RELATO DE EXPERIÊNCIA:
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- Ester Benke Aleixo
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1 RELATO DE EXPERIÊNCIA: PLANTIO DE ARAUCÁRIAS UM PROJETO PEDAGÓGICO EXPERIENCE REPORT: ARAUCARIA PLANTING AN EDUCATIONAL PROJECT RESUMO Carlos Humberto Biagolini* Rosa Sousa Santos** Este relato refere-se a um projeto desenvolvido por duas escolas públicas de São Paulo; uma da capital e outra do interior paulista, além de uma empresa multinacional. O grupo produziu 400 mudas de Araucaria angustifolia; das quais 200 foram plantadas na Serra da Mantiqueira e outras 200 distribuídas na empresa participante e escola. O projeto resultou em troca de informação com aprendizado definitivo. Palavras-chave:. Araucaria angustifolia, Sustentabilidade, Serra da Mantiqueira. Abstract This report refers to a project developed jointly by two public schools in the state of São Paulo; one of the capital and the other from the interior, as well as a multinational company. The group produced 400 seedlings of Araucaria angustifolia; 200 of which were planted in the Mantiqueira range and other 200 distributed in the participating company and school. The project resulted in exchange of information with definite learning. Keywords: Araucaria angustifolia, Sustainability, the Mantiqueira * Biólogo, Mestre em Análise Geoambiental e Doutorando em Ciências Ambientais pela UNESP/Sorocaba. Professor da Rede Pública Estadual de São Paulo. professorcarlosciencias@zipmail.com.br ** Geógrafa, Bacharel em Geografia, membro da ENO-Enviroment On Line no Brasil. Professora da Rede Pública Estadual de São Paulo. rosa.sousant@enoprogramme.org
2 Página92 RELATO DE PRÁTICA BIAGOLINI, C.H.; SANTOS, R.S. Introdução O Brasil tem uma ampla área de vegetação que abriga as mais variadas espécies tanto da fauna como da flora. Admirado e cobiçado por outros países, este patrimônio vivo, vem perdendo espaço para a exploração dos recursos naturais sem um planejamento ou sem práticas sustentáveis e o resultado disso são as constantes ameaças de extinção que tanto fauna como flora acabam sofrendo. O desejo de rápido crescimento econômico levou o Brasil a partir do final dos anos 50, a um crescimento sem controle, grandes desmatamentos para a prática da agropecuária; abertura de espaços para implantação de indústrias em plena floresta amazônica; venda sem controle de madeiras consideradas nobres; derrubada de árvores centenárias e transformação em carvão de espécies raras em todos os biomas brasileiros. As metodologias aplicadas no desmatamento também mostram um despreparo no manejo, pois com os chamados arrastões realizados com tratores e uma corrente que vai derrubando tudo que está a sua frente e que não perdoa nem mesmo as espécies raras e endêmicas, tudo tende a ter um fim num tempo muito menor do que se espera. De meados do século XX até o início do século XXI muitas espécies foram parar na lista do IBAMA-MMA (2008), como ameaçadas de extinção ou ainda, com alto risco de extinção. Neste contexto, uma das espécies ameaçadas é a Araucaria angustifolia; um pinheiro genuinamente brasileiro e que faz parte da cultura culinária do Brasil, principalmente nas regiões sul e sudeste. A Araucaria angustifolia (Bertol) Kuntze, 1898, é uma espécie vegetal do grupo das gimnospermas, família das Araucariáceas, conhecida também pelos nomes populares de pinhão, paraná-pine, curi, curiúva, pinheiro-do-paraná, pinheiro, pinho, cori, pinho-brasileiro, pinheirobrasileiro, pinheiro-são-josé, pinheiro-macaco, pinheiro-caiová, pinheiro-das missões (LORENZI, 2008,p.17)
3 Página93 Relato de experiência: plantio de Araucárias um projeto pedagógico, p Estas árvores já ocuparam áreas maiores do que ocupam hoje, mas devido ao corte para aproveitamento da madeira, ficaram reduzidas e contam agora com a proteção das leis ambientais que impedem seu corte e punem severamente aqueles que realizam cortes sem autorização. Assim, uma lei que deveria proteger acaba trazendo maiores problemas, pois com medo de plantar e posteriormente precisar cortar, muitos proprietários rurais não se arriscam em plantar novas mudas, preocupando-se apenas em manter as árvores já existentes. Temas como sustentabilidade, botânica ou preservação, estão presentes nos PCNs. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais publicados em BRASIL/SEF, (1998), a participação dos estudantes deve ser ativa nos processos de aprendizagem com atividades de sensibilização e motivação para alcançarem compreensão conceitual do assunto, o que os levará a ter senso crítico e posturas ambientais corretas. Desta forma, o projeto desenvolvido pelo grupo formado por duas escolas e uma empresa, vem cumprir este propósito. Moran (2008) cita a importância do desenvolvimento de projetos que integrem várias áreas do conhecimento para que o estudante tenha oportunidade de vivenciar experiências novas e refletir para perceber que existe ligação entre as disciplinas. Este trabalho não pretende discutir a questão do desmatamento ou falta de leis que impedem que um organismo chegue ao nível de risco de extinção em si, mas sim os resultados obtidos quando um grupo se reúne com o claro objetivo de ajudar a preservar. Aulas práticas com plantio de espécies brasileiras e ameaçadas de extinção têm a finalidade de fazer parte de um processo educativo e assim, transmitir informações para alunos e população objetivando a conscientização e respeito aos elementos naturais além do aprendizado propriamente dito em botânica. A importância de aulas práticas fora da sala de aula, como por exemplo, o trabalho de campo presente neste relato de experiência está nos PCNs de Ciências Naturais (1998) que sugere este tipo de atividade, possibilitando ao estudante a percepção dos impactos provocados pela ação humana.
4 Página94 RELATO DE PRÁTICA BIAGOLINI, C.H.; SANTOS, R.S. O contato com a empresa A empresa participante do projeto é uma multinacional que destina verbas para projetos ecológicos nos países em que opera. Ao procurar uma ONG para realizar projetos semelhantes no Brasil, a empresa recebeu como indicação a escola de São Paulo, pois nesta, já se realizavam projetos de plantio com araucárias. Porém as mudas eram doadas apenas para a comunidade local, alunos e professores. Além disso, outras mudas eram distribuídas em universidades da cidade de São Paulo com a ajuda de professores que lecionam nestes lugares. Devido ao horário de trabalho que a empresa segue, a atividade de plantio coletivo foi agendada para um sábado e contou para a participação voluntária de alunos e professores na recepção do grupo. O plantio Com antecedência, grupos de alunos voluntários da escola de São Paulo, foram treinados para atuar como monitores, instruindo e auxiliando os funcionários da empresa no dia do plantio. Ao todo foram plantadas 200 mudas em São Paulo e, numa escola de São José dos Campos, mais 200 mudas foram plantadas pelos alunos daquela unidade escolar. Os cuidados Depois do plantio em São Paulo, os funcionários da empresa participante deixaram os recipientes com sementes plantadas sob os cuidados dos alunos que acolheram e mantiveram em área externa da escola, providenciando regas constantes até que seu desenvolvimento atingisse o mínimo de 10 cm medidos verticalmente. O
5 Página95 Relato de experiência: plantio de Araucárias um projeto pedagógico, p mesmo fizeram os alunos da escola de São José dos Campos. Neste período de desenvolvimento das mudas, as escolas trocaram informações sobre o desenvolvimento das plantas, realizando comparações e devidos acertos. O tempo de germinação da semente até desenvolvimento, o ponto de replantio, foi de cinco meses e as mudas atingiram de 10 cm a 30 cm. Esta diferença no desenvolvimento é considerada normal, pois depende da qualidade e característica da semente plantada, como também do indivíduo que produziu a semente. Como não foi realizada seleção prévia das sementes, as mudas se desenvolveram bem, porém de formas diferentes. Geneticamente, o plantio de sementes de indivíduos diferentes é saudável e torna a planta mais resistente, por esta razão não foi feita seleção de sementes. O plantio na Serra da Mantiqueira A Serra da Mantiqueira é uma cadeia montanhosa que se estende pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, sendo um divisor de águas formando a bacia hidrográfica da Serra da Mantiqueira que ajuda na produção de água para os estados por onde passa. A característica montanhosa da região faz com que em determinados períodos do ano haja calor e em outros momentos frio intenso. Sendo esta uma característica climática que favorece as gimnospermas, a região torna-se então, um ambiente natural para o desenvolvimento das Araucarias angustifolia. A cidade de São Bento do Sapucaí, (Figura 1) foi o local escolhido para o replante das mudas produzidas pelo projeto por estar localizada na divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais. Além disso, está inserida na área da Serra da Mantiqueira e próxima da cidade de São José dos Campos, cidade sede da escola participante. Assim sendo, um local ideal para o desenvolvimento das plantas.
6 Página96 RELATO DE PRÁTICA BIAGOLINI, C.H.; SANTOS, R.S. Figura 1: Local escolhido para o replantio das mudas. O encontro das escolas e empresa Devido ao distanciamento entre os participantes do projeto, o grupo escolheu um ponto na cidade de São Bento do Sapucaí para o encontro, para onde as 200 mudas produzidas pela escola de São José dos Campos foram levadas para o replantio, que ocorreu em uma propriedade privada rural. Com autorização do proprietário, o grupo entrou na propriedade e realizou o plantio das mudas em diferentes pontos do terreno, seguindo orientação de locais permitidos. Após o plantio o grupo retornou para seus locais de origem. Resultados Das 400 mudas produzidas, 200 mudas produzidas pela escola de São José dos Campos foram plantadas na Serra da Mantiqueira pelos alunos, professores e funcionários da empresa participante. Das 200 mudas produzidas na escola de São Paulo, 150 foram doadas para a empresa que realizou uma campanha de conscientização intitulada Adote uma Árvore, na qual os funcionários que apresentaram interesse puderam levar uma muda
7 Página97 Relato de experiência: plantio de Araucárias um projeto pedagógico, p para casa com o compromisso de cuidar para posterior replante. Outras 50 mudas foram distribuídas para alunos e professores da unidade escolar em São Paulo que também assumiram o compromisso de cuidar. No total, 400 novas mudas foram distribuídas e plantadas através da parceria escolas x empresa, contribuindo para a manutenção da espécie. Reflexões Finais Embora o projeto como um todo tenha exigido esforços de todo o grupo no sentido de realizar atividades físicas no plantio das sementes, no controle do desenvolvimento após a germinação, no transporte para outra cidade e no plantio em região montanhosa (Figura 2), que exige maiores esforços físicos, o grupo se mostrou satisfeito com a realização e conclusão do projeto a ponto de articular iniciativas semelhantes. Os resultados, embora modestos, mostram que a união de grupos diferentes, resulta em formação de conhecimento, uma aprendizagem significativa que nem sempre se obtém em sala de aula utilizando métodos conservadores. Além de ação favorável na preservação de um vegetal de extrema importância para o Brasil. No decorrer das atividades pertinentes ao projeto, novas ideias surgiram envolvendo outras disciplinas, tornando além de tudo um projeto multicultural, acenando Figura 2: Plantio das mudas de Araucaria angustifolia para uma escola de todos e para todos. A satisfação pessoal em poder estar presente no ambiente típico daquela espécie e testemunhar o replantio de outras 200 mudas; enriquece o compromisso de cuidar do
8 Página98 RELATO DE PRÁTICA BIAGOLINI, C.H.; SANTOS, R.S. meio ambiente, preservando não só o que se planta através de um projeto, mas também o que já existe cultivado pela natureza. No final do século XX, foi criada a Política Nacional de Educação Ambiental, através da Lei nº de 29 de abril de 1999; neste, o artigo 4, diz respeito aos princípios básicos da educação ambiental e um deles é o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade que no final das contas, foi o que o grupo realizou. A Resolução nº 2, de 30 de Janeiro 2012 do Ministério da Educação (2012), onde o capítulo I, Art. 10, destaca a obrigação de ações curriculares relacionadas a legislação vigente, como a da Política Nacional de Educação Ambiental. Então, com projetos semelhantes ao que foi realizado; as escolas atuam em plenitude com o que determinam as diretrizes de ensino. Referências bibliográficas BRASIL/SEF- Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF, p. Disponível em: < IBAMA/MMA Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa de setembro de Disponível em: LONGHI, S.J. A estrutura de uma floresta natural de Araucaria angustifolia (Bert) O.Ktze, no Sul do Brasil p. Dissertação de Mestrado em Engenharia Florestal. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, LORENZI, H. Árvores Brasileiras. Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil. 5. Ed. Nova Odessa-SP: Editora Plantarium Ltda, p. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Planos de ensino. Disponível em: copy.pdf MORAN, J. Aprendizagem Significativa. Entrevista ao Portal Escola Conectada da Fundação Ayrton Senna, publicada em 01/08/2008. Disponível em: BRASIL. PCN Ciências Naturais, MEC, Disponível em:
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