ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
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- Amanda Benke Neiva
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1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS SILVA, M. A. G. RESUMO O presente trabalho visa apresentar reflexões acerca dos processos de alfabetização e letramento na educação infantil, bem como os desafios que professores desta etapa enfrentam para conceituar, diferenciar e promover a consolidação destes. Apresenta as demandas da sociedade referentes à linguagem escrita como responsáveis pela necessidade de outro termo, além da alfabetização. A pesquisa compreende a revisão bibliográfica de literaturas acerca dos processos de letramento e alfabetização. PALAVRAS-CHAVE: Letramento. Alfabetização. Educação infantil. ABSTRACT This paper presents reflections about the processes of alphabetization and literacy in early childhood education, as well as the challenges that teachers of this phase face to conceptualize, differentiate and promote the consolidation of these. It presents the society demands relating to the writing as responsible for the need for another term, beyond alphabetization. The research comprises a literature review about literacy processes and alphabetization. KEY-WORDS: Literacy. Alphabetization. Childhood education. INTRODUÇÃO O trabalho educativo proposto para a educação infantil a respeito da linguagem escrita tem muitos paradigmas, desta maneira o presente trabalho pretende apresentar reflexões acerca dos desafios enfrentados por professores que atuam nesta etapa da educação básica acerca dos processos de alfabetização e letramento e suas implicações pedagógicas. Primeiramente, será apresentado o conceito dos termos, pois consiste no ponto de partida para compreensão das diferenças entre os mesmos. A seguir, abordaremos o papel da educação infantil, uma vez que as práticas pedagógicas
2 desenvolvidas com as crianças desta etapa, passaram por grandes mudanças. Sendo assim, por meio de pesquisa bibliográfica, este trabalho busca apresentar conceitos e diferenças que permeiam os processos de alfabetização e letramento, bem como metodologias e práticas que podem oportunizar a apropriação da linguagem escrita na educação infantil. REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS A educação tem papel fundamental na vida de todas as crianças, pois é responsável por ampliar os contatos com o mundo. Diante disso, é preciso reconhecer que a compreensão do conceito dos termos alfabetização e letramento não é tarefa fácil, por serem [...] fenômenos complexos que mantém entre si relações também complexas (MORTATTI, 2004, p. 11). O que demonstra a necessidade, principalmente dos professores que trabalham com crianças da educação infantil, de refletir criticamente sobre as características de ambos os processos. Por isso, Kleiman (2005), alerta para as implicações que isso pode trazer e tece críticas ao fato de alguns pesquisadores afirmarem que o termo alfabetização basta a si mesmo, desprezando assim o letramento. E complementa, ao afirmar que ela é necessária para que alguém seja considerado plenamente letrado, mas não é o suficiente (KLEIMAN, 2005, p. 14). Ocorre que, com o processo de democratização da educação, a escrita deixou de ser privilégio de poucos e passou a ser um direito de todos, provocando mudanças radicais na vida das pessoas (KLEIMAN, 2005). Isso teve repercussão também na educação, como expõe a autora: A tecnologia que dá suporte aos usos da língua escrita tem mudado enormemente, e essa mudança também se faz sentir na escola: onde antes se esperava que a criança usasse lápis e papel para escrever de forma legível, hoje se espera que ela escreva coisas com sentido no caderno e no computador, e também que use a internet. Há cem anos, para ser alfabetizado era suficiente ter domínio do código alfabético, mas hoje se espera que, além de dominar esse código, o aluno consiga se comunicar, por meio da escrita, numa variada gama de situações (KLEIMAN, 2005, p ).
3 Diante de diversas definições, Soares (2010) conceitua a palavra alfabetização como a ação de alfabetizar, tornar alfabeto. Entretanto, Lucas (2009) diz que as primeiras formulações da palavra letramento para designar algo que ultrapassa o processo de alfabetização, se este último for compreendido como aprendizagem de técnicas necessárias à leitura e escrita, datam de meados da década de Mortatti (2004), considera que o letramento: Está diretamente relacionado com a língua escrita em seu lugar, suas funções e seus usos nas sociedades letradas, ou, mais especificamente, grafocêntricas, isto é, sociedades organizadas em torno de um sistema de escrita e em que esta, sobretudo por meio do texto escrito e impresso, assume importância central na vida das pessoas, e em suas relações com os outros e com o mundo em que vivem (MORTATTI, 2004, p. 98). O termo alfabetização, de acordo com Batista (2006, p.16) em sentido estrito, envolve dois aspectos: [...] designa, na leitura, a capacidade de decodificar os sinais gráficos, transformando-os em sons, e, na escrita, a capacidade de codificar os sons da língua, transformando-os em sinais gráficos. Assim, considera-se alfabetizado o indivíduo capaz de ler e escrever, indiferente do contexto e da compreensão do mesmo sobre o ato. Quanto ao termo letramento, Soares (2010) afirma que letrar extrapola a alfabetização, pois é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Assim, pode-se afirmar que há diferença entre os dois processos, tendo em vista que a produção acadêmica sobre este assunto aponta para a compreensão de que alfabetização consiste no processo que permite a apropriação de um sistema linguístico e mais do que isso, das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever e letramento compreende o uso social da leitura e da escrita. Ocorre que, no Brasil, esta diferenciação nem sempre foi alvo de reflexão nas escolas, chegando ao ponto de professores considerarem os dois como sinônimos, conforme aponta Soares (2004): No Brasil, a discussão do letramento surge sempre enraizado no conceito de alfabetização, o que tem levado, apesar da diferenciação sempre proposta na produção acadêmica, a uma inadequada e inconveniente fusão dos dois processos, com prevalência do conceito de letramento, [...] o que tem conduzido a um certo apagamento da alfabetização (SOARES, 2004c, p. 8).
4 Daí a importância da compreensão de suas especificidades, para que não seja privilegiado um ou outro processo nas instituições de educação infantil. Sendo assim, alfabetização e letramento ocupam lugares diferentes, mas estão próximos, e apropriar-se de ambos os processos são questões essenciais para que o indivíduo possa sobreviver numa sociedade centrada na escrita. A organização do trabalho pedagógico nas instituições de educação infantil, principalmente no que se refere à linguagem escrita, é essencial, pois vivemos em uma sociedade rodeada por ela, inclusive as crianças, conforme teorizam os autores Schmidt, Marques e Costa (2003): A criança que recebemos na educação infantil vive nesse mundo letrado, embora algumas vezes não possamos nos dar conta disso. Ela chega à escola com muitos conhecimentos formulados sobre a língua escrita, mesmo que ainda não tenha sido apresentada formalmente a ela (SCHMIDT; MARQUES; COSTA, 2003, p.194). Assim, é preciso saber quais objetivos se pretende alcançar, para não correr o risco de priorizar o aspecto técnico da escrita, em detrimento de sua função social, como complementa Mello (2006): [...] ao começarmos pelo aspecto técnico e ao dedicarmos tanto tempo a ele, nós nos esquecemos da função social para a qual a escrita foi criada: esquecemo-nos de que a escrita foi criada para responder à necessidade de registro, de expressão e comunicação com o outro distante no tempo e no espaço (MELLO, 2006, p. 182). Enfim, cabe à educação infantil oportunizar um ambiente que estimule a alfabetização, mas num contexto de letramento. Portanto, os espaços e atividades precisam estar contextualizados, de modo que façam sentido para as crianças. CONCLUSÃO A partir das leituras e reflexões a respeito dos processos de alfabetização e letramento, percebe-se que a efetivação destes constitui um dos grandes desafios para a educação infantil. É preciso compreender os conceitos e implicações pedagógicas que permeiam tais processos, para que os professores sejam capazes de diferenciá-los com propriedade e não corram o risco de confundi-los.
5 Conclui-se que práticas de letramento contribuem para um processo de alfabetização mais consistente e que, um é interdependente do outro. À educação infantil, portanto, cabe proporcionar condições para que as crianças possam iniciar o processo formal de alfabetização de forma que vejam sentido em aprender a ler e escrever. REFERÊNCIAS BATISTA, Antônio A. G.. Alfabetização, leitura e escrita. In: Carvalho, Maria A. F. & Mendonça, Rosa H. (org.). Práticas de leitura e escrita. Brasília: Ministério da Educação, p KLEIMAN, Ângela B. Preciso ensinar o letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever? Campinas: Cefiel Unicamp; MEC, p. LUCAS, M.A.O.F. Os processos da alfabetização e letramento na educação infantil: contribuições teóricas e concepções de professores. Tese (Doutorado em Educação) Universidade de São Paulo, MELLO, Suely Amaral. A apropriação da escrita como um instrumento cultural complexo. In MENDONÇA, Sueli Guadalupe de Lima; MILLER, Stela (Orgs). Vigotski e a escola atual: fundamentos teóricos e implicações pedagógicas. Araraquara: Junqueira & Marin, p MORTATTI, M. R. L. Educação e letramento. São Paulo: UNESP, SCHMIDT, M. H. C. B.; MARQUES, M. L.; COSTA, V.L.V.G. O processo de aquisição da leitura e da escrita na infância. In: NICOLAU, M. L.M.; DIAS, M. C. M. (Orgs.). Oficinas de sonho e realidade na formação do educador da infância. Campinas: Papirus, p SOARES, Magda Becker. Letramento e escolarização. In: Letramento no Brasil, reflexões a partir do INAF 2001 (org.) Vera Massagão Ribeiro 2ª Ed. São Paulo, Global, Letramento: um tema em três gêneros. 4ª Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
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