PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 ACÓRDÃO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação Cível n /002 Origem : 24 Vara da Comarca de Guarabira Relator : Juiz de Direito Convocado Onaldo Rocha de Queiroga Apelante : Sandra Costa de Lucena Advogado : Paulo Rodrigues da Rocha Apelada : Josefa Severina Ramos Advogado : Telci Teixeira de Souza APELAÇÃO. AÇÃO DE RESSARCIMENTO POR DANOS MATERIAIS C/C DANOS MORAIS. CONTRATO DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL. ARREMATAÇÃO JUDICIAL. PERDA DO BEM PELA ADQUIRENTE DE BOA-FÉ. EVICÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ART. 447, DO CÓDIGO CIVIL. RESTITUIÇÃO INTEGRAL DO VALOR DISPENDIDO. DANO DEMONSTRADO. DEVER DE INDENIZAR. MANUTENÇAO DA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU. DESPROVIMENTO. - Nos termos do art. 447, do Código Civil, nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção, subsistindo esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. - Em todos os contratos, inclusive nos de compra e venda, o vendedor é obrigado a fazer boa a coisa vendida, resguardando o comprador contra os riscos Apelação Cível n

2 da evicção. VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDA a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, desprover o recurso. Trata-se de APELAÇÃO, fls. 71/73, interposta por Sandra Costa de Lucena desafiando sentença, fls. 66/69, prolatada pelo Juiz de Direito da 24 Vara da Comarca de Guarabira que, nos moldes da Ação de Ressarcimento por Danos Materiais c/c Danos Morais proposta por Josefa Severina Ramos, decidiu a lide nos seguintes termos: (...) julgo procedente o pedido, para condenar a demandada a indenizar a autora pelos danos materiais sofridos em R$ ,00 (vinte e cinco mil reais), valor este que deve ser corrigido monetariamente desde a data do desembolso até o efetivo pagamento, incidindo ainda juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, assim como condeno a demandada a indenizar a autora pelo dano moral causado em R$ ,00 (dez mil reais), valor este que deve ser corrigido a partir desta data, incidindo juros de mora de 1% ao mês, de forma não cumulativa - negrito existente no original. Em suas razões, a inconformada postula a reforma da decisão a quo, aduzindo, em síntese, que o bem, objeto do litígio, foi adquirido de Antônio José de Oliveira, na forma de escritura particular, não havendo qualquer vício no contrato capaz de responsabilizá-la. Pleiteia, ademais, a improcedência do pedido de ressarcimento por danos, haja vista não restar configurado qualquer vício na negociação realizada entre as litigantes e nem o dano moral postulado. Apelação Cível n /002 2

3 Contrarrazões, fls. 97/99, pugnando pela manutenção do decisum vergastado, por não haver dúvidas de que a má-fé da promovida causou à promovente abalo não só material, mas também extrapatrimonial. A Procuradoria de Justiça, através da Dra. Lúcia de Fátima M. de Farias, fls. 105/108, opinou pelo desprovimento do recurso. É o RELATÓRIO. VOTO Josefa Severina Ramos ajuizou a presente Ação de Ressarcimento por Danos Materiais c/c Danos Morais em face de Sandra Costa de Lucena, sob a alegação de ter firmado contrato de compra e venda com a promovida, e, de boa-fé-, ter adquirido um imóvel residencial situado na Rua Galvão, n')- 363, Guarabira, pagando à vista e em espécie, a quantia de R$ ,00 (vinte e cinco mil reais). Todavia, mesmo já tendo efetuado o pagamento do bem e sendo legítima proprietária do referido imóvel, este foi penhorado e arrematado na Vara Trabalhista. de Guarabira. Em razão desse incidente, postula o ressarcimento pelos danos sofridos, tanto na esfera patrimonial quanto extrapatrimonial. Decidindo a querela, o Magistrado de primeiro grau julgou procedente a pretensão disposta na inicial para condenar a demandada a indenizar a autora pelos danos materiais sofridos em R$ ,00 (vinte e cinco mil reais), bem como pelo dano moral causado em R$ ,00 (dez mil reais). Descontente com o teor do édito judicial, a promovente interpôs recurso apelatório, suscitando, em síntese, que o bem, objeto do litígio, foi adquirido de Antônio José de Oliveira, na forma de escritura particular, não havendo qualquer vício no contrato capaz de responsabilizá-la. Pleiteia, ademais, Apelgtio Cível n /002 3

4 a improcedência do pedido de ressarcimento por danos, haja vista não restar configurado qualquer vício na negociação realizada entre as litigantes e nem o dano moral postulado. Em sede de processo civil, vige o princípio do tantum devolutum quantum apellatum, em que se devolve à instância ad quem, para análise, apenas as matérias devidamente ventiladas nas razões recursais. Em outras palavras, não envolvendo ordem pública, a apreciação da apelação cível vincula-se estritamente aos termos do inconformismo manejado. No caso dos autos, os pleitos formulados para o 2Q grau referem-se à inexistência de vício no contrato de compra e venda formulado entre as partes, bem como se a arrematação do bem, objeto do litígio, junto a Justiça de Trabalho causou dano à promovente. Ora, conforme relatado, as partes litigantes firmaram contrato particular de compra e venda, através de escritura pública, fl. 07, tendo a autora, no momento da celebração, efetuado o pagamento, em espécie, da quantia de R$ ,00 (vinte e cinco mil reais) pela compra do imóvel acima citado, que veio a ser penhorado e arrematado junto a Justiça de Trabalho. Diante da documentação encartada ao caderno processual, não assiste razão à apelante quando aduz que o imóvel pertencia ao seu irmão, pois, de uma breve leitura da escritura acostada à fl. 07, depreende-se: De um lado, como Outorgante Vendedora, a Sra. SANDRA COSTA DE LUCENA, (...); e do outro lado, como Outorgada Compradora a Sra. JOSEFA SEVERINA RAMOS, (...). As partes são pessoas de inteiro conhecimento das testemunhas e, perante elas, (...), foi dito que a justo título de aquisição legal é senhora e legítima possuidora em pleno domínio e posse do imóvel: Uma CASA residencial, (...) que nesta data resolveu vender de livre e espontânea Apelação Cível n /002 4

5 vontade, como de fato ora vendido tem a outorgante vendedora, acima qualificada e identificada, pelo preço certo e ajustado de R$ ,00 (vinte e cinco mil reais), importância essa recebida das mãos da adquirente, em moeda corrente e legal deste País, pelo que dá, como plena, geral e irrevogável quitação, (...) transmitindo-lhe toda a posse, domínio direto e ação que exercia sobre tal imóvel, podendo dele usar, gozar e livremente dispor como seu, fls. 07/07V. Ademais, a outra escritura de compra e venda anexada aos autos, fls. 08/08V, também demonstra que o imóvel era realmente de propriedade da promovida, e não de seu irmão, como aduz em suas razões: De um lado, como Outorgante Vendedora, o Sr. ANTÔNIO JOSÉ DE OLIVEIRA, (...); e do outro lado, como Outorgada Compradora a Sra. SANDRA COSTA DE LUCENA, (...) - fls. 08/08V. Nesse trilhar, resta demonstrado que o imóvel, em comento, encontrava-se na propriedade da promovida quando esta realizou o contrato de compra e venda com a promovente. E, em razão da arrematação do bem junto a Justiça do Trabalho, fl. 10, ficou evidente o dano sofrido pela última, pois esta, além não de ter recebido a casa adquirida, ainda ficou sem o dinheiro utilizado para a aquisição do imóvel. Tal situação encaixa-se, perfeitamente, na hipótese de evicção prevista no art. 447, do Código Civil, o qual preleciona: Art Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. Apelação Cível n /002 5

6 Tal previsão legal decorre, especialmente, da necessidade de se resguardar a adquirente de uma eventual alienação a non domino, ou seja, alienação de coisa não pertencente ao alienante. Em tal caso, poderá o adquirente voltar-se contra aquele, se vier a perder a coisa para terceiro, pleiteando a justa compensação pelo prejuízo sofrido. Pontes de Miranda preleciona: (...) nos contratos onerosos, o outorgante tem de prestar o que prometeu, de modo que o outorgado esteja a salvo quanto a direitos, pretensões e ações de outrem no tocante ao objeto da prestação. Tem de prestar, portanto, livre de direitos de terceiro. Desde que o direito do terceiro pode ir contra o objeto da prestação, em vez de somente poder ir contra o devedor outorgante, pode dar-se a evicção, pois, o outorgando não prestou o que juridicamente seria o objeto prometido. Por onde se vê que não se trata apenas de direitos de terceiro que atinjam o domínio, mas, em suma, da responsabilidade por vício de direito (In. Tratado de Direito Privado, Ed. Revista dos Tribunais, Tomo )OXXVIII, 4.216, p. 169). manifestou: Em casuística similar, a jurisprudência já se EVICÇÃO. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL. PERDA, PELO ADQUIRENTE, EM RAZÃO DE ARREMATAÇÃO JUDICIAL. RESCISÃO DO CONTRATO. RESTITUIÇÃO INTEGRAL DO PREÇO. INTELIGÊNCIA DOS ARTS E DO CC. JUROS DE MORA. FLUÊNCIA DA CITAÇÃO. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. Apelação Mel ) /002

7 1. Em todos os -contratos, inclusive nos compromissos de compra e venda, o vendedor é obrigado a fazer boa a coisa vendida, resguardando o comprador contra os riscos da evicção. Por isso que, se este vem perder o imóvel prometido a venda, que foi penhorado e arrematado, em processo judicial, ocorrendo o que se chama "evicção expropriatória", o vendedor há de compor integralmente todos os prejuízos do comprador lesado, "2. Os juros de mora, na hipótese, fluem da mora, isto é, da citação". (TJPR - 1g C. Cível - AC Foz do Iguaçu - Rel.: Airvaldo Stela Alves - J ) - destaquei. Nessa ordem de ideias, restando demonstrada a responsabilidade pela evicção, nos termos do art. 448, do Código Civil, devendo a promovente, nos moldes do art. 449, do mesmo diploma legal, receber o preço que pagou pela coisa eviccta, sob pena de enriquecimento ilícito da evicctora. Outrossim, diante dos transtornos sofridos pela demandante com a arrematação posterior à aquisição de imóvel, entendo cabível a indenização verberada em primeiro grau, por ser esta a única forma de compensar o intenso sofrimento pela promovente. Nesse sentido, transcrevo o escólio a seguir: APELAÇÃO - Desapropriação - Imóvel arrematado em hasta pública em execução de débito trabalhista - Posterior aquisição por compra e venda - Indenização que cabe ao adquirente, não à massa falida - Discordância do valor fixado pelo juízo - Laudo pericial fundamentado e pormenorizado - Juros compensatórios devidos na forma das Súmulas 618, 12 e 102 do STJ - Recursos parcialmente Apelação Cível n /002

8 providos. (APL SP , TJSP Rei: Angelo Malanga, DJ 24/05/2011) destaquei. Vê-se, portanto, que a decisão de primeiro grau bem sopesou os fatos e aplicou o direito, devendo ser mantida em todos os seus termos. APELAÇÃO. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO À É como VOTO. Presidiu a sessão a Desembargadora Maria das Graças Morais Guedes, com voto. Participaram do julgamento o Relator Dr. Onaldo Rocha de Queiroga (Juiz convocado para substituir o Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho) e o Dr. Wolfram da Cunha Ramos (Juiz convocado para substituir o Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira). Presente a Dra. Marilene de Lima Campos de Carvalho, Procuradora de Justiça, representando o Ministério Público. Sala das Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 11 de dezembr9 de data do julgamento. Ona o Rocha de Qu iz de Direito Convocad Apelação Cível n /002 8

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