EFEITO DE AGENTES BIO-CONTROLADORES DO BICUDO Anthonomus grandis (COLEOPTERA; CURCULIONIDAE) NO CULTIVO DO ALGODÃO COLORIDO
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1 EFEITO DE AGENTES BIO-CONTROLADORES DO BICUDO Anthonomus grandis (COLEOPTERA; CURCULIONIDAE) NO CULTIVO DO ALGODÃO COLORIDO Carlos Alberto Domingues da Silva 1, José Ednilson Miranda 2, Marciene Dantas Moreira 3, Thábata Danielle Uchôa da Silva 3. (1) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário, Campina Grande, PB, (2) Embrapa Algodão, (3) Embrapa Algodão. RESUMO Um experimento foi executado visando avaliar o efeito da utilização do dispositivo tubo mata bicudo (TMB) e do fungo Beauveria bassiana em pulverização no cultivo do algodão colorido para o controle do bicudo Anthonomus grandis. Neste experimento foi utilizada a cultivar CNPA BRS200 marrom. Verificou-se o início das infestações do bicudo uma semana após aparecimento botões florais. Os maiores picos de botões florais danificados foram verificados a 42 dias após o aparecimento dos botões florais. A maior taxa de controle foi verificada no tratamento com inseticida (Endosulfan). A utilização do TMB isoladamente ou em associação com pulverizações do fungo Beauveria bassiana para o controle de Anthonomus grandis (bicudo do algodoeiro), embora não tenha apresentado eficiência numericamente semelhante à verificado com o uso de inseticida, demonstrou agir positivamente no controle da praga quando comparada com a testemunha. Visto que as condições ambientais podem ter influenciado na eficiência de controle do fungo, novas investigações deverão ser efetuadas. INTRODUÇÃO Principal praga das estruturas frutíferas do algodoeiro no Nordeste do Brasil, o bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman pode causar perdas significativas na produção quando o controle do inseto não for eficiente (RAMALHO et al., 1993). Para controlar o bicudo, inseticidas químicos são normalmente utilizados. No entanto, são bastante conhecidos os efeitos colaterais resultantes de seu uso constante e, muitas vezes, indiscriminado. Dentre eles, os principais efeitos danosos são causados ao meio ambiente, afetando os seres vivos e causando desequilíbrios biológicos e a emergência de resistência em suas espécies-alvo, tornando o tratamento, em muitos casos, ineficaz e anti-econômico (MELO & AZEVEDO, 1999). Dentro da filosofia do manejo integrado de pragas, o controle do bicudo através de estratégias alternativas de controle biológico e comportamental destaca-se como uma solução capaz de minimizar os prejuízos que essa praga tem ocasionado à cultura do algodoeiro, sem trazer prejuízo ao ambiente de cultivo. O tubo mata bicudo (TMB) consiste de um tubo de papelão biodegradável de coloração verdelimão, revestido com atraente alimentar e inseticida, os quais são liberados lentamente. Na parte superior é instalada uma cartela com feromônio sintético glandlure. O conjunto coloração-atraente alimentar-feromônio visa exercer atratividade sobre adultos do bicudo, os quais são controlados com o inseticida. Por seu controle localizado e específico da praga, o TMB é considerado como uma tecnologia adequada aos conceitos do MIP (SANTOS, 1996). A suscetibilidade do bicudo ao fungo Beauveria bassiana é conhecia desde longo tempo. McLaughlin (1962) demonstrou que B. bassiana infectava larvas, pupas e adultos do bicudo em condições de laboratório, cujos percentuais de mortalidade variaram de 69 a 100%, cinco dias após sua inoculação na concentração de 3,2 x 10 8 conídios/grama. Nos Estados Unidos, diversas formulações
2 do fungo têm sido testadas no controle do bicudo do algodoeiro (FRANK & SLOSSER, 1990; WRIGHT & CHANDLER, 1992; WRIGHT, 1993). O objetivo deste estudo foi avaliar a eficiência do tubo mata bicudo (TMB) e do fungo Beauveria bassiana como estratégias de controle do bicudo Anthonomus grandis na cultura do algodão colorido. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi conduzido em lavoura convencional localizado próximo a Campina Grande, PB, utilizando-se cultivar de algodão CNPA BRS200 marrom, deixando-se uma planta por cova após o desbaste. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com 4 tratamentos e 4 repetições. Cada tratamento teve uma área de 625 m 2. Os tratamentos foram os seguintes: 1 Testemunha (sem controle), 2 dispositivo tubo mata bicudo (T.M.B), 3 - dispositivo T.M.B. + pulverizações com B. bassiana ( conídios/ml); 4 pulverização com Endosulfan. A distância entre as unidades experimentais foi de aproximadamente 500m. Foi instalado um TMB, na periferia de cada um dos tratamentos 2 e 4, no momento da semeadura do algodão, a qual se deu no dia 10 de fevereiro de As avaliações foram feitas semanalmente, observando-se um botão floral de tamanho médio, tomado aleatoriamente, na metade superior da planta, a fim de verificar a presença ou não de orifícios de oviposição e/ou alimentação. As pulverizações com inseticidas microbianos e químicos visando o controle do bicudo foram realizadas sempre que a população da praga atingia o nível de 5%. Ao final desse primeiro ciclo de cultivo, as porcentagens médias de botões florais danificados pelo bicudo, e os rendimentos médios obtidos nos diferentes tratamentos, foram calculados e comparados pelo teste de Tukey a 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os primeiros botões florais danificados pelo bicudo foram observados pela primeira vez nos tratamentos 1 (testemunha), 2 (tubo mata bicudo) e 3 (tubo mata bicudo + pulverizações com conídios de B. bassiana suspensos em óleo), no dia 15 de abril, ou seja, uma semana após o surgimento dos botões florais, os quais foram constatados em 8 de abril (Figura 1). Os maiores picos de botões florais danificados pelo bicudo foram observados nos dias 13 (tratamento 4, pulverizado com Endosulfan) e 20 (tratamentos 1,2 e 3) de maio, aos 75 e 83 dias após a emergência das plantas (d.a.e.), respectivamente. A maior porcentagem acumulada de botões florais danificados pelo bicudo foi observada na testemunha; enquanto que a menor porcentagem acumulada de botões florais danificados pelo bicudo foi observada, no tratamento 4 (pulverizado com Endosulfan). Com exceção da porcentagem de botões florais danificados na testemunha no dia 13 de maio (75 d.a.e.), durante o período compreendido entre os dias 22 de abril (54 d.a.e.) e 13 de maio (75 d.a.e.), as porcentagens de botões florais danificados pelo bicudo, mantiveram-se abaixo de 20%. Esses resultados devem ser atribuídos ao efeito combinado do tubo mata bicudo, época de plantio e da prática de catação manual dos botões florais caídos ao solo. Todavia, a partir do dia 13 de maio (75 d.a.e.), as porcentagens de botões florais danificados pelo bicudo tenderam a aumentar de forma considerável e consistente em todos os tratamentos, a medida em que se aumentava a disponibilidade de estruturas frutíferas (botões florais) do algodoeiro, coincidindo com resultados anteriores obtidos por Ramalho (1993) os quais evidenciaram que as taxas de orifícios de alimentação e/ou oviposição são dependentes da densidade do botão floral disponível ao A. grandis. Embora vários pesquisadores afirmem que, em situações de baixa infestação da praga, tecnologias baseadas no uso de feromônios sejam mais eficientes do que tecnologias convencionais de
3 controle (McCKIBBEN et al., 1992; VILLAVASO et al., 1993; McGOVERN et al., 1996), no presente estudo o tratamento químico com endosulfan foi mais eficiente que os tratamentos com TMB e TMB associado a pulverizações com B. bassiana, mantendo os danos causados pela praga abaixo dos 10% até 13 de maio (75 d.a.e.). Contudo, entre 75 e 82 d.a.e. os níveis de dano subiram para 13%, retornando para abaixo de 10% na semana posterior. O tratamento com TMB conteve os danos abaixo de 10% de botões atacados apenas entre a 4ª e 5ª semana após o aparecimento dos botões (Figura 1). Embora a utilização do tratamento em que foram conjugados o controle com feromônios (TMB) e fungos tenha sido menor em relação ao tratamento com inseticida, nota-se que o uso do controle biológico e comportamental demonstrou um efeito positivo em relação à testemunha. É possível que fatores externos como as condições ambientais possam ter interferido negativamente na capacidade de colonização dos hospedeiros pelos fungos entomopatogênicos. CONCLUSÕES A utilização do TMB isoladamente ou em associação com pulverizações do fungo Beauveria bassiana para o controle de Anthonomus grandis (bicudo do algodoeiro), embora não tenha apresentado eficiência numericamente semelhante à verificado com o uso de inseticida, demonstrou agir positivamente no controle da praga quando comparada com a testemunha. Visto que as condições ambientais podem ter influenciado na eficiência de controle do fungo, novas investigações deverão ser efetuadas Testemunha Tubo Mata Bicudo TMB+Beauveria bassiana Endosulfan Botões danificados (%) AVALIAÇÕES Figura 1. Porcentagens médias de botões florais danificados pelo bicudo em função dos tratamentos. Campina Grande, PB
4 Botões danificados (%) Testemunha Tubo Mata Bicudo TMB+Beauveria bassiana Endosulfan AVALIAÇÕES Figura 2. Média acumulada de botões florais danificados pelo bicudo em função dos tratamentos. Campina Grande, PB REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRANK, W.A.; SLOSSER, J.E. Efficacy of Beauveria bassiana (Balsamo) Vuillemin to control over wintering boll weevils, Anthonomus grandis Boheman. Southwestern Entomologist, v.15, n.1, p.77-78, McGOVERN, B.; VILLAVASO, E.J.; McKIBBEN, G.H. Final evaluation of 1994 boll weevil bait stick test in Noxubee County, MS. Proc. Beltwide Cotton Prod. Res. Conf. p McKIBBEN, G.H.; McGOVERN, W.L.; VILLAVASO, E.J.; SMITH, J.W. A theoretical basis for using the boll weevil bait stick. Proc. Beltwide Cotton Prod. Res. Conf. p McLAUGHLIN, R.E. Infectivity tests with Beauveria bassiana (Balsamo) Vuillemin on Anthonomus grandis Boheman. Journal Insect Pathology, v.1, p , MELO, I.S. de; AZEVEDO, J.L. de. Controle biológico. Jaguariúna: EMBRAPA, p. RAMALHO, F.S.; GONZAGA, J.V.; SILVA, J.R.B. Métodos para determinação das causas de mortalidade natural do bicudo do algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.28, p , SANTOS, W.J. Avaliação do uso de feromônio secual em dispositivos para atração, captura e controle do bicudo, Anthonomus grandis, Boh., 1843, na cultura do algodoeiro. In: Integrated Pest Management
5 of the Cotton Boll Weevil in Argentina, Brazil and Paraguay. Workshop Proceedings p VILLAVASO, E.J.; McKIBBEN, G.H.; SMITH, J.W. Comparing boll weevil bait sticks to pheromone traps. Proc. Beltwide Cotton Prod. Res. Conf. p WRIGHT, J.E. Control of the boll weevil (Coleoptera: Curculionidae) with Naturalis-L: a mycoinsecticide. Journal of Economic Entomology, v.86, n.5, p , WRIGHT, J.E.; CHANDLER, L.D. Laboratory evaluation of the entomopathogenic fungus, Beauveria bassiana against the boll weevil (Curculionidae: Coleoptera). Journal of Invertebrate Pathology, v.58, n.3, p , 1991.
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