O MERCADO DE BENS RURAIS NA SEGUNDA METADE DOS OITOCENTOS NO OESTE DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO: Resultados Preliminares. Santa Rosa do Sul/SC
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- Maria Laura de Sá Capistrano
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1 O MERCADO DE BENS RURAIS NA SEGUNDA METADE DOS OITOCENTOS NO OESTE DO RIO GRANDE DE SÃO PEDRO: Resultados Preliminares Guimarães Foletto, Arlene 1 ; Cardoso Delfino, Henrique 2 ; Probst Albino, Rodrigo² 1 Instituto Federal de Santa Catarina, Santa Rosa do Sul/SC; 2 Instituto Federal Catarinense, Santa Rosa do Sul/SC INTRODUÇÃO As terras ao oeste da Província do Rio Grande de São Pedro foram incorporadas pelos luso-brasileiros, no início do século XIX. Tal movimento permitiu a formação de uma rede de unidades produtivas rurais ligadas à produção pastoril. Já na segunda metade dos oitocentos, o território se encontrava praticamente todo povoado. O acesso a terra se transformou ficando gradativamente restrito a herança ou a compra. Sabe-se que, na Paróquia de São Patrício de Itaqui, a mercantilização da terra começou na primeira metade do século XIX. Contudo, foi na segunda metade, mais para o final do século, que este processo se intensificou. Sabe-se que este movimento não era exclusivo da Paróquia, pois o Brasil rural do período passava por grandes transformações estruturais ligadas a terra e ao trabalho escravo. Cabe destacar que poucos são os estudos que se dedicam em pensar o universo rural do Brasil do XIX, e são em menor quantidade ainda os que pensam os negócios em torno da terra. Neste sentido, nosso estudo pretende contribuir para entender um pouco mais sobre as relações mercantis ligadas aos bens rurais. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho baseia-se no levantamento das fontes cartoriais do Primeiro Tabelionato da antiga Paróquia de São Patrício de Itaqui, entre os anos de Foram catalogados 1 Professora dos Cursos: Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio; Engenharia Agronômica e Tecnologia em Gestão de Turismo 2 Estudantes do Cursos Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio Trabalho financiado com apoio IFC - Campus Santa Rosa do Sul
2 todos os registros feitos nos 57 livros de Transmissões e Notas, preservados no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul. Cada documento transcrito foi digitado e tabelado, organizado por grupos afins. Tal metodologia permitiu o tratamento serial dos dados bem como, uma análise qualitativa, cruzando os resultados com outros fundos documentais. Para este estudo, separamos as escrituras de compra e venda rurais, bem como os indivíduos que mais negociaram terras durante o período estudado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste momento do estudo a pesquisa recai sobre o grupo das escrituras de compra e venda de bens rurais que representavam 45% das escrituras e 62% das negociações de compra e venda. Ou seja, mais da metade dos contratos firmados na localidade tinham como principal objetivo negociar bens rurais, em especial a terra. Isto nos levou à hipótese de que o sistema de herança poderia ter estimulado o mercado de terra local. Outro questionamento passou a ser feito: quem eram os indivíduos que monopolizavam este mercado? Eram fazendeiros que visavam aumentar suas propriedades, comerciantes querendo investir em outras frentes ou meros especuladores buscando ganhos capitais? Vários indivíduos apareceram negociando terras uma, duas, três vezes. Para este trabalho selecionamos aqueles que negociaram mais de dez partes de terras, podemos os observar no gráfico abaixo. Gráfico 01 Principais Negociadores Fonte: APERS - 57 livros de Transmissão e Notas - Itaqui ( ) Constatou-se que todos os compradores eram de origem rural, ora chamados de fazendeiros, ora de criadores. Suas negociações eram feitas com parentes e/ou com terceiros. Oito negociaram ao longo de todo o período estudado e seis fizeram seus investimentos nas 2
3 décadas de 70 e 80. Todos adquiriram terras frutos de heranças e apenas dois ficaram com propriedades hipotecadas. Para melhor explicitar a questão, por ora, tomamos como exemplo os Pereira de Escovar. No total das escrituras os membros da família aparecem comprando 53 partes de terras, e vendendo 22, sendo que destas 17 eram transações entre parentes, e apenas cinco vendas foram feitas para terceiros. Dentre os membros da família três sujeitos concentraram a maior parte destas ações. Primeiro, José com 16 compras, sendo que quatro delas foram de parentes. Em segundo, pareceu Ivo Florêncio, filho do Barão de São Lucas e primo de José e Veríssimo, que permanecera em Itaqui, efetuou 15 compras, sendo que seis foram de membros da família. E Veríssimo em terceiro, registrando 13 compras, sendo três de familiares. Foram anos de transações registradas no tabelionato e poucas delas forneciam a extensão da propriedade adquirida em medidas convencionadas. Para facilitar a comparação entre os três, o valor declarado de cada compra e venda foi convertido para libras esterlinas, tal operação mudou um pouco o quadro acima descrito. Em 26 anos, José, investiu 7.506,60 libras. Seguido por seu irmão, Veríssimo que, em 22 anos, adquiriu 3.570,52 libras em terra. Por último, Ivo que, também em 22 anos, gastou 1.057,70 libras para comprar seus quinhões. Comparando os dois irmãos, José e Veríssimo Pereira de Escovar, pode-se inferir que, em certa medida, ao longo de mais de duas décadas, eles travaram uma competição para ver quem comprava mais terras. Contudo, as aquisições do coronel, somavam mais que o dobro das compras efetuadas por seu colateral. Isto, sem sombra de dúvida, tem uma significativa diferença. A maior parte dos quinhões situava-se no segundo distrito, perto do local em que ambos já se encontravam estabelecidos e onde as terras de campo predominavam. Dito isto, era possível que José tivesse adquirido, no mínimo, o dobro de área que Veríssimo. De certa forma, tornou-se impossível não refletir sobre a questão. Ainda mais, sendo apimentada por alguns conflitos recorrentes entre indivíduos importantes para o trabalho. Primeiro, sucessivas querelas entre José Pereira de Escovar e o vizinho Amâncio Machado Palmeiro, que também eram um dos grandes negociadores de terra da Paróquia. Segundo, entre o tio e sobrinho e também primos Veríssimo Pereira de Escovar e Ivo Florêncio Pereira de Escovar. Tais disputas demonstraram uma série de vínculos de parentesco, amizade e clientelismo. Ou seja, a compra de terras significa crescimento econômico, mas também era importante para manter o status e poder dentro e fora da família. 3
4 CONCLUSÕES Na metade do século XIX, praticamente 80% das terras já tinham passado por ao menos um possuidor. Os negócios foram aumentando da medida em que se fechava a fronteira e legalizavam-se as ocupações. A mercantilização de terras deve ser pensada como o acesso produção pastoril, mas também como um processo de ampliação e/ou concentração do patrimônio fundiário e do poder e status que isto representava. Este mercado estava intimamente ligado a antiguidade de ocupação das terras e ao sistema de herança, grande parcela dos negócios eram feitos após partilhas e entre parentes. Como ficou demonstrado, inclusive através do perfil dos indivíduos que mais negociaram na antiga Paróquia de São Patrício de Itaqui, todos eles eram ditos fazendeiros, ampliando suas já extensas porções de terras. Nosso estudo continua, faze-se necessário ampliar as interfaces deste crescente processo de mercantilização de bens rurais. Como este mercado se relacionava com os outros tipos de negócios rurais da época e o quanto as transformações estruturais do período moldavam suas características. REFERÊNCIAS FOLETTO, Arlene Guimarães. No rodeio das relações: três trajetórias de famílias abastadas no oeste da Província do Rio Grande de São Pedro na segunda metade dos oitocentos f. Tese (Doutorado) - Curso de História, Departamento de Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Disponível em: < Acesso em: 1 jul LEIPNITZ, Guinter Tlaija. Entre contratos, direitos e conflitos: arrendamentos e relações de propriedade na transformação da campanha rio-grandense: Uruguaiana ( ) f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História, Departamento de Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Disponível em: Acesso em: 1 jul LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 4
5 OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de. Negócios de Família: mercado, terra e poder na formação da cafeicultura mineira Bauru: Edusc, p. PEDROZA, Manoela. Passa-se uma engenhoca ou como se faziam transações com terras, engenhos e créditos em mercados locais imperfeitos (freguesia de Campo Grande, Rio de Janeiro, séculos XVIII e XIX). Varia História, Belo Horizonte, v. 26, p , jun Disponível em: < Acesso em: 1 jul
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