Vistos, relatados e discutidos estes autos de. APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n /1-00, da Comarca de

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA ACÓRDÃO REGISTRADO(A) SOB N Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n /1-00, da Comarca de ILHA SOLTEIRA/P.BARRE, em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE ILHA SOLTEIRA sendo apelada ELIANA LUIZA COVRE DIAS MARTINES: ACORDAM, em Décima Segunda Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial ao reexame necessário e negaram provimento ao recurso da Municipalidade, v.u.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores PRADO PEREIRA (Presidente, sem voto), WANDERLEY JOSÉ FEDERIGHI e VENÍCIO SALLES. São Paulo, 24 de setembro de ~ ^ OSVALDO ÍE OLIVEIRA Relator

2 ié PODER JUDICIÁRIO :A % TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SAO PAULO VOTO n 2091 COMARCA: ILHA SOLTEIRA / PEREIRA BARRETO APELAÇÃO N /1-00 APELANTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE ILHA SOLTEIRA APELADA: ELIANA LUIZA COVRE DIAS MARTINES Servidor público municipal - Ilha Solteira - Cargo comissionado (secretário municipal) - Exoneração Pretensão ao recebimento de férias vencidas acrescidas do terço constitucionalmenle assegurado - Admissibilidade, fazendo jus o servidor remunerado por subsídio único às verbas pleiteadas - Exegese do art. 39, 3 o e 4 o, da CF - Improcedência, entretanto, do pedido relativo ao pagamento de férias em dobro e da multa prevista no art. 477 da CLT, por não se tratar de relação trabalhista - Ação parcialmente procedente-sentença mantida. Juros de mora - Condenação da Fazenda Pública - Cômputo a partir da citação, no percentual de 6% ao ano, de acordo com o art. 1 -F da Lei n 9.494/97, introduzido pela MP 2.180/35/01, e ainda em vigor, nos termos do art. 2 da EC 32/01 - Reexame necessário parcialmente provido. Eliana Luiza Covre Dias Martines ajuizou reclamação trabalhista em face da Prefeitura Municipal da Estância Turística de Ilha Solteira pleiteando o pagamento de férias vencidas (uma de forma simples e outra em dobro) acrescidas do terço constitucionalmente assegurado durante o período em que trabalhou, em cargo comissionado (secretária municipal de saúde e desenvolvimento social), acrescido da multa prevista no art. 477 da CLT. ARTES GRÁFICAS - TJ

3 Os autos foram remetidos da Justiça do Trabalho para a Justiça Comum, por não se tratar de relação de emprego regida pela CLT, e sim, de relação estatutária. A respeitável sentença de fls. 59/62, de relatório adotado, julgou a ação parcialmente procedente, condenando a Municipalidade ao pagamento das férias pleiteadas acrescidas de 1/3, mas de forma simples e sem aplicação da multa prevista no artigo 477 da CLT, por não se tratar de contrato regido pelas normas trabalhistas, condenando cada uma das partes, em razão da sucumbência recíproca, a arcar com os honorários de seus patronos, dividindo-se as custas pelo meio. Inconformada, apelou a Municipalidade, ao argumento de que a remuneração por meio de subsídios exclui o direito a férias vencidas, asseverando que "a remuneração por meio de subsídios equipara os Secretários Municipais aos cargos de Prefeito e Vice- Prefeito, logo, verificamos na Lei Orgânica Municipal que o Prefeito tem direito de usufruir férias, no entanto, se deixar de fazê-lo, não poderá, ao final de seu mandato requerer indenização por férias não usufruídas". Contra-razões às fls. 72/74. E o relatório. Inicialmente, tendo em vista o valor atribuído à causa, (R$ ,25) e a data de ajuizamento da ação (21/03/2005), considera-se interposto o reexame necessário, nos termos do disposto no parágrafo 2 o, artigo 475, do Código de Processo Civil, em sua atual redação. cy Apelação n /J-00 - Ilha Solteira - Voto 2091 \ ARTES GRÁFICAS - TJ *

4 Improcede a irresignaçâo da Municipalidade. Ao que se depreende dos autos, a autora exerceu o cargo de secretária municipal em Ilha Solteira, com nomeação em e exoneração em e ingressou com a presente ação pretendendo receber férias vencidas (de forma simples e em dobro), e a multa prevista no art. 477 da CLT por atraso rescisório. Ora, ao contrário do que aduz a recorrente, o fato de receber subsídios não exclui da autora os direitos assegurados no art. T da CF/88, cabendo apenas o afastamento dos direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (férias em dobro e multa), por se tratar se tratar de relação estatutária. Assim, como restou consignado na bem lançada sentença: "Ao contrário do que pareceu à municipalidade, óbice algum há para o pagamento das verbas reclamadas neste feito, é que o dispositivo constitucional invocado demanda interpretação sistemática e histórica, que levam à conclusão inafastável no sentido de que os ocupantes dos cargos elencados no caput do artigo 39 da Constituição Federal têm direito ao recebimento de indenização por férias não gozadas e 13 o salário, bem assim ao pagamento das férias com acréscimo de 1/3 sobre a verba remuneratória, seja ela qual for Estes direitos são a todos assegurados no artigo 7 da Constituição Federal, cujos efeitos, por força do disposto no 3 o, do artigo 39, da Constituição Federal, são estendidos, neste particular, ao ocupante de cargo público, sem qualquer ressalva, que, não feita pelo legislador, não pode, posteriormente, vir a ser feita pelo intérprete. 4pela<,ãon / ilha Solteira- Voto 2091 ARTES GRÁFICAS - TJ \

5 ( ) "Houve, todavia, excesso no apontar as verbas que seriam devidas pela requerida, é que, em primeiro lugar, não há fundamento legal para que as férias sejam pagas em dobro, pelo que tal pedido fica julgado improcedente, o mesmo se verificando em relação à multa prevista no artigo 477 da CLT, que não se aplica ao caso concreto, posto não se cuidar de contrato de trabalho, mas sim de exercício de cargo público de livre nomeação e exoneração, sendo mesmo de sua natureza a possibilidade de, a qualquer tempo, ser seu ocupante dispensado, sem maiores ônus para a administração pública. " Em casos análogos, assim decidiu esta E. Corte: "O autor foi admitido, em comissão, para a função de Secretário Municipal de Cultura, Esporte e Turismo em 13 de abril de 2004, com subsídios fixados pela Lei n 986/2002, e exonerado em 03 de janeiro de 2005 (fl 7). Pretende receber verbas referentes a férias proporcionais, o terço constitucional, bem como a multa prevista no artigo 477 da CLT Essa multa é de ser afastada, desde logo. posto não se cuidar de contrato de trabalho regido pela CLT, mas sim exercício de cargo público de livre nomeação e exoneração No entanto, as verbas referentes às férias proporcionais e o terço constitucional devem ser pagas, singelamente, não havendo embasamento legal para o pagamento em dobro desses valores.? Apelação n / Ilha Solteua- Voto 2091 ARTES GRÁFICAS - TJ

6 ( ) Nesse sentido é a lição de Alexandre de Moraes, em comentário ao 4 o, do artigo 39, da Constituição Federal (in 'Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional ~ 2 a Edição - São Paulo, Editora Atlas S/A págs. 936/937), in verbis: 'Assim, o termo subsídio fixado constitucional mente a partir da EC n 19/98, vem substituir para determinadas categorias de agentes públicos os termos remuneração ou vencimentos, consubstanciando-se em importância salarial retribuitória de natureza alimentar, paga pelo Estado em retribuição de serviços prestados. Como salienta Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o subsídio l não tem natureza de ajuda, socorro, auxílio, mas possui caráter retribuitório e alimentar' O subsídio constitui, obrigatoriamente, parcela única, como afirmado pelo art 39, 4 o, da Constituição Federai com a nova redação que lhe deu a EC n 19/98, ao afirmar que o membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art 37, X e XI Apelação n 527 Oil-5/ Ilha Solteira- Voio209I \ ARTES GRÁFICAS -TJ \

7 Veda-se, portanto, qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória () Não obstante essa vedação, é importante salientar que o servidor público remunerado por subsidio único faz jas às seguintes verbas: - em face do 3 o, do art 39 décimo terceiro salário, adicional noturno, salário-família, remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, a 50% à normal, adicional de férias (1/3). ' Dessa forma, conclui-se que devem ser pagas as verbas relativas às férias e o terço constitucional, proporcionais ao tempo trabalhado, considerando-se os valores fixados na Lei Municipal n 986/02, fixando os subsídios dos Secretários Municipais para os anos de 2003 e 2004, que encontrava-se em vigor desde I o de janeiro de 2003 " (Apelação n /2-00, 6 a Câmara de Direito Público, Relator Des. José Habice, j , v.u.). E: "A idéia de subsídio - de comum impropriamente referida a uma parcela única (i e., à parte única de um todo) - não inibe a convergência de outros direitos com reflexo na remuneração do servidor público, assim os alistados no art. 39, 3, da Constituição Federal de CF/88, que remete ao gozo de férias anuais? Apelação n 52" 011-5/ Ilha Solteira - Voto 2091 ARTES GRÁFICAS - TJ

8 remuneradas, com o acréscimo de terça parte (art 7 o, inc XVII) e ao recebimento de décimo-terceiro salário (art 7 o, inc VIII) Porque, de logo, não se interdita à norma constitucional o ensejo de excepcionar o critério da 'parcela única \ Além disso, o que vedou o art. 39, 4, CF/88, ao instituir o subsídio, foi o acréscimo remuneratório variável correspondente a tarefa habitual do servidor, não, contudo, a agregação, em l parcela única', de verbas que se assinam por título diverso dos que se indicam incluídos no subsídio mensal (cfr, brevitatis causa, José Afonso da Silva, 'Comentário Contextual à Constituição 9, ed Malheiros, São Paulo, 2005, p. 355). Nessa linha, a interpretação das normas dos arts 3 o da Lei ilhense n 667/2000, de 28-9, 2 o da Lei local n 980, de , e I o da Lei municipal n 986, de , não poderiam refugir da incidência superior da regra do 3 o art 39 da Constituição da República. " (Decisão monocrática proferida na Apelação n /7-00, Relator Des. Ricardo Dip, em ). Nesse sentido também decidiu recentemente esta E. Câmara: "Servidor público exonerado - Ex-Secretário Municipal de Administração e Finanças exonerado recebeu apenas dois dias de trabalho - Inadmissibilidade, o pagamento de férias proporcionais acrescido de 1/3 é direito que decorre da Constituição Federal (art 7 o ), estendido aos ocupantes de cargo público - Sentença de procedência parcial - Decisão mantida Recurso da municipalidade provido, em parte, para redução do juro de mora a 6% ao ano (Lei n Apelação n '-00 - Ilha Solteira - Vo(o209l ARTES GRÁFICAS - TJ \

9 , PODER JUDICIÁRIO 9 494/97, art 1 -F, cf. MP , de 2001) " (Apelação n /7-00, Relator Des. Ribeiro de Paula, j , v.u.). No tocante ao reexame necessário, temos que os juros de mora devem ser computados no percentual de 6% ao ano, nos termos da Medida Provisória n /2001, ainda que a dívida seja de natureza alimentar, por ter a Emenda Constitucional n 32/2001 convalidado as medidas provisórias editadas até sua promulgação. Nesse sentido, jurisprudência recente desta E. Corte: "A questão não é nova nesta Câmara e esta relator ia perfilha o entendimento segundo o qual é aplicável a Medida Provisória n 2 180/35 e seu artigo I -F às ações iniciadas após 24/08/2001 O atual Código Civil foi promulgado em 10/01/2002 para viger um ano após sua promulgação E seu artigo 406 estabelece que 'quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos ã Fazenda Nacional' Entretanto, a norma especial prevalece sobre regra geral do Código Civil A Medida Provisória n 2.180/35/01, de 24/08/2001. introduziu artigos na Lei Federal n 9 494/97 que disciplinam os juros de mora, porque antes se aplicava a taxa prevista no Decreto-lei n 2 322/87 e atualmente se aplica a taxa do art 1 -F da referida lei, que tem a seguinte redação 'Os juros de mora, nas condenações impostas Apelação n / Ilha Solteira- Voto 2091 ARTES GRÁFICAS - TJ V

10 à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, não poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano' O Superior Tribunal de Justiça admite a constitucionalidade da MP n 2 180/35, convalidada pela EC n 32/01 e manda aplicar o art 1 -F acrescido à Lei n 9 494/97 Por conseguinte, não se aplica a taxa de juros do art 406 do Código Civil (1% ao mês) " (Apelação n /0-00, 10 a Câmara de Direito Público, Relator Des. Reinaldo Miluzzi, j , v.u.). "(..) relativamente aos juros moratórios, tem-se pela inaplicabilidade do disposto no artigo 406 do Código Civil, visto que, nos exatos termos do disposto no artigo 1 -F, da Lei n 9 494, de 1 997, acrescido pela Medida Provisória n , de 2001 Os juros de mora, nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, não poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano' Nesse sentido, aliás, a orientação adotada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, destacando-se, a propósito, o decidido no AgRg no Resp n /RS, Rei Min Hélio Guaglia Barbosa, DJ de , com a seguinte ementa 'Processual Civil Parcelas atrasadas Dívida de natureza alimentar Juros de mora. Art 406, do Código Civil. Não aplicação Ação ajuizada posteriormente à edição da Medida Provisória /2001 Análise Apelação n / flha Soltam - Voto 2091 ARTES GRÁFICAS - TJ \

11 de questão nova Impossibilidade. EC 32/2001. Agravo Regimental não provido 1 Não se aplica a regra geral do artigo 406, do Novo Código Civil, em razão da especialidade da regra inserta no art 1 -F da Lei n 9 494/97, que regula a incidência dos juros de mora nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias. 2 Inviável se mostra a análise, em sede de agravo regimental da alegada quebra do princípio da isonomia proporcional, em razão do que dispõe o 4 o, do art 39, da Lei n 9 250/95, conquanto constitua questão nova, não suscitada nas instâncias ordinárias, nem tampouco nas razões e nas contra-razões do recurso especial 3 A recente e dominante jurisprudência desta Corte firmou entendimento, quanto aos juros moratórios incidentes nas condenações contra a Fazenda Pública, no sentido de que a Medida Provisória n /01 se aplica às ações iniciadas após a sua vigência, ainda que a dívida seja de natureza alimentar. 4 A Emenda Constitucional n 32/2001 convalidou as Medidas Provisória editadas até a data de sua publicação 5. Agravo Regimental não provido ' (cf., a propósito, acórdão desta Colenda Câmara in Ap n /2, Rei Des Osvaldo Magalhães). " (Apelação n /6-00, 2 a Câmara de Direito Público, Relator Des. Alves Bevilacqua, j , v.u.). "Quanto aos juros moratórios, merece provimento o recurso São aplicados a partir da citação (art 405 do Código Civil e art 219 do CPC) e de 6% ao ano (STJ, AgRg no Resp , Rei. Min Laurita Vaz; Resp , Rei. Min. Felix Fischer, esta C Apelação n 52~ 011-5/ Ilha Solteira - Volo209I ARTES GRÁFICAS - TJ

12 11 Câmara, Ap /0, Rei Des Aroldo Viottu voto , Rei. Des Ricardo Dip, voto RH MD , Ap /5, Rei. Des Pires de Araújo, voto 9 863), pois a ação foi ajuizada após a MP /01 " (Apelação n /9-00, 11 a Câmara de Direito Público, Relator Des. Francisco Vicente RossiJ , v.u.). Observe-se que o fato de ter sido a LM n 667/2000 alterada pela Lei Municipal n 986/2002 é totalmente irrelevante "in casu'\ dado o entendimento esposado. Assim, de todo o exposto, dá-se parcial provimento ao reexame necessário e nega-se provimenlo ao apelo da Municipalidade. OSVALOODE OLIVEIRA RELATOR Apelação n / Ilha Solteira - Voto 2091 ARTES GRÁFICAS-TJ