Diálogos na pós-modernidade

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Diana Araújo Carreiro
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1 Diálogos na pós-modernidade Romilson Belo 1 Por seres tão inventivo e pareceres contínuo, Tempo tempo tempo tempo, és um dos deuses mais lindos... Tempo tempo tempo tempo... Caetano Veloso, Oração ao Tempo, O tempo é simultaneamente agente e testemunha das transformações ocorridas nos diálogos e nos relacionamentos, a partir do final do século passado e o início dessa nova era. Esse compositor de destinos, tambor de todos os ritmos (CAETANO VELOSO, 1979), tem interferido de forma essencial nas maneiras das pessoas se comunicarem e se relacionarem. A pressa que acompanha o mundo pós-moderno, em alguns momentos, chega a ser comparada com a velocidade da luz. Vive-se numa busca desenfreada para acompanhar os novos modos de vida, favorecidos pelo avanço tecnológico e pelo capitalismo transnacional. O primeiro, possibilitou a ultrapassagem dos limites territoriais, aproximando, virtualmente, as pessoas, as cidades, os estados e outros países. Para isso, basta ligar uma web cam e falar com aquele ente querido que mora em outra cidade ou em outro País. Esse avanço sofisticou a indústria, ampliando a capacidade produtiva e criativa. E sua maior contribuição para o desenvolvimento é a moeda eletrônica. O segundo, favoreceu a circulação de produtos e mercadorias, estrangeiras, aumentando o leque das opções nas prateleiras dos supermercados, nas vitrines dos shoppings e nos mostruários das lojas de carros. Esse capitalismo, estimula cada vez mais as necessidades de consumo das pessoas, tornando-as escravas de uma atualização, quase que diária, daquilo que existe de ponta no mercado a moda vigente. 1 Psicólogo Clínico, pós-graduado na abordagem Fenomenológico-existencial, pela UFRN.

Esse compositor de destinos, tambor de todos os ritmos (CAETANO VELOSO, 1979), tem interferido de forma essencial nas maneiras das pessoas se comunicarem e se relacionarem.

2 O novo capitalismo revolucionou o mundo, substituindo o conceito de durável pelo seu antônimo descartável. Esse último, apoderou-se dos produtos, das mercadorias, do tempo e dos relacionamentos. O avanço tecnológico e o capitalismo transnacional não modificaram apenas os processos de produção, os métodos de comunicação, as moedas, as formas de poder e nosso processo criativo e decisório, mas também a forma das pessoas se relacionarem, se comunicarem, de lidarem com o tempo e com as possibilidades de contatos e com a ampliação de cardápios. Esses cardápios, cheios de coisas tão novas e variadas reforçam a valorização do descartável ao mundo, pois a cada dia se quer experimentar receitas mais recentes, rejeitando o prato escolhido, no almoço de ontem. Reforçando essa idéia, busca-se Acioli (2005) quando afirma que os objetivos sociais tornaram-se indefinidos quando a sociedade passou a exibir a policromia da face globalizada. Fugindo do medo e da insegurança, que essa experiência provoca, os homens acabaram trocando a busca da essência pela da aparência, substituindo seus projetos futuros pelo prazer fugaz do instante. Esse prazer fugaz do instante é facilitado pelos vetores: avanço tecnológico e capitalismo transnacional, pois alteraram drasticamente o conceito diálogo e de relacionamento. À proporção que foram ampliados os campos e as maneiras de contatos, as pessoas se sentem mais confortáveis em se atirar num relacionamento. Seja esse afetivo ou amigável, uma vez que os contatos virtuais, possibilitam escolhas igualmente legítimas, gozando do mesmo status e mesma importância. Uma rede serve de matriz tanto para conectar quanto para desconectar; não é possível imaginá-la sem as duas possibilidades (BAUMAN, 2003, p.12). Além de facilitar o contato humano, as redes virtuais oferecem duas bases de apoio: afugentar o fantasma da rejeição e impedir o abismo da solidão, marcas da pós-modernidade. Nas redes sempre haverá pessoas para se relacionar e à medida que se é saciado ou que se perde o interesse, por alguma razão, corta-se a comunicação.

também a forma das pessoas se relacionarem, se comunicarem, de lidarem com o tempo e com as possibilidades de contatos e com a ampliação de cardápios.

3 Nas relações firmes e duradouras antiquadas, em que o compromisso é a questão chave, não é uma coisa muito fácil acabar ou sair de um relacionamento indesejável, pois de acordo com Bauman (2003), isso é uma das coisas mais traiçoeiras do se relacionar. Contrariamente, as relações virtuais, apontadas por esse autor, elas podem ser rompidas muito antes que se comece a detestá-las. Essa abertura para começar e terminar um relacionamento, com tanta facilidade, é basicamente o que diferencia os relacionamentos virtuais dos relacionamentos reais. E como apontou Emerson apud Bauman, (2003, p.13), quando se esquia sobre gelo fino, a salvação está na velocidade. Paralelo a perspectiva de poder romper a qualquer instante uma conexão, afugentando o fantasma da rejeição e o abismo da solidão, esse novo formato de relacionamento atravessou os espaços virtuais, construindo, juntamente com o capitalismo, um alicerce de gelo fino nas relações humanas. Paulinho da Viola, 1974, traduziu um dos ângulos desse gelo fino, através da composição Sinal Fechado, como se vê a seguir: Olá! Como vai? Eu vou indo. E você, tudo bem? Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você? Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... Quem sabe? Quanto tempo! Pois é, quanto tempo! Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios! Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem! Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí! Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...quem sabe? Quanto tempo! Pois é...quanto tempo! Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas... Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança! Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente... Pra semana... O sinal... Eu procuro você... Vai abrir, vai abrir... Eu prometo, não esqueço, não esqueço... Por favor, não esqueça, não esqueça...

Essa abertura para começar e terminar um relacionamento, com tanta facilidade, é basicamente o que diferencia os relacionamentos virtuais dos relacionamentos reais.

4 Adeus! Adeus! Adeus! O gelo fino não se limita a velocidade do tempo, trazida por Paulinho da Viola, tendo em vista que existem outras temáticas na composição desse gelo: desconfiança, falta de ética, distanciamento humano, fuga do compromisso, dificuldade de ouvir e de dialogar, desrespeito, medo de perder, de se entregar e de amar. Todas essas temáticas exercem influência direta para que os homens façam opção pelas relações transitórias. É válido lembrar que essa dificuldade de vinculação não se restringe às relações amorosas, pois a forma das pessoas se relacionarem no trabalho, nas instituições de ensino, nos eventos sociais, na família e por fim na vida mudou muito nesse novo século. Parece que se perdeu a confiança em tudo e em todos. Não se tem tempo pra nada e nem pra ninguém. Não existe disponibilidade para ouvir os lamentos do outro, pois cada um tem o seu próprio. E tudo isso, dificulta cada vez mais os diálogos e os relacionamentos. Exige-se pessoas prontas sem problemas, de natureza alguma, alto astral, com bom papo, independentes emocionalmente e financeiramente - para se conviver. E, aqui, concorda-se com Bauman ( 2003, p.29), estar num relacionamento significa muita dor de cabeça, mas sobretudo uma incerteza permanente. Cultivar um amor ou uma amizade exige cuidados demorados e a palavra chave desse tempo é praticidade.

O gelo fino não se limita a velocidade do tempo, trazida por Paulinho da Viola, tendo em vista que existem outras temáticas na composição desse gelo: desconfiança, falta de ética, distanciamento

5 Bibliografia 1. ACIOLI, Álvaro. Ética, saúde mental e cidadania. In Revista Fluminense de Medicina, n. 15 [ Internet] BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., VIOLA, Paulino. Sinal fechado

br/revista/artigo 68. 2. BAUMAN, Zygmunt.

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