UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, AMBIENTE E FORMAÇÃO HUMANA PARA A SUSTENTABILIDADE
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- Amanda Filipe Vidal
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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, AMBIENTE E FORMAÇÃO HUMANA PARA A SUSTENTABILIDADE OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E SUSTENTABILIDADE NA ASSOCIAÇÃO REDE ESPERANÇA Curitiba, 2011
2 1 CARMEN LUCIA MASSONI OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E SUSTENTABILIDADE NA ASSOCIAÇÃO REDE ESPERANÇA Artigo apresentado ao Curso de Pós Graduação em Educação, Ambiente e Formação Humana para a Sustentabilidade da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista. Orientadora: Profª.Ms Regina Bergamaschi Bley CURITIBA 2011
3 2 OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E SUSTENTABILIDADE NA ASSOCIAÇÃO REDE ESPERANÇA Carmen Lucia Massoni 1 RESUMO A presente pesquisa teve como objetivo analisar em que medida a Oficina Construindo Cidadão, integrante do Programa Construindo o Futuro, desenvolvido pela Associação Rede Esperança e através da qual os educandos - adolescentes a partir de 12 anos têm acesso às atividades de conteúdo ambiental, tem contribuído para o desenvolvimento de valores voltados para a sustentabilidade ambiental. Nesse sentido, buscou-se analisar a percepção dos educandos a respeito das atividades desenvolvidas pela oficina, a sua relação com o meio ambiente e as possíveis transformações que os conteúdos de caráter ambiental possam ter provocado em suas práticas cotidianas, individual ou coletivamente. Para a análise do objeto proposto pela presente pesquisa, buscou-se responder à seguinte questão: os conteúdos trabalhados têm contribuído para o desenvolvimento de valores e de práticas voltados para a sustentabilidade ambiental nos educandos do Programa Construindo o Futuro, mais especificamente da oficina Construindo Cidadão, desenvolvido pela Associação Rede Esperança? A pesquisa desenvolvida é de caráter qualitativo e como instrumento de coleta de dados foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 10 adolescentes de 12 a 14 anos, integrantes da Rede Esperança há, pelo menos, 01 ano. Palavras Chave: Formação Integral, Sustentabilidade, Meio Ambiente 1 Graduada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná e em Ciências Religiosas, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É aluna do Curso de Pós-Graduação em Educação, Ambiente e Formação Humana para a Sustentabilidade, na Universidade Tuiuti do Paraná. Atualmente é Coordenadora da Associação Rede Esperança.cluciam1@yahoo.com.br
4 3 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como finalidade principal, apresentar uma análise sobre aspectos da oficina Construindo Cidadão, a qual integra o Programa Construindo o Futuro, desenvolvido pela Associação Rede Esperança - Organização sem fim Lucrativo de Utilidade Pública com sede no Bairro Capão da Imbuia -Curitiba- e a sua relação com o desenvolvimento de valores e de práticas voltadas para a sustentabilidade ambiental nos educandos que a frequentam adolescentes a partir de 12 anos, moradores do Município de Curitiba e Região Metropolitana. Primeiramente, buscou-se conhecer como se dá o processo de formação integral realizado através dos Programas Sociais Educativos desenvolvidos junto a comunidades de baixa renda pela Associação Rede Esperança, os quais buscam a inclusão social e configuram uma área de práticas educativas à luz da educação não formal, à qual Gohn (1999) refere-se como sendo aquela que tem como pressuposto, a formação para a cidadania. Também buscou-se relatar em que medida a sustentabilidade tem relação com a formação integral almejada pela Rede Esperança a partir dos programas sociais educativos realizados por ela. Aqui, a sustentabilidade é compreendida a partir da ética do cuidado, como caminho de sensibilização e reconstrução de um planeta do qual depende a vida de todos, conforme coloca Boff(1999). A ética do cuidado torna-se o ponto comum das teorias mais diversas. Quem ama, cuida, afirma Leonardo Boff ( 1999) e Sanches (2004), concordando com Boff, vai mais além ao afirmar que quem cuida valoriza e transcende o valor da vida. Por ultimo, na perspectiva de Hans( 2006), quem ama cuida e se responsabiliza não somente no aqui e agora, mas também pelo futuro e pelas próximas gerações. O interesse pelo tema da presente pesquisa surgiu a partir da prática de trabalho da pesquisadora, que atua na Rede Esperança desde 2007, inicialmente como psicóloga e atualmente como Coordenadora Operacional. Essa vivência possibilitou a observação e o acompanhamento do processo de formação dos adolescentes, desenvolvida através das Oficinas do Projeto
5 4 Construindo o Futuro, dentre outros. O desafio que se apresentou, a partir dessa experiência, foi a possibilidade de analisar em que medida o campo educacional contribui para a solução dos problemas ambientais, conforme coloca Sorrentino ( 1995), especialmente quando o processo formativo se dá em espaços não formais de educação, como é o caso da Rede Esperança. Contribuir com a formação de valores ambientais, como se propõe a partir da oficina Construindo Cidadão, exige que leve-se em conta algumas características básicas desse processo. Nessa perspectiva, Sorrentino (1995) destaca que os processos educativos voltados à formação ambiental, devem, entre outras coisas, instigar os indivíduos a analisar e participar na resolução dos problemas ambientais das coletividades; estimular uma visão global, abrangente, holística e crítica das questões ambientais; estimular um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes; além de propiciar um autoconhecimento que contribua para o desenvolvimento de valores (espirituais e materiais), atitudes, comportamentos, habilidades. Nesse sentido, entendeu-se como necessário discorrer sobre a base do processo de formação proporcionado pela Rede Esperança, referenciada como sendo uma formação integral, por considerar o adolescente educando em seus aspectos bio-psico-social-espiritual e ambiental. Para a análise do objeto da presente pesquisa, buscou-se, portanto, responder à seguinte questão: Os conteúdos trabalhados dentro da oficina Construindo Cidadão, desenvolvida pela Associação Rede Esperança têm contribuído para o desenvolvimento de valores e de práticas voltados para a sustentabilidade ambiental nos educandos? Como objetivo geral do presente estudo, estabeleceu-se: Analisar se os conteúdos trabalhados têm contribuído para o desenvolvimento de valores e de práticas voltados para a sustentabilidade ambiental nos educandos da oficina Construindo Cidadão, desenvolvido pela Rede Esperança. Como objetivos específicos, buscou-se: Descrever o Programa de Formação Integral da Rede Esperança; Identificar os conteúdos ambientais desenvolvidos através da oficina Construindo Cidadão;
6 5 Identificar a existência de práticas sócio-ambientais decorrentes do processo de formação dos educandos da oficina Construindo o Futuro. O estudo em questão justificou-se pela sua relevância social, especialmente pelo fato de que, atualmente, não são raras as Instituições que oferecem cursos e atividades formativas, com foco dirigido muito mais para atingir metas e lucros do que a preocupação e o compromisso com a formação integral dos educandos. Outro aspecto a ser considerado é que a presente pesquisa possibilitou fazer uma análise das práticas voltadas para a sustentabilidade ambiental dos educandos da oficina Construindo Cidadão, possibilitando identificar possíveis mudanças no contexto familiar e comunitário dos mesmos. A escolha dessa oficina como foco de análise pela pesquisa em tela, justifica-se pelo fato da mesma estar pautada na idéia de que a educação precisa desenvolver constantemente a preocupação de relacionar o conteúdo estudado com seu impacto na sociedade, principalmente no que diz respeito ao ambiente. Para tanto, é importante o estudo do meio como um recurso didático capaz de proporcionar vivências e experiências de aprendizagem que envolvam a resolução de problemas por meio de atividades investigativas, dentro e fora do ambiente escolar. Para análise do objeto proposto realizou-se uma pesquisa qualitativa e como instrumento de coleta de dados, utilizou-se entrevistas semi-estruturadas, ou seja, realizadas a partir de roteiro previamente organizado. O universo da pesquisa foi composto pelo número total dos educandos, que participam da oficina Construindo Cidadão há, pelo menos, 01 ano de abril de 2010 a abril de 2011, assim identificados: 5 adolescentes do sexo masculino e 5 do sexo feminino, na faixa etária entre 12 e 14 anos, cursando o ensino fundamental e com renda familiar de 01 a 03 salários mínimos.
7 6 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. FORMAÇÃO INTEGRAL: FORMAÇÃO HUMANA PARA A CIDADANIA Este capítulo tem como finalidade, proporcionar uma reflexão acerca dos aspectos da formação integral, baseada numa perspectiva da educação não formal, ou seja, da educação que tem como pressuposto a formação para a cidadania, e cuja aprendizagem se dá por meio das práticas sociais, conforme coloca Gohn (1999). Isso pressupõe uma educação voltada para a formação humana e não para a preparação para o mercado de trabalho. Arroyo destaca a contribuição que Paulo Freire deu para essa reflexão, ao trazer, já na década de 60, a educação para o campo da humanização, para as velhas e novas questões do sentido da própria condição humana e não para a mera instrumentalização para o mercado (ARROYO, 2005). O mesmo autor, discorrendo sobre a relação entre educação e humanização, destaca uma reflexão feita por Herzog (1992), que diz que o objetivo da pedagogia moderna consiste em ajudar o ser humano em sua humanização. Esta expressão tem o sentido de maturação para a emancipação (ARROYO,2005). Concordando com a reflexão de Herzog (1992) e considerando ser o adolescente um sujeito que encontra-se em uma etapa de desenvolvimento essencial para a sua formação integral enquanto ser humano, entende-se também como necessário o desenvolvimento de atividades que facilitem seu crescimento pessoal, social, ambiental, espiritual e profissional e que atenda às demandas sociais relacionadas à chegada de sua maturidade. Pode-se dizer que o desenvolvimento e a autonomia do adolescente não acontecem naturalmente, mas precisa ser estimulado e promovido através da educação formal ou não, adequados à fase na qual se encontra, conforme analisa Freire: Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas realizações uns com os outros e com os educadores ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico,
8 7 como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque é capaz de reconhecer-se como objeto. Assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros.(freire, 2004) Se esse aspecto da educação é essencial para a vida dos adolescentes e jovens, pode-se refletir que esse conceito está relacionado ao desenvolvimento das capacidades substantivas das pessoas para promover cidadãos efetivos, conforme coloca Dowbor: A Idéia da educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada à compreensão e à necessidade de formar pessoas que amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas (...) Para termos cidadania ativa, temos de ter uma cidadania informada e isso começa cedo. A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessário para ajudar a transformá-la. (DOWBOR, 2006). Outro aspecto que chama a atenção, diz respeito à idéia de Freire (2001), que menciona que não se pode refletir sobre educação/formação sem pensar primeiro sobre o que é o ser humano. Pois, para ele, o ser humano é inacabado e, portanto, necessita de formação. No que tange ao inacabamento citado por Freire (2001), a Associação Rede Esperança, para o desenvolvimento de seu processo formativo, parte da compreensão de que o ser humano é um ser historicamente situado no mundo, um ser vivo, único, complexo nas suas dimensões individuais, sociais e, portanto, inacabado. Consciente do inacabamento, ele parte em busca do permanente movimento de crescimento e encontro do ser mais, da própria liberdade, harmonia e sentido da vida. Na busca do crescimento, da própria liberdade, tem-se a educação como uma resposta da finitude e infinitude. Portanto, a educação é possível para o ser humano, porque este é inacabado e sabe-se inacabado. A educação implica na busca realizada por um sujeito que é o homem, na qual deve ser sujeito de sua educação e não objeto dela. Ainda segundo Ferreira (2008), pode-se e necessita-se situar e pensar a formação e a formação continuada, visto que em todas e suas mais diversas e diferenciadas formas constitui-se, sempre, em uma forma de capacitar e
9 8 qualificar sujeitos que necessitam se aprimorar ou ascender à condição de participante dessa sociedade que muitas vezes exclui e não inclui. É importante refletir que o processo educativo realizado em espaços fora dos muros escolares, ou seja, na perspectiva da educação não formal, assim como ocorre na Rede Esperança, é uma área que o senso comum e a mídia usualmente não vêem e muitas vezes não entendem como educação porque são sistemas diferenciados da escola, conforme coloca Gohn (1999). Isso ocorre, ainda de acordo com essa autora, pelo fato da educação não formal ter objetivos diferenciados da educação escolar, tais como: a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e o exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; o despertar da consciência ecológica e contribuição para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor. Nesse sentido, pode-se valer ainda da análise de Gohn (1999) quando argumenta que, a educação não-formal surge em um contexto de crítica à racionalidade, à razão, e de descoberta de outras racionalidades, relacionadas ao mundo da vida. Ou seja, pode-se compreender a educação integral baseada em práticas sociais, desenvolvidas em espaços não formais de educação como a que ocorre na Rede Esperança, como sendo aquela cujo objetivo é formar um cidadão capaz de fazer uma leitura crítica de mundo (GOHN, 1999) 2.2. FORMAÇÃO HUMANA PARA A SUSTENTABILIDADE Refletir sobre o tema da sustentabilidade é pensar no cuidado com a vida. A ex-ministra de Estado do Meio Ambiente, Marina Silva, aponta a Carta
10 9 da Terra 2, como sendo um forte sinal de que vivemos um tempo de cuidado, por reforçar a visão de que: (...)a Terra, nosso lar, é viva, como uma comunidade de vida incomparável.(...)devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.(carta DA TERRA, 2004) O conceito de Sustentabilidade ou Desenvolvimento Sustentável passa a ter ênfase a partir da década de 80 através do documento intitulado Nosso Futuro Comum, resultado do trabalho da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Segundo esse documento, desenvolvimento sustentável é o modelo de desenvolvimento que é capaz de garantir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também às suas. Em relação à evolução do conceito de Sustentabilidade bem como a sua relação com a educação, merece destaque também, a Conferência de Tessalônica, promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNESCO), em 1998, pois a partir dela, o conceito de sustentabilidade passa a incorporar aos aspectos ambientais, as questões relacionadas à pobreza, à população, à saúde, à segurança alimentar, à democracia, aos direitos humanos e à paz. Importante ressaltar que a redução da pobreza, é objeto essencial e 2 A Carta da Terra é um documento global, concluído em 2002, pela Comissão da Carta da Terra, e estabelece 4 princípios éticos fundamentais para o processo de construção da sociedade sustentável.são eles: Respeitar e cuidar da comunidade de vida; Integridade ecológica; Justiça social e econômica; Democracia, não-violência e paz
11 10 indispensável para a sustentabilidade, na medida em que, dentre outras coisas, torna o acesso à educação e a outros serviços sociais mais difícil, conforme destaca Bley ( 2004). Outro avanço a ser considerado a partir da Conferência de Tessalônica, de acordo com a autora, foi o fato de reconhecer o papel crítico da educação e da consciência pública para o alcance da sustentabilidade. Segundo Scotto (2007), o tema do desenvolvimento sustentável tem alimentado muitas propostas que apontam para novos mecanismos de mercado como solução de condicionamento da produção à capacidade de suporte dos recursos naturais. De acordo com o Fórum Brasileiro de ONGs (1997), o desenvolvimento sustentável só poderá converter-se em proposta séria à medida que seja possível distinguir seus conteúdos concretos, seus significados ecológicos, ambientais, demográficos e culturais, sociais, políticos e institucionais. Nesse texto somos convidados a refletir a sustentabilidade na dimensão relacionada ao cuidado do ser humano e da natureza, pois só quando as pessoas, em sua formação, valorizam a importância de ser pessoa, são capazes também de cuidar da natureza. Percebe-se que uma das preocupações de Boff (1999) é a crise que afeta a humanidade pela falta de cuidado. Para sair desta crise, segundo o autor, precisa-se de uma nova ética e ela deve nascer de algo essencial ao ser humano. Boff define o sentido do cuidado e de viver, ao dizer que tudo que existe e vive preciso ser cuidado para continuar a existir e viver: uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. O cuidado é mais fundamental do que a razão e a vontade (BOFF, 1999). O autor acima destaca também a necessidade do ser humano em desenvolver a capacidade de cuidar de si, das pessoas e de toda a natureza, pois a falta de cuidado se apresenta constante nos dias de hoje: trata se de pensar e falar de cuidado na dimensão ontológica, referindo-se à constituição do ser humano, portanto, um modo singular de ser mulher e homem. Se não tivermos esse cuidado, podemos dizer que deixamos de ser humanos.
12 11 O autor Roberto da Matta (2009) diz que devemos voltar a escutar, como faziam nossos antepassados, e como fazem os nossos índios, voltando a pensar a sociedade não contra a natureza, mas com ela; e a natureza como sendo ela mesma um sujeito dotado de humanidade. Pensar a sustentabilidade, portanto, significa pensar a construção de uma sociedade a partir do respeito a todas as formas de vida e para que isso aconteça é necessário um processo de aprendizagem permanente, processo no qual a educação ocupa papel central na formação de valores e na ação social, conforme colocam Ovalles e Viezzer (1994): Consideramos que a educação ambiental para a sustentabilidade eqüitativa é um processo de aprendizagem permanente.tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relação de interdependência e diversidade.isto requer responsabilidade individual e coletiva em nível local, nacional e planetária. Esses autores destacam ainda como um dos princípios da Educação para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global que a educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, não-formal e informal, promovendo a transformação e a construção da sociedade (OVALLES E VIEZZER,1994). Complementando essa idéia, pode-se valer da análise de Sorrentino (1995) que diz que a dimensão ambiental pode e deve fazer parte da formação de todos os estudantes, seja para a sua atuação profissional, seja para o exercício da cidadania e na vida pessoal. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa em tela é de caráter qualitativo que, de acordo com Chizzotti ( 2000), são aquelas que apoiam-se em dados reunidos a partir das interações interpessoais, na co-participação das situações dos informantes, analisados a partir da significação que estes dão aos seus atos. Como pesquisa qualitativa, teve como objetivo central, identificar fatores que determinassem ou que pudessem contribuir para a análise do objeto proposto,
13 12 no caso, aspectos da Oficina Construindo Cidadão, desenvolvida pela Associação Rede Esperança e a sua relação com o desenvolvimento de valores e de práticas voltadas para a sustentabilidade ambiental. Para a coleta de dados fez-se uso de entrevistas semi-estruturadas, ou seja, aplicadas a partir de um roteiro previamente elaborado. A entrevista é uma técnica básica nas abordagens qualitativas, apresentando-se como uma forma de interação social que, segundo Chizzotti (2000), parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Para a escolha da amostra da pesquisa, procurou-se levar em consideração o universo total dos educandos que participam da Oficina Construindo Cidadão desde abril de 2010, ou seja, 10 educandos, assim identificados: 5 adolescentes do sexo masculino e 5 do sexo feminino, entre 12 e 14 anos, cursando o ensino fundamental e dentro da faixa de renda familiar de 01 a 03 salários mínimos CARACTERIZAÇÃO DO LOCUS DA PESQUISA: REDE ESPERANÇA OU RETE SPERANZA Breve Histórico A Rede Esperança é uma Associação de Inspiração Cristã, cuja matriz - Rete Speranza -, foi criada em 1988 e tem sede em Milão, Itália. Tem como missão, realizar formação profissional e promoção humana, visando proporcionar condições efetivas de melhoria de vida e de auto-sustentabilidade para comunidades de pequeno poder aquisitivo. A Rede Esperança teve origem na década de 80, quando algumas famílias italianas vieram até Curitiba para conseguir a adoção de crianças, com a supervisão do Tribunal de Justiça do Paraná. Após inúmeras experiências positivas neste sistema de adoção, um destes casais, Silvano e Marisa Rota,
14 13 tornou-se animador de um movimento chamado Rete Speranza, que havia nascido, oficialmente, no verão de 1989, na Itália. Como Instituição, a Rede Esperança começou a dar os primeiros passos no ano 1991 pelo desejo da Rete Speranza-Italia de constituir uma associação paralela no Brasil, com os mesmos objetivos da matriz. Assim nasceram em 1992, o Centro Profissionalizante, em Curitiba, e em 2004, o Centro de Promoção Humana, em Piraquara, A primeira parte do Centro Profissionalizante foi inaugurada em agosto de 1993, com os cursos de panificação, mecânica, eletricidade e de encanador. Esses cursos eram realizados em parceria com o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e, mais tarde, com a FAS (Fundação de Ação Social de Curitiba). Em 2007, em parceria com a Rete Speranza Itália, a CEJA/PR (Comissão Estadual Judiciária de Adoção) e a 2ª Vara da Infância e da Juventude (adoções) de Curitiba, surgiu o Projeto Adote uma Esperança, o qual, inicialmente, era direcionado aos adolescentes cadastrados na CEJA, que se encontravam em abrigamento institucional e não possuíam perspectiva de inserção em uma família substituta, tanto no âmbito nacional quanto no internacional. Preocupados com o bem estar destes adolescentes, mais especificamente com a questão do desligamento dos abrigos, a proposta focou-se no desenvolvimento de um processo de capacitação humana e profissional, visando a inserção destes adolescentes à vida profissional e social fora dos abrigos. Para nortear o projeto até o fim de 2009, elaborou-se uma proposta educativa, a qual constituiu-se de 3 etapas principais: a. Educação propedêutica 3, sistematização e aprofundamento dos conhecimentos básicos; b. Formação humana e profissionalizante; c. Inserção no mercado formal de trabalho, possibilitando a preparação para o desligamento do adolescente do abrigo, e o incentivo à sua autonomia. 3 Conjunto de estudos introdutórios que visa dar ao aluno a formação geral e básica preliminar.
15 14 No decorrer de suas atividades e à medida que algumas ações foram se concretizando, o Projeto Adote uma Esperança sofreu algumas alterações a fim de se ajustar e adequar o seu objetivo à realidade encontrada. Em 2009, a mudança mais significativa encontrada dizia respeito ao público-alvo, que passou a ser formado não somente de adolescentes de abrigo, como também de adolescentes provenientes de outros projetos sociais, assistidos pelo CRAS 4 da Regional Cajuru, Curitiba, ou da própria comunidade. Este movimento propiciou aos adolescentes (a quem num primeiro momento o projeto destinava-se) a possibilidade de interagir com adolescentes de outras realidades que não somente a de casa de abrigos. Essa vivência possibilitou aos mesmos, ampliarem a sua visão e, por conseguinte, as suas expectativas e projetos de vida. A proposta de 2010 ampliou as mudanças para outras áreas do projeto, objetivando: proporcionar um espaço facilitador para o desenvolvimento integral do adolescente, visando, gradualmente, a inclusão social e buscando atender às seguintes expectativas: a. Promover a prevenção de comportamentos e condições sociais desfavoráveis à cidadania e ao desenvolvimento individual de cada adolescente; b. Proporcionar atividades que possibilitassem o despertar de talentos e de capacidades; c. Propiciar o desenvolvimento humano integral dos adolescentes; d. Orientar e acompanhar o desenvolvimento profissional de cada participante; e. Despertar o senso de cidadania, conscientizando o adolescente de seus direitos e deveres; f. Facilitar a instrumentalização e a capacidade interna para a geração de trabalho e renda; g. Propiciar espaço para o desenvolvimento e estruturação da autonomia de cada indivíduo; 4 Centro de Referência da Assistência Social
16 15 h. Desenvolver a criatividade, originalidade, coordenação motora de cada adolescente; i. Auxiliar na quebra de paradigmas familiares nos aspectos sociais, emocionais e econômicos. A Rede Esperança, hoje com sede na Rua Nicácio Riquelme 192, no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba, é reconhecida como sendo de Utilidade Pública Municipal, Estadual e Federal, tem inscrição no Conselho Nacional da Assistência Social, possui a Filantropia e credenciamento junto ao CEJA/PR Comissão Estadual Judiciária de Adoção Público-Alvo A Rede Esperança atende, em especial adolescentes e mulheres. Os adolescentes são oriundos da comunidade local, abrigos, casa lares e repúblicas; de projetos de atendimento integral institucional; famílias substitutas e acolhedoras; de programas socioeducativos de restrição ou de privação de liberdade; de programas como o de erradicação ao trabalho infantil, dentre outros. Em síntese, a Rede Esperança atende a adolescentes que encontramse em situações de risco, aqui compreendidas como sendo aquelas que representem ameaças ao bem-estar físico e/ou psicológico e que possam deflagrar uma situação sócio-econômica desfavorecida Organização do Trabalho Todo o trabalho da Rede Esperança está organizado em dois espaços com conteúdos, público-alvo e estrutura diferenciados: O Centro Profissionalizante, em Curitiba, Paraná e o Centro de Promoção Humana, em Piraquara, Município da Região Metropolitana de Curitiba. Centro Profissionalizante Com sede em Curitiba, atende aos adolescentes em situação de risco, oferece atividades formativas, estruturadas sob a forma de Programas, tais como: Construindo o Futuro, Adolescente Aprendiz e Cursos Profissionalizantes.
17 16 Centro de Promoção Humana O Centro de Promoção Humana (CPH), em Piraquara, se caracteriza por ser um espaço facilitador do desenvolvimento integral do ser humano, com foco na mulher; nasceu da experiência do Centro Profissionalizante, mas com um objetivo diferenciado: buscar primeiramente inserir-se na comunidade local para conviver com a cultura e com a vida das pessoas. Para tanto, constituiu-se de uma infra-estrutura básica incubadora de idéias, de apoio, de ajuda para as pessoas se encontrarem com respeito à sua história, à sua cultura, à sua necessidade e à sua expectativa de vida e iniciou suas atividades em Atualmente, suas atividades estão estruturadas sob a forma de programas, tais como: 1. Programa Geração de Trabalho e Renda: promove a formação para a gestão, a comercialização, o empreendedorismo familiar, as associações cooperativas, por meio de palestras, parcerias, participação em eventos, as incubadoras de panificação e de corte e costura e a formação com práticas de economia solidária; 2. Programa Bem Estar: tem seu foco na formação humana integral e oferece às participantes, palestras sobre higiene, prevenção, saúde e economia; fitoterapia; serviço social; hidroterapia; massoterapia Proposta Pedagógica: a Pedagogia do Encontro Todo o trabalho da Rede Esperança está pautado na pedagogia do encontro que é, em primeiro lugar, caminho, prática educativa e envolve: a. um método, que facilite o encontro de varias instâncias, a partir da leitura dos acontecimentos concretos do dia a dia; b. uma teologia, como visão do mundo e do homem na relação com Deus e com os outros; c. uma filosofia, como fim: é a ciência que ajuda a definir o pôrque do existir. d. um conhecimento concreto do homem/mulher através das ciências, tais como a psicologia, a antropologia, a medicina e a biologia; e. um ambiente onde se vive: comunidade local, cidade, nação e mundo através da sociologia e da ecologia.
18 Atividades Desenvolvidas pela Rede Esperança Conforme já mencionado, a Rede Esperança oferece, aos adolescentes, aqui compreendidos como educandos, atividades formativas, estruturadas sob a forma de programas, como um espaço facilitador do desenvolvimento integral a fim de proporcionar uma oportunidade de melhoria da qualidade de vida pessoal e profissional. Paralelamente à formação profissional é realizado um trabalho de formação humana, através de atividades voltadas para o desenvolvimento de valores, cidadania, empreendedorismo e meio ambiente. As atividades formativas estão dirigidas a adolescentes, a partir dos 12 anos, conforme Quadro abaixo: QUADRO 1: ATIVIDADES FORMATIVAS DESENVOLVIDAS PELA REDE ESPERANÇA DE ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA Atividade Construindo o Futuro Adolescente Aprendiz Cursos Profissionalizantes Faixa Etária 12 a 14 anos 15 a 17 anos Acima de 18 anos Programa Construindo o Futuro O programa Construindo o Futuro visa facilitar o desenvolvimento integral dos adolescentes a partir de 12 anos, por meio de um processo gradual na área artística - cultural. É o Programa que permite atender aos adolescentes mais jovens a partir dos 12 anos. A partir dos 14 anos, eles podem ingressar no programa Adolescente Aprendiz, o qual promove atividades educativas e de formação profissional, visando oportunizar a profissionalização e a inserção no mercado formal de trabalho. Após esse processo, o jovem tem a possibilidade de dar continuidade à sua formação profissional com um curso de qualificação profissional. A oficina Construindo Cidadão Parte integrante do Programa Construindo o Futuro e foco do presente estudo, a oficina Construindo Cidadão tem como finalidade estimular a reflexão sobre as questões sócio-ambientais.
19 18 Pretende-se, com isso, possibilitar a reflexão sobre os diversos aspectos que possam contribuir para uma vida de qualidade, levando os adolescentes a desenvolverem novas atitudes e hábitos através do conhecimento pesquisado, construído e contextualizado por meio das atividades desenvolvidas, estimulando, assim, a sua autonomia e consciência ambiental. Essa oficina tem como objetivos: Analisar e discutir as mudanças ambientais da região e contribuir para o estudo de impacto ambiental local; Utilizar os materiais desprezados no dia-a-dia tais como: jornais, revistas, materiais de escritório, listas telefônicas, folhas de cadernos, formulários de computador, dentre outros; Sensibilizar os alunos para a preservação do meio ambiente desenvolvendo atitudes sustentáveis; Perceber que o lixo pode ser uma fonte importante de recurso financeiro através da reciclagem; Refletir sobre atividades de sensibilização que permitam uma mobilização da comunidade (bairro, escola, etc.) para buscar soluções coletivas sobre a questão do lixo; Informar sobre as formas de Reduzir, Reutilizar e Reciclar o lixo 3 R s; Difundir a cultura do empreendedorismo, criando um espaço de desenvolvimento de habilidades pessoais, atitudes comportamentais e práticas empreendedoras entre os adolescentes Desenvolvimento Integral na Rede Esperança Ao considerar o ser humano inacabado e ciente desse inacabamento, a Rede Esperança busca oferecer um desenvolvimento integral do adolescente, no sentido bio-psico-social-ambiental-espiritual. Esse foco serve como norteador de toda a atuação, o que, espera-se, poderá propiciar o crescimento não só individual como também social.
20 19 As atividades possuem um caráter integrador e, portanto, fundem-se umas às outras, podendo, muitas vezes se articularem de uma forma onde uma determinada oficina, por exemplo, integrará tanto os aspectos que envolvem o cognitivo, como o emocional, o espiritual e o social. As linhas-básicas também servirão para orientar as atividades de outros educadores envolvidas com os adolescentes, no caso seus pais e professores. As linhas-base de cada atividade são: Para desenvolver o Programa Arte Cultura o adolescente precisa de alguns instrumentos ou habilidades básicas, por isso o projeto prevê atividades tais como: Reforço Escolar; oficina de Desenvolvimento Humano; Inclusão Digital; Roda de Leitura; Construindo Cidadão. Com o intuito de promover a inclusão do adolescente, o programa realiza ações em parceria principalmente com a família nuclear do adolescente, colegas e comunidade, visando valorizar os relacionamentos interpessoais que possam minimizar o ciclo de exclusão social. Utilizando a arte-educação como meio de aprendizagem e de inclusão social, cujos produtos simbolizam e caracterizam a individualidade de cada adolescente e, por conseguinte, seu grupo, as atividades que possam contribuir para este desenvolvimento são trabalhadas por Núcleos: Núcleo de Esporte e Lazer: Núcleo Produção Digital: Núcleo Artes visuais: Núcleo Teatro: Núcleo Dança: Núcleo Musical. O desenvolvimento da capacidade criativa dos alunos tem uma direta relação com a produção do conhecimento nas diversas disciplinas. Por isso, propõe-se, de maneira integrada, em especial através da oficina Construindo Cidadão, atividades didáticas que sensibilizem para a consciência quanto à degradação do ambiente, reaproveitamento do lixo, cuidado com o corpo e prevenção a doenças, com múltiplas possibilidades no fazer artístico, despertando para atitudes sustentáveis e também incentivando a produção de materiais como fonte de renda. Assim, integrar as diversas áreas do conhecimento, tais como, Arte, Ciências, Saúde e Língua Portuguesa, nas suas diversas linguagens e interpretações, no desenvolvimento das atividades, é uma tentativa de
21 20 contribuir para o desenvolvimento de uma consciência corporal, ambiental e social por meio do fazer, do sensível e do lúdico Pesquisa de Campo A pesquisa de campo foi desenvolvida nos dias 05 e 06 de abril de 2011, com a realização de entrevistas em uma das salas de atividades da Associação Rede Esperança. As questões abordadas nas entrevistas foram relativas às atividades desenvolvidas na oficina Construindo Cidadão e a relação com o meio ambiente, conforme anexo Caracterização dos sujeitos da pesquisa quanto à idade, sexo, escolarização, moradia, renda e tempo de participação na oficina Construindo Cidadão QUADRO 1. CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA, QUANTO À IDADE, SEXO E ESCOLARIZAÇÃO. Sujeito Idade Sexo Nível Escolarização 1. M.A.G 13 F Ensino fundamental incompleto 2. G.K.R 12 F Ensino fundamental incompleto 3. A.C.O 14 F Ensino fundamental incompleto 4. F.V.L 13 M Ensino fundamental incompleto 5. M.H.C 12 M Ensino fundamental incompleto 6. F.S 12 M Ensino fundamental incompleto 7. J.S.O 13 F Ensino fundamental incompleto 8. J.P.L 12 M Ensino fundamental incompleto 9. C.O.C 13 F Ensino fundamental incompleto 10. J.S.O 12 M Ensino fundamental incompleto QUADRO 2: DADOS FAMILIARES DOS ENTREVISTADOS QUANTO À MORADIA E RENDA Com quem moram Percentual dos Entrevistados Pai, mãe e irmãos 70% Somente mãe e irmãos 30%
22 21 QUADRO 3. DADOS EM RELAÇÃO À RENDA FAMILIAR Renda Familiar Percentual dos Entrevistados Até 01 Salário Mínimo 30% De 01 a 03 Salários Mínimos 70% QUADRO 4: TEMPO DE PARTICIPAÇÃO NA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO Tempo de participação Percentual dos Entrevistados 01 ano 90% De 01 a 2 anos 10% Análise dos Dados Em relação à primeira questão abordada com os entrevistados, ou seja, há quanto tempo participam das atividades da oficina Construindo Cidadão observou-se que 100% participam há, pelo menos, 01 ano. Na segunda questão abordada, que diz respeito às atividades da oficina Construindo Cidadão que mais despertaram a atenção dos entrevistados, 90% (noventa por cento) disseram que foi a produção de objetos com materiais recicláveis, tais como: artefatos com papel reciclável; produção de objetos artesanais com aproveitamento de tecidos, tais como vasos, porta agulha e chaveiros. Os demais entrevistados, 10% (dez por cento), fizeram referência às atividades relativas ao Empreendedorismo. Os resultados estão demonstrados no Quadro abaixo: QUADRO 5. ATIVIDADES DA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO QUE MAIS DESPERTARAM INTERESSE DOS EDUCANDOS Atividade Percentual (%) Produção de objetos com materiais 90 recicláveis Atividades relacionadas ao 10 empreendedorismo Importante observar que a grande maioria dos entrevistados apontou a produção de objetos com materiais recicláveis como a principal atividade de interesse, relacionando isso com a questão do meio ambiente. Pode-se pensar
23 22 que o interesse demonstrado também pode estar relacionado ao ato de criação, ou seja, ao fato de fazer algo inédito, novo e singular, entendendo a arte como sendo um elemento fundamental para a educação; como apropriação do conhecimento historicamente produzido pelo homem e seu espaço de construção de novas habilidades e possibilidades, conforme coloca Peixoto (2003). A terceira questão abordou a percepção que os entrevistados têm sobre a relação entre as atividades do Construindo Futuro e as questões do meio ambiente. 100% (cem por cento) dos adolescentes disseram reconhecer a existência dessa relação, pois as atividades desenvolvidas têm foco no cuidado com o meio ambiente, expresso no aproveitamento de materiais que seriam descartados como lixo, tais como as embalagens de leite que são transformadas em artefatos de uso pessoal como carteiras; nas reflexões sobre a responsabilidade de não poluir o meio ambiente, de se cuidar do que é de todos, aspecto ressaltado por Boff (1999), ao defender a ética e a opção pelo cuidado. Cuidar, como diz esse autor, é mais que um ato, é uma atitude de preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro. As pessoas não possuem somente corpo e mente, são seres espirituais. Assim, devemos valorizar esse lado espiritual através do sentimento e do cuidado com o nosso planeta. Em relação à quarta questão, quando questionados se as atividades da oficina Construindo Cidadão, provocaram alguma mudança em suas práticas cotidianas, no que diz respeito ao cuidado com o meio ambiente, 100% (cem por centos) dos entrevistados disseram que sim, com ênfase, mais uma vez, no reaproveitamento de materiais recicláveis: 50% (cinquenta por cento) mencionaram que aprenderam a reciclar, separar o lixo ou seja, passaram a desenvolver práticas de reaproveitamento de materiais recicláveis, o que demonstra uma forma de cuidado com o meio ambiente; outros 20% (vinte por cento) disseram que pararam de provocar poluição e de jogar o lixo na rua; 10% ( dez por cento) disseram ficar anteriormente no banheiro por bastante tempo, o que representava desperdício de água e de energia, mas que depois da participação na oficina não só mudaram esse hábito como passaram a reaproveitar materiais tais como caixas de leite para transformar em carteiras
24 23 para colocar dinheiro; 10% ( dez por cento ) mencionaram que não gostam de viver em um ambiente sujo e que antes jogavam as caixas de leite, garrafas peti e outras coisas no lixo ou na rua e agora passaram a reciclar e a aproveitar esses materiais. Outros 10% (dez por cento) mencionaram que passaram a retirar o lixo das ruas, aprenderam a fazer fuxico, peças de tic.tac e colares com as mães, e como a venda desses produtos tem ajudado na renda familiar. QUADRO 6: RELAÇÃO ENTRE AS ATIVIDADES DA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO E MUDANÇAS NA PRÁTICA COTIDIANA DOS ADOLESCENTES Tipo de mudança Percentual dos entrevistados (%) aprenderam a separar e a desenvolver práticas de 50 reaproveitamento de materiais recicláveis como forma de cuidado com o meio ambiente pararam de provocar poluição e de jogar o lixo na rua 20 passaram a economizar luz e água 10 não gostam mais de viver em um ambiente sujo 10 Passaram a retirar lixo das ruas e reaproveitar os 10 materiais para gerar renda A quinta questão abordada refere-se ao que os entrevistados consideram importante que seja contemplado na oficina Construindo Cidadão para auxiliar os educandos no cuidado com o meio ambiente. 50% (cinqüenta por cento) disseram que poderia ser estimulado o plantio de mais arvores e 20% (vinte por cento) que poderia ser construída uma horta e reciclar mais os materiais; outros 20% (vinte por cento) sugeriram fazer um sistema de água aquecida com garrafa peti e aproveitar água da chuva para cuidar mais do ambiente; 10% (dez por cento) mencionaram que poderiam aprender a fazer perfume, amaciante, isso ajudaria na renda familiar. QUADRO 6. CONTRIBUIÇÕES DA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO PARA O CUIDADO COM O MEIO AMBIENTE Tipo de contribuição Percentual (%) Plantar mais árvores 50 Fazer o aproveitamento da água da chuva e um sistema de 20 água aquecida com garrafa peti Construir uma horta e reciclar mais materiais, incluindo os que 30 pudessem ser comercializados, para auxiliar na renda familiar 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
25 24 Embora não se pretenda fazer conclusões, é importante destacar que a análise dos dados obtidos a partir das entrevistas realizadas com os educandos permitiu considerar que os conteúdos abordados na oficina Construindo Cidadão, desenvolvida dentro do Programa Construindo o Futuro, da Associação Rede Esperança, têm contribuído para o desenvolvimento de valores e de práticas voltados para a sustentabilidade ambiental nos educandos frequentantes. Também foi possível observar que, para os entrevistados, a relação entre os conteúdos trabalhados e a questão do meio ambiente está predominantemente voltada para o reaproveitamento e reciclagem dos materiais, os quais são transformados em artefatos de uso pessoal e decorativos e também, para muitos deles, a comercialização desses artefatos tem contribuído para aumentar a renda familiar, embora os dados analisados não permitam aferir em que grau isso tem ocorrido. Nesse sentido, é importante observar que muito embora o reaproveitamento e a reciclagem de materiais que, na lógica comum, são tratados como lixo represente um avanço e uma importante contribuição para a preservação ambiental, é necessário ir mais além: é importante que espaços educativos formais e não formais, como é o caso da oficina Construindo Cidadão, contribuam para a reflexão e o desenvolvimento de práticas, baseados na ética do cuidado com o meio ambiente, tendo como objetivo, por exemplo, pensar e propor formas de não gerar resíduos. As ações educativas podem e devem ser importantes mediadoras dos processos que estimulem práticas sustentáveis tais como a não geração de resíduos, a economia de água e energia, dentre outros. Outro aspecto que merece destaque é o fato de a oficina Construindo Cidadão ser parte integrante do programa Construindo o Futuro, cujo objetivo é facilitar o desenvolvimento integral dos adolescentes através de uma abordagem artística - cultural, pois isso possibilita aos educandos, fortalecer o aprendizado e criar vínculos de confiança entre educador e educando, além de proporcionar a construção, formação e o desenvolvimento do ser humano a
26 25 partir de valores e mudanças de comportamento para a cidadania e para a sustentabilidade, foco principal do presente trabalho. Isso fica evidente quando a grande maioria dos entrevistados destaca a produção de artefatos com materiais recicláveis como sendo a atividade que mais despertou o interesse durante a realização da oficina Construindo Cidadão. Quando analisada a percepção que os entrevistados têm sobre a relação entre as atividades da oficina Construindo Cidadão e as questões do meio ambiente, ficou evidenciado que reconhecem a existência dessa relação, na medida em que as atividades desenvolvidas, com destaque, mais uma vez, para o reaproveitamento de materiais, têm relação com o cuidado com o meio ambiente. Isso leva a pensar que, embora a oficina Construindo Cidadão constitua-se em um espaço de reflexão sobre a questão ambiental, demonstrado através dos resultados acima mencionados, é importante que a Associação Rede Esperança incorpore, através dos programas existentes e de outros, novos conteúdos, novos objetivos educacionais e novas atividades que não sejam as relacionadas ao reaproveitamento e a reciclagem de materiais embora esse tema seja de extrema importância e que possam colaborar efetivamente para a formação dos educandos em valores voltados para uma relação mais respeitosa e mais solidária com o meio ambiente.
27 26 REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis:vozes,2005. BLEY,Regina. A educação ambiental no processo de trabalho do catador de materiais recicláveis em Curitiba, estado do Paraná. Dissertação de Mestrado. Universidade Tuiuti do Paraná, BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4. ed. São Paulo: Cortez, DOWBOR, Ladislau. Educação e desenvolvimento local, disponível em Acesso em 07 de novembro/2006. FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Formação humana e gestão da educação. São Paulo: Editora Cortez, FREIRE, Paulo. Educação e mudança. São Paulo: Ed. Paz e terra, FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo: Ed. Paz e terra, FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política. São Paulo: Cortez, HANS, Jonas. O principio de responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, HERZOG,Walter.La banalidad del bien: los fundamentos de la educación moral.revista de Educacion: MEC. N o 297,1992. MATTA, Roberto da. Sustentabilidade, disponível em: Acesso em 03 de novembro de OVALLES, O e VIEZZER,M. (org.). Manual latino-americano de educação ambiental.são Paulo:Gaia,1994.
28 27 PEIXOTO. Diretrizes curriculares da educação básica / Sociologia, Secretaria da Educação, disponível em: 09/sociologia.pdf. Acesso em 15 de março de SANCHES, Mário. Bioética, ciência e transcendência. São Paulo: Loyola, SCOTTO, Gabriela. Desenvolvimento Sustentável. Petrópolis, RJ: Ed.Vozes, SORRENTINO, Marcos.Educação ambiental e universidade: um estudo de caso. São Paulo, f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação da Universidade Estadual de São Paulo.
29 28 ANEXOS ANEXO 1 ROTEIRO DE ENTREVISTAS 1. Dados pessoais Nome:...Idade... Sexo:... Escolaridade: ( )ensino fundamental incompleto ( )ensino fundamental completo ( ) outros Município ou Bairro em que mora:... Com quem Mora? Pai ( ) Mãe( ) Irmãos( ) Avós ( ) Outros( ) Especificar Renda Familiar: Até um salário mínimo ( ) de um a três ( ) acima de três( ) 1. Há Quanto tempo você participa das atividades do Projeto Construindo Futuro? A menos de 01ano( ) de 01a 02 ( ) acima de 02 ( ) 2. Qual das atividades realizadas na oficina Construindo Cidadão que mais despertou o seu interesse? 3. Na sua opinião, as atividades desenvolvidas na Oficina Construindo Cidadão tem alguma relação com o meio ambiente? Se sim, qual (is)? 4. Você acha que as atividades desenvolvidas no Construindo Cidadão sobre o meio ambiente provocaram alguma mudança em você ou em sua vida? Sim ( ) Não ( ) Se sim, como/em que? 5. O que você considera importante ter na Oficina Construindo Cidadão e que possa ajudar os alunos (educandos) no cuidado com o meio ambiente?
30 29
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