AS CONTRIBUIÇÕES DA EXPLORAÇÃO DE MINERAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL PARA O AUMENTO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA ILHA DE CARATATEUA (BELÉM/PA).
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- João Beppler Quintanilha
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1 1 AS CONTRIBUIÇÕES DA EXPLORAÇÃO DE MINERAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL PARA O AUMENTO DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA ILHA DE CARATATEUA (BELÉM/PA). Viviane Corrêa Santos (Mestranda do Programa de Pós Graduação de Geografia da UFPA, Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES) viviufpa2004@yahoo.com.br Márcia Aparecida da Silva Pimentel (Doutora pela USP, Professora da Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará) mapimentel@ufpa.br Introdução Este trabalho versa sobre apropriação do relevo que ocorre por meio da atividade de extração mineral, que vem a ser uma forma de uso da unidade de relevo presente na área a ser estudada, entendendo-se esta como a Ilha de Caratateua, que se localiza, conforme figura 1, na área insular do município de Belém, no Estado do Pará. Limita-se com a baía de Santo Antônio ao norte, com a baía de Guajará a oeste e com o furo/rio do Maguari a sul e leste. Sendo que a referida ilha constitui-se atualmente enquanto uma das principais áreas fonte de minérios, sobretudo para a utilização na construção civil em Belém e em sua Região Metropolitana. Destaca neste sentido, as alterações na paisagem, como a formação de cavas, que são denominadas popularmente como buracos, decorrentes da retirada de materiais como piçarra, argila e areia. Nestes termos, o tema da apropriação do relevo tem um significado todo especial para a Geografia, pois permite, que se avaliem os aspectos socioeconômicos envolvidos no processo, bem como, compreender o homem como agente geomorfológico, ou seja, como agente modificador e, principalmente, produtor de relevo através de empréstimos de terras, criação de depósitos tecnogênicos e indução/aceleração e perturbação de processos fisiográficos, posto que, nas situações destacadas, quase sempre ocorre a terraplanagem nas áreas degradadas com 1
2 2 a adição de lixo e entulhos. Esses elementos certamente constituem-se, enquanto complicadores da qualidade das águas superficiais e subterrâneas, bem como em riscos para as comunidades que residem próximo à área, devido à ação do chorume e metais pesados, elementos que nos conduzem a buscar compreender estas formas de relação da sociedade com a natureza a partir da organização espacial da ilha. 2
3 3 3
4 4 Figura 1 Localização da ilha de Caratateua. Fonte: Santos, Vale ressaltar que nem todas as atividades minerárias realizadas nessa ilha obedecem às determinações da legislação ambiental, assim como, não são regulamentadas pelos órgãos oficiais competentes. Nesse sentido, um objeto se apresenta para a ciência geográfica, sendo este a apropriação do relevo e as conseqüentes questões de caráter sócio-ambiental, desdobradas da produção do relevo decorrente de atividades antrópicas. Os minerais aqui enfatizados no uso da construção civil são as areias quartzosas (areias), lateritas hidromórficas (piçarra) e argila (barro). Vale salientar que o uso desses minerais está diretamente ligado às necessidades urbanas, mais precisamente as infra-estruturais, já que ambos são utilizados com freqüência tanto para a construção de obras públicas quanto para obras privadas. É pertinente destacar que o impulso demográfico que a ilha de Caratateua, vem tendo desde a década de 1980, e que vem se acelerando cada vez mais, foi ocasionada principalmente devido a ligação física desta com a parte continental do município de Belém na década de 1980, que se deu em decorrência da construção da ponte Enéias Martins. A partir desse contato maior, facilitado pela construção da ponte, bem como sua localização geográfica, pelo fato de estar inserido no município de Belém, e dispor desses recursos utilizados pela construção civil é que se dá a relevância da área de estudo. Quanto às características físicas da ilha, esta é constituída, por duas unidades de relevo, a saber, a Planície Amazônica e o Planalto Rebaixado da Amazônia, sendo esta última o alvo principal do estudo, já que o recorte espacial analisado compreende unicamente esta unidade de relevo devido a área de extração dos minerais estar localizada nessa unidade de relevo. Cabe destacar que esse tipo de atividade mineral, apesar de não ter o destaque que tem as grandes empresas mineradoras, provoca também inúmeros problemas ambientais, como o agravamento do desmatamento, perda do solo, produção de cavas, aparecimento de lagos artificiais, entre outros, que se agravam no decorrer das atividades. De acordo com o exposto, o presente trabalho busca ser relevante pelo fato de que, a partir da análise e compreensão do processo contínuo de impacto ambiental sofrido pela área em 4
5 5 questão (setor NE da ilha) é que poderemos visualizar as alterações da paisagem em função da apropriação do relevo decorrente da atividade mineratória. Entendendo-se que através dessa apropriação é que também ocorrerá a apropriação do espaço. Sendo o espaço nesse contexto compreendido a partir da transfiguração da natureza pela sociedade, e ainda como uno e múltiplo, envolvendo, necessariamente, os conceitos clássicos de paisagem e de ambiente, mas não como algo externo ao homem, e sim como uma dimensão da transmutação/transfiguração da natureza promovida pela sociedade. Objetivos O trabalho em questão objetiva analisar a apropriação do relevo a partir da extração de minerais empregados na construção civil, levando em consideração as possíveis conseqüências ambientais causadas em decorrência de tal atividade econômica. Dentre essas conseqüências podem-se elencar as implicações na alteração da cobertura vegetal e na hidrografia, conforme se demonstram abaixo, por meio da criação de lagos, decorrentes dessa atividade extrativa ocorrida na área leste da ilha. Visão frontal do lago artificial resultante de constantes cavas que propiciou o afloramento do lençol freático, tornando a área desativada. Fonte: Santos, Porções de vegetação remanescente de mata secundária, devido à retirada indiscriminada de espécies vegetais para obtenção de materiais como argila e areias quartzosas, que se encontram no subsolo. Fonte: Santos,
6 6 Essas implicações refletem na população do entorno, uma vez que sem se dar conta do motivo, essa comunidade vem sentindo um maior aquecimento da temperatura da ilha, fato que vem se dando pela retirada de uma extensa área de cobertura vegetal. Já que a ilha, em épocas passadas, era considerada como um lugar agradável do ponto de vista do conforto térmico. Para o desenvolver dessa discussão serão utilizados autores como Casseti (1991) e Guerra (2006), já que o tema da apropriação do relevo, bem como a presença do homem enquanto agente geomorfológico expressa a necessidade de uma revisão acerca de tal problemática, uma vez que no processo de degradação do ambiente, que se vive na atualidade, nada mais racional do que ousar novas formas de relações harmoniosas entre homem e natureza. Metodologia Para a construção deste trabalho, vale dizer que a área de estudo não foi escolhida aleatoriamente, mas sim, foi alvo de um projeto de pesquisa intitulado Planejamento e Gestão Territorial e Ambiental da Ilha de Caratateua/Belém-Pa: Um olhar sobre a produção sócio-espacial da ilha., construído pelo Programa de Educação Tutorial-PET de Geografia, o qual visava analisar alguns problemas presentes nessa área. Para sua construção, foi necessário o levantamento crítico da bibliografia, envolvendo a questão conceitual e a literatura regional; houve a realização de trabalho de campo para visualização da realidade e aplicação de questionário e entrevistas semi-estruturadas com os moradores da área; o uso de Ortofotos, produzidos pela CODEM, da área de estudo para subsidiar uma análise multitemporal da organização e produção do espaço enfocando desde o período de 1970 até 2007; e por fim a produção de registros fotográficos. Resultado Final De posse do conteúdo exposto no trabalho em questão, nota-se que a forma de apropriação do relevo que se dá por meio da atividade de extração mineral de uso imediato na 6
7 7 construção civil pode ser vista enquanto uma atividade temporária devido a não fixação de formas espaciais. O que se torna preocupante, já que o relevo, sendo a forma superficial que está disponível na paisagem, tem sua estrutura formada por minerais, que por sua vez, são classificados enquanto recursos do subsolo, que são finitos. E se estes continuarem a serem usados de forma predatória como vem ocorrendo maciçamente ainda e principalmente nos dias de hoje, a tendência é que se tornem cada vez mais escassos. Referente à apropriação do relevo, foi feito aplicação de questionários em cinqüenta residências do loteamento Ilha Bela e de moradores da ocupação ao lado, os quais demonstraram que grande parte do relevo da área (suas residências) é utilizado como suporte para a criação de animais domésticos (galinhas, patos, ovelhas), árvores frutíferas, além de algumas poucas hortas. Um outro uso registrado foi o hábito que os moradores tem de retirar o material do subsolo (de seus quintais) para usarem como complemento na construção de sua casa, e segundo relatos de alguns entrevistados isso é comum na ilha, principalmente na retirada de argila (barro), laterita hidromórfica (piçarra) e grês do pará (pedra), vindo alguns a tampar os buracos, oriundos da retirada do material com lixos domésticos. Com a retirada dos minerais vai havendo concomitantemente a alteração da morfoestrutura do relevo, já que este é resultado da deposição de diferentes camadas, onde vão ser encontrados os materiais geológicos, que serão utilizados na produção de construções humana. Após a transformação do mineral em novas formas, agora humanas, acabam se tornando o que Peloggia (1997) e Suertegaray (2001) denominam de tecnogênicas que se dispõem na paisagem, misturando assim, elementos fruto dos processos naturais com os de origem social. Essas formas ainda vêm a confirmar a constante interferência do homem nos elementos da natureza, que se dão cada vez mais pelo avanço dos níveis tecnológicos. Ainda como resultado da pesquisa, observou-se que os atores responsáveis pela atividade mineratória, por agirem em sua maioria de forma clandestina, não levam em consideração as conseqüências degradantes ao ambiente. 7
8 8 Acrescenta-se que tais consequências podem vir a causar algum tipo de desconforto aos moradores das proximidades, que são os que mais sentem com a alteração do microclima da ilha. É pertinente ainda analisar a maneira como esses atores da mineração vão se espacializando nas áreas de extração, pois eles inicialmente não se utilizam da área frontal deixando a cobertura vegetal intacta, para que assim não chame atenção daqueles que desconhecem a atividade que está se dando em seu interior. Posteriormente vão construindo caminhos para facilitar o acesso de maquinários como tratores e caçambas; já no que concernem as áreas próprias para a extração, estas não são esgotadas de uma única vez, já que vão sendo compartimentada, isto é, a cada período exploram uma área diferente, levando a uma maior durabilidade dessa ação econômica e predatória, sobre o ambiente. Por conseqüência, as áreas abandonadas onde os recursos foram esgotados ganham outra funcionalidade: a partir do arrendamento do lote para a criação de bovinos e caprinos, ou a venda do lote para a construção de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda, conforme expresso na figura 2. 8
9 9 Figura 2- Uso do solo na área de abrangência alterada pela atividade mineral. Fonte: Santos, A área de estudo ainda está em constante atividade, apesar de não estar seguindo as exigências legais no que concerne à retirada desses minerais, uma vez que o Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM, órgão ambiental responsável pela fiscalização expediu o Auto de Paralisação. No entanto, a fiscalização não é constante e, por isso, a extração continua ocorrendo de forma contínua. 9
10 10 Atualmente, importa conhecer qual é o projeto de recuperação dessas áreas degradadas, previsto pela legislação ambiental, visto que, até o momento não há sinalização de que este trabalho esteja ocorrendo. Por último, cabe ainda, se fazer uma relação entre a preocupação e diferença de ênfase que se tem na grande empresa mineradora, em contrapartida ao descaso que se faz, ao que podemos considerar nesse trabalho como a microempresa mineradora; ressaltando que ambas, produzem danos ambientais. Com relação a esse fato vale advertir que, apesar das diferentes técnicas de aplicação no relevo, que causam níveis de impactos diferentes, ambos contribuem para as alterações negativas da paisagem. E que os órgãos ambientais responsáveis por essas atividades não concentrem suas atenções somente em empreendimentos que a todo o momento mostram suas caras, demonstram transparência para conseguir obter a confiança de grupos de investidores e consumidores maiores, fato característico das grandes empresas mineradoras. Mais também, é necessário saber da existência e controlar as ações das pequenas e microempresas mineradoras, que são aquelas que não tem muito interesse de ser divulgadas, uma vez que já tem seu mercado consumidor certo, um alvo fácil, sendo este, a sociedade civil local. Bibliografia CASSETI, V. Relação homem-natureza e suas implicações. In: Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo, Ed. Contexto, GUERRA, A. J. T. ; MARÇAL, M. S.. Geomorfologia Ambiental. 1. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, v p. PARÁ. Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração; FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Plano Diretor de Mineração em Áreas Urbanas: Região Metropolitana de Belém e adjacências. Belém: SEICOM/FIBGE, PELOGGIA, A. U. G. A ação do homem enquanto ponto fundamental da geologia do tecnógeno: proposição teórica básica e discussão acerca do caso do município de São Paulo. São Paulo: Revista Brasileira de Geociências, SANTOS, V. C. Apropriação do relevo através da exploração mineral na ilha de Caratateua (Belém/Pa) Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Geografia) Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém, SUERTEGARAY, D. Espaço Geográfico Uno e Múltiplo. Revista Geocrítica Scripta Nova Revista Eletrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Barcelona, v.93,
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