PROJETO DE LEI Nº 50/2007 Deputado(a) Silvana Covatti

Transcrição

1 DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quinta-feira, 14 de maio de PRO 1 Declara integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado o dialeto Talian, originado dos italianos e descendentes radicados no Rio Grande do Sul. Art. 1º Fica declarado integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado, nos termos e para os fins dos artigos 221, 222 e 223, da Constituição do Estado, o dialeto Talian, a mais nova língua neolatina originária dos italianos e descendentes radicados no Rio Grande do Sul e formada a partir de mais de uma centena de falares familiares (dos imigrantes e descendentes italianos), ao longo dos cento e trinta anos de imigração italiana neste Estado. Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Sala de Sessões, de fevereiro de JUSTIFICATIVA O Brasil conta, segundo estatísticas, com uma população acima de (vinte e cinco milhões) de descendentes de italianos, originários da grande Imigração Italiana Agendada, entre os anos de 1875 e Esta população, em mais de 80% (oitenta por cento), é originária das regiões do Trivêneto composta por Vêneto, Friuli Venézia Giúlia e Trentino Alto Ádige e Lombardia. Através dessa maioria trivêneta, as formas de linguagem vêneta, em suas variantes e como fenômeno de maioria, foram se impondo aos demais falares. Sobretudo na Região Sul do Brasil Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul que foram base da imigração direta, e desta para os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás (migração interna), os descendentes conservaram a fala familiar. Destaque-se, ainda, a prevalência das falas dos trivênetos às quais se mesclaram palavras de outros falares regionais italianos, especialmente os lombardos, originários das províncias de Cremona, Mántova, Bérgamo e Bréscia e com muita proximidade aos falares trivênetos. A distribuição das famílias dos imigrantes em pequenas propriedades propiciou a prevalência pontual desta ou daquela forma de falar, perdendo-se, ao longo do tempo, as formas originais. Os italianos que chegaram ao Brasil praticamente desconheciam a língua oficial da Itália. Logicamente, se comunicavam pelo dialeto vêneto. Como as autoridades brasileiras não consideravam grupos lingüísticos para a colonização, a homogeneidade se perdeu entre as linhas e os travessões. Aos colonos, restou usar sua língua de origem, já que o próprio português demorou a se infiltrar. Ao redor de capelas, durante as missas, as comunidades se encontravam e dialogavam da maneira mais fácil. Na capela, portanto, marcava-se o encontro de vários dialetos regionais, que acabaram fundindo-se uns aos outros. No decorrer dos anos, formaram grupos dialetais, com a fusão de dialetos não afins. O mais significativo dos dialetos, logicamente, predominava sobre os demais. É o caso do dialeto vêneto. A língua foi enriquecida constantemente com novos termos e outros dialetos, numa dinâmica veloz. Palavras portuguesas foram incorporadas o que é mais do que natural, principalmente porque várias delas não tinham tradução específica na língua italiana. Outras palavras portuguesas foram inseridas por absoluta

2 DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quinta-feira, 14 de maio de PRO 2 preferência da comunidade daquela época. Foi aí que surgiu a nova língua, muito parecida aos dialetos vênetos falados na Itália, mas diferente de todos eles. Tem-se, então, que da amálgama dos diferentes falares trivênetos e lombardos e, em pequena escala, dos falares de outras regiões, acrescidos à incorporação de palavras da língua portuguesa, formou-se uma nova língua, denominada pelos estudiosos de TALIAN, justamente para diferenciá-la da língua italiana oficial. O Talian está ligado às origens da formação étnica do Rio Grande do Sul. Falar sobre o Talian é remontar e reconstituir, no tempo e no espaço, a vida dos habitantes do Norte da Itália. O Talian é o idioma falado por (um milhão) de pessoas no Brasil, sendo considerado uma língua neolatina, com direito a figurar ao lado das clássicas línguas italiana, francesa, espanhola e portuguesa. E, neste sentido, é imperioso salientar que o Talian, com centenas de publicações literárias e didáticas, tais como cartilhas, dicionários e livros de gramática, é definido pelos estudiosos como uma língua formada no Brasil. Faz-se mister destacar, igualmente, que, se o imigrante participou ativamente da vida brasileira, provocando transformações substanciais na economia e na modernização da agricultura, o Talian foi o instrumento principal que eles utilizaram para ajudar a modernizar o País. Tal como os imigrantes italianos, o idioma falado pelos mesmos também contribuiu ao Brasil. Sem o Talian, as conquistas e vitórias ocorridas no Sul do País seriam mais difíceis e, porque não dizer inalcançáveis. O Talian é, por isso, um idioma que merece o mais alto respeito de todos. O Talian merece ser Patrimônio Imaterial do Rio Grande do Sul. Merece porque ajudou a escrever a história de progresso e desenvolvimento do Brasil. Na história de nosso País e, notadamente, na história do Sul do Brasil, o Talian vai merecer, certamente, um capítulo à parte, pois foi ele que permitiu que esta região brasileira, dentre outras coisas, se comunicasse harmonicamente. Impende, outrossim, reconhecer como parte integrante do nosso patrimônio cultural imaterial as diversas línguas faladas pelas várias comunidades de cidadãos brasileiros, eis que iniciativa de enorme relevância. Segundo o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística (IPOL), no Brasil são faladas cerca de 210 (duzentas e dez) línguas além do nosso Português oficial. Registrar e preservar essa riqueza lingüística como manifestação da pluralidade cultural do nosso povo, é um importante passo em direção à democracia, à inclusão social, à garantia do direito à memória e ao fortalecimento da identidade cultural dos brasileiros. É de se destacar, outrossim, a propriedade deste pleito em se considerando, notadamente, que neste ano comemoram-se os 130 (cento e trinta) anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul e no Brasil, constituindo-se, por si só, como mais uma homenagem àqueles que, mesmo não sendo filhos desta terra, acreditaram num sonho e adotaram o Rio Grande como sua morada. Assim sendo, ressaltando que o projeto de lei já foi proposto anteriormente, tendo como autor o exdeputado estadual Vilson Covatti, sendo porém arquivado em razão do encerramento do ano legislativo, apresento novamente a proposta pelas razões expostas e dado o grande significado histórico-cultural da língua Talian, rogando o apoio dos nobres pares para que endossem a presente propositura, sobrevindo, desta ação, o reconhecimento de todos os imigrantes italianos e descendentes, que ajudam a construir, a cada dia, nosso valoroso e pujante Estado. Palácio Farroupilha, 13 de fevereiro de 2007.

3 DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quinta-feira, 14 de maio de PRO 3 COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA Processo nº /07-1 Proponente: Ementa: Declara integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado o dialeto Talian, originado dos italianos e descendentes radicados no Rio Grande do Sul. Relator(a): Deputado(a) Nelson Marchezan Jr. Parecer: Favorável. PARECER DA COMISSÃO Nº 33/2009 Vem a esta Comissão de Constituição e Justiça, para exame e parecer, o Projeto de Lei nº 50/2007, de autoria da Deputada Silvana Covatti, que declara integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado o Dialeto Talian, linguajar dos italianos e seus descendentes radicados no Rio Grande do Sul. Em minuciosa justificativa histórico-filológica, a ilustre proponente explica a formação do dialeto Talian, oriundo dos falares predominantemente vênetos, lombardos, da própria língua portuguesa, moldado no ambiente da linguagem familiar dos imigrantes e seus descendentes, e definido pelos estudiosos como uma língua formada no Brasil, contando com centenas de publicações literárias, didáticas, cartilhas, dicionários e gramáticas. Destaca que registrar e preservar essa riqueza lingüística como manifestação da pluralidade cultural do povo é importante passo em direção à democracia, à inclusão social, à garantia do direito à memória e ao fortalecimento da identidade cultural dos brasileiros. A proposta não encontra óbices do ponto de vista legal, constitucional ou jurídico, ajustando-se ao disposto na Carta da República e na Constituição do Estado. A Carta Federal foi explícita ao preceituar, no art. 216: Art. 216 Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I as formas de expressão; II os modos de criar, fazer e viver;... 1º - O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e outras formas de acautelamento e preservação. A Constituição Estadual confirma estes preceitos e acrescenta entre os bens de natureza imaterial os portadores de referências à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade rio-grandense (art. 221, inciso V). Sendo assim, no entender deste Relator, o Projeto de Lei em análise atende aos preceitos constitucionais e está em condições de tramitar. Parecer favorável. Sala das Comissões, 31 de março de 2009.

4 DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quinta-feira, 14 de maio de PRO 4 Deputado(a) Alceu Moreira, Presidente. Deputado(a) Luiz Fernando Záchia, Vice-Presidente. Deputado(a) Adroaldo Loureiro Deputado(a) Pedro Westphalen Deputado(a) Nelson Marchezan Jr., Relator(a). Deputado(a) Elvino Bohn Gass Deputado(a) Marquinho Lang COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, CULTURA, DESPORTO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA Processo nº /07-1 Proponente: Ementa: Declara integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado o dialeto Talian, originado dos italianos e descendentes radicados no Rio Grande do Sul. Relator(a): Deputado(a) Edson Brum Parecer: Favorável. PARECER DA COMISSÃO Nº 5/2009 Vem a esta Comissão, para exame e parecer, o PL 50/2007, de autoria da Deputada Silvana Covatti, que tem por finalidade declarar integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado o dialeto Talian, originado dos italianos e descendentes radicados no Rio Grande do Sul. A proponente, em sua justificativa, faz um breve relato da presença italiana no Brasil e, em particular, no Rio Grande do Sul. Cita a conhecida Imigração Italiana Agendada ( ) e, ao fazê-lo, ressalta a pluralidade das linguagens que, por este processo, em nossa terra aportaram. Da mesma forma, tece considerações sobre a mescla dos falares vindos da Itália, em especial do vêneto, entre si e com o idioma português. Tem-se, então, que da amálgama dos diferentes falares trivênetos e lombardos e, em pequena escala, dos falares de outras regiões, acrescidos à incorporação de palavras da língua portuguesa, formou-se uma nova língua, denominada pelos estudiosos de Talian, justamente para diferenciá-la da língua italiana oficial, enfatiza a proponente. O PL tramitou na Comissão de Constituição e Justiça, onde mereceu parecer favorável. De nossa parte, entendemos que é oportuna tal proposição na medida em que reconhece o quanto são visíveis os traços marcantes da imigração italiana em nosso Estado, em especial do Talian, que, passado tanto tempo, permanece vivo e, como tal, está a merecer a condição de patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul. Trata-se de ação afirmativa que se coaduna perfeitamente com a construção do imaginário social de nossa gente. Diante do exposto, manifestamos nossa posição Favorável em relação ao PL.

5 DIÁRIO OFICIAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA Porto Alegre, quinta-feira, 14 de maio de PRO 5 Sala da Comissão, 12 de maio de Deputado(a) Mano Changes, Presidente. Deputado(a) Edson Brum, Relator(a). Deputado(a) Raul Pont Deputado(a) Kalil Sehbe Deputado(a) Paulo Borges Deputado(a) Iradir Pietroski Deputado(a) Adilson Troca Deputado(a) Marisa Formolo Deputado(a) Miki Breier