se proliferam bactérias produtoras de ácido lático, especialmente Streptococcus bovis e Lactobacillus spp. Por ser mais forte que os ácidos graxos voláteis, o ácido lático induz uma redução mais acentuada no ph ruminal (NOCEK, 1997; CALSAMIGLIA et al., 2012). Nesse momento o ambiente torna-se desfavorável para bactérias fibrolíticas e lactolíticas e se observa um ciclo vicioso com proliferação de bactérias tolerantes à ambientes ácidos (Lactobacillus spp.) que produzem ainda mais ácido (Figura 1) (NOCEK, 1997; CALSAMIGLIA et al., 2012). O excesso de ácido lático no rúmen, somado ao acúmulo de glicose, aumentam ainda mais a osmolaridade do conteúdo ruminal, ficando maior que a do plasma. Essa diferença de osmolaridade faz com que quantidades significativas de liquido corporal se desloquem para o rúmen, causando hipovolemia. Paralelamente, parte do ácido lático acumulado no rúmen é absorvida pelo organismo gerando acidose metabólica (ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

46 30 FIGURA 1 Sequência de alterações químicas e microbianas características da acidose ruminal aguda. AGV: ácidos graxos voláteis Fonte: Adaptado de NOCEK (1997) A acidose subaguda é caracterizada pelo acúmulo de ácidos graxos voláteis. Da mesma forma que na ALRA, a entrada de grande quantidade de carboidratos não estruturais permite a proliferação de todos os grupos bacterianos, produção de grande quantidade de ácidos graxos voláteis e consequente redução do ph ruminal (GOFF, 2006; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007; CALSAMIGLIA et al., 2012). A diferença é que neste caso o acúmulo de ácidos não é tão acentuado, não se sobrepondo aos mecanismos de regulação do ph ruminal. Entre estes mecanismos podem ser citados a saliva, rica em tampões fosfato e bicarbonato, liberada durante a ruminação, a presença de bactérias que utilizam o ácido lático para produção de ácidos graxos voláteis, especialmente Selenomonas ruminantium e Megasphera eldesnii, e a própria capacidade de absorção de ácidos graxos voláteis pelo epitélio ruminal (Figura 2). Na ARSA, o ph se reduz a níveis não fisiológicos, entre 5.0 e 5.5, temporariamente, sendo regulado pelos mecanismos compensatórios (PLAIZIER et al., 2009; FERNANDO et al., 2010; DIJKSTRA et al., 2012). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

47 31 FIGURA 2 Sequência de alterações químicas e microbianas características da acidose ruminal subaguda Fonte: Adaptado de NOCEK (1997) Tanto na forma aguda quanto na subaguda, são liberadas no rúmen e absorvidas pelo organismo quantidades variadas de lipopolissacarídeos (LPS), componentes da parede celular de bactérias Gram negativas. Os LPS também são conhecidos como endotoxinas e acredita-se que desempenham papel importante na etiopatogenia da acidose ruminal (NAGARAJA et al., 1978; GOZHO et al., 2005; PLAIZIER et al., 2012). Na acidose ruminal aguda instala-se quadro clínico severo caracterizado por desidratação e acidose metabólica podendo ser observados distensão abdominal com líquido, diarréia, desidratação, taquicardia, taquipnéia, depressão de estado mental, podendo o animal evoluir para estado comatoso e óbito (DIRKSEN, 2005; RADOSTITS et al., 2007; ORTOLANI et al., 2010). Podem ser observados também rumenite, formação de abscessos hepáticos, laminite aguda e quadro neurológico decorrente da acidose metabólica e polioencefalomalácia (VASCONCELOS & GALYEAN, 2008; DANSCHER et al., 2009, ORTOLANI et al., 2010). Na forma subaguda, os sinais são inespecíficos, podem ser observados episódios esporádicos de diarréia e inapetência, não sugerindo uma causa evidente. A longo prazo observa-se que os animais mais sujeitos à ARSA demonstram menor desempenho zootécnico. Além disso, podem ser observadas também lesões na parede ruminal, rumenite e paraqueratose, formação de abscessos hepáticos e maior incidência de lesões digitais relacionadas a laminite (PENNER et al., 2011; KLEEN & CANNIZZO, 2012; BICALHO & OIKONOMOU, 2013; LEAN et al., 2013). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

48 32 Aspectos relacionados ao diagnóstico da acidose ruminal O diagnóstico da acidose ruminal deve se fundamentar na identificação do animal, anamnese, exame físico e de conteúdo ruminal (DIRKSEN, 2005). Exames complementares e avaliação do ambiente e manejo alimentar também podem facilitar diagnóstico, especialmente quando muitos animais estão acometidos. Na identificação do animal, deve-se lembrar de que em algumas fases da produção os animais estão mais propensos a desenvolver acidose ruminal. Em bovinos de aptidão leiteira, o período após o parto é considerado de maior risco, pois os animais passam de uma dieta de período seco, com nenhum ou menores teores de concentrado, para uma dieta de lactação com maiores teores de concentrado (LEAN et al., 2013). Para animais de engorda confinados, são considerados períodos de especial risco a entrada dos bovinos no confinamento, quando muitas vezes a adaptação para nova dieta não é feita de maneira adequada (NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007). Na anamnese deve-se questionar principalmente sobre a fase de produção do animal, a dieta fornecida regularmente e a rotina de manejo alimentar. Deve-se questionar também sobre circunstâncias acidentais como o fornecimento de quantidades excessivas de concentrado ou o acesso dos animais a depósitos e sacos de ração. Os sinais clínicos e achados laboratoriais variam de acordo com a gravidade da acidose bem como do tempo transcorrido entre o início do desequilíbrio até o exame. No exame físico do animal com acidose lática frequentemente são observados distensão abdominal do lado esquerdo com predomínio de líquido no rúmen, hipomotilidade ou mesmo atonia ruminal, desidratação, diarreia, taquicardia e taquipnéia. Podem ser observados também depressão do estado mental, podendo o animal se encontrar em decúbito e estado comatoso (DIRKSEN, 2005; RADOSTITS et al., 2007). O principal exame no diagnóstico da acidose ruminal é a avaliação do conteúdo ruminal. Observam-se alterações em seu aspecto, que se torna mais claro com aspecto leitoso, odor característico, ph reduzido, com valores em torno de 5.0 ou menores para acidose aguda e entre 5.5 e 5.0 para forma subaguda, aumento no tempo de redução do azul de metileno e redução ou ausência de protozoários (DIRKSEN, 2005; KLEEN & CANNIZZO, 2012; DIJKSTRA et al., 2012). No hemograma pode ser observado aumento no valor do hematócrito, indicando desidratação. O exame de hemogasometria pode indicar acidose metabólica com redução dos valores de ph sanguíneo, bicarbonato e excesso de base (ORTOLANI et al., 2008; DANSCHER et al., 2009; ORTOLANI et al., 2010). Na acidose ruminal subaguda, o diagnóstico deve envolver avaliação da dieta e manejo alimentar, avaliação de amostra do conteúdo ruminal de número representativo de animais e observação de alta incidência de complicações associadas à acidose como doenças digitais ou abscessos hepáticos observados nos abatedouros (OETZEL, 2004; NORDLUND et al., 2004; VECHIATO, 2009; KLEEN & CANNIZZO, 2012). INDUÇÃO DE ACIDOSE RUMINAL Os conhecimentos sobre a acidose ruminal quase sempre foram obtidos pela indução experimental do quadro, o que atualmente ainda é uma abordagem comumente utilizada (HUBER, 1969; De VRIES et al., 2008; LI et al., 2012; STEELE ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

49 33 et al., 2012; PETRI et al., 2013). A indução do quadro em condições controladas permite o estudo de diferentes aspectos como a influência da dieta e do manejo alimentar, variações fermentativas e microbiológicas no trato gastrointestinal, alterações fisiológicas, diferenças de susceptibilidade racial até técnicas de tratamento individual de casos agudos ou controle dos casos subagudos envolvendo rebanho (COE et al., 1999; ROWN et al., 2000; SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003; ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010; RODRIGUES 2009; PETRI et al., 2013). As características dos protocolos são flexíveis e devem ser adequadas de modo a atender aos questionamentos do estudo (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). Aspectos metodológicos dos protocolos de indução de acidose ruminal De acordo com SAMPAIO (2007) são considerados princípios básicos da experimentação animal a repetição das unidades experimentais, a uniformidade dos animais experimentais, a casualização das unidades experimentais, a uniformidade na aplicação dos tratamentos e a uniformidade do meio. A indução de acidose ruminal apresenta algumas peculiaridades quanto a esses aspectos. O grande número de parâmetros avaliados, a necessidade de acompanhamento e, às vezes, intervenção intensivas, dificuldades inerentes com a manipulação dos bovinos e os altos custos de manutenção dos animais, e eventualmente dos tratamentos, fazem com que, geralmente, não se utilizem um grande número de animais nos diferentes estudos (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). ORTOLANI et al., (2010) ao avaliarem diferenças clínicas entre taurinos e zebuínos com acidose lática ruminal aguda induzida utilizaram cinco animais de cada grupo racial. Ainda sobre o assunto, THOEFNER et al., (2004) induziram acidose ruminal seguida de laminite em 12 novilhas de raças de aptidão leiteira. O grupo tratamento contendo seis animais, teve de ser subdividido em três subgrupos de dois animais para a avaliação de três diferentes doses da fonte de carboidrato. DANSCHER et al., (2009), também induziram acidose ruminal seguida de laminite em novilhas e optaram por não formar um grupo controle, sendo que os animais foram avaliados antes e após a indução, de modo que cada indivíduo serviu como seu próprio controle. EMMANUEL et al., (2008), ZEBELI & AMETAJ (2009) e IQBAL et al., (2009) ao avaliarem diferentes aspectos de acidose ruminal subaguda induzida em fêmeas empregaram oitos animais, também sem formação de grupos controle. A uniformidade na aplicação de tratamentos e animais também pode ser um aspecto decisivo nos resultados dos estudos. Tem-se maior segurança no fornecimento uniforme da dieta, o que muitas vezes faz parte do protocolo de indução, quando os animais são alimentados individualmente. Para animais que sãoagrupados em lotes e alimentados em conjunto, podem ocorrer variações acentuadas de consumo entre os animais, especialmente devido a efeitos de dominância, o que por sua vez pode interferir indevidamente nos resultados (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). Quanto à uniformidade dos animais, podem ser observadas variações significativas quando se empregam animais de diferentes pesos ou grupos raciais, especialmente nos protocolos de indução de ALRA. ORTOLANI (1995) observou discrepância entre animais mais leves e mais pesados quanto aos efeitos da indução de ALRA com uso de sacarose. Quando a dose foi calculada baseada apenas no peso corporal, os animais mais leves apresentaram sinais discretos de acidose, enquanto ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

50 34 os animais mais pesados apresentaram quadro clínico mais grave. O autor formulou então uma equação baseada no peso metabólico que permitiu a indução do quadro de maneira uniforme em animais de diferentes pesos. DANSCHER et al., (2009) ao induzirem ALRA e laminite usando oligofrutose, também observaram diferenças significativas quanto ao ph ruminal, frequência cardíaca e excesso de base entre animais mais leves e mais pesados, com os últimos sempre apresentando valores mais alterados. Quanto aos aspectos raciais, foram observadas em diversos trabalhos diferenças de aspectos clínicos entre zebuínos e taurinos com ALRA (MARUTA & ORTOLANI, 2002; ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010). Portanto, a uniformidade dos animais avaliados deve ser levada em consideração para evitar variações indesejadas nos resultados. Avaliação de parâmetros ruminais A acidose ruminal caracteriza-se por redução do ph ruminal abaixo de limites fisiológicos devido ao acúmulo de ácidos orgânicos. Enquanto na forma aguda se observa acúmulo de ácido lático, na forma subaguda observa-se acúmulo de ácidos graxos voláteis, mas não de ácido lático (NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; OWENS, 2011). Consequentemente, a aferição destes parâmetros é comumente realizada na avaliação dos protocolos de indução da acidose. Existem diferentes técnicas para obtenção do fluido ruminal para análise. Este pode ser obtido por sondagem ororruminal, ruminocentese e obtenção dieta através de cânula. A técnica menos invasiva é a utilização de sonda ororruminal e posterior aspiração de conteúdo. Existem diferentes modelos específicos para aspiração de conteúdo ruminal (DIRKSEN, 1993; DUFFIELD et al., 2004). A grande desvantagem da obtenção de conteúdo ruminal por meio de sondagem ororruminal é a contaminação do conteúdo com saliva, alcalina, o que causa interferência significativa na avaliação do ph ruminal, indicando valores acima dos reais (DUFFIELD et al., 2004). Portanto, em situações experimentais o acesso direto ao rúmen é preferível para obtenção de amostras fidedignas do seu conteúdo. A grande maioria dos estudos envolvendo indução de acidose ruminal utiliza animais fistulados, facilitando a obtenção de amostras (ORTOLANI et al., 2010; ZEBELI et al., 2012). As amostras obtidas diretamente do rúmen podem ser avaliadas com phmetro (GARRET et al., 1999; KRAUSE & OETZEL, 2005). Em animais não fistulados, outra técnica de se obter acesso direto ao rúmen para colheita de amostra é a ruminocentese. Identifica-se área aproximadamente 15 centímetros caudo-ventral à junção costocondral da última costela. Após preparação cirúrgica introduz-se agulha diretamente no saco ventral do rúmen e se aspira o conteúdo para análise. São utilizadas agulhas de pelo menos dez centímetros de comprimento (GARRET et al., 1999; GIANESELLA et al., 2010). Por ser um procedimento invasivo, o bovino está sujeito a complicações após ruminocentese como a formação de abscesso local ou a ocorrência de peritonite. Além disso, o estresse do animal associado à punção pode impedir a realização do procedimento (DUFFIELD et al., 2004). Para se realizar a ruminocentese, empregando bloqueio anestésico local visando evitar dor e estresse no animal associado à punção, MIALON et al., (2012) não observaram diferença quando comparado à realização do procedimento sem o bloqueio anestésico. GARRET et al., (1999) empregaram com sucesso cloridrato de xilazina para facilitar a contenção e realização do procedimento nos bovinos. Porém, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

51 35 mesmo utilizando sedação, DUFFIELD et al., (2004) não conseguiram conter adequadamente alguns animais para realizar a ruminocentese. A acidose aguda é facilmente detectada, pois provoca quadro clínico evidente, observando-se sinais como desidratação, taquicardia, diarreia, apatia e distensão abdominal. Esses sinais são comumente observados em valores de ph ruminal próximos ou inferiores a 5.0 (ORTOLANI, 1995; NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; OWENS, 2011). Porém, a detecção de acidose ruminal subaguda não é tão óbvia, mesmo em situação experimental. Os sinais associados a ARSA são inespecíficos e muito diversos. Podem ser observados episódios esporádicos de inapetência ou discreta redução na ingestão, diarreia transitória, lesões digitais relacionadas a laminite ou observação de abscessos hepáticos já no abatedouro. Portanto, a detecção de ARSA experimentalmente induzida se baseia não apenas na avaliação do ph ruminal num dado momento, mas deve avaliar o comportamento desta variável num dado intervalo de tempo sendo registrados o valor médio do ph neste período, o valor mínimo e a quantidade de tempo abaixo de um limiar considerado diagnóstico de acidose subaguda (KEUNEN et al., 2002; KRAUSE & OETZEL, 2005; KHAFIPOUR et al., 2009). Por se tratar de uma condição intermediária entre um estado fisiológico sem alterações clínicas e um estado bem caracterizado clinicamente, considera-se como apresentando ARSA o animal cujo ph ruminal esteja dentro de um determinado intervalo. Não existe consenso, porém, quanto a esses valores. Aceitase como limite inferior valores de ph próximos ou abaixo do 5.0, nesse caso a ocorrência simultânea de sinais clínicos de ALRA delimitam com mais clareza quando se passa de um quadro subagudo para um agudo. O limite superior para detecção de ARSA, porém, é mais difícil de ser determinado, pois em valores de ph ruminal ligeiramente acima ou abaixo o animal não apresenta sinais clínicos evidentes que diferenciem ARSA dos níveis fisiológicos. Os pesquisadores NAGARAJA & LECHTENBERG (2007) consideraram valores entre 5.5 e 5.0 como indicativos de ARSA. Já OWENS (2011) indicou valores entre 5.6 e 5.2, enquanto DIRKSEN (2005) considerou valores entre 5.5 e 5.2. Por ser uma condição intermitente e que se repete diariamente, muitos estudos consideram não somente o valor do ph num dado momento, mas também a quantidade de tempo em que esse ph se encontra abaixo de um determinado limiar. Essa interação de ph e tempo seria clinicamente mais relevante, pois a exposição a concentrações excessivas de ácidos graxos voláteis no rúmen por maiores intervalos de tempo tenderiam a causar maiores alterações tanto locais quanto sistêmicas. Diversos trabalhos consideram como indicativo de ARSA valores de ph inferiores a 5.6 por mais de 180 minutos ao longo do dia. Esses trabalhos utilizaram eletrodos portáteis implantados no interior do rúmen para avaliação contínua. Estes dispositivos permitem que os valores de ph possam ser aferidos em intervalos tão curtos quanto um segundo ao longo de todo o dia, sendo registrados para posterior análise (Figura 3) (GOZHO et al., 2005; ALZAHAL et al., 2007; GOZHO et al., 2007; KHAFIPOUR et al., 2009). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

52 36 FIGURA 3 Componentes de sistema de aferição contínua de ph ruminal: Unidade de gravação de dados (a), sonda de junção (b), conector de peso (c), peso de aço inoxidável (d), eletrodo para aferição de ph (e), tubo protetor (f), conectores de plástico (g), registrador de dados (h), caixa do registrador (i), cinto (j), dispositivo portátil de leitura com cabo (k) Fonte: ALZAHAL et al., (2007). Além do ph ruminal, a dosagem de lactato e ácidos graxos voláteis também permite uma melhor caracterização da acidose bem como maior entendimento sobre os efeitos secundários. Deve-se levar em consideração que as concentrações dos ácidos orgânicos são extremamente variadas em função da microbiota ruminal préexistente, do desafio imposto no protocolo de indução e do tempo de colheita. A concentração de lactato total pode ser avaliada por teste colorimétrico (MARUTA & ORTOLANI, 2002), cromatografia liquida de alta eficiência (KRAUSE & OETZEL, 2005) ou cromatografia gasosa (KHAFIPOUR et al., 2009; LI et al., 2012). As técnicas de cromatografia também são usadas para medição das concentrações de ácidos graxos voláteis (KRAUSE & OETZEL, 2005; KHAFIPOUR et al., 2009; COLMAN et al., 2010). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

53 37 As concentrações ruminais de lactato geralmente são baixas nos quadros de ARSA, não ultrapassando 2 mmol/l (BEVANS, et al., 2005; KHAFIPOUR et al., 2009; COLMAN et al., 2010). Nos casos de ALRA os valores são maiores, o que é esperado, pois é justamente o acúmulo de ácido lático que produz a acidificação do conteúdo ruminal. MOMCILOVIC et al., (2000) observaram valores de até 90 mmol/l, MCLAUGLHIN et al. (2009) obtiveram valores de até 70 mmol/l e NAGARAJA & TITGEMEYER (2007) descreveram valores de 50 até 120 mmol/l. Por outro lado, BROWN et al., (2000) obtiveram valores menores, 37.1 mmol/l. Com relação aos ácidos graxos voláteis totais, na ARSA é esperado aumento dos mesmos, já que nesse caso estes são os responsáveis pela acidificação do conteúdo ruminal. BLANCH et al., (2009), COLMAN et al., (2010) e LI et al., (2012) observaram valores de até 126 mmol/l, 138 mmol/le 164 mmol/l, respectivamente. Todos os autores observaram aumentos na concentração total de ácidos graxos, nas proporções de propionato, butirato e redução de acetato. Na ALRA, MOMCILOVIC et al., (2000) observaram valores variando de 20 a 70 mmol/l e NAGARAJA & TITGEMEYER (2007) descreveram valores abaixo de 100 mmol/l. Protocolos de indução de acidose ruminal aguda Acidose ruminal aguda pode ser induzida pelo fornecimento ou deposição intrarruminal de grandes quantidades de carboidrato não fibroso. Diferentes fontes de carboidrato como farelo de trigo, cevada, aveia, milho, amido de milho, dextrose, oligofrutose e sacarose já foram utilizados para indução de ALRA, individualmente ou em combinação (ORTOLANI, 1995; THOEFNER et al., 2004; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). As diferenças entre protocolos dizem respeito basicamente ao tipo de substrato fornecido, seu processamento e dose. Previamente à indução, os animais costumam ser deixados em jejum, para que no momento da indução haja espaço suficiente no rúmen para deposição do substrato, geralmente em grande quantidade. Além disso, os animais costumam ser alimentados com dietas compostas exclusivamente por volumoso, ou por baixos teores de concentrado. Essa dieta permite que as bactérias utilizadoras de lactato se mantenham em baixas concentrações e, por outro lado, a inclusão de pequena quantidade de concentrado permite a manutenção de maior população bacteriana produtora de ácido lático (ORTOLANI, 1995; BROWN et al., 2000; THOEFNER et al., 2004; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007; DANSCHER et al., 2009). BROWN et al., (2000) induziram ALRA em novilhos taurinos com o fornecimento de milho floculado na dose de 3% do peso corporal. O valor mínimo de ph ruminal, 5.0, foi observado três dias após a indução. MOMCILOVIC et al., (2000) induziram ALRA em bezerros na tentativa de induzir laminite clínica. Os animais recebiam dieta contendo aproximadamente 45% de concentrado fornecida duas vezes ao dia, de manhã e de tarde. Na véspera da indução, os animais receberam apenas o alimento pela manhã e só voltaram a receber alimento no dia seguinte, quando passam a receber dieta contendo 88% de concentrado. Na sequência, 24 horas após o fornecimento da dieta de indução, os animais apresentaram valores mínimos de ph ruminal, em torno de 4.8. ORTOLANI (1995) desenvolveu protocolo de indução com o fornecimento de sacarose. O autor descreveu que ao usar uma dose fixa de 12,5 gramas de sacarose por quilograma de peso vivo do animal, podem ocorrer distorções no grupo experimental. Para animais mais leves, essa dose pode ser muito baixa, não induzindo ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

54 38 a resposta esperada. Porém, para animais mais pesados essa dose pode ser muito alta provocando quadro clínico severo. O autor desenvolveu então uma dose baseada no peso metabólico (BW0,75) corrigido, Y= BW0,75 em gramas de sacarose. Essa correção permitiu a indução de ALRA com valores de ph ruminal em torno de 4.1, após 20 horas de indução, tanto para animais leves ( kg) quanto para animais pesados ( kg). Outros trabalhos utilizaram essa metodologia, porém reduzindo o valor total de sacarose em 15% de modo a minimizar os efeitos da ALRA (ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010; RODRIGUES, 2009). Com essa redução RODRIGUES (2009) observou valores médios de ph ruminal de horas após a indução. Outro açúcar empregado na indução de ALRA é a oligofrutose, uma frutana presente em muitas gramíneas (THOEFNER et al., 2004). O objetivo específico desse tipo de protocolo é a indução de laminite clínica. Diferentes estudos foram bemsucedidos tanto na indução de ALRA quanto na de laminite (THOEFNER et al., 2004; DANSCHER et al., 2009; TADICH, 2011). THOEFNER et al., (2004) empregaram três diferentes doses de oligofrutose, 13, 17 e 21 g/kg. Cinco por cento da dose total era fornecida duas vezes ao dia por três dias antes do dia da indução de modo a adaptar a microbiota à nova fonte de carboidrato. Para a menor dose, observou-se o valor mínimo de ph de 4.7, em torno de nove horas após indução. Para as maiores doses os valores mínimos foram de 4.5 para ambas as doses em torno de 28 horas após indução. DANSCHER et al., (2009) utilizando dose de oligofrutose de 13g/kg observaram valor médio de 4.3 às 18 horas após indução. Acompanhamento clínico em quadros de acidose aguda induzida Em todos os protocolos citados, os animais apresentam sinais clínicos decorrentes da acidose ruminal aguda e de acidose metabólica. São observadas diarreia, desidratação, taquicardia, taquipneia, apatia e depressão de estado mental. Laboratorialmente observa-se acidose metabólica caracterizada por redução nos valores de ph sanguíneo, bicarbonato e excesso de base. No planejamento do experimento, é necessário se determinar um critério para intervenção, ou seja, quando realizar-se-á um tratamento de suporte nos animais acometidos, ou o término do experimento (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). A desidratação e acidose metabólica decorrentes da ALRA induzida podem chegar num ponto irreversível ocorrendo óbito de animais, mesmo com o tratamento de suporte (DANSCHER et al., 2009). Segundo NAGARAJA & TITGEMEYER (2007) é recomendável o tratamento de suporte quando o conteúdo ruminal atinge valores abaixo de 4.5. ORTOLANI (1995) realizou intervenção nos animais na vigésima hora após indução, quando o conteúdo ruminal ácido foi retirado, fez-se transfaunação e, de acordo com a avaliação clínica do animal, fez-se fluidoterapia intravenosa com solução de Ringer com Lactato e solução salina a 0,9%. MOMCILOVIC et al., (2000) forneceu aos bezerros por via oral solução eletrolítica alcalinizante às 48 horas após indução. THOEFNER et al., (2004) interviram nos animais quando estes apresentaram hematócrito superior a 42%, realizando fluidoterapia intravenosa, ou excesso de base menor que -8mM, realizando infusão intravenosa de solução de bicarbonato de sódio. DANSCHER et al., (2009) forneceram tratamento de suporte com soluções intravenosas de Ringer com acetato e bicarbonato de sódio as 18 e 24 horas após indução e borogluconato de cálcio 18 horas após indução. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

55 39 Protocolos de indução de acidose ruminal subaguda Os protocolos de indução de acidose ruminal subaguda costumam ser mais complexos, pois o objetivo é obter um ph ruminal dentro de uma faixa específica sem necessariamente induzir sinais clínicos e que, na medida do possível, mimetizem as condições de ocorrência de ARSA dentro de cada sistema de produção (GOAD et al., 1998; KEUNEN et al., 2002; KRAUSE & OETZEL, 2005). De acordo com NAGARAJA & TITGEMEYER (2007), a ARSA pode ser induzida com relativa segurança de não causar quadros agudos, fornecendo ao animal de uma só vez concentrado na dose correspondente a 1,5% de seu peso corporal. Ao contrário dos protocolos de indução de ALRA, não se deseja uma produção excessiva de ácido lático, podendo ser usados animais adaptados à dieta rica em concentrado, o que torna o modelo de indução de ARSA mais próximo das situações observadas nos sistemas intensivos de produção. Existem protocolos de indução de ARSA validados em bovinos de corte ou de leite. GOAD et al., (1998) desenvolveram um protocolo para novilhos de engorda adaptados a dietas ricas em concentrado ou volumoso. Os animais foram divididos em dois grupos de acordo com o tipo de adaptação desejado. Os grupos adaptados a concentrado e volumoso receberam dieta composta por 80% ou 20% de concentrado, respectivamente. Cada dieta foi fornecida em dois tratos diários numa quantidade total que representasse 1,75 X a energia líquida de mantença para aquela categoria animal. Para indução da acidose os animais foram mantidos em jejum por 24 horas. Nos três dias subsequentes os animais de ambos os grupos receberam dieta de indução composta exclusivamente de concentrado também em dois tratos diários, de modo que em cada trato fosse fornecido concentrado na quantidade suficiente para prover 1,75 X a energia líquida de mantença, totalizando 3,5 X a energia liquida de mantença por dia. O conteúdo ruminal foi avaliado logo antes do fornecimento da dieta de indução e posteriormente a cada 12 horas por três dias em que os animais receberam a dieta de indução. Em ambos os grupos, o ph ruminal atingiu valores abaixo de 5.6 aproximadamente após 36 horas do início da indução. Em 48 horas ambos os grupos atingiram os valores mínimos de ph, com diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, 5.4 para o grupo adaptado à volumoso e 5.2 para o grupo adaptado à concentrado (GOAD et al., 1998). Os protocolos de indução de ARSA podem ter duração variada, de alguns dias a semanas. KEUNEN et al., (2002) desenvolveram um protocolo de indução para vacas de aptidão leiteira composto de quatro semanas, sendo designadas as semanas um e três, adaptação, e as semanas dois e quatro, indução. Durante as semanas de adaptação os animais recebiam dieta padrão ad libitum contendo 62% de volumoso misturados a 38% de concentrado, tendo o consumo monitorado diariamente. Nas semanas de indução, 25% da quantidade média consumida na semana anterior foi fornecida na forma de pellets compostos de 50% de trigo e 50% de cevada e o consumo da dieta padrão foi regulada em intervalos ao longo do dia (Figura 4). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

56 40 07:00: 2 kg de dieta padrão 11:00-11:30: Animais com acesso a dieta padrão 15:00-15:30: Animais com acesso a dieta padrão 09:00-09:30 2/3 do total de pellets 13:00: 1/3 do total de pellets 17:00: Restante da dieta padrão fornecida pelo resto do dia FIGURA 4 Manejo alimentar nos dias de indução de acidose subaguda Fonte: Adaptado de KEUNEN et al., (2002) O ph ruminal era monitorado continuamente por meio de eletrodos implantados no saco ventral do rúmen. Os autores consideraram como indicativo de ARSA valores de ph inferiores a 6.0 Nas semanas de indução, dois e quatro, obtevese um ph médio diário de Observou-se um tempo médio diário de ph abaixo de 6.0 de 10,66 horas, significativamente maior que o observado nas semanas de adaptação, de 5,3 horas (KEUNEN et al., 2002). Outro protocolo de indução de acidose subaguda em vacas de aptidão leiteira foi o desenvolvido por KRAUSE & OETZEL (2005). Este protocolo foi composto por quatro períodos experimentais. O primeiro consistiu de quatro dias de dieta composta por aproximadamente 50% de volumoso ad libitum. O segundo período consistiu de um dia de redução de 50% na dieta oferecida. O terceiro período, indução propriamente dita, consistiu de fornecimento da dieta consumida diariamente no primeiro período acrescida de 20% dessa mesma quantidade na forma de pellets compostos de 50% de trigo e 50% de cevada. O quarto período consistia de mais dois dias de avaliação com o fornecimento da dieta do primeiro período na mesma quantidade. O ph mínimo observado foi 5.1 durante o dia de indução, como o animal permanecendo, em média, 8,26 horas com ph ruminal abaixo de 5.6, tempo consideravelmente maior que o observado no primeiro período, de 1,1 hora. Aplicações dos protocolos de indução de acidose ruminal O estabelecimento de protocolos de indução de acidose ruminal permitiu o melhor entendimento sobre sua etiopatogenia bem como suas consequências tanto para a saúde quanto a produtividade dos bovinos. Diversos estudos foram conduzidos avaliando equilíbrio hídrico e ácido-base na acidose ruminal aguda, a relação entre acidose ruminal e doenças digitais e a influência da acidose no sistema imune e metabolismo. ORTOLANI et al., (2010) induziram quadro de acidose aguda por meio de sacarose em bovinos das raças Gir e Jersey visando encontrar diferenças clínicas nos dois grupos raciais. Foi observado que os animais da raça Gir apresentaram maior grau de desidratação, porém o quadro clínico foi considerado pior nos bovinos Jersey, pois apresentaram acidose metabólica mais acentuada, com maiores níveis sanguíneos de lactato-d e menores de ph. O pior quadro clínico nos animais da raça Jersey foi justificado em função da maior depressão de estado mental observada e da maior quantidade de bicarbonato que teve de ser empregada para correção da acidose metabólica. Diversos trabalhos já associaram acidose ruminal à ocorrência de doenças digitais, especialmente laminite (NORDLUND et al., 2004; GOFF, 2006; BICALHO & ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

57 41 OIKOMONOU, 2013). Alguns trabalhos foram realizados visando induzir laminite por meio de indução de acidose ruminal. MOMCILOVIC et al., (2000) induziram acidose ruminal em bezerros com fornecimento de dieta rica em concentrado, porém não foram bem-sucedidos na indução de laminite. Já THOEFNER et al., (2004) adaptaram um protocolo de indução de laminite na espécie equina com o uso de oligofrutose, um polímero da frutose presente em diversas espécies vegetais, incluindo algumas gramíneas. O fornecimento do açúcar foi eficaz na indução de acidose ruminal aguda e laminite em bovinos, diagnosticada por claudicação acentuada, aumento da sensibilidade digital e alterações histológicas (THOEFNER et al., 2004; THOEFNER et al., 2005). Porém, os autores não souberam explicar como esse modelo de indução de laminite foi bem-sucedido, e outros estudos anteriormente realizados com sobrecarga de concentrado não o foram. Posteriormente, outros autores repetiram com sucesso o modelo experimental de indução de laminite, mas também não souberam explicar a maior eficácia desse protocolo em comparação a outros (DANSCHER et al., 2009). Recentemente, diversos estudos vêm avaliando os reflexos da acidose ruminal no sistema imune. A grande produção de lipopolissacarídeos no rúmen de animais com acidose faz com que parte dessas endotoxinas seja absorvida estimulando uma resposta imune inata (LI et al., 2012; ZEBELI & METZLER-ZEBELI, 2012). Sob influência das endotoxinas, macrófagos produzem citocinas como interleucina1, interleucina 6 e fator de necrose tumoral α, que por sua vez induzem a liberação de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos como amiloide séria A, haptoglobulina, proteína C reativa e proteína ligante de lipopolissacarídeo (GOZHO et al., 2005, GOZHO et al., 2007; KHAFIPOUR et al., 2009; ZEBELI & AMETAJ, 2009; DANSCHER et al., 2011). Acredita-se que as citocinas e proteínas de fase aguda liberadas em resposta a endotoxemia possam influenciar negativamente a saúde e produtividade dos bovinos reduzindo, por exemplo, produção total e teor de gordura no leite (ZEBELI & AMETAJ, 2009; COLMAN et al., 2010). Acredita-se também que a resposta aguda secundária a endotoxemia possa estar envolvida direta ou indiretamente na etiopatogenia de algumas importantes doenças como a retenção de envoltórios fetais, o deslocamento de abomaso, hipocalcemia e lesões digitais secundárias à laminite (AMETAJ et al., 2010; DANSCHER et al., 2011; BICALHO & OIKOMONOU, 2013) CONSIDERAÇÕES FINAIS A indução de acidose ruminal permite a avaliação de diferentes aspectos da alteração, elucidando questões sobre influência da dieta e manejo alimentar, o desequilíbrio fermentativo no rúmen bem como desequilíbrio hídrico e ácido-base sistêmicos. Existem diferentes protocolos validados para indução de acidose ruminal aguda ou subaguda, e a escolha deve levar em consideração os objetivos do estudo. Na indução de acidose ruminal aguda deve-se ter especial cuidado com o tratamento de suporte dos animais em função das severas alterações sistêmicas que podem ocorrer. Em função de possíveis fontes de variação não previstas no estudo, na indução de acidose ruminal subaguda deve-se atentar para o controle rigoroso na execução do protocolo de indução e avaliação das variáveis. Os diferentes protocolos de indução permitem avaliar não somente a acidose ruminal, mas também implicações secundárias como alterações no ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

58 42 metabolismo, sistema imune e predisposição a doenças digitais. Além disso, a indução de acidose ruminal também permite a avaliação de medidas de tratamento e controle. REFERÊNCIAS ALZAHAL, O.; RUSTOMO, B.; ODONGO, N. E.; DUFFIELD, T. F.; McBRIDE, B. W. Technical note: A system for continuous recording of ruminal ph in cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 85, n. 1, p , AMETAJ, B. M.; ZEBELI, Q.; IQBAL, S. Nutrition, microbiota and endotoxin-related disease in dairy cows. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 39, suplemento especial, p , BEVANS, D. W.; BEAUCHEMIN, K. A.; SCHWARTZKOPF-GENSWEIN, K. S.; McKINNON, J. J.; McALLISTER, T. A. Effect of rapid or gradual adaptation on subacute acidosis and feed intake by feedlot cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 83, n. 5, p , BICALHO, R. C.; OIKONOMOU, G. Control and prevention of lameness associated with claw lesions in dairy cattle. Livestock Science, Amsterdam, v. 156, n.1-3, p , BLANCH, M.; CALSAMIGLIA,S.; DiLORENZO, N.; DiCONSTANZO, A.; MUETZEL, S.; WALLACE, R. J. Physiological changes in rumen fermentation during acidosis induction and its control using a multivalent polyclonal antibody preparation in heifers. Journal of Animal Science, Champaign, v. 87, n. 5, p , BROWN, M. S.; KREHBIEL, C. R.; GALYEAN, M. L.; REMMENGA, M. D.; PETERS, J. P.; HIBBARD, B.; ROBINSON, J.; MOSELEY, W. M. Evaluation of models of acute and subacute acidosis on dry matter intake, ruminal fermentation, blood chemistry, and endocrine profile of beef steers. Journal of Animal Science, Champaign, v. 78, n. 12, p , CALSAMIGLIA, S.; BLANCH, M.; FERRET, A.; MOYA, D. Is subacute ruminal acidosis a ph related problem? Causes and tools for its control. Animal Feed Science and Technology, Amsterdam, v. 172, n. 1-2, p , COE, M. L.; NAGARAJA, T. G.; SUN, Y. D.; WALLACE, N.; TOWNE, E. G.; KEMP, K. E.; HUTCHESON, J. P. Effect of virginiamycin on ruminal fermentation in cattle during adaptations to a high concentrate diet and during an induced acidosis. Journal of Animal Science, Champaign, v. 77, n. 8, p , COLMAN, E.; FOKKINK, W. B.; CRANINX, M.; NEWBOLD, J. R.; De BAETS, B.; FIEVEZ, V. Effect of induction of subacute ruminal acidosis on milk fat profile and rumen parameters. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 93, n. 10, p , DANSCHER, A. M.; ENEMARK, J. M. D.; TELEZHENKO, E.; CAPION, N.; EKSTROM, C. T.; THOEFNER, M. B. Oligofrutose overloads induces lameness in cattle. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 92, n. 2, p , DANSCHER, A. M.; THOEFNER, M. B.; HEEGAARD, P. M. H.; EKSTROM, C. T.; JACOBSEN, S. Acute phase protein response during acute ruminal acidosis in cattle. Livestock Science, Amsterdam, v. 135, n. 1, p , DE VRIES, T. J. DOHME, F.; BEAUCHEMIN, K. A. Repeated ruminal acidosis challenges in lactating dairy cows at high and low risk for developing acidosis: feed sorting. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 91, n. 10, p , ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

59 43 DIJKSTRA, J.; ELLIS, J. L.; KEBREAB, E.; STRATHE, A. B.; LÓPEZ, S.; FRANCE, J.; BANNINK, A. Ruminal ph regulation and nutritional consequences of low ph. Animal Feed Science and Technology, Amsterdam, v. 172, n. 1-2, p.22-33, DIRKSEN, G. Sistema Digestivo. In: DIRKSEN, G; GRÜNDER, H.D.; STÖBER, M. Exame Clínico dos Bovinos. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., cap. 7, p DIRKSEN, G. Enfermedades de los órganos digestivos y la pared abdominal. In: DIRKSEN, G.; GRÜNDER, H. D.; STÖBER, M. Medicina Interna y Cirugía del Bovino. 4. ed. Buenos Aires: Editorial Inter-Médica. cap. 6. p DUFFIELD, T.; PLAIZIER, J. C.; FAIRFIELD, A.; BAGG, R.; VESSIE, G.; DICK, P.; WILSON, J.; ARAMINI, J.; McBRIDE, B. Comparison of techniques for measurement of rumen ph in lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 87, n. 1, p , EMMANUEL, D. G. V.; DUNN, S. M.; AMETAJ, B. N. Feeding high proportions of barley grain stimulates an inflammatory response in dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 91, n. 2, p , FERNANDO, S. C.; PURVIS II, H. T.; NAJAR, F. Z.; SUKHARNIKOV, L. O.; KREHBIEL, C. R.; NAGARAJA, T. G.; ROE, B. A.; De SILVA, U. Rumen microbial population dynamics during adaptation to a high grain diet. Applied and Environmental Microbiology, Washington, v. 76, n. 22, p , GARRET, E. F.; PEREIRA, M. N.; NORDLUND, K. V.; ARMENTANO, L. E.; GOODGER, W. J.; OETZEL, G. R. Diagnostic methods for the detection of subacute ruminal acidosis in dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 82, n. 6, p , GIANESELLA, M.; MORGANTE, M.; STELLETTA, C.; RAVAROTTO, C.; GIUDICE, E.; VAN SAUN, R. J. Evaluating the effects of ruminocentesis on health and performance on dairy cows. ActaVeterinaria Brno, Brno, v. 79, n. 3, p , GOAD, D. W.; GOAD, C. L.; NAGARAJA, T. G. Ruminal microbial and fermentative changes associated with experimentally induced subacute acidosis in steers. Journal of Animal Science, Champaign, v. 76, n. 1, p , GOFF, J. P. Major advances in our understanding of nutritional influences in bovine health. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 89, n. 4, p , GOZHO, G. N.; KRAUSE, D. O.; PLAIZIER, J. C. Ruminal lipopolysaccharide concentration and inflammatory response during grain induced subacute ruminal acidosis in dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 90, n. 2, p , GOZHO, G. N.; PLAIZIER, J. C.; KRAUSE, D. O.; KENNEDY, A. D.; WITTENBERG, K. M. Subacute ruminal acidosis induces ruminal lipopolysaccharide endotoxin release and triggers an inflammatory response. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 88, n. 4, p , HUBER, T. L. Lactic acidosis and renal function in sheep. Journal of Animal Science, Champaign, v. 29, n. 4, p , IQBAL, S.; ZEBELI, Q.; MAZZOLARI, A.; BERTONI, G.; DUNN, S. M.; YANG, W. Z.; AMETAJ, B. N. Feeding barley grain steeped in lactic acid modulates rumen fermentation patterns and increases milk fat content in dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 92, n. 12, p , JAMI, E.; ISRAEL, A.; KOTSER, A.; MIZRAHI, I. Exploring the bovine rumen bacterial community from birth to adulthood. The ISME Journal, London, v. 7, n. 6, p , ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

60 44 KEUNEN, J. E.; PLAIZIER, J. C.; KYRIAZAKIS, L.; DUFFIELD, T. F.; WIDOWSKI, T. M.; LINDINGER, M. I.; McBRIDE, B. W. Effects of a subacute acidosis model on the diet selection of dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 85, n. 12, p , KHAFIPOUR, E.; KRAUSE, D. O.; PLAIZIER, J. C. A grain-based subacute ruminal acidosis challenge causes translocation of lipopolysaccharide and triggers inflammation. Journal of Dairy Science, v. 92, n. 3, p , KLEEN, J. N.; CANNIZZO, C. Incidence, prevalence and impact of SARA in dairy herds. Animal Feed Science and Technology, Amsterdam, v. 172, n. 1-2, p. 4-8, KOZLOSKI, G. M. Bioquímica dos Ruminantes. 3. ed. Santa Maria: Editora UFSM, p. KRAUSE, K. M.; OETZEL, G. R. Inducing subacute ruminal acidosis in lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 88, n. 10, p , LEAN, I. J.; VAN SAUN, R.; De GARIS, P. Energy and protein nutrition management of transition dairy cows. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, Philadelphia, v. 29, n. 2, p , LI, S.; KHAFIPOUR, E.; KRAUSE, D. O.; KROEKER, A.; RODRIGUEZ-LECOMPTE, J. C.; GOZHO, G. N.; PLAIZIER, J. C. Effects of subacute ruminal acidosis challenges on fermentation and endotoxins in the rumen and hindgut of dairy cows. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 95, n. 1, p , MCLAUGLHIN; C. L.; THOMPSON, A.; GREENWOOD, K.; SHERINGTON, J.; BRUCE, C. Effect of acarbose on acute acidosis. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 92, n. 6, p , MARUTA, C. A.; LEAL, M. L. R.; NETTO, D. M.; MORI, C. S.; ANTONELLI, A. C.; ORTOLANI, E. L. The measurement of urine ph to predict the amount of buffer used in the treatment of acute ruminal lactic acidosis in cattle. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 3, p , MARUTA, C. A.; ORTOLANI, E. L. Susceptibilidade de bovinos das raças Jersey e Gir à acidose láctica ruminal: II Acidose Metabólica e metabolização do Lactato-L. Ciência Rural, Santa Maria, v. 32, n. 1, p , MIALON, M. M.; DEISS, V.; ANDANSON, S.; ANGLARD, F.; DOREAU, M.; VEISSIER, I. An assessment of the impact of rumenocentesis on pain and stress in cattle and the effect of local anaesthesia. The Veterinary Journal, London, v. 194, n.1, p , MOMCILOVIC, D.; HERBEIN, J. H.; WITTIER, W. D.; POLAN, C. E. Metabolic alterations associated with an attempt to induce laminitis in dairy calves. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 83, n. 3, p , NAGARAJA, T. G. Rumen health. In: Simpósio de Nutrição de Ruminantes Saúde do Rúmen, 3., 2011, Botucatu. Anais eletrônicos...[cd-rom], Botucatu: UNESP, NAGARAJA, T. G.; BARTLEY, E. E.; FINA, L. R.; ANTHONY, H. D. Relationship of Gram-negative bacteria and free endotoxin to lactic acidosis in cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v. 47, n. 6, p , NAGARAJA, T. G.; LECHTENBERG, K. F. Acidosis in feedlot cattle. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, Philadelphia, v. 23, n. 2, p , NAGARAJA, T. G.; TITGEMEYER, E. C. Ruminal acidosis in beef cattle: the current microbiological and nutritional outlook. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 90, sup., p. E17-E38, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

61 45 NOCEK, J. E. Bovine acidosis: implications in laminitis. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 80, n. 5, p , NORDLUND, K. V.; COOK, N. B.; OETZEL, G. R. Investigation strategies for laminitis problem hers. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 84, supplement, p. E-27-35, OETZEL, G. R. Monitoring and testing dairy herds for metabolic disease. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, Philadelphia, v.20, n. 3, p , ORTOLANI, E. L. Induction of lactic acidosis in cattle with sucrose: relationship between dose, rumen fluid ph and animal size. Veterinary and Human Toxicology, Manhattan, v. 37, n. 5, p , ORTOLANI, E. L.; MARUTA, C. A.; MINERVINO, A. H. H. Influência da raça sobre volemia e função renal de bovinos com acidose láctica ruminal aguda, induzida experimentalmente. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 45, n. 6, p , ORTOLANI, E. L.; MARUTA, C. A.; MINERVINO, A. H. M. Aspectos clínicos da indução experimental de acidose láctica ruminal em zebuínos e taurinos. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 47, n. 4, p , OWENS, F. N. Clinical and subclinical acidosis. In: Simpósio de Nutrição de Ruminantes Saúde do Rúmen, 3., 2011, Botucatu. Anais eletrônicos...[cd-rom], Botucatu: UNESP, PENNER, G. B.; STEELE, M. A.; ASCHENBACH, J. R.; McBRIBE, B. W. Molecular adaptation of ruminal epithelia to highly fermentable diets. Journal of Animal Science, Champaign, v. 89, n. 4, p , PETRI, R. M.; SCHWAIGER, T.; PENNER, G. B.; BEAUCHEMIN, K. A.; FORSTER, R. J.; McKINNON, J. J.; McALLISTER, T. A. Changes in the rumen epimural bacterial diversity of beef cattle as affected by diet and induced ruminal acidosis. Applied and Environmental Microbiology, Washington, v. 79, n. 12, p , PLAIZIER, J. C.; KHAFIPOUR, E.; LI, S.; GOZHO, G. N., KRAUSE, D. O. Subacute ruminal acidosis (ARSA), endotoxins and health consequences. Animal Feed Science and Technology, Amsterdam, v. 172, n. 1-2, p. 9-21, 2012 PLAIZIER, J. C.; KRAUSE, D. O.; GOZHO, G. N.; McBRIDE, B. W. Subacute ruminal acidosis in dairy cows: the physiological causes, incidence and consequences. The Veterinary Journal, London, v. 176, n. 1, p , RADOSTITS, O. M; GAY, C. C; HINCHCLIFF, K. W; CONSTABLE, P. D. Veterinary Medicine. 3.ed. St. Louis: Elsevier, p. RODRIGUES, F. A. M. L. Tratamento adicional da acidose láctica ruminal aguda em bovinos por meio de infusão de solução salina hipertônica (7,2%) p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo. RUSSEL, J. B.; RYCHLIK, J. L. Factors that alter rumen microbial ecology. Science, New York, v. 292, n. 5519, p , SAMPAIO, I. B. M. Estatística Aplicada à Experimentação Animal. 3. ed. Belo Horizonte: FEPMVZ, p. SCHWARTZKOPF-GENSWEIN, K. S.; BEAUCHEMIN, K. A.; GIBB, D. J.; CREWS Jr., D. H.; HICKMAN, D. D.; STREETER, M.; McALLISTER, T. A. Effect of bunk management on feeding behavior, ruminal acidosis and performance of feedlot cattle: a review. Journal of Animal Science, Champaign, v. 81, n. 14, sup. 2, E 149-E 158, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

62 46 STEELE, M. A.; DIONISSOPOULOS, L.; ALZAHAL, O.; DOELMAN, J.; McBRIDE, B. W. Rumen epithelial adaptation to lactating cattle involves the coordinated expression. of insulin-like growth factor-binding proteins and a cholesterolgenic enzyme. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 95, n. 1, p , TADICH, N. Blood neutrophils activity increase in heifers with experimental acute rumen acidosis. In: Lameness in Ruminants Symposium, 16, 2011, Rotorua. Anais Eletrônicos...[on line]. Rotorua: Disponível em: THOEFNER, M. B.; POLLIT, C. C.; VAN EPS, A. W.; MILINOVICH, G. J.; TROTT, D. J.; WATTLE, O.; ANDERSEN, P. H. Acute bovine laminitis: a new induction model using alimentary oligofrutose overload. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 87, n. 9, p , THOEFNER, M. B.; WATTLE, O.; POLLIT, C. C.; FRENCH, K. R.; NIELSEN, S. S. Histopathology of Oligofructose-induced acute laminitis in heifers. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 88, n. 8, p , VALADARES FILHO, S. C.; PINA, D. S. Fermentação ruminal. In: BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. Nutrição de Ruminantes. 2. ed. Jaboticabal: FUNEP, cap. 6, p VAN METRE, D. C.; CALLAN, R. J.; HOLT, T. N.; GARRY, F. B. Abdominal emergencies in cattle. Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, Champaign, v. 21, n. 3, p , VASCONCELOS, J. T.; GALYEAN, M. L. Contributions in the Journal of Animal Science to understanding metabolic and digestive disorders. Journal of Animal Science, Champaign, v. 86, n. 7, p , VECHIATO, T. A. F. Estudo retrospectivo e prospectivo da presença de abscessos hepáticos em bovinos abatidos em um frigorífico paulista p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo. ZEBELI, Q.; AMETAJ, B. N. Relationships between rumen lipopolysaccharides and mediators of inflammatory response with milk fat production and efficiency in dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 92, n. 8, p , ZEBELI, Q.; METZLER-ZEBELI, B. U. Interplay between rumen digestive disorders and diet-induced inflammation in dairy cattle. Research in Veterinary Science, Oxford, v. 93, n. 3, p , ZEBELI, Q.; METZLER-ZEBELI, B. U.; AMETAJ, B. M. Meta-analysis reveals threshold level of rapidly fermentable dietary concentrate that triggers systemic inflammation in cattle. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 95, n. 5, p , ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.17; p

63 47 CAPÍTULO 3 CARACTERIZAÇÃO DA ACIDOSE RUMINAL E DA FASE INICIAL DA LAMINITE INDUZIDAS POR OLIGOFRUTOSE EM BEZERROS MESTIÇOS CHARACTERIZATION OF RUMEN ACIDOSIS AND INITIAL PHASE OF LAMNITIS INDUCTED BY OLIGOFRUCTOSE IN CROSSBRED CALVES RESUMO Uma das formas de se estudar a laminite bovina é sua indução experimental por meio do fornecimento de grande quantidade de carboidrato de alta fermentação. O protocolo mais eficaz até o momento foi o uso de oligofrutose. Objetivou-se avaliar aspectos clínicos e histológicos dos dígitos de bovinos na indução experimental de acidose ruminal e laminite usando oligofrutose. Utilizaram-se seis bezerros mestiços (Bos taurus X Bos indicus) de um ano dos quais três foram usados inicialmente em grupo piloto (GP) e posteriormente os outros três em grupo experimental (GE). Os animais em GP e GE receberam oligofrutose por via intrarruminal nas doses de 13 e 17 g/kg respectivamente. Os animais foram avaliados clinicamente por 28 horas e fragmentos de coroa e muralha abaxial dos dígitos foram colhidos para histologia 30 horas após a indução. Foram identificados sinais de acidose ruminal e metabólica como distensão ruminal com liquido, diarreia e baixo ph ruminal. Os resultados de hemogasometria indicaram baixos ph, excesso de base e bicarbonato. Os animais não apresentaram claudicação entretanto, observaram-se apatia e marcha mais lenta, atribuídas à acidose metabólica. Histologicamente foram observadas lesões características de laminite como alterações circulatórias e infiltrado inflamatório na derme, irregularidades e áreas de destacamento da membrana basal e alterações morfológicas de células da epiderme basal. Considera-se que o protocolo foi eficaz em provocar laminite em bezerros mestiços e que a fase de desenvolvimento da enfermidade se caracteriza por sinais da doença primária, acidose ruminal e lesões histológicas de laminite nos dígitos. Palavras-chave: acidose metabólica, claudicação, histologia dos dígitos ABSTRACT One way to study laminitis is the experimental induction by means of rumen acidosis induction. Most effective protocol until now was the use of oligofructose. The objective of this study was to evaluate clinical and hoof histological changes in the experimental induction of rumen acidosis and laminitis in calves using oligofructose. Were used six crossbred (Bos taurus X Bos indicus) yearling calves from which three were initially used as a pilot group (GP) and, in posterior moment, the remain three as an experimental group (GE). Animals in GP and GE received intrarruminal oligofructose in the doses of 13 and 17 g/kg respectively. Calves were evaluated clinically for 28 hours and at 30th hour post induction were harvested samples from coronary and abaxial wall regions of the hoof for histologic evaluation. Animals showed signs of rumen and metabolic acidosis like rumen distension with fluid, diarrhea, low rumen ph and, at blood gas analysis, low ph and bicarbonate. Lameness was not observed however, some animals had a slower gait and apathy, possibly due to metabolic acidosis. Microscopically, were found typical lesions of laminitis like circulatory changes and inflammatory infiltrate in the dermis, irregularities and areas of detachment at basement membrane and morphologic changes in cells from basal epidermis. The protocol was considered successful to induce laminitis in crossbred calves and developmental phase of the disease is characterized by signs of the primary disease, rumen acidosis, and histologic lesions typical of laminitis in the digits. Keywords: metabolic acidosis, lameness, hoof histology

64 48 1. Introdução A crescente produtividade apresentada pelos bovinos ao longo das últimas décadas veio acompanhada pela maior ocorrência de enfermidades associadas ao sistema de produção como por exemplo as indigestões e as enfermidades podais 1,2. Dentre as indigestões, destacase a acidose ruminal, desequilíbrio fermentativo causado pela ingestão de quantidade excessiva de carboidrato rapidamente fermentável. A acidose ruminal pode ocorrer de forma aguda ou subaguda 3,4. Na forma aguda ocorrem sinais como distensão ruminal, diarreia desidratação e depressão de estado mental, decorrente de desidratação e acidose metabólica 5-7. Na forma subaguda, os animais não apresentam sinais clínicos evidentes, entretanto associa-se a esse quadro diversas complicações como rumenite e paraqueratose ruminal, abscessos hepáticos, polioencefalomalacia, interferência na função imune e laminite 3,4,8-10. Uma das principais maneiras de estudar a acidose ruminal é sua indução experimental, tanto na forma aguda quanto na subaguda 4. Os protocolos envolvem a combinação de carboidratos de alta fermentação com esquemas de fornecimento que favoreçam o desequilíbrio fermentativo como longo jejum prévio ou dieta prévia sem concentrado para impedir a adaptação da microbiota 4. Nos protocolos são estudados diferentes aspectos da enfermidade como a dinâmica da microbiota 11, alteração no equilíbrio ácido-base 6,12,13, função imune 9 e fatores desencadeadoes de laminite 5,7,14. A laminite é uma das principais enfermidades digitais dos bovinos e é caracterizada pela inflamação da derme digital. Além da acidose ruminal, acredita-se que fatores hormonais e ambientais estejam envolvidos em sua patogenia Na forma clínica, o animal apresenta acentuada claudicação em todos os membros 5,7. Na forma crônica o casco apresenta-se alongado e com acentuada concavidade na parede, denominado achinelado 15. Na forma subclínica, as alterações nos tecidos vivos do casco antecedem em dois a três meses o surgimento de lesões dolorosas como úlceras de sola e doença de linha branca Acredita-se que as mudanças fermentativas que caracterizam a acidose ruminal levam a produção e absorção de substâncias que podem atuar localmente na derme e epiderme dos dígitos 7,8,21,22. Alguns dos fatores que são gerados na acidose ruminal e poderiam causar a laminite são a histamina, ácido lático e endotoxinas. Isoladamente, ou em conjunto, provocariam lesões vasculares e degradação do aparato suspensório da terceira falange no interior do dígito O período entre o fator desencadeante e o surgimento dos sinais clínicos é denominada fase prodrômica, ou fase de desenvolvimento, sendo bem estudada na espécie

65 49 equina Na espécie bovina, o período prodrômico possui duração variada 5,7,18, devido ao fato de que os protocolos experimentais de indução empregados nem sempre resultam em sinais clínicos específicos de laminite clínica, como claudicação e sensibilidade digital 14,25,29. Nos casos em que se observou claudicação, esta ocorreu a partir do segundo dia 5,7. Além disso, sabese que na laminite subclínica, esse período de desenvolvimento de lesões sem sinais clínicos aparentes pode levar meses 15. Geração de conhecimento mais específico sobre as alterações da laminite bovina na fase de desenvolvimento é importante pois além de permitirem um diagnóstico precoce, antes de sinais mais evidentes da laminite como a claudicação, permitem medidas terapêuticas mais efetivas, como ocorre na espécie equina, com o uso de antiinflamatórios e crioterapia 30,31. As pesquisas sobre laminite bovina empregam diferentes metodologias como estudos epidemiológicos, indução experimental e até cultura de tecidos 5, Dentre esses, a indução da laminite permite o controle de diferentes variáveis que influenciam no surgimento das lesões bem como a avaliação de diferentes aspectos da etiopatogenia 5,24, Considerando a conhecida relação entre acidose ruminal e laminite, objetivou-se produzir a doença locomotora pela indução do desequilíbrio fermentativo. Apesar de aparentemente simples, essa abordagem nem sempre produziu os resultados esperados. Alguns protocolos não foram eficazes, outros foram mas falharam ao serem reproduzidos em outros estudos 7,15. O protocolo que vem apresentando resultados mais consistentes é a indução de acidose ruminal com uso de oligofrutose 5,7. Esse foi um protocolo aplicado inicialmente em equinos 38 e, posteriormente, em bovinos 5,7,23. A oligofrutose é um polímero de frutose com até dez subunidades do açúcar, e que está presente em alimentos como a chicória, trigo e banana, além de gramíneas de clima temperado 7,39. Mais estudos envolvendo oligofrutose se fazem necessários, pois, os realizados até o momento empregaram pequeno número de animais, o que é comum nesse tipo de experimento. Observa-se também que o peso e propriedade de origem podem influenciar nos resultados e nem todos os animais que receberam oligofrutose desenvolveram claudicação ou apresentaram lesões histológicas 5,7,24,36,40. O peso e a dieta prévia dos animais são parâmetros que podem interferir nos resultados de indução de acidose ruminal 4,12. Além das diferenças de protocolo empregados, um aspecto importante e pouco explorado nos estudos sobre acidose ruminal e laminite são as diferenças raciais, com exceção feita a estudos sobre indução experimental de acidose aguda 6,13. Não foram encontrados na literatura consultada 5,7,15 estudos sobre indução experimental de laminite em bovinos zebuínos, ou mesmo mestiços (Bos taurus X Bos indicus).

66 50 Os zebuínos e seus mestiços respondem por grande parte do rebanho nacional, tanto de corte 41 quanto de leite 42. Em pesquisa com extensionistas que prestam assistência a confinamentos, observou-se que 77% das propriedades confinam bovinos da raça Nelore e 55% confinam animais mestiços. Na pecuária leiteira, a maior parte do rebanho é composta por animais cruzados (Bos taurus X Bos indicus), principalmente da raça Girolando, respondendo por aproximadamente 80% da produção nacional 43. A laminite é citada como importante problema de saúde nesses animais, tanto de aptidão leiteira 18 quanto de corte, especialmente nos confinamentos onde os bovinos recebem dieta com alto teor de concentrado 41. Sabe-se que zebuínos e taurinos podem responder de forma diferente a indução experimental de acidose ruminal 6,13 e que possuem diferenças microscópicas na estrutura dos cascos 44,45. Essas diferenças podem se refletir também na laminite, de ocorrência natural ou induzida experimentalmente, o que reforça a necessidade de estudos sobre a laminite nesses animais. O estudo das alterações ocorridas no período de desenvolvimento da enfermidade, entre a acidose ruminal e a claudicação, permitiriam a adoção de melhores protocolos de monitoramento e tratamento precoce dos animais do rebanho. Uma opção de estudo que poderia auxiliar no esclarecimento da enfermidade nesse estágio de desenvolvimento, seria em bezerros desmamados mestiços. Uma das vantagens do estudo em animais jovens é a facilidade de manipulação, acompanhamento clínico dos animais e o menor custo. Com o presente trabalho objetivou-se avaliar, por parâmetros de exame físico, laboratoriais e histológicos, o protocolo de indução de acidose ruminal e laminite, empregando a oligofrutose e estudar seus efeitos sobre o cório laminar na fase prodrômica da enfermidade, usando bovinos mestiços de um ano como modelo experimental. 2. Materiais e métodos O estudo foi desenvolvido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás, no ano O projeto foi avaliado e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da UFG (CEUA/UFG), tendo recebido o protocolo de número 26/2013. Foram utilizados seis bezerros, mestiços (Bos taurus x Bos indicus) com idade aproximada de 12 meses e peso médio de 175 ± 22,6 kg. Três meses antes do início do estudo os animais foram submetidos à ruminostomia com implantação de cânula ruminal com 8,89 cm de diâmetro interno (KEHL, São Carlos, Brasil). Os bezerros foram mantidos em piquetes contendo gramínea Brachiaria decumbens e eram suplementados com feno de gramínea Tifton 85. Na composição da dieta ainda constava suplemento mineral e água era fornecida à vontade.

67 51 Três animais foram empregados em estudo preliminar, formando o grupo piloto (GP), no qual receberam oligofrutose (Oligofrutose, Viafarma, São Paulo, Brasil) intrarruminal na dose de 13 g/kg. Após as avaliações no grupo piloto os três animais restantes compuseram o grupo experimental (GE), recebendo oligofrutose na dose de 17 g/kg por via intrarruminal. O protocolo e as doses adotados para administração de oligofrutose basearam-se na literatura consultada 7. O estudo, tanto para o grupo piloto quanto para o grupo experimental, foi dividido em três fases. Na fase I, durante três dias os bovinos receberam 10% da dose calculada de oligofrutose por dia, dividida em dois momentos com 5% cada, totalizando 30%. Nesse período, de acordo com a literatura, não eram esperados sinais clínicos 5,7, portanto, eram consideradas doses para adaptação da microbiota ruminal 7. No quarto dia, início da fase II, os bezerros receberam os 70 % restantes de uma vez, sendo considerado marco zero para o início das alterações clinicas 5,7. Tanto na fase I quanto na fase II, a oligofrutose administrada foi diluída na concentração de 80% em água morna. A fase III se iniciou 30 horas após a fase II e consistia na colheita de fragmentos do casco para exame histológico. Os bezerros foram avaliados antes de iniciar a fase I e durante 28 horas a partir do início da fase II, quando receberam a sobrecarga de oligofrutose, 70% da dose. Antes da fase I foram realizados exame físico e do fluido ruminal. As avaliações durante a fase II ocorreram a cada quatro horas, sendo a primeira avaliação denominada T0, composta pelo exame físico geral, avaliação de marcha e da sensibilidade digital e análises laboratoriais, que incluiram exame do fluido ruminal, avaliação do hematócrito, quantificação da proteína plasmática e hemogasometria. Em todos as colheitas, as amostras de fluido ruminal foram obtidas diretamente do rúmen após abertura da cânula ruminal, sendo avaliadas as características organolépticas, ph e realizada a prova de redução do azul de metileno 46. Em seguida foram realizadas as análises de claudicação e de sensibilidade digital de acordo com metodologias citadas na literatura 7,47. Na avaliação da locomoção, os animais eram analisados ao percorrerem em linha reta pequeno percurso em piso de concreto. O avaliador se posicionava lateralmente ao percurso quando então atribuía um escore de acordo com a gravidade da claudicação que o animal pudesse apresentar (Quadro 1). Para a avaliação da sensibilidade digital, o membro torácico era erguido por um auxiliar e o examinador pressionava a sola dos dois dígitos em diferentes pontos usando uma pinça de casco. Se não houvesse reação, era atribuído escore 1. Havendo reação discreta era atribuído escore 2 e havendo reação acentuada era atribuído escore 3 7. Tanto o escore de locomoção quanto o de sensibilidade digital foram avaliados sempre pelo mesmo avaliador.

68 52 QUADRO 1 Escore de claudicação em bovinos 47 Escore Denominação Descrição 1 Normal Animal com o dorso reto quando parado em posição quadrupedal e caminhando. Passo normal 2 Claudicação leve Animal com dorso reto em posição quadrupedal e arqueado ao caminhar. Passo normal 3 Claudicação Animal com dorso arqueado quando parado e caminhando. Passo moderada encurtado de um ou mais membros 4 Claudicação evidente Animal com dorso arqueado quando parado e caminhando. Locomoção alterada com um passo de cada vez ou evitando o apoio de um membro 5 Claudicação severa Somado aos sinais anteriores, o animal reluta ou tem dificuldade de apoiar um ou mais membros mesmo quando parado As amostras destinadas a avaliação do hematócrito e proteína total eram de sangue venoso colhido em tubo contendo ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). Após homogeneização e centrifugação, o hematócrito foi aferido em tabela medidora e a proteína plasmática avaliada em refratômetro. A hemogasometria foi feita com sangue venoso colhido em seringa heparinizada e os valores foram obtidos após homogeneização da amostra e avaliadas em hemogasômetro de bancada (COBAS B 121, Roche Diagnóstica, São Paulo - SP, Brasil). Após 28 horas do início da fase II, os animais receberam tratamento de suporte com retirada do conteúdo ruminal e fluidoterapia intravenosa com solução de Ringer com lactato e solução de bicarbonato de sódio a 5% para tratamento da acidose metabólica. A quantidade de solução de bicarbonato administrada foi calculada de acordo com o déficit de bicarbonato, parâmetro avaliado na hemogasometria. Após duas horas com este tratamento de suporte encerrava-se a fase II e se iniciava a fase III, na qual os animais foram sedados e submetidos à biópsia de casco tendo em vista a realização de avaliação histológica. Para proceder a colheita das amostras os bovinos foram sedados com cloridrato de xilazina a 2% (Anasedan, Ceva Brasil, Paulínia-SP, Brasil) na dose de 0,2 mg/kg, e posicionados em decúbito dorsal. Para a colheita de amostras, foram selecionados o dígito lateral do membro pélvico direito e o dígito medial do membro torácico direito. As extremidades distais dos membros locomotores avaliados foram inicialmente lavadas com água e sabão. Em seguida, tanto as regiões da banda coronária como da parede do casco foram preparadas cirurgicamente com iodopovidona tópico e álcool. A veia digital dorsal foi puncionada empregando-se scalp, tamanho 21, e na sequência foram aspirados 10 ml de sangue e infundidos o mesmo volume de cloridrato de lidocaína a 2 % sem vasoconstritor (Lidovet, Bravet, Engenho Novo, Brasil).

69 53 Foram colhidos fragmentos da região coronária e da muralha abaxial. Para a biópsia da região coronária, foi selecionado um local, aproximadamente três centímetros lateral à margem dorsal do casco, região de transição dorsal entre paredes axial a abaxial. Foi realizada tricotomia proximamente ao local de retirada bem como aplicação de mais três ml de cloridrato de lidocaína a 2 % no tecido subcutâneo ao redor do sítio de biópsia. Com uso de bisturi, pinça e tesoura, foi retirado fragmento retangular de aproximadamente dez por cinco milímetros. Para a biópsia da região da muralha, o estojo córneo foi gradativamente desgastado com lixadeira verificando-se frequentemente a complacência da parede com pinça bem como a coloração da mesma. Quando tornava-se macia, afundando levemente sob pressão, realizava-se a biópsia delimitando-se inicialmente o fragmento com bisturi e, em seguida, retirando-o como uso do lamelótomo Falcão-Faleiros 48 (Figura 1). FIGURA 1 Biópsia da região da muralha do casco de bovino. Demarcação do fragmento com auxílio de bisturi (A). Área do fragmento a ser retirado delimitada por linha tracejada (B). Retirada do fragmento com auxílio de lamelótomo (C) O processo iniciava-se com a delimitação de três lados de um retângulo usando uma lâmina de bisturi que era introduzida até se atingir a falange. Pelo quarto lado, não seccionado, se introduzia o lamelótomo Falcão-Faleiros 8 perpendicularmente até atingir o osso, direcionando-o em seguida no sentido do corte oposto. Dessa forma o fragmento era removido com todas as camadas da derme, transição entre derme e epiderme, camada viva da epiderme e parte da camada córnea desgastada. Após a retirada dos fragmentos, aplicava-se percloreto de ferro (Friezol Estankasangue, Pinus, Jundiaí, Brasil), polvilhava-se cloridrato de oxitetraciclina em pó sobre as feridas (Terramicina Pó, Pfizer) e aplicavam-se algodão ortopédico e ataduras envolvendo o casco. Os curativos continuaram sendo trocados a cada dois dias até completa cicatrização. As amostras colhidas foram fixadas em formol tamponado a 10%, processados rotineiramente e corados pela hematoxilina e eosina (HE) e ácido periódico de Schiff (PAS). Um mesmo avaliador realizou a análise histológica às cegas usando microscópio ótico comum

70 54 na objetiva de 10X. Na coloração de HE, foram avaliados na derme, hiperemia, hemorragia, edema e infiltrado inflamatório 18,40. Para esses parâmetros foram atribuídos os escores 0 ausente, 1 raro, 2 discreto, 3 moderado, 4 acentuado 18. Na epiderme avaliaram-se necrose celular e alterações morfológicas nos núcleos das células. Para necrose celular consideraramse os mesmos escores que os usados na avaliação da derme. Para o escore de alterações morfológicas atribuiu-se 1- cerca de 50% de células com núcleo oval perpendicular a membrana basal e 50% de células com núcleo redondo; 2- predominância de células epidérmicas com núcleo redondo, 3- predominância de células com núcleo alongado e achatado ou com ausência de núcleo 18. Nas amostras coradas pelo PAS avaliaram-se áreas de irregularidades e destacamento da membrana basal representado pela separação entre células basais e membrana basal 18,40. Atribui-se escores de forma semelhante à realizada na avaliação da derme, com valores de 0 a Para cada parâmetro, considerou-se a média de todas as amostras de cada animal e, posteriormente, avaliaram-se-se separadamente membros pélvicos e torácicos e regiões de muralha e coroa, dentro de cada grupo. Em todas as avaliações, exames físico, laboratoriais e histológicos, os dados foram avaliados por estatística descritiva Resultados A frequência cardíaca, temperatura retal e tempo de preenchimento capilar não apresentaram alterações expressivas em nenhum dos grupos. A frequência respiratória se elevou em ambos os grupos oito horas após a indução mas diminuiu gradativamente nos momentos seguintes. A motricidade ruminal se reduziu em ambos os grupos chegando a próximo de zero no grupo GE 20 horas após a indução (Tabela 1). Ao longo das 28 horas de avaliação clínica os animais dos dois grupos não apresentaram claudicação ou sensibilidade digital. Apesar disso, foi observado em alguns animais marcha mais lenta associada a apatia. O conteúdo ruminal apresentou alterações em todos os parâmetros avaliados (Tabela 2). O odor e a coloração do conteúdo se modificaram. No início a coloração era verde oliva e o odor aromático. No decorrer das avaliações, o odor passou a ácido e a coloração a leitoso, levemente amarelado. Observou-se acúmulo de líquido no rúmen, de forma mais acentuada no GE. No GP o ph ruminal mínimo foi de 5,32 e no GE o ph mínimo foi de 4,6. Em ambos os grupos se observou que a partir de certo momento, 16:00±14:24 horas em GP e 9:20±2:20 horas em GE, não havia mais redução do azul de metileno. Em ambos os grupos se observou elevação gradativa dos valores de hematócrito e proteína plasmática (Tabela 3).

71 55 TABELA 1 - Médias e desvio padrão de frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), movimentos ruminais em cinco minutos (MR) e temperatura retal (T C) para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE). Fase II Fase I T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24 T28 FC FR MR T C GP GE GP GE GP GE GP GE 45,00 ±3,00 43,00 ± 2,65 24,33 ±4,73 25,30 ±4,16 4,70 ±1,53 4,00 ±1,73 38,30 ±0,77 38,20 ±0,26 51,00 ±6,08 42,67 ±7,57 14,33 ±4,73 10,33 ±2,31 5,33 ±0,58 5,33 ±0,58 36,77 ±1,04 36,47 ±0,51 60,00 ±13,86 51,67 ±11,68 23,33 ±7,02 23,00 ±10,44 4,33 ±0,58 2,00 ±1,00 38,37 ±0,15 37,67 ±0,87 54,00 58,00 ±7,00 ±8,89 53,00 46,00 ±4,36 ±3,46 30,00 18,67 ±3,61 ±3,51 26,67 18,00 ±5,77 ±2,65 3,67 4,00 ±1,53 ±1,73 4,00 3,33 ±0,00 ±3,06 39,17 38,83 ±0,5 ±0,51 38,30 38,20 ±0,14 ±0,2 52,00 ±5,00 50,67 ±13,61 14,67 ±3,06 12,33 ±5,77 5,00 ±1,00 1,33 ±0,58 37,53 ±0,7 36,80 ±1,82 51,00 ±9,54 60,67 ±1,15 18,00 ±5,29 11,67 ±3,21 4,00 ±1,73 0,33 ±0,58 36,97 ±0,95 36,43 ±0,81 51,67 ±3,21 62,00 ±25,53 11,33 ±4,16 13,33 ±3,06 4,50 ±0,71 2,33 ±1,15 36,77 ±1,63 35,77 ±1,10 49,00 ±4,58 56,00 ±7,21 17,00 ±2,65 16,33 ±7,51 3,00 ±1,73 1,33 ±2,31 38,43 ±0,38 37,43 ±0,51 TABELA 2 - Médias e desvio padrão de ph ruminal para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE). Fase Fase II I T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24 T28 ph GP GE 6,71 ±0,29 6,92 ±0,02 6,89 ±0,11 6,69 ±0,10 5,72 ±0,49 5,50 ±0,06 5,32 ±0,57 5,14 ±0,43 5,38 ±1,43 4,83 ±0,36 5,57 ±1,47 4,70 ±0,35 5,97 ±1,41 4,6 ±0,27 5,88 ±1,95 5,24 ±1,31 6,78 ±0,68 5,62 ±0,86

72 56 TABELA 3 - Médias e desvio padrão de hematócrito (HCT) e proteína plasmática (PTN) para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE). Fase II Fase I T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24 T28 29,30 30,33 29,67 30,00 33,33 33,33 35,67 36,67 35,67 GP HCT GE ±4,16 31,66 ±2,08 ±2,31 32,67 ±3,51 ±2,08 33,00 ±2,00 ±1,73 33,33 ±3,06 ±2,89 33,00 ±2,65 ±4,16 40,33 ±5,69 ±5,51 45,00 ±4,25 ±7,02 46,00 ±3,75 ±6,43 38,67 ±5,13 PTN GP GE 7,73 ±0,32 7,40 ±0,10 7,90 ±0,62 7,60 ±0,20 8,13 ±0,93 7,67 ±0,31 7,80 ±1,40 7,63 ±0,35 8,13 ±1,44 8,07 ±0,70 8,27 ±1,51 8,07 ±0,64 8,57 ±1,46 8,80 ±0,55 8,53 ±2,00 8,60 ±0,44 8,67 ±2,06 7,87 ±0,46 Na hemogasometria foi observada em ambos os grupos redução dos valores de ph sanguíneo, PCO2, bicarbonato e excesso de base ao longo das avaliações (Tabela 4). Observouse que os animais do grupo GE já iniciaram a primeira avaliação com valores indicativos de acidose metabólica. TABELA 4 - Médias e desvio padrão dos valores de ph sanguíneo, pressão de CO2 (PCO2), bicarbonato (HCO3) e excesso de base (BE) para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE). T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24 ph PCO2 HCO3 BE GP 7,38 ±0,12 GE 7,29 ±0,08 GP 41,00 ±5,01 GE 29,03 ±9,86 GP 24,83 ±8,54 GE 14,50 ±7,81 GP -0,33 ±9,50 GE -10,80 ±8,16 7,39 ±0,10 7,32 ±0,07 41,53 ±6,27 28,63 ±7,07 25,80 ±8,87 14,90 ±6,39 0,73 ±9,51-9,90 ±6,83 7,35 ±0,14 7,28 ±0,05 36,57 ±9,16 36,57 ±9,83 21,63 ±10,45 13,80 ±6,46-3,53 ±11,59-11,63 ±6,38 7,32 ±0,19 7,21 ±0,04 36,00 ±7,39 21,50 ±2,77 20,10 ±10,14 8,47 ±1,50-5,60 ±12,3-17,60 ±2,02 7,26 ±0,16 7,12 ±0,03 37,80 ±16,84 19,57 ±3,31 19,23 ±12,16 6,23 ±0,65-7,50 ±13,48-21,20 ±0,17 7,23 ±0,21 7,08 ±0,01 34,90 ±10,7 18,33 ±3,48 16,53 ±9,65 5,33 ±0,90-10,40 ±12,4-22,80 ±0,62 7,24 ±0,22 7,07 ±0,03 35,23 ±10,65 20,07 ±1,68 17,43 ±10,45 5,73 ±0,76-9,43 ±13,32-22,63 ±1,16

73 57 Quanto à biópsia de casco, a técnica empregada se mostrou adequada e possibilitou a obtenção de amostras viáveis para avaliações histológicas. Nos locais de colheita ocorreu discreta hemorragia, que foi contida por compressão no local com gaze e utilizando-se agente hemostático. Nos dias subsequentes à biópsia os animais não apresentaram claudicação. Na avaliação da derme, foram detectados alterações edema e infiltrado inflamatório em ambos os grupos (Tabela 5). O edema foi predominantemente perivascular (Figura 3). O infiltrado inflamatório, além de também perivascular, ocorreu especialmente próximo à junção derme-epiderme (Figura 3). Hemorragia e hiperemia foram observados poucas vezes em ambos os grupos. Na epiderme observaram-se alterações morfológicas nos núcleos das células epidérmicas basais. Necrose celular foi observada apenas no GE. Foram observados irregularidades e destacamento na membrana basal em todos os grupos (Figura 4). TABELA 5 - Escores de alterações histológicas, em amostras de casco, coroa e muralha dorsal, de bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) que receberam 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE). Grupo Escores Hiper. Hemor. Edema Inf. Infl. Morte cel. Cam.basal M. basal GP 0,14 ±0,38 0 1,86 ±0,38 1,14 ±1,07 0 1,14±0,39 0,57 ±1,13 GE 0,17 ±0,39 0,33 ±0,78 1,75 ±0,75 1,25 ±0,96 0,5 ±0,67 2,08 ±0,9 1,17 ±0,94 Hiperemia (Hiper.); hemorragia (Hemor.); edema; infiltrado inflamatório (inf. Infl.); morte de células epidérmicas basais (Morte cel.); alteração morfológica de células epidérmicas basais (Cam. basal) e alterações morfológicas de membrana basal (M.basal) Na comparação entre membros pélvicos e torácicos (Tabela 6), a maior parte dos escores oscilou de zero, ausente, a um, raro. No GE, para a maior parte dos parâmetros, os valores foram maiores nas amostras de membro torácico. No GP não foi observada essa distribuição. Na comparação entre regiões de muralha ou coroa (Tabela 7), não se observou um padrão de diferença entre as regiões.

74 58 FIGURA 2 Fragmento da região da muralha de animal do grupo GE evidenciando edema perivascular (cabeça de seta). Coloração HE, aumento de 10X FIGURA 3 Fragmento de região da coroa de animal do grupo GP evidenciando infiltrado inflamatório subepidérmico (setas). Coloração HE, aumento de 10X

75 59 FIGURA 4 Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. A Fragmento de coroa de animal do grupo GE evidenciando destacamento multifocal discreto da membrana basal (seta). B - Fragmento de muralha de animal do grupo GP evidenciando irregularidades da membrana basal (cabeça de seta). Coloração PAS, aumento de 40X TABELA 6 Escores de alterações histológicas em amostras de casco, coroa e muralha dorsal do casco, agrupados por membro pélvico e torácico, para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE). Grupo Lesão (%) Hiper. Hemor. Edema Inf. Infl. Mor.cel.ep. Cam.basal M. basal GP torácico ±1,15 0 1,25±0,50 0,25±0,50 GP pélvico 0,3±0,58 0 1,67±0,58 1,33±1, ±1,73 GE 0,17±0,41 0,67±1,03 1,67±0,82 1,5±1,05 0,83±0,75 2,33±1,03 1,33±1,03 torácico GE pélvico 0,17±0,41 0 1,83±0,75 1±0,89 0,17±0,41 1,83±0,75 1±0,89 Hiperemia (Hiper.); hemorragia (Hemor.); edema; infiltrado inflamatório (inf. Infl.); morte de células epidérmicas basais (Morte cel.ep.); alteração morfológica de células epidérmicas basais (Cam basal) e alterações morfológicas de membrana basal (M.basal) TABELA 7 - Escores de alterações histológicas em amostras da coroa e muralha dorsal do casco, agrupados por coroa e muralha, para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE). Grupo Lesão (%) Hiper. Hemor. Edema Inf. Infl. Mor.cel.ep. Cam basal M. basal GP muralha 0,33±0,57 0 1,67±0, ,33±0,57 0 GP coroa ±1,41 GE 0,33±0,55 0,67±1,03 2,33 ±0,51 0,5±0,55 0,5±0,83 2±0,89 1,5±1,05 muralha GE coroa 0 0 1,17±0,4 2±0,63 0,83±0,75 2,17±0,98 0,85±0,75 Hiperemia (Hiper.); hemorragia (Hemor.); edema; infiltrado inflamatório (inf. Infl.); morte de células epidérmicas basais (Morte cel. ep.); alteração morfológica de células epidérmicas basais (Cam. basal) e alterações morfológicas de membrana basal (M.basal)

76 60 4. Discussão Previamente a fase I, os animais não apresentaram alterações de fluido ruminal, o que é compatível com a condição de criação a pasto sem suplementação com concentrado 46. No período de avaliação da fase II, 28 horas, não se observaram sinais específicos de laminite como claudicação ou sensibilidade digital. Ocorreram sinais clínicos da enfermidade primária, acidose ruminal e metabólica e alterações microscópicas nos dígitos indicativas de laminite, caracterizando esse período como a fase prodrômica da enfermidade. Outros estudos, nos quais se utilizou oligofrutose com o propósito de induzir acidose ruminal e laminite, indicaram que os primeiros sinais de claudicação iniciaram 39 horas após indução 7 e no intervalo de 30 a 48 horas após administração do carboidrato 5, compatíveis com o presente estudo onde também não ocorreu claudicação no primeiro dia após a sobrecarga com o açúcar. Entretanto, todos os estudos até o momento utilizaram animais taurinos, puros ou mestiços 5,7,14,25,29. Não foram encontradas na literatura referências sobre estudos em animais zebuínos ou mesmos mestiços (Bos taurus X Bos indicus). Considerando que são conhecidas diferenças entre taurinos e zebuínos nas respostas a protocolo de indução de acidose ruminal 6,13 e em aspectos microscópicos dos dígitos 44,45, é possível que também existam diferenças importantes relacionadas a laminite entre os grupos raciais e seus cruzamentos. Sobre a ausência de claudicação nos dias subsequentes à indução, provavelmente houve relação com a retirada de todo o conteúdo ruminal alterado 28 horas após a indução. Com o esvaziamento do rúmem, cessou-se a absorção de substâncias potencialmente lesivas ao cório digital. Nos demais estudos nos quais os animais não tiveram o conteúdo ruminal retirado e o rumem não foi lavado, a permanência da ingesta pode ter beneficiado a absorção mais prolongada dessas substâncias, favorecendo a claudicação associada a laminite 5,7. Mas, apesar de não ter sido observada claudicação ou sensibilidade digital no período de avaliação, alguns animais apresentaram marcha mais lenta associada a apatia. Acredita-se que esse efeito é resultado da redução do estado de consciência que pode ocorrer na acidose metabólica 50. A acidose metabólica que se desenvolve nos ruminantes com acidose ruminal se deve a absorção de lactato tanto na forma dextrógera, D-lactato, quanto na forma levógera, L-lactato, a partir do rúmen 14,51. Acredita-se que o organismo não metabolize o D-lactato tão eficientemente quanto o L-lactato 52,53. Provavelmente os sinais neurológicos associados a acidose por D-lactato se devam a interferência no metabolismo energético do tecido encefálico. D-lactato prejudicaria a metabolização de piruvato e L-lactato 54,55, importantes substratos energéticos nos neurônios 56. O déficit de produção de energia nos tecidos encefálicos pode levar ao surgimento dos sinais

77 61 clínicos como depressão do estado mental, ataxia e falta de resposta a estimulação do reflexo palpebral 54. Conforme esperado 5,7,24, após a administração da sobrecarga de oligofrutose, observou-se redução acentuada do ph ruminal, chegando a patamares compatíveis com acidose aguda no grupo experimental e acidose subaguda no grupo piloto. Essa redução no ph se deve intensa produção de lactato, nas formas D e L, resultantes da fermentação da oligofrutose pela microbiota 24,57. Após atingirem o valor mínimo, a gradual elevação do ph ruminal provavelmente foi resultado da ação das bactérias consumidoras de lactato, como Selenomonas ruminantium ou Megasphera eldesnii, e à absorção pela parede ruminal do lactato produzido 3. Valores menores para o ph ruminal, em relação ao presente estudo, foram relatados em outros trabalhos que usaram a oligofrutose para induzir a acidose ruminal. Quando a dose do açúcar foi de 13 g/kg observaram-se ph de 5,0 7 e 4,2 24 enquanto para a dose de 17 g/kg foram registrados 4,5 7 e 4,3 5. Acredita-se que os valores mais elevados para o ph observados no presente estudo tenha relação com o peso médio menor dos animais, pois em outras pesquisas o peso médio dos bovinos era de 408 7, e entre 280 e A influência do peso nos efeitos da acidose ruminal já foi observada em estudos empregando sacarose 12 e mesmo a oligofrutose 5. Além do reduzido ph ruminal, outra alteração observada foi a redução na motilidade ruminal, quase ausência no GE. A redução da motilidade ruminal é um efeito esperado da acidose ruminal 3,6, inclusive quando esse quadro for estabelecido pela administração de oligofrutose 5,7. Na acidose ruminal aguda, a redução do ph aumenta a fração não ionizada dos ácidos graxos voláteis (AGV) e, como o epitélio ruminal possui receptores para a forma não ionizada dos AGV, a apresentação dessas substancias em maiores níveis exerce efeito inibitório sobre a centro gástrico na medula oblonga, resultando em hipomotilidade ruminal 50,58. No presente estudo, o grupo que recebeu a maior dose de oligofrutose, 17 g/kg, desenvolveu acidose metabólica com apenas 30% da dose total. Considerando que previamente à indução os animais se encontravam a pasto sem suplementação com concentrado e com conteúdo ruminal dentro dos parâmetros fisiológicos, infere-se que as alterações metabólicas decorreram da administração intrarruminal de oligofrutose, conforme observado em outros trabalhos 5,7,24. Já foi demonstrado que a adição de frutose na dieta eleva consideravelmente a produção de ácido lático no rúmen, quando comparada ao amido 59. Além de contribuir para redução do ph ruminal, parte deste lactato é absorvido causando a acidose metabólica 5,7,24. Em outro protocolo com uso de oligofrutose, também foi observada redução nos níveis de excesso de base durante os três dias em que os animais receberam os 30% da dose sem, entretanto,

78 62 chegar ao valores compatíveis com acidose metabólica 7. Também já foi observado o contrário, a não influência dessas subdoses de oligofrutose na ocorrência de acidose metabólica 7. Apesar dos animais no GE apresentarem acidose metabólica no momento em que receberam a maior parte da dose de oligofrutose, o ph ruminal se encontrava dentro do valor de referência. Infere-se que o distúrbio fermentativo se regularizou mais rápido que o sistêmico. O mesmo comportamento foi observado após a administração dos 70 % restantes de oligofrutose, elevação do ph ruminal e persistência da acidose metabólica ao final do período de avaliação. As diferentes respostas entre os estudos podem refletir aspectos raciais dos animais pois taurinos e zebuínos podem reagir de forma diferente à acidose metabólica após acidose ruminal 6. Considerando a grande participação de zebuínos, e seus mestiços, no rebanho nacional 41,42 percebe-se a necessidade de mais estudos sobre as alterações metabólicas desses animais frente aos distúrbios fermentativos como a acidose ruminal. A redução da PCO2, observada em ambos os grupos, por elevação de frequência ou amplitude respiratória, favoreceu a elevação do ph sanguíneo aos limites fisiológicos, sendo considerada um mecanismo compensatório 46,60. Quanto a frequência respiratória e PCO2, observou-se que o maior valor de FR ocorreu oito horas após a sobrecarga de oligofrutose enquanto que os menores valores de PCO2 ocorreram somente 20 horas após. Acredita-se nesse caso que a elevação na frequência respiratória foi relacionada a temperatura ambiental. O valor máximo ocorreu às 14:00, um período mais quente no dia. A redução da PCO2, com valores mínimos 20 horas após a sobrecarga de oligofrutose, indicou que o mecanismo respiratório atuou por aumento da amplitude dos movimentos respiratórios e não necessariamente por aumento de frequência respiratória. Observaram-se, pelo contrário, reduzidos valores de frequência respiratória, abaixo do intervalo de referência 46, em vários momentos em ambos os grupos. Valores decrescentes de frequência respiratória ao longo de 24 horas também foram observadas em outro estudo sobre indução de acidose ruminal em bovinos 6. É possível que essa redução na frequência respiratória se deva a depressão do centro respiratório em função da severa acidose instalada 61. Nos animais do presente estudo, optou-se pelo tratamento de suporte em momento pré-determinado. O momento da intervenção clínica nos animais submetidos a indução experimental de acidose ruminal pode se basear em momentos pré-determinados ou nas alterações dos parâmetros de hemogasometria 5,7,12,14. O esvaziamento do conteúdo ruminal cessou a absorção de substâncias produzidas em maior quantidade na acidose ruminal como ácido lático, endotoxinas e histamina, que poderiam ser prejudiciais ao organismo. Associada a fluidoterapia intravenosa, contendo bicarbonato para corrigir a acidose metabólica 62, impediu-

79 63 se a deterioração do quadro clínico e o surgimento de possíveis complicações, como o óbito por exemplo, conforme relatado por outros autores 5,7. Nos dias subsequentes, os bezerros retomaram o apetite e comportamento normal confirmando a eficácia do tratamento de suporte. Com relação a biópsia dos fragmentos do casco, a integridade das amostras obtidas confirmaram a eficácia da técnica usada na obtenção dos espécimes clínicos 48. A técnica de biópsia do casco conforme executada aqui permitiu a avaliação seriada das alterações no interior do casco, sem a necessidade de eutanásia dos animais, o que já é feito em estudos sobre laminite equina 63. As alterações histológicas observadas na derme dos dígitos nos bovinos que receberam oligofrutose intrarruminal como edema, infiltrado inflamatório, alterações morfológicas da epiderme basal e alterações de membrana basal, são compatíveis com o processo inflamatório desencadeado pela sobrecarga ruminal propiciada pelo carboidrato. Achados semelhantes já foram descritos em protocolos de indução experimental com oligofrutose 40, endotoxinas 25,29 e casos de ocorrência natural 18,64,65. O infiltrado inflamatório predominantemente monocítico foi descrito em outros trabalhos 36,40,29, deduzindo-se que é um achado comum nos dígitos de bovinos após administração de oligofrutose. Os achados histológicos nos casos de laminite se assemelham entre os diferentes trabalhos, mesmo considerando diferenças de grupos raciais, idade dos animais, protocolo de indução usado e tempo de colheita 5,14,18,25,29,40. No presente trabalho foram empregados animais mestiços (Bos taurus X Bos indicus). Considerando a semelhança das lesões de laminite sob diferentes condições, é possível que em zebuínos não sejam diferentes entretanto, estudos são necessários para confirmar isso. A pouca diferença entre as amostras de membros pélvicos e torácicos em ambos os grupos sugere que, num primeiro momento, as alterações ocorrem uniformemente entre os membros, refletindo o caráter sistêmico da enfermidade. Apesar disso, é conhecida a maior incidência de lesões secundárias à laminite subclínica nos membros pélvicos 15,20,32. É possível que fatores biomecânicos estejam relacionados 15. Esse pode ser considerado um achado importante pois outros estudos com oligofrutose avaliaram apenas membros torácicos 36,40 As alterações histológicas observadas na derme digital, alterações circulatórias e inflamatórias, podem ter relação com alguns fatores desencadeantes da acidose ruminal, incluindo a histamina 22,66, ácido lático 23,24 e lipopolissacarídeos 9,29. Esses componentes, quando depositados de forma mais acentuada são apontados como responsáveis pelas alterações na microcirculação do dígito, como vasodilatação, abertura de anastomoses arteriovenosas, edema e trombose, além de interferir na migração e função das células de defesa como os neutrófilos 9,15,21,22,29,67. As alterações de membrana basal observadas, áreas de irregularidade e

80 64 destacamento da epiderme, possivelmente se deveram a ação de proteases que atuam sobre componentes da membrana basal, como fibras colágenas. Alterações de membrana basal com ativação de metaloproteinases foram observadas em 12 horas após tratamento com oligofrutose em equinos 63,68, sendo um dos prováveis mecanismos para o ocorrência das lesões observadas no presente estudo. As alterações morfológicas observadas nas células basais epidérmicas provavelmente são decorrentes das falhas no aporte de oxigênio e nutrientes, secundários às alterações circulatórias nos dígitos 69. Alterações semelhantes foram observadas em casos espontâneos e experimentais de laminite, além de estudos in vitro 5,18,64. Os resultados aqui obtidos indicam que bovinos mestiços (Bos taurus X Bos indicus) de aproximadamente um ano desenvolvem acidose ruminal e metabólica após sobrecarga intrarrumial de oligofrutose, requerendo tratamento de suporte. A acidose metabólica observada leva a apatia e em alguns animais a marcha mais lenta, o que não significa claudicação. Observou-se também que o protocolo usado, em dose de 17 g/kg, pode desencadear acidose metabólica que persiste por mais tempo que a acidose ruminal. Paralelamente às alterações ruminais e metabólicas foram observadas alterações microscópicas nos dígitos compatíveis com laminite. A não observação de claudicação ou sensibilidade digital no período de avaliação indica que essas lesões correspondem a fase prodrômica da enfermidade. Na prevenção da laminite associada a acidose ruminal em animais mestiços (Bos taurus X Bos indicus), os bovinos devem ser monitorados não apenas com relação à claudicação, mas também com relação aos sinais decorrentes da indigestão como a distensão abdominal, diarreia e a apatia. Os resultados são semelhantes a outros protocolos de indução de acidose ruminal e laminite, mas que estudaram apenas animais taurinos. São necessários mais estudos nas mesmas condições envolvendo animais zebuínos, pois esse tipo de estudo seria especialmente importante nos confinamentos de engorda considerando a grande participação de animais Bos indicus, principalmente o Nelore, nesses rebanhos Conclusão A administração intrarruminal de oligofrutose em bezerros mestiços de um ano como modelo experimental para indução de acidose ruminal e laminite aguda resulta em acidose ruminal e metabólica e lesões histológicas compatíveis com laminite.

81 65 Referências 1. Bicalho RC, Oikonomou G. Control and prevention of lameness associated with claw lesions in dairy cows. Liv Sci. 2013;156: Mulligan F, Doherty M. Production diseases of the transition cow. Vet J. 2008;176: Nagaraja TG, Lechtenberg KF. Acidosis in Feedlot Cattle. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2007;23(2): Nagaraja TG, Titgemeyer EC. Ruminal acidosis in beef cattle: the current microbiological and nutritional outlook. J Dairy Sci. 2007;90(suppl):E Danscher AM, Enemark JM, Telezhenko E, Capion N, Ekstrom CT, Thoefner MB. Oligofructose overload induces lameness in cattle. J Dairy Sci. 2009;92: Ortolani EL, Maruta CA, Minervino AHH. Aspectos clínicos da indução experimental de acidose láctica ruminal em zebuínos e taurinos. Bras J Vet Res Anim Sci. 2010;47: Thoefner MB, Pollitt CC, van Eps AW, Milinovich GJ, Trott DJ, Wattle O, Andersen PH. Acute Bovine Laminitis: A New Induction Model Using Alimentary Oligofructose Overload. J Dairy Sci. 2004;87: Yeruham I, Avidar Y, Bargai U, Adin G, Frank D, Perl S, Bogin E. Laminitis and dermatitis in heifers associated with excessive carbohydrate intake: skin lesions and biochemical findings: case report. J S Afr Vet Assoc. 1999;70: Zebeli Q, Metzler-Zebeli BU. Interplay between rumen digestive disorders and diet-induced inflammation in dairy cattle. Res Vet Sci. 2012;93: Sant'Ana FJF, Lemos RAA, Nogueira APA, Togni M, Tessele B, Barros CSL. Polioencephalomalacia in ruminants. Pesq Vet Bras. 2009;29: Goad DW, Goad CL, Nagaraja TG. Ruminal microbial and fermentative changes associated with experimentally induced subacute acidosis in steers. J Anim Sci. 1998;76: Ortolani E. Induction of lactic acidosis in cattle with sucrose: relationship between dose, rumen fluid ph and animal size. Vet Hum Toxicol. 1995;37: Ortolani EL, Maruta CA, Minervino AHH. Influência da raça sobre a volemia e função renal de bovinos com acidose láctica ruminal aguda, induzida experimentalmente. Braz J Vet Res Anim Sci. 2008;45: Momcilovic D, Herbein JH, Whittier WD, Polan CE. Metabolic Alterations Associated with an Attempt to Induce Laminitis in Dairy Calves. J Dairy Sci. 2000;83: Greenough PR. Bovine Laminitis and Lameness. Philadelphia: Saunders Elsevier; p. 16. Cook NB, Nordlund KV, Oetzel GR. Environmental Influences on Claw Horn Lesions Associated with Laminitis and Subacute Ruminal Acidosis in Dairy Cows. J Dairy Sci. 2004;87:E36-E Knott L, Tarlton JF, Craft H, Webster AJF. Effects of housing, parturition and diet change on the biochemistry and biomechanics of the support structures of the hoof of dairy heifers. Vet J. 2007;174: Mendes HM, Casagrande FP, Lima IR, Souza CH, Gontijo LD, Alves GE,Vasconcelos AC, Faleiros RR. Histopathology of dairy cows' hooves with signs of naturally acquired laminitis. Pesq Vet Bras. 2013;33: Rodrigues M, Deschk M, Santos GG, Perri SH, Merenda VR, Hussni CA, Alves ALG, Rodrigues CA. Avaliação das características do líquido ruminal, hemogasometria, atividade pedométrica e diagnóstico de laminite subclínica em vacas leiteiras. Pesq Vet Bras. 2013;33(Suppl. 1):

82 Souza R, Ferreira P, Molina L, Carvalho A, Facury Filho E. Perdas econômicas ocasionadas pelas enfermidades podais em vacas leiteiras confinadas em sistema free stall. Arq Bras Med Vet Zootec. 2006;58: Mahendran S, Bell N. Lameness in cattle 2. Managing claw health through appropriate trimming techniques. In Practice. 2015;37: Nocek JE. Bovine acidosis: implications on laminitis. J Dairy Sci. 1997;80: Alarcón P, Conejeros I, Carretta MD, Concha C, Jara E, Tadich N, Hidalgo MA, Burgos RA. d-lactic acid interferes with the effects of platelet activating factor on bovine neutrophils. Vet immunol immunopathol. 2011;144: Concha C, Carretta MD, Alarcon P, Conejeros I, Gallardo D, Hidalgo AI, Tadich N, Cáceres DD, Hidálgo MA, Burgos RA. Oxidative response of neutrophils to platelet-activating factor is altered during acute ruminal acidosis induced by oligofructose in heifers. J Vet Sci. 2014;15: Singh SS, Murray RD, Ward WR. Gross and histopathological study of endotoxin-induced hoof lesions in cattle. J Comp Pathol. 1994;110: Martins Filho L, Fagliari J, Moraes J, Sampaio R, Oliveira J, Neto JL. Estudo clínico e laboratorial da fase prodrômica da laminite eqüina induzida por sobrecarga de carboidrato. Ars Veterinaria. 2008;23: Budak MT, Orsini JA, Pollitt CC, Rubinstein NA. Gene expression in the lamellar dermisepidermis during the developmental phase of carbohydrate overload-induced laminitis in the horse. Vet Immunol Immunopathol. 2009;131: O Grady S. Managing acute laminitis. In: Sprayberry KA, Robinson NE. Current Therapy in Equine Medicine. 7th ed. St. Louis: Saunders Elsevier; p Boosman R, Mutsaers C, Klarenbeek A. The role of endotoxin in the pathogenesis of acute bovine laminitis. Vet Q. 1991;13: Van Eps AW, Pollitt CC. Equine laminitis: cryotherapy reduces the severity of the acute lesion. Equine Vet J. 2004;36: Van Eps AW. Acute laminitis: medical and supportive therapy. Vet Clin North Am Eq Pract. 2010;26: Ferreira P, Leite R, Carvalho A, Facury Filho EJ, Souza R, Ferreira M. Custo e resultados do tratamento de seqüelas de laminite bovina: relato de 112 casos em vacas em lactação no sistema free-stall. Arq Bras Med Vet Zootec. 2004;56: Mulling C, Frohberg-Wand D, Budras KD, editors. Matrix overloaded alterations of claw connective tissue and their functional implications. 13º International Symposium and 5º Conference on Lameness in Ruminants; 2004; Maribor, Eslovênia. [acesso 28 ago 2011]. Disponível em: Nordlund KV, Cook NB, Oetzel GR. Investigation strategies for laminitis problem herds. J Dairy Sci. 2004;87:E27-E Danscher AM, Thoefner MB, Heegaard PMH, Ekstrøm CT, Jacobsen S. Acute phase protein response during acute ruminal acidosis in cattle. Liv Sci. 2011;135: Danscher AM, Toelboell TH, Wattle O. Biomechanics and histology of bovine claw suspensory tissue in early acute laminitis. J Dairy Sci. 2010; 93: Tølbøll TH, Danscher AM, Andersen PH, Codrea MC, Bendixen E. Proteomics: a new tool in bovine claw disease research. Vet J. 2012;193: Van Eps A, Pollitt C. Equine laminitis induced with oligofructose. Eq Vet J. 2006;38: Niness KR. Inulin and oligofructose: what are they? J Nutr. 1999;129: Thoefner MB, Wattle O, Pollitt CC, French KR, Nielsen SS. Histopathology of Oligofructose-Induced Acute Laminitis in Heifers. J Dairy Sci. 2005;88:

83 Oliveira C, Millen D. Survey of the nutritional recommendations and management practices adopted by feedlot cattle nutritionists in Brazil. Anim Feed Sci Tech. 2014;197: Grázia J, Silveira R, Pereira E, Santos G. Desempenho de doadoras leiteiras mestiças F1 (Gir x Holandês) no sistema de produção in vitro de embriões. Arq Bras Med Vet Zootec. 2016;68: Nanzer TADT. Produção de leite no Brasil e participação genética do Girolando com ênfase em reprodução. Uberaba: Associação Brasileira dos Criadores de Gado Girolando, [acesso 20 jan 2017]. Disponível em: Mendonça AC, da Silva LAF, Fioravanti MCS, de Moraes JOR, Almeida CF, de Sousa Oliveira K, Oliveira MP, Silva LM. Aspectos morfológicos dos dígitos de bovinos das raças Gir e Holandesa. Cienc Anim Bras. 2003;4: Rabelo RE, Vulcani V, Sant'Ana F, Silva L, Assis B, Araújo G. Microstructure of Holstein and Gir breed adult bovine hooves: histomorphometry, three-dimensional microtomography and microhardness test evaluation. Arq Bras Med Vet Zoot. 2015;67: Dirksen G, Gründer H, Stöber M. Exame clínico dos bovinos. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; p. 47. Spreecher D, Hostetler DE, Kaneene J. A lameness scoring system that uses posture and gait to predict dairy cattle reproductive performance. Theriogenology. 1997;47: Mendes HMF. Desenvolvimento e teste de viabilidade de instrumento cirúrgico específico para realização de biópsias de casco em bovinos. [Tese]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária; Sampaio I. Estatística Aplicada à Experimentação Animal. 3 ed. Belo Horizonte: FEP- MVZ; Radostits OM, Gay CC, Hinchcliff KW, Constable P. Veterinary Medicine: a textbook of the diseases of cattle, horses, sheep, pigs and goat. 10th ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; p. 51. Nagaraja TG, Lechtenberg KF. Acidosis in Feedlot Cattle. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2007;23(2): Constable PD. Acid-Base Assessment: When and How To Apply the Henderson- Hasselbalch Equation and Strong Ion Difference Theory. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2014;30: Ewaschuk JB, Naylor JM, Zello GA. d-lactate in Human and Ruminant Metabolism. J Nutr. 2005;135: Lorenz I, Gentile A. d-lactic Acidosis in Neonatal Ruminants. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2014;30: Ling B, Peng F, Alcorn J, Lohmann K, Bandy B, Zello GA. D-Lactate altered mitochondrial energy production in rat brain and heart but not liver. Nutr Met. 2012;9(1): Adeva-Andany M, López-Ojén M, Funcasta-Calderón R, Ameneiros-Rodríguez E, Donapetry-García C, Vila-Altesor M, et al. Comprehensive review on lactate metabolism in human health. Mitochondrion. 2014;17: Golder HM, Celi P, Rabiee AR, Heuer C, Bramley E, Miller DW, et al. Effects of grain, fructose, and histidine on ruminal ph and fermentation products during an induced subacute acidosis protocol. J Dairy Sci. 2012;95(4): Leek BF. Digestion in the Ruminant Stomach. In: Reece WO. Duke s Physiology of Domestic Animals. 12th ed. Ithaca: Cornell University Press; p Golder HM, Celi P, Rabiee AR, Heuer C, Bramley E, Miller DW, et al. Effects of grain, fructose, and histidine on ruminal ph and fermentation products during an induced subacute acidosis protocol. J Dairy Sci. 2012;95(4):

84 60. Houpt TR. Acid-Base Balance. In: Reece WO. Duke s Physiology of Domestic Animals. 12 ed. Ithaca: Cornell University Press; p Huber T. Physiological effects of acidosis on feedlot cattle. J Anim Sci. 1976;43: Roussel AJ. Fluid therapy in mature cattle. Vet Clin North Am Food Anim Pract. 2014;30: Visser M, Pollitt C. The timeline of lamellar basement membrane changes during equine laminitis development. Equine Vet J. 2011;43: Boosman R, Németh F, Gruys E. Bovine laminitis: Clinical aspects, pathology and pathogenesis with reference to acute equine laminitis. Vet Q. 1991;13: Ossent P, Lischer C. Bovine lamninitis: the lesions and their pathogenesis. In Practice. 1998;20: Garner MR, Flint JF, Russell JB. Allisonella histaminiformans gen. nov., sp. nov. A novel bacterium that produces histamine, utilizes histidine as its sole energy source, and could play a role in bovine and equine laminitis. Syst Appl Microbiol. 2002;25: Mulling C. Functional anatomy of the bovine foot failure of key structures in pathogenesis of claw disease. Cattle Lameness Conference; 2012; Worcester, Inglaterra. [acesso 25 set 2015]. Disponível em: Visser MB, Pollitt CC. The timeline of metalloprotease events during oligofructose induced equine laminitis development. Equine Vet J. 2012;44: Lübbe K. [Development and experimental application of an in vitro ischemia model for investigating the cellular pathomechanism of laminitis in cattle]. [Tese]. Leipzig: University of Leipzig; Alemão. 68

85 69 CAPÍTULO 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelos resultados obtidos, o protocolo de indução de laminite foi considerado eficaz em bezerros mestiços. Em muitos estudos observou-se pouca clareza na definição de haver ou não ocorrido a enfermidade. Tem-se a impressão de que se não houve claudicação não se pode afirmar que houve laminite. Entretanto, muitos dos mesmos trabalhos observaram outras alterações provavelmente relacionadas a alteração no casco. Deve-se considerar que, diferente da espécie equina, nos bovinos, a laminite nem sempre se apresenta da mesma forma, com quadro dramático de claudicação pouco tempo depois do evento desencadeante. É possível que muitos protocolos ao tentarem induzir laminite clínica, conseguiram na verdade induzir outra forma da enfermidade, a laminite subclínica, que também pode ser descrita. Isso não diminui a importância dos trabalhos, considerando que o quadro subclínico, caracterizado por suas lesões secundárias, é um sério problema nos bovinos, especialmente os leiteiros. Alterações não necessariamente relacionadas a claudicação também devem ser consideradas no momento de dizer se ocorreu ou não a laminite, principalmente as alterações histológicas que parecem ser consistentes entre os trabalhos. O momento e forma da manifestação clínica da laminite induzida experimentalmente, claudicação grave ou alterações de estojo córneo, talvez dependa de mais fatores que ainda não foram devidamente considerados na pesquisa como, por exemplo, um maior tempo de avaliação. Sob essa perspectiva, muitos estudos considerados malsucedidos, total ou parcialmente, talvez não tiveram seus resultados devidamente apreciados. Provavelmente resultado da expectativa de reproduzir um quadro clínico semelhante, e com a mesma facilidade, ao que se consegue na espécie equina, na qual existem diversos protocolos validados. Outro aspecto importante abordado no presente trabalho foi o grupo racial estudado. O gado zebuíno, puro ou seus mestiços, responde pela maior parte do rebanho nacional. Historicamente sua grande vantagem não era a alta produtividade, comparada a das raças taurinas, e sim a resistências ao clima e a algumas doenças do ambiente tropical. Nos dias de hoje, o zebuíno é criado cada vez mais em sistemas de alta produção, especialmente no gado de corte com o regime de engorda nos confinamentos. Da mesma forma vem crescendo o uso do cruzamento industrial na pecuária de corte. Na pecuária leiteira o cruzamento entre o zebuíno e o taurino já é consagrado. Apesar de literatura abundante sobre enfermidades de produção em bovinos, relativamente pouco material existe sobre os zebuínos e seus cruzados. Provavelmente as respostas não mudem muito, mas são necessários os experimentos para comprovar isso. Esse quadro naturalmente se aplica também as doenças podais, principalmente a laminite.

86 70 Sobre a indução de acidose ruminal aguda e laminite em bovinos, um dos aspectos desse trabalho que pode ser destacado é a obtenção de material dos dígitos. Poucos estudos realizaram biópsia de casco, sendo a grande maioria das amostras obtidas de animais abatidos ou submetidos a eutanásia. A biópsia de casco abre algumas possibilidades de estudo para as doenças digitais. A primeira, e mais evidente, é a possibilidade de obtenção de amostras sem a morte do animal, o que é um aspecto ético importante. Pode-se destacar também a possibilidade de realização de colheitas seriadas, permitindo-se avaliar a evolução das lesões nos mesmos animais ao longo do tempo. Esta abordagem poderia ser empregada em vacas leiteiras para avaliar diferentes momentos do ciclo de lactação, ou mesmo lactações subsequentes, e no gado de corte permitiria, por exemplo, avaliar os animais na entrada e ao longo do período de confinamento até o abate. Organizar as informações sobre as diferentes lesões em uma linha do tempo permitiria a adoção de diferentes abordagens clínicas dependendo do momento. Para a espécie equina esse conhecimento já existe. Sabe-se, por exemplo, que na fase aguda o tratamento medicamentoso é essencial, enquanto numa fase mais crônica os casqueamento e ferrageamento terapêuticos tem um peso maior na recuperação do animal. Entender a evolução da laminite, desde o fator desencadeante até o surgimento dos sinais clínicos, é algo que ainda falta nos estudos sobre laminite bovina. Normalmente as doenças de casco em bovinos são consideradas apenas a partir do momento em que o animal apresenta claudicação. Mesmo existindo escores de claudicação que permitem a identificação de alterações sutis, a claudicação mais acentuada ainda costuma ser o ponto de partida para o tratamento dos animais. Naturalmente nessa fase os resultados nem sempre são os esperados, o que resulta em muitos animais sendo descartados dos rebanhos. No presente trabalho, a fase de desenvolvimento da laminte foi caracterizada pelos sinais da acidose ruminal e pelas alterações microscópicas nos dígitos. Essas alterações foram principalmente indicativas de processo inflamatório. Poderia se pensar no uso de medicamentos anti-inflamatórios nos animais como forma de se minimizar, ou mesmo evitar, os sinais clínicos como claudicação ou maior sensibilidade do dígito. Nas propriedades observa-se o uso indiscriminado de antimicrobianos, enquanto que anti-inflamatórios e analgésicos não são adotados com a mesma avidez. O uso orientado desses medicamentos poderia melhorar a condição dos animais portadores de laminite, ou alguma de suas sequelas. Para se fazer esse tipo de recomendação, entretanto, são necessários mais estudos, principalmente considerando a diversidade de animais e sistemas de produção nos quais os bovinos são criados no Brasil.

87 ANEXO I 71

Processo Inflamatório e Lesão Celular. Professor: Vinicius Coca

Processo Inflamatório e Lesão Celular. Professor: Vinicius Coca Processo Inflamatório e Lesão Celular Professor: Vinicius Coca www.facebook.com/profviniciuscoca www.viniciuscoca.com O que é inflamação? INFLAMAÇÃO - Inflamare (latim) ação de acender, chama FLOGOSE phlogos

Leia mais

Comparação do ganho de peso de bezerras alimentadas com leite de descarte e de leite normal durante a fase de aleitamento

Comparação do ganho de peso de bezerras alimentadas com leite de descarte e de leite normal durante a fase de aleitamento Comparação do ganho de peso de bezerras alimentadas com leite de descarte e de leite normal durante a fase de aleitamento Vinicius Emanoel Carvalho 1, Thiago Paim Silva 1, Marco Antônio Faria Silva 2,

Leia mais

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 1 Ventilação e metabolismo energético Equivalente ventilatório de oxigênio: Relação entre volume de ar ventilado (VaV) e a quantidade de oxigênio consumida pelos tecidos (VO2) indica

Leia mais

Influência da qualidade do leite no desempenho de bezerras durante a fase de aleitamento

Influência da qualidade do leite no desempenho de bezerras durante a fase de aleitamento Influência da qualidade do leite no desempenho de bezerras durante a fase de aleitamento Vinícius Emanoel Carvalho 1, Thiago Paim Silva 1, Marco Antônio Faria Silva 2, Renison Teles Vargas 3, Cássia Maria

Leia mais

Aspectos Moleculares da Inflamação:

Aspectos Moleculares da Inflamação: Patologia Molecular Lucas Brandão Aspectos Moleculares da Inflamação: os mediadores químicos inflamatórios Inflamação São uma série de eventos programados que permitem com que Leucócitos e outras proteínas

Leia mais

Biomassa de Banana Verde Polpa - BBVP

Biomassa de Banana Verde Polpa - BBVP Biomassa de Banana Verde Polpa - BBVP INFORMAÇÕES NUTRICIONAIS Porção de 100g (1/2 copo) Quantidade por porção g %VD(*) Valor Energético (kcal) 91 4,55 Carboidratos 21,4 7,13 Proteínas 2,1 2,80 Gorduras

Leia mais

O papel da suplementação na Pecuária Leiteira

O papel da suplementação na Pecuária Leiteira O papel da suplementação na Pecuária Leiteira Nutrição e Suplementação... São a mesma coisa? Nutrição / Desnutrição Nutrição / Desnutrição Nutrição / Desnutrição Nutrição É o processo biológico pelo qual

Leia mais

DISFUNÇÕES HEMODINÂMICAS

DISFUNÇÕES HEMODINÂMICAS Cursos de Graduação em Farmácia e Enfermagem DISFUNÇÕES HEMODINÂMICAS PARTE 2 Disciplina: Patologia Geral http://lucinei.wikispaces.com Prof.Dr. Lucinei Roberto de Oliveira 2012 DISFUNÇÕES HEMODINÂMICAS

Leia mais

Anatomia(e(Fisiologia(para(a(Massagem(

Anatomia(e(Fisiologia(para(a(Massagem( Anatomia(e(Fisiologia(para(a(Massagem( A(PELE( A pele é o maior órgão do nosso corpo, correspondendo a 16% do peso corporal, extensãoaproximadade2m²emumadulto,e5mmdeespessuramédia. É constituída por duas

Leia mais

Vantagens e Benefícios: Vantagens e Benefícios:

Vantagens e Benefícios: Vantagens e Benefícios: Proteinados Independente da época do ano, a suplementação proteica tem se mostrado uma excelente ferramenta para aumentar o ganho de peso dos animais. O fornecimento do Proteinado agpastto melhora o padrão

Leia mais

Fisiologia: Digestão, Respiração e Circulação

Fisiologia: Digestão, Respiração e Circulação Fisiologia: Digestão, Respiração e Circulação Fisiologia: Digestão, Respiração e Circulação 1. Um laboratório analisou algumas reações ocorridas durante o processo de digestão do amido em seres humanos.

Leia mais

Alterações do equilíbrio hídrico Alterações do equilíbrio hídrico Desidratação Regulação do volume hídrico

Alterações do equilíbrio hídrico Alterações do equilíbrio hídrico Desidratação Regulação do volume hídrico Regulação do volume hídrico Alteração do equilíbrio hídrico em que a perda de líquidos do organismo é maior que o líquido ingerido Diminuição do volume sanguíneo Alterações do equilíbrio Hídrico 1. Consumo

Leia mais

Tecido conjuntivo e tecido osseo

Tecido conjuntivo e tecido osseo Tecido conjuntivo e tecido osseo Tipos de tecido conjuntivo Tecidos responsáveis por unir, ligar, nutrir, proteger e sustentar os outros tecidos Tecidos Conjuntivos Propriamente Ditos Frouxo Denso Modelado

Leia mais

Ano VI Número 10 Janeiro de 2008 Periódicos Semestral LAMINITE BOVINA

Ano VI Número 10 Janeiro de 2008 Periódicos Semestral LAMINITE BOVINA LAMINITE BOVINA MARTINS, Irana Silva FERREIRA, Manoela Maria Gomes ROSA, Bruna Regina Teixeira BENEDETTE, Marcelo Francischinelli Acadêmicos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da FAMED -

Leia mais

INFLAMAÇÃO. Prof a Adriana Azevedo Prof. Archangelo P. Fernandes Processos Patológicos Gerais

INFLAMAÇÃO. Prof a Adriana Azevedo Prof. Archangelo P. Fernandes Processos Patológicos Gerais INFLAMAÇÃO Prof a Adriana Azevedo Prof. Archangelo P. Fernandes Processos Patológicos Gerais Para quê serve? A INFLAMAÇÃO é uma resposta do tecido à lesão, ela procura conter e isolar a lesão e preparar

Leia mais

SISTEMA RESPIRATÓRIO PROF. JAIR

SISTEMA RESPIRATÓRIO PROF. JAIR SISTEMA RESPIRATÓRIO PROF. JAIR Fisiologia do Sistema Respiratório A respiração pode ser interpretada como um processo de trocas gasosas entre o organismo e o meio, ou como um conjunto de reações químicas

Leia mais

Urgência e Emergência

Urgência e Emergência Urgência e Emergência CHOQUE Choque Um estado de extrema gravidade que coloca em risco a vida do paciente. Dica: Em TODOS os tipos de choques ocorre a queda da pressão arterial e, consequentemente, um

Leia mais

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA GLICÓLISE Dra. Flávia Cristina Goulart CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus de Marília flaviagoulart@marilia.unesp.br Glicose e glicólise Via Ebden-Meyerhof ou Glicólise A glicólise,

Leia mais

Tecido conjuntivo de preenchimento. Pele

Tecido conjuntivo de preenchimento. Pele Tecido conjuntivo de preenchimento Pele derme epiderme Pele papila dérmica crista epidérmica corte histológico da pele observado em microscopia de luz Camadas da Epiderme proliferação e diferenciação dos

Leia mais

O que é Hérnia de Disco. Vértebras e Discos Intervertebrais

O que é Hérnia de Disco. Vértebras e Discos Intervertebrais Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira O que é Hérnia de Disco Vértebras e Discos Intervertebrais 1 - VÉRTEBRAS As vértebras são constituídas

Leia mais

Avaliação dos efeitos da anestesia peridural torácica sobre as. alterações miocárdicas associadas à morte encefálica: estudo experimental.

Avaliação dos efeitos da anestesia peridural torácica sobre as. alterações miocárdicas associadas à morte encefálica: estudo experimental. Avaliação dos efeitos da anestesia peridural torácica sobre as alterações miocárdicas associadas à morte encefálica: estudo experimental. ISAAC AZEVEDO SILVA Orientador: Prof. Dr. Luiz Felipe Pinho Moreira

Leia mais

Aterosclerose. Aterosclerose

Aterosclerose. Aterosclerose ATEROSCLEROSE TROMBOSE EMBOLIA Disciplinas ERM 0207/0212 Patologia Aplicada à Enfermagem Profa. Dra. Milena Flória-Santos Aterosclerose Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública Escola

Leia mais

Profº André Montillo

Profº André Montillo Profº André Montillo www.montillo.com.br Sistema Imunológico Simples: Não Antecipatório / Inespecífico Sistema Imune Antígeno Específico: Antecipatório Sistema Imunológico Simples: Não Antecipatório /

Leia mais

SISTEMA CARDIOVASCULAR. Elab.: Prof. Gilmar

SISTEMA CARDIOVASCULAR. Elab.: Prof. Gilmar 1 SISTEMA CARDIOVASCULAR 2 Funções Gerais: Transporte de gases respiratórios:o sangue carrega oxigênio dos pulmões para as células do corpo e dióxido de carbono das células para aos pulmões. Transporte

Leia mais

Inflamação aguda e crônica. Profa Alessandra Barone

Inflamação aguda e crônica. Profa Alessandra Barone e crônica Profa Alessandra Barone Inflamação Inflamação Resposta do sistema imune frente a infecções e lesões teciduais através do recrutamento de leucócitos e proteínas plasmáticas com o objetivo de neutralização,

Leia mais

Água A superfície da Terra é constituída de três quartos de água, cerca de 70%, a maior parte está concentrada nos oceanos e mares, cerca de 97,5%, o

Água A superfície da Terra é constituída de três quartos de água, cerca de 70%, a maior parte está concentrada nos oceanos e mares, cerca de 97,5%, o A química da Vida Água A superfície da Terra é constituída de três quartos de água, cerca de 70%, a maior parte está concentrada nos oceanos e mares, cerca de 97,5%, o restante 2,5% está concentrado em

Leia mais

Fisiologia celular I. Fisiologia Prof. Msc Brunno Macedo

Fisiologia celular I. Fisiologia Prof. Msc Brunno Macedo celular I celular I Objetivo Conhecer os aspectos relacionados a manutenção da homeostasia e sinalização celular Conteúdo Ambiente interno da célula Os meios de comunicação e sinalização As bases moleculares

Leia mais

Histologia. Leonardo Rodrigues EEEFM GRAÇA ARANHA

Histologia. Leonardo Rodrigues EEEFM GRAÇA ARANHA Histologia. Leonardo Rodrigues EEEFM GRAÇA ARANHA Histologia Ramo da Biologia que estuda os tecidos; Tecido - é um conjunto de células, separadas ou não por substâncias intercelulares e que realizam determinada

Leia mais

21/07/14. Processos metabólicos. Conceitos Básicos. Respiração. Catabolismo de proteínas e ácidos nucleicos. Catabolismo de glicídios

21/07/14. Processos metabólicos. Conceitos Básicos. Respiração. Catabolismo de proteínas e ácidos nucleicos. Catabolismo de glicídios Prof. Dr. Adriano Bonfim Carregaro Medicina Veterinária FZEA USP www.anestesia.vet.br Processos metabólicos Respiração Catabolismo de proteínas e ácidos nucleicos Ácidos acético, sulfúrico, fosfórico e

Leia mais

Aula 5: Sistema circulatório

Aula 5: Sistema circulatório Aula 5: Sistema circulatório Sistema circulatório Sistema responsável pela circulação de sangue através de todo o organismo; Transporta oxigênio e todos os nutrientes necessários para a manutenção das

Leia mais

Reparação. Regeneração Tecidual 30/06/2010. Controlada por fatores bioquímicos Liberada em resposta a lesão celular, necrose ou trauma mecânico

Reparação. Regeneração Tecidual 30/06/2010. Controlada por fatores bioquímicos Liberada em resposta a lesão celular, necrose ou trauma mecânico UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ COORDENAÇÃO DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DISCIPLINA DE PATOLOGIA VETERINÁRIA Reparação Prof. Raimundo Tostes Reparação Regeneração: reposição de um grupo de células destruídas

Leia mais

INTRODUÇÃO À PATOLOGIA GERAL

INTRODUÇÃO À PATOLOGIA GERAL Cursos de Graduação em Farmácia e Enfermagem 3 o Período Disciplina: Patologia Geral INTRODUÇÃO À PATOLOGIA GERAL Prof.Dr. Lucinei Roberto de Oliveira http://lucinei.wikispaces.com 2014 DISCIPLINA DE

Leia mais

Criação de Novilhas Leiteiras

Criação de Novilhas Leiteiras Criação de Novilhas Leiteiras Introdução Tópicos Objetivos da criação de novilhas Estimativa do número de novilhas no rebanho Manejo da Novilha Considerações Econômicas (Criar ou Terceirizar?) Salvador,

Leia mais

PULPOPATIAS 30/08/2011

PULPOPATIAS 30/08/2011 Funções da polpa PULPOPATIAS Produtora Nutrição Sensorial Protetora Biologicamente, é a dentina que forma a maior parte do dente e mantém íntima relação com a polpa dental, da qual depende para sua formação

Leia mais

AULA-7 PROCESSO DE HEMOSTASIA

AULA-7 PROCESSO DE HEMOSTASIA AULA-7 PROCESSO DE HEMOSTASIA Profª Tatiani UNISALESIANO PROCESSO DE HEMOSTASIA- COAGULAÇÃO DO SANGUE Toda vez que ocorre ferimento e extravasamento de sangue dos vasos, imediatamente são desencadeados

Leia mais

PROCESSO SELETIVO 2017/1 Mestrado Nutrição e Produção Animal Campus Rio Pomba ORIENTAÇÕES SOBRE A PROVA. Leia, com atenção, antes de começar!

PROCESSO SELETIVO 2017/1 Mestrado Nutrição e Produção Animal Campus Rio Pomba ORIENTAÇÕES SOBRE A PROVA. Leia, com atenção, antes de começar! ORIENTAÇÕES SOBRE A PROVA Leia, com atenção, antes de começar! 1. Este Caderno de Prova contém 10 (dez) questões: 5 (cinco) questões: Linha de Pesquisa 1. Nutrição e Produção de Bovinos; 5 (cinco) questões:

Leia mais

TECIDO CONJUNTIVO São responsáveis pelo estabelecimento e

TECIDO CONJUNTIVO São responsáveis pelo estabelecimento e Prof. Bruno Pires TECIDO CONJUNTIVO São responsáveis pelo estabelecimento e do corpo. Isso ocorre pela presença de um conjunto de moléculas que conectam esse tecido aos outros, por meio da sua. Estruturalmente

Leia mais

Maria da Conceição Muniz Ribeiro. Mestre em Enfermagem (UERJ)

Maria da Conceição Muniz Ribeiro. Mestre em Enfermagem (UERJ) Maria da Conceição Muniz Ribeiro Mestre em Enfermagem (UERJ) A principal meta da intervenção perioperatória é a prevenção de infecções na incisão. As ações tomadas pela equipe no perioperatório podem representar

Leia mais

Avaliação da produção de leite e da porcentagem de gordura em um rebanho Gir leiteiro

Avaliação da produção de leite e da porcentagem de gordura em um rebanho Gir leiteiro Avaliação da produção de leite e da porcentagem de gordura em um rebanho Gir leiteiro Gabriel Borges Pacheco¹; Laís Cristine Costa¹; Gian Carlos Nascimento¹; Camila Alves Romualdo¹; Marco Antônio Faria¹;

Leia mais

SISTEMA TAMPÃO NOS ORGANISMOS ANIMAIS

SISTEMA TAMPÃO NOS ORGANISMOS ANIMAIS SISTEMA TAMPÃO NOS ORGANISMOS ANIMAIS Regulação do Equilíbrio Ácido-Básico ph = Potencial Hidrogeniônico Concentração de H + Quanto mais ácida uma solução maior sua concentração de H + e menor o seu ph

Leia mais

Suplementação de gordura para vacas leiteiras em pasto

Suplementação de gordura para vacas leiteiras em pasto Suplementação de gordura para vacas leiteiras em pasto A produção de leite no Brasil está baseada principalmente em sistemas que exploram pastagens tropicais ao longo da maior parte do ano. Quando essas

Leia mais

NUTRIÇÃO DE CÃES E GATOS

NUTRIÇÃO DE CÃES E GATOS NUTRIÇÃO DE CÃES E GATOS IMPORTÂNCIA Conhecer fundamentos básicos de nutrição avaliar dietas e alimentos Interações entre nutrientes e o animal Exigências Cães e gatos Quantidade diária de nutrientes Manejo

Leia mais

TERMORREGULAÇÃO TESTICULAR EM BOVINOS

TERMORREGULAÇÃO TESTICULAR EM BOVINOS Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Medicina Veterinária TERMORREGULAÇÃO TESTICULAR EM BOVINOS Mara Regina Bueno de M. Nascimento Mara Regina Bueno de M. Nascimento Profa. Adjunto III Jul./

Leia mais

Níveis de Organização do Corpo Humano

Níveis de Organização do Corpo Humano Níveis de Organização do Corpo Humano Ao estudar o corpo humano, podemos analisá-lo por meio de diferentes níveis de organização. Podemos estudá-lo analisando os sistemas do corpo ou então seus tecidos

Leia mais

Comprimento de cocho para novilhas leiteiras

Comprimento de cocho para novilhas leiteiras Comprimento de cocho para novilhas leiteiras Por Carla Maris Bittar 1 e Vanessa Pillon dos Santos 2 A manutenção do adequado desempenho de lotes de novilhas, assim como o desempenho individual de cada

Leia mais

Tecido Epitelial de Revestimento

Tecido Epitelial de Revestimento Tecido Epitelial de Revestimento Prof. a Dr a. Sara Tatiana Moreira UTFPR Campus Santa Helena 1 Tecido Epitelial Revestimento Secreção/ Glandular 2 1 Revestimento das superfícies corporais externas 3 Revestimento

Leia mais

Introdução. Profa. Dra. Enny Fernandes Silva

Introdução. Profa. Dra. Enny Fernandes Silva Introdução Profa. Dra. Enny Fernandes Silva Andreas Vesalius (1514-1564). Nascido em Bruxelas. pai da Anatomia. De Humani Corporis Fabbrica Libri Septem. (Basiléia, 1543). (Os sete livros sobre os tecidos

Leia mais

UREIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

UREIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES UREIA NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES Períodos de estiagem : supre deficiência de PTN (> desempenho) ou não há deficiência de PTN : economia de farelos protéicos (custo elevado). N uréia substitui N dieta;

Leia mais

PROGRAMA DE DISCIPLINA

PROGRAMA DE DISCIPLINA Faculdade Anísio Teixeira de Feira de Santana Autorizada pela Portaria Ministerial nº 552 de 22 de março de 2001 e publicada no Diário Oficial da União de 26 de março de 2001. Endereço: Rua Juracy Magalhães,

Leia mais

Interpretação de Exames Laboratoriais para Doença Renal

Interpretação de Exames Laboratoriais para Doença Renal Interpretação de Exames Laboratoriais Aplicados à Nutrição Clínica Interpretação de Exames Laboratoriais para Doença Renal Prof. Marina Prigol Investigação da função renal Funções do rim: Regulação do

Leia mais

UERJ 2016 e Hormônios Vegetais

UERJ 2016 e Hormônios Vegetais UERJ 2016 e Hormônios Vegetais Material de Apoio para Monitoria 1. O ciclo de Krebs, que ocorre no interior das mitocôndrias, é um conjunto de reações químicas aeróbias fundamental no processo de produção

Leia mais

Fundamentos de Saúde SISTEMAS DO CORPO HUMANO

Fundamentos de Saúde SISTEMAS DO CORPO HUMANO Fundamentos de Saúde 1º bimestre/2012 SISTEMAS DO CORPO HUMANO Escola Técnica - MÚLTIPLA Estrutura do tegumento (pele). O tegumento humano, mais conhecido como pele, é formado por duas camadas distintas,

Leia mais

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho Atualmente, pode-se dizer que um dos aspectos mais importantes no manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho refere-se à época de aplicação e

Leia mais

BIOLOGIA - 1 o ANO MÓDULO 50 TECIDO SANGUÍNEO

BIOLOGIA - 1 o ANO MÓDULO 50 TECIDO SANGUÍNEO BIOLOGIA - 1 o ANO MÓDULO 50 TECIDO SANGUÍNEO Adenoide Tonsila Nódulos linfáticos Timo Células dos tecidos Capilar sanguíneo Baço Nódulos de Peyer Apêndice Capilar linfático Fluído intertical intercelular

Leia mais

TIREÓIDE E HORMÔNIOS TIREOIDEANOS (T3 e T4)

TIREÓIDE E HORMÔNIOS TIREOIDEANOS (T3 e T4) Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira TIREÓIDE E HORMÔNIOS TIREOIDEANOS (T3 e T4) A tireóide localiza-se na região do pescoço, anteriormente

Leia mais

Como o organismo perde água? No corpo humano, 71% do nosso peso é água. Contém 85% de água no nosso sangue, 80% no cérebro, 70% na pele e 30% nos

Como o organismo perde água? No corpo humano, 71% do nosso peso é água. Contém 85% de água no nosso sangue, 80% no cérebro, 70% na pele e 30% nos Bioquímica Celular Água A importância da água na vida do planeta é de tamanha proporção, posto que é um elemento essencial para a sobrevivência de animais e vegetais na Terra. Estamos tão habituados à

Leia mais

ABORDAGEM CIRÚRGICA DO SISTEMA DIGESTIVO EM RUMINANTES

ABORDAGEM CIRÚRGICA DO SISTEMA DIGESTIVO EM RUMINANTES ABORDAGEM CIRÚRGICA DO SISTEMA DIGESTIVO EM RUMINANTES Prof. Valentim A. Gheller Escola de Veterinária da UFMG INTRODUÇÃO Abordar todas as afecções passíveis de resolução cirúrgica no sistema digestivo

Leia mais

Tecido Epitelial de Revestimento

Tecido Epitelial de Revestimento Tecido Epitelial de Revestimento Epitelial Revestimento Glandular Prof. a Dr. a Sara Tatiana Moreira Histologia e Anatomia Humana CB52D COBIO - UTFPR Campus Santa Helena 1 2 Tecido epitelial de revestimento

Leia mais

Q U E S T Ã O 4 6. É INCORRETO afirmar:

Q U E S T Ã O 4 6. É INCORRETO afirmar: 27 Q U E S T Ã O 4 6 Uma encruzilhada metabólica celular interessante, que leva à liberação de energia química para diversos metabolismos celulares, está representada abaixo. Aminoácidos Monossacarídeos

Leia mais

Objetivo: Estudar os mecanismos fisiológicos responsáveis pelas trocas gasosas e pelo controle do transporte de gases Roteiro:

Objetivo: Estudar os mecanismos fisiológicos responsáveis pelas trocas gasosas e pelo controle do transporte de gases Roteiro: TROCAS GASOSAS E CONTROLE DO TRANSPORTE DE GASES Objetivo: Estudar os mecanismos fisiológicos responsáveis pelas trocas gasosas e pelo controle do transporte de gases Roteiro: 1. Trocas gasosas 1.1. Locais

Leia mais

Funções: Constituição: Distribuição nutrientes e oxigénio; Eliminação dióxido de carbono; Transporte hormonas; Manutenção temperatura corporal e ph;

Funções: Constituição: Distribuição nutrientes e oxigénio; Eliminação dióxido de carbono; Transporte hormonas; Manutenção temperatura corporal e ph; Funções: Distribuição nutrientes e oxigénio; Eliminação dióxido de carbono; Transporte hormonas; Manutenção temperatura corporal e ph; Prevenção desidratação e infeções; Constituição: Coração + vasos sanguíneos

Leia mais

As funções das proteínas no organismo :

As funções das proteínas no organismo : PROTEINAS As funções das proteínas no organismo : As principais funções das proteínas - Construção de novos tecidos do corpo humano. - Atuam no transporte de substâncias como, por exemplo, o oxigênio.

Leia mais

SISTEMA TEGUMENTAR. Pele e anexos. Pele e anexos Funções. Pele e anexos 5/5/2012

SISTEMA TEGUMENTAR. Pele e anexos. Pele e anexos Funções. Pele e anexos 5/5/2012 SISTEMA TEGUMENTAR SISTEMA TEGUMENTAR Origem: Ectodérmica Epiderme Mesodérmica Derme Hipoderme Pele: epiderme, derme e hipoderme Anexos: pêlos; unhas, cascos e garras; glândulas sudoríparas e sebáceas.

Leia mais

Histologia. Professora Deborah

Histologia. Professora Deborah Histologia Professora Deborah Histologia Histologia (do grego hystos = tecido + logos = estudo) é o estudo dos tecidos biológicos, sua formação, estrutura e função. Tecidos É um conjunto de células que

Leia mais

TRABALHO DE BIOLOGIA A Química da Vida

TRABALHO DE BIOLOGIA A Química da Vida TRABALHO DE BIOLOGIA A Química da Vida Nomes: Leonardo e Samuel Turma: 103 Para iniciar o estudo das células (citologia) devemos primeiramente ter uma noção das estruturas básicas da célula ou as estruturas

Leia mais

GUIA DE ESTUDOS INSULINA E GLUCAGON

GUIA DE ESTUDOS INSULINA E GLUCAGON GUIA DE ESTUDOS INSULINA E GLUCAGON 1) O pâncreas é uma glândula mista, ou seja, possui função endócrina e exócrina. Na porção endócrina, o pâncreas produz dois hormônios: a insulina e o Esses hormônios

Leia mais

Nutrientes. Leonardo Pozza dos Santos

Nutrientes. Leonardo Pozza dos Santos Nutrientes Leonardo Pozza dos Santos Itaqui, 2017 O que define um nutriente? - Qualquer elemento ou composto químico necessário para o metabolismo de um organismo vivo. - Eles compõem os alimentos e são

Leia mais

Biologia. Transplantes e Doenças Autoimunes. Professor Enrico Blota.

Biologia. Transplantes e Doenças Autoimunes. Professor Enrico Blota. Biologia Transplantes e Doenças Autoimunes Professor Enrico Blota www.acasadoconcurseiro.com.br Biologia HEREDITARIEDADE E DIVERSIDADE DA VIDA- TRANSPLANTES, IMUNIDADE E DOENÇAS AUTOIMUNES Os transplantes

Leia mais

NORMAS COMPLEMENTARES AO EDITAL Nº 03 DE 2016 CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGOS DE PROFESSOR ASSISTENTE 1 DA UNIRV UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

NORMAS COMPLEMENTARES AO EDITAL Nº 03 DE 2016 CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGOS DE PROFESSOR ASSISTENTE 1 DA UNIRV UNIVERSIDADE DE RIO VERDE UniRV NORMAS COMPLEMENTARES AO EDITAL Nº 03 DE 2016 CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGOS DE PROFESSOR ASSISTENTE 1 DA UNIRV O Reitor da UniRV, no uso de suas atribuições legais, na forma do que dispõe

Leia mais

Gabarito da lista de revisão sobre Sistema Circulatório Prof: Marcus Ferrassoli

Gabarito da lista de revisão sobre Sistema Circulatório Prof: Marcus Ferrassoli Gabarito da lista de revisão sobre Sistema Circulatório Prof: Marcus Ferrassoli Resposta da questão 1: No coração humano a saída do sangue rico em oxigênio (arterial) se dá pela artéria aorta. Resposta

Leia mais

Anatomia e Fisiologia Humana

Anatomia e Fisiologia Humana Componentes A) Coração B) Vasos Sanguíneos Coração É um órgão muscular tetracavitário (4 cavidades); Situado no centro do tórax, entre os pulmões; Tamanho de um mão fechada e pesa cerca de 300 gramas;

Leia mais

O sangue e seus constituintes. Juliana Aquino. O sangue executa tantas funções que, sem ele, de nada valeria a complexa organização do corpo humano

O sangue e seus constituintes. Juliana Aquino. O sangue executa tantas funções que, sem ele, de nada valeria a complexa organização do corpo humano O sangue e seus constituintes Juliana Aquino O sangue executa tantas funções que, sem ele, de nada valeria a complexa organização do corpo humano O sangue e seus constituintes É através da circulação sanguínea

Leia mais

Filtração Glomerular

Filtração Glomerular Filtração Glomerular Profa. Jennifer Lowe O que é a filtração glomerular? Passagem de líquido plasmático, através de uma membrana filtrante, para o espaço de Bowman. 1 O que é a filtração glomerular? Primeira

Leia mais

FISIOLOGIA HUMANA UNIDADE V: SISTEMA RESPIRATÓRIO

FISIOLOGIA HUMANA UNIDADE V: SISTEMA RESPIRATÓRIO FISIOLOGIA HUMANA UNIDADE V: SISTEMA RESPIRATÓRIO Funções Troca de gases com o ar atmosférico; Manutenção da concentração de oxigênio; Eliminação da concentração de dióxido de carbônico; Regulação da ventilação.

Leia mais

Avaliação nutricional do paciente

Avaliação nutricional do paciente Avaliação nutricional do paciente Muito gordo ou muito magro? O que fazer com esta informação? Avaliação nutricional do paciente 1) Anamnese (inquérito alimentar) 2) Exame físico 3) Exames laboratoriais

Leia mais

Estrutura néfron e vascularização

Estrutura néfron e vascularização 1 Estrutura néfron e vascularização 1 = Cápsula de Bowman's, 2 = glomérulo, 3 = arteríola aferente, 4 = arteríola eferente, 5 = túbulo proximal convoluto, 6 = túbulo distal convoluto, 7 = ducto coletor,

Leia mais

Capítulo 2 Aspectos Histológicos

Capítulo 2 Aspectos Histológicos 5 Capítulo 2 Aspectos Histológicos Alguns conceitos básicos sobre histologia humana, a caracterização dos tecidos, a regeneração e reparação dos mesmos em lesões e a cicatrização de feridas são aspectos

Leia mais

O crédito por essa incrível invenção foi dado, em 1591, aos holandeses Hans Janssen e seu filho Zacarias, fabricantes de óculos.

O crédito por essa incrível invenção foi dado, em 1591, aos holandeses Hans Janssen e seu filho Zacarias, fabricantes de óculos. 1º ano Pró Madá O crédito por essa incrível invenção foi dado, em 1591, aos holandeses Hans Janssen e seu filho Zacarias, fabricantes de óculos. O holandês Antonie van Leewenhoek construiu microscópios

Leia mais

EFEITOS GERAIS DA INFLAMAÇÃO

EFEITOS GERAIS DA INFLAMAÇÃO EFEITOS GERAIS DA INFLAMAÇÃO Inflamação: reação local, multimediada e esteriotipada, mas tende a envolver o organismo como um todo. Mensageiros químicos liberados do foco de lesão: Moléculas de células

Leia mais

Fisiologia do Exercício

Fisiologia do Exercício Fisiologia do Exercício REAÇÕES QUÍMICAS Metabolismo inclui vias metabólicas que resultam na síntese de moléculas Metabolismo inclui vias metabólicas que resultam na degradação de moléculas Reações anabólicas

Leia mais

24/11/2015. Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de Prof. Cláudio 1. O mundo microbiano. Profa. Alessandra B. F. Machado

24/11/2015. Biologia de Microrganismos - 2º Semestre de Prof. Cláudio 1. O mundo microbiano. Profa. Alessandra B. F. Machado UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA Relação bactéria-hospedeiro Profa. Alessandra B. F. Machado O mundo microbiano Os microrganismos são ubíquos.

Leia mais

SISTEMA CARDIOVASCULAR. Prof. Jair

SISTEMA CARDIOVASCULAR. Prof. Jair SISTEMA CARDIOVASCULAR Prof. Jair FUNÇÕES Transporte de gases dos pulmões aos tecidos e dos tecidos aos pulmões Transporte dos nutrientes das vias digestivas aos tecidos Transporte de toxinas Distribuição

Leia mais

Composição Química das Células: Água

Composição Química das Células: Água A Química da Vida Composição Química das Células: Água As substâncias que constituem os corpos dos seres vivos possuem em sua constituição cerca de 75/85% de água. Ou seja, cerca de 80% do corpo de um

Leia mais

29/08/2016. INDIGESTÕES GASOSAS Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo

29/08/2016. INDIGESTÕES GASOSAS Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo 3 4 5 6 7 Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo Meteorismo, timpanite Emergência Distensão reticulorrumenal por acúmulo de gás livre/espuma Bov>ovi>cap * falha na eructação Classificação Timpanismo: primário

Leia mais

Funções: distribuição de substâncias (nutrientes, gases respiratórios, produtos do metabolismo, hormônios, etc) e calor.

Funções: distribuição de substâncias (nutrientes, gases respiratórios, produtos do metabolismo, hormônios, etc) e calor. Funções: distribuição de substâncias (nutrientes, gases respiratórios, produtos do metabolismo, hormônios, etc) e calor Componentes: Vasos sanguíneos, Coração, Sangue http://www.afh.bio.br/cardio/cardio3.asp

Leia mais

Filtração Glomerular. Prof. Ricardo Luzardo

Filtração Glomerular. Prof. Ricardo Luzardo Filtração Glomerular Prof. Ricardo Luzardo O que é a filtração glomerular? Passagem de líquido plasmático, através de uma membrana filtrante, para o espaço de Bowman. O que é a filtração glomerular? Primeira

Leia mais

SISTEMA CARDIOVASCULAR

SISTEMA CARDIOVASCULAR SISTEMA CARDIOVASCULAR Sistema Cardiovascular Objetivos da aula os estudantes deverão ser capazes de... Descrever as funções gerais do sistema cardiovascular Relacionar os componentes vascular sanguíneo

Leia mais

Cursos de Graduação em Farmácia e Enfermagem

Cursos de Graduação em Farmácia e Enfermagem Cursos de Graduação em Farmácia e Enfermagem INTRODUÇÃO À PATOLOGIA GERAL Disciplina: Patologia Geral Prof.Dr. Lucinei Roberto de Oliveira 2012 DISCIPLINA DE PATOLOGIA GERAL INTRODUÇÃO À PATOLOGIA Conceito

Leia mais

Transporte nas plantas

Transporte nas plantas Transporte nas plantas As plantas dividem-se em dois grupos: PLANTAS AVASCULARES: Plantas simples, sem estrutura especializada no transporte de substâncias. PLANTAS VASCULARES: Plantas evoluídas com sistemas

Leia mais

Sistema Circulatório. Profª Talita Silva Pereira

Sistema Circulatório. Profª Talita Silva Pereira Sistema Circulatório Profª Talita Silva Pereira Nosso sistema circulatório, como o dos outros vertebrados, é fechado, isto é, o sangue circula sempre dentro dos vasos sanguíneos, bombeado por contrações

Leia mais

Os gases respiratórios não exercem pressão parcial quando estão combinados com os pigmentos respiratórios, nem quando estão quimicamente modificados.

Os gases respiratórios não exercem pressão parcial quando estão combinados com os pigmentos respiratórios, nem quando estão quimicamente modificados. A circulação de um fluido (sangue ou hemolinfa) acelera a distribuição dos gases respiratórios (movimento por fluxo). Entretanto, os gases, especialmente oxigênio, são pouco solúveis em soluções aquosas.

Leia mais

Dra Letícia Guimarães

Dra Letícia Guimarães Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica Residência em Dermatologia

Leia mais

Cronograma. Introdução à disciplina de FISIOLOGIA. Conceito de Homeostasia AULA 1 - FISIOLOGIA APLIC. A ATIV. MOTORA

Cronograma. Introdução à disciplina de FISIOLOGIA. Conceito de Homeostasia AULA 1 - FISIOLOGIA APLIC. A ATIV. MOTORA Cronograma Introdução à disciplina de FISIOLOGIA Conceito de Homeostasia EMENTA: Estudo do funcionamento dos órgãos e sistemas orgânicos (cardiovascular, respiratório, muscular e neuroendócrino) no repouso

Leia mais

Prof. Ms. Marcelo Lima. Site:

Prof. Ms. Marcelo Lima.   Site: Prof. Ms. Marcelo Lima E-mail: profmarcelolima@yahoo.com.br Site: www.profmarcelolima.webnode.com.br INTRODUÇÃO 1. Funções: Proteção abrasões, perda de líquido, substâncias nocivas e microorganismos. Regulação

Leia mais

Cap. 8: A arquitetura corporal dos animais. Equipe de Biologia

Cap. 8: A arquitetura corporal dos animais. Equipe de Biologia Cap. 8: A arquitetura corporal dos animais Equipe de Biologia Histologia Estuda os tecidos orgânicos. Tecido: Agrupamento de células com as mesmas características e função. Além de suas próprias células,

Leia mais

METABOLISMO ENERGÉTICO integração e regulação alimentado jejum catabólitos urinários. Bioquímica. Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes

METABOLISMO ENERGÉTICO integração e regulação alimentado jejum catabólitos urinários. Bioquímica. Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes METABOLISMO ENERGÉTICO integração e regulação alimentado jejum catabólitos urinários Bioquímica Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes REFERÊNCIA: Bioquímica Ilustrada - Champe ESTÁGIOS DO CATABOLISMO

Leia mais

15/10/2010. Pele: um dos maiores órgãos do corpo humano = 16% do peso corporal.

15/10/2010. Pele: um dos maiores órgãos do corpo humano = 16% do peso corporal. Recobre cerca de 75000 cm²; Peso de 3/4.5 kg; Recebe 1/3 do sangue; Mede de 1 a 2 mm de espessura; É impermeável, elástica, áspera e regenerativa. EPIDERME DERME TECIDO SUBCUTÂNEO ANEXOS: Glândulas sebáceas

Leia mais

FISIOLOGIA E TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA CELULAR

FISIOLOGIA E TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA CELULAR FISIOLOGIA E TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA CELULAR AULA 2 DISCIPLINA: FISIOLOGIA I PROFESSOR RESPONSÁVEL: FLÁVIA SANTOS Membrana Celular ou Membrana Plasmática Função 2 Membrana Celular ou Membrana Plasmática

Leia mais

BIOMARCADORES EM PEIXES E SUA APLICAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DE RECURSOS HIDRICOS MORFOLOGIA DE BRÂNQUIAS

BIOMARCADORES EM PEIXES E SUA APLICAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DE RECURSOS HIDRICOS MORFOLOGIA DE BRÂNQUIAS BIOMARCADORES EM PEIXES E SUA APLICAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DE RECURSOS HIDRICOS MORFOLOGIA DE BRÂNQUIAS Profa Dra Carmem S. Fontanetti Christofoletti (Fontanet@rc.unesp.br) Depto de Biologia IB/UNESP/RC BRÂNQUIAS

Leia mais

Producote Feed O que é? Como devo fornecer o Producote Feed? Producote Feed Por que utilizar Ureia (NNP) na dieta?

Producote Feed O que é? Como devo fornecer o Producote Feed? Producote Feed Por que utilizar Ureia (NNP) na dieta? Producote Feed O que é? Producote Feed é um aditivo nutricional de liberação controlada, indicado para a suplementação proteica segura de ruminantes, com alta concentração de nitrogênio não proteico de

Leia mais