AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR E MELHORIA DA QUALIDADE DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

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1 AQUISIÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR E MELHORIA DA QUALIDADE DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR STAFFEN¹, Cristiane S. Rodrigues; SILVA, Danni Maísa²; BISOGNIN, Ramiro Pereira³; CLASEN, Bárbara 4 ; WEBER, Fernanda Hart Pós graduada em Segurança Alimentar e Agroecologia Universidade do Estado do Rio Grande do Sul- CEP Três Passos RS Brasil. Telefone (55) nutcrica@bol.com.br 2 - Professora Universidade do Estado do Rio Grande do Sul- CEP Três Passos RS Brasil. Telefone (55) (danni-silva@uergs.edu.br) 3 - Professor Universidade do Estado do Rio Grande do Sul- CEP Três Passos RS Brasil. Telefone (55) (ramiro-bisognin@uergs.edu.br) 4 - Professora Universidade do Estado do Rio Grande do Sul- CEP Três Passos RS Brasil. Telefone (55) ( barbara-clasen@uergs.edu.br) 5 Professora Universidade do Estado do Rio Grande do Sul- CEP Três Passos RS Brasil. Telefone (55) (Fernanda-hart@uergs.edu.br) RESUMO O investimento em políticas públicas que incentivem a alimentação de qualidade através da utilização de alimentos orgânicos e regionais para a alimentação escolar são ações muito importantes. Dentro deste cenário o presente trabalho destaca os maiores desafios encontrados por nutricionistas referente a compra de gêneros alimentícios direto da Agricultura Familiar para utilização na merenda escolar. O estudo foi desenvolvido no período de abril a junho de 2014, sendo enviados às nutricionistas desta região, questionários com questões padronizadas relacionadas a compra de alimentos. Dos onze municípios estudados, 80% utiliza o modo informal para compra e aquisição de alimentos oriundos da agricultura familiar, atingindo a porcentagem mínima na compra de produtos da agricultura familiar e todos relataram algum tipo de dificuldade na hora da compra, a falta de inspeção para alguns produtos e a falta de organização por parte dos agricultores ainda são os maiores desafios. ABSTRACT Investment in public policies that encourage the use of organic and regional foods in school feeding are very important actions. In this scenario, this study highlights the major challenges faced by nutritionists regarding the purchase of foods directly from Family Agriculture to use in school meals. The study was conducted from April to June 2014, and questionnaires with standardized questions related to the procedure of buying food, were sent to the dietitians of this region. Of the eleven cities studied, 80% used the informal way to purchase and acquire the food from family farming, reaching the minimum percentage in the family farming purchase of products. The greatest challenges reported by most, were some kind of difficulty at the time of purchase; the lack of inspection for some products, and the lack of organization of the farmers. PALAVRAS-CHAVE: Segurança alimentar. Agricultura Familiar. Merenda Escolar. KEYWORDS: Food safety. Family farming. School lunch

2 1. INTRODUÇÃO O uso de gêneros alimentícios básicos, livres de agrotóxicos, típicos da produção familiar, no decorrer dos últimos anos foi tema de debates e discussões que propiciaram a construção de pontes entre a alimentação escolar e a Agricultura Familiar no Brasil. Este assunto vem se destacando, ganhando força e colaboradores que assumem um espaço importante dentro das escolas, levando alimentos saudáveis e de qualidade, produzidos e cultivados regionalmente. O Guia Alimentar para a População Brasileira destaca a importância do consumo dos alimentos regionais para a garantia da segurança alimentar e nutricional (Brasil, 2008). Conforme Reis et al. (2011) a alimentação saudável no contexto de políticas públicas é sem dúvida uma ação de promoção da saúde, visando hábitos alimentares saudáveis que garantem uma alimentação adequada e ajudam a controlar o aumento da prevalência da obesidade entre as crianças, além de controlar e prevenir algumas doenças. Desde a implementação da Lei /2009 a agricultura familiar vem se modificando para atender as escolas estaduais e municipais. Conforme a lei, 30% dos recursos destinados às aquisições para o abastecimento da merenda escolar deverão ser endereçados àqueles fornecedores, no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), diretamente da Agricultura Familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas (Brasil, 2009). A aquisição de gêneros alimentícios para a alimentação escolar através da Agricultura Familiar fez com que nutricionistas com a ajuda dos agricultores e merendeiras fossem desafiados a melhorar a qualidade da alimentação nas escolas, assim como proporcionar que os estudantes tenham acesso a alimentos de qualidade, livres de agrotóxicos. Belik (2003) ressalta que a alimentação disponível não pode ter qualquer tipo de risco, seja por contaminação, problemas como apodrecimento e validade para ser considerado um alimento seguro e de qualidade. Sendo assim, o PNAE, tornou-se um importante segmento institucional para aquisição de alimentos da agricultura familiar e que apesar das oportunidades que o PNAE oferece à agricultura familiar e às suas organizações, ele também apresenta uma série de desafios na medida em que envolve diferentes atores no processo da aquisição de alimentos. Estes atores aderem à política com suas particularidades, demandas e expectativas próprias. Vincular o programa da alimentação escolar às ações da agricultura familiar faz-se necessário para que se possa atingir o objetivo central que é fazer chegar à mesa das escolas alimentos mais nutritivos, livre de agrotóxicos, produzidos regionalmente e, por que não, limpos, descascados, picados e embalados adequadamente. Para atingir esse objetivo é necessário desafiar os agricultores a pensar em seu produto, como o mesmo pode ser aceito nas escolas, quais as estratégias para sua valorização, buscando alternativas que visem melhorar desde a aceitação, a aparência e a qualidade, ouvindo as partes interessadas não só a respeito da qualidade, mas também sobre a apresentação dos alimentos que chegam até as escolas. O objetivo do presente artigo é destacar os maiores desafios encontrados pelos Nutricionistas (RT- Responsáveis Técnicos) que atuam junto aos Municípios da Região Celeiro em relação á compra de gêneros alimentícios direto da agricultura familiar e sugerir possíveis mudanças para a inclusão de mais alimentos orgânicos no cardápio escolar. 2. METODOLOGIA O estudo foi desenvolvido no período de abril a junho de 2014 com 11 profissionais nutricionistas (responsáveis técnicos) pela alimentação escolar dos municípios da Região Celeiro do estado do Rio Grande do Sul (RS). Os municípios que participaram do estudo foram: Três Passos, Miraguaí, Santo Augusto, São Martinho, Derrubadas, Vista Gaúcha, Braga, Esperança do Sul, Humaitá, Tenente Portela e Crissiumal.

3 Os profissionais nutricionistas que atuam junto a Secretaria de Educação responderam questões padronizadas relacionadas á compra de produtos destinados à alimentação escolar provenientes da Agricultura Familiar. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Sobre os nutricionistas responsáveis técnicos que participaram da pesquisa, verificou-se que 72% atuam nos municípios desde a implementação da Lei nº /2009. Estes participaram de eventos que propiciaram conhecer e se envolver com o processo desde o início, possibilitando criar alternativas para que a aquisição de gêneros alimentícios acontecesse em seus municípios. Contudo, a falta de apoio e de políticas públicas prejudica o andamento do trabalho, resultando no descumprimento da lei em vários municípios. O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional apresenta dados sobre a produção da Agricultura Familiar ressaltando a contribuição que este segmento representa na produção de alimentos para o mercado interno, destacando a necessidade de apoiar este modelo produtivo, por meio de políticas agrárias e agrícolas, bem como a valorização da produção destes agricultores (Brasil, 2010). Dos 11 municípios participantes, apenas um município adquire menos de 30% de produtos oriundos da Agricultura Familiar para a alimentação escolar. Outros sete municípios adquirem de 30% a 40% desses produtos, o que representa a maioria deles, e apenas três dos municípios que responderam ao questionário adquirem mais de 50% de produtos da Agricultura Familiar para a alimentação escolar. A compra é feita basicamente através do modo informal (fora de cooperativas e associações) na maioria destes municípios, sendo mediada através da (EMATER-RS-ASCAR) com os produtores rurais. Todos os municípios adquiriam produtos orgânicos, variando os alimentos de acordo com a sua disponibilidade, os municípios com maior percentual de compra adquirem esses alimentos, através do modo formal, (cooperativas e associações comunitárias), facilitando assim o processo de compra. No que tange a variedade de alimentos orgânicos, as hortaliças são as mais adquiridas. Entre as maiores dificuldades encontradas pelos profissionais de seis (55%) municípios diz respeito a falta de produtos locais, enquanto que em outros três (27%) municípios o maior problema é falta de inspeção para alguns produtos, e por último a falta de organização por parte dos agricultores, citada por dois (27%) municípios (Figura 1).

4 Figura 1. Entraves na produção para a merenda escolar identificados pelos onze municípios da Região Celeiro/RS que responderam o questionário. Os produtos que não são inspecionados citados no questionário em sua maioria são os de origem animal (laticínios, carnes e ovos) produtos que são produzidos em grande escala em alguns municípios, mas que não podem ser comercializados por não haver inspeção, sendo este um grande impasse tanto para quem compra, quanto para quem quer vender. Apesar dos municípios participantes terem a agricultura como base da economia, existe a falta de produtos que possam fazer parte do cardápio escolar. Embora a Agricultura Familiar apresente uma maior propensão para a manutenção de sistemas agrários biodiversos e ambientalmente sustentáveis, em grande medida devido à permanência da associação entre unidade de produção e unidade de consumo, essa tendência natural necessita ser incentivada e apoiada com políticas públicas adequadas, o que inclui uma assistência técnica capaz de orientar a adoção de práticas agrícolas sustentáveis (Camargol et al., 2012). Outra dificuldade encontrada na aquisição de alimentos da Agricultura Familiar para a alimentação escolar é a questão da inspeção, pois é esta que remete aos padrões de qualidade, especificamente questões sanitárias e às formalidades exigidas para sua comprovação, como os registros do produto e do estabelecimento nas respectivas instâncias responsáveis. Isso também foi observado em estudo realizado por Triches e Schneider (2010), no município de Dois Irmãos (RS), onde os agricultores, a EMATER-RS-ASCAR e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, relatam que as exigências quanto a comprovação de inspeção e registros, impossibilitava a formalização, pois para adequarem-se aos padrões exigidos, teriam que tomar uma série de medidas que não teriam como pagar. Os participantes relatam que ainda há a falta de interesse dos agricultores em se organizarem tanto na produção, quanto na própria entrega dos produtos, deixando muitas vezes de produzir a quantidade suficiente que se propôs entregar, por vezes ocorrendo trocas de produtos conforme o contrato de compra/venda e entregas fora do prazo. As cooperativas de Agricultura Familiar e o mercado de compras governamentais em Minas Gerais que são diversos desafios dos agricultores familiares e suas organizações para colocar seus alimentos na alimentação escolar, desde a logística, padrões de exigências do produto, estoque e transporte apareceram como limitações em relação à produção (Costa et al.,2015).

5 3. CONCLUSÕES Entre os principais desafios encontrados pelos nutricionistas dos municípios da Região Celeiro/RS quanto a aquisição de gêneros alimentícios oriundos da Agricultura Familiar destacam-se a falta de produtos locais, que inclui a falta assistência técnica capaz de orientar a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, a falta de inspeção em alguns produtos, sendo muitas exigências quanto a comprovação de inspeção e registros impossibilitando assim a formalização, e ainda a dificuldade de organização dos agricultores principalmente em relação a produção e logística. No entanto, mesmo com estes entraves a maioria dos municípios avaliados adquirem mais do que o mínimo (30%) recomendado pela Lei nº /2009 de produtos oriundos da Agricultura Familiar para a alimentação escolar através do modo informal. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Saúde (2008). Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde. REIS, C. E. G.; VASCONCELOS, I. A. L.; BARROS, J. F. de N. (2011) Políticas públicas de nutrição para o controle da obesidade infantil. Rev Paul Pediatr; 29(4): BRASIL. Lei nº , de 16 de junho de Disponível em: BELIK, W.(2003). Perspectivas para segurança alimentar e nutricional no Brasil. Rev. Saúde e Sociedade, v.12, n.1, p.12-20, jan-jun. BRASIL. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (2010). A Segurança Alimentar e Nutricional e o Direito Humano à Alimentação Adequada no Brasil: indicadores e monitoramento da Constituição de 1988 aos dias atuais. Brasília: CONSEA. CAMARGOL, R. A. L.; OLIVEIRALL, J. T. A. (2012). Agricultura familiar, multifuncionalidade da agricultura e ruralidade: interfaces de uma realidade complexa. Ciência Rural, v.42, n.9, set. TRICHES, R. M.; SCHNEIDER, S. (2010). Alimentação Escolar e Agricultura Familiar: reconectando o consumo à produção. Rev. Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.4, p COSTA, B. A. L.; AMORIM JUNIOR, P. C.; SILVA, M. G.(2015). Rev. RESR, Piracica As Cooperativas de Agricultura Familiar e o Mercado de Compras Governamentais em Minas Geraisba-SP, Vol. 53, Nº 01, pp , Jan.-Mar.