TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo
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- Luiz Eduardo Cavalheiro Malheiro
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1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de São José do Rio Preto, em que são apelantes PREFEITURA MUNICIPAL DE SAO JOSE DO RIO PRETO e MINISTERIO PUBLICO sendo apelados MINISTERIO PUBLICO e PREFEITURA MUNICIPAL DE SAO JOSE DO RIO PRETO. ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento aos recursos oficial e da Municipalidade providos, improvido o do autor.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores OSVALDO MAGALHÃES (Presidente) e ANA LUIZA LIARTE., 26 de março de THALES DO AMARAL RELATOR Assinatura Eletrônica
2 APELAÇÃO nº APELANTES: PREFEITURA MUNICIPAL DE SAO JOSE DO RIO PRETO E MINISTERIO PUBLICO APELADOS: MINISTERIO PUBLICO E PREFEITURA MUNICIPAL DE SAO JOSE DO RIO PRETO COMARCA: SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº EMENTA AÇÃO CIVIL PÚBLICA GUARDA MUNICIPAL ATIVIDADE DE FISCALIZAÇÃO DE TRÂNSITO POSSIBILIDADE EXEGESE DO ART. 144, PARÁG. 8,,º, DA CF E 8º E 280, PARÁG. 4º, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO RECURSOS OFICIAL E DA MUNICIPALIDADE PROVIDOS, IMPROVIDO O DO AUTOR. É legal e constitucional o exercício da atividade de fiscalização de trânsito por guarda municipal, o que inclui a lavratura de auto de infração, pois cuida-se de exercício do poder de polícia administrativa, inerente ao Município, autorizado pelos arts. 8º e 280, parág. 4º, do Código de Trânsito Brasileiro. Além disso, a especificação das funções da guarda, prevista no art. 144, parág. 8º, da Constituição Federal, presta-se apenas a evitar o conflito com as demais atribuições de segurança, conferidas a outros órgãos. Cuida-se de ação civil pública proposta pelo Ministério Público e julgada procedente em parte pela sentença de fls. 648/660. A Municipalidade apelou, alegando, em síntese, que (1) à guarda municipal foi atribuído o poder de fiscalizar o trânsito como APELAÇÃO Nº SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº 2/8
3 decorrência do exercício do poder de polícia administrativa; (2) o Município tem competência para disciplinar os assuntos locais, nos quais se insere a prestação do serviço público de trânsito; (3) não há incompatibilidade da Lei Complementar nº 177/03, ou do Decreto nº /06, com as disposições constitucionais e com o Código de Trânsito, o qual dispõe, no art. 280, 4º, que qualquer servidor civil poderá lavrar auto de infração. O Ministério Público também apelou, alegando, por sua vez, que (1) deve ser afastado o efeito suspensivo conferido na sentença ou, alternativamente, concedida tutela antecipatória para fazer cessar os efeitos do Decreto Municipal nº /06; (2) deve ser declarada, incidentalmente, a inconstitucionalidade do art. 2º, II, da Lei Complementar nº 177/03, por contrariar os arts. 22, XI, parág. único, e 144, parág. 8º, da Constituição Federal e os arts. 139, caput e 2º e 3º, 141 e 147, da Constituição Estadual, bem como a nulidade do Decreto nº /06, por contrariar o art. 22, XI, parág. único, da Constituição Federal, art. 24, VI, da Lei Federal nº 9.503/97 e Lei Municipal nº 8.652/02; (3) a guarda municipal não constitui, por lei, órgão executivo de trânsito. Os recursos foram recebidos e regularmente processados, oferecidas as contrarrazões, opinando a Procuradoria Geral de Justiça pelo improvimento do recurso da Municipalidade e, de outro lado, pelo provimento do recurso interposto pelo órgão ministerial. Considero interposta a remessa oficial. APELAÇÃO Nº SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº 3/8
4 É o relatório. 1) Aprecio, primeiramente, os recursos oficial e da Municipalidade, os quais comportam acolhida. Com efeito, obteve o Ministério Público, através da presente demanda, o reconhecimento da inconstitucionalidade e nulidade da atuação da Guarda Municipal de São José do Rio Preto na fiscalização do trânsito local. Todavia, prescreve o art. 144, parág. 8º, da Constituição Federal, que os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Uma interpretação mais apressada e obediente ao sentido literal do texto constitucional poderia conduzir à conclusão no sentido de que a guarda municipal não pode exercer a atividade de fiscalização de trânsito, incluída a lavratura de auto de infração. Porém, qualquer norma, inclusive a de caráter constitucional, não pode ser interpretada apenas pelo sentido literal da linguagem, método exegético que hoje se encontra superado. A doutrina aponta vários outros princípios de interpretação, notadamente da Lei Maior, como o sistemático, o integrativo, o tópico e o da interpretação conforme a Constituição (cf. Paulo Bonavides, Curso de direito APELAÇÃO Nº SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº 4/8
5 Constitucional, Malheiros, 10ª edição, 2000, págs. 446 e segtes.). Nesse contexto, se o Município, bem como os Estados e o Distrito Federal, tem competência para organizar os respectivos órgãos e entidades executivos de trânsito, nos termos do art. 8º do Código de Trânsito Brasileiro, e tendo em conta que a atividade de fiscalização não se insere nas atribuições exclusivas das polícias federal, civil e militar, nada impede que o ente municipal, no exercício de sua competência, atrelada ao interesse local (o peculiar interesse das Constituições passadas), a atribua à guarda. Tal competência está estabelecida, ainda, no art. 24, caput e inciso VI, do mesmo diploma, segundo o qual compete aos órgãos e entidades de trânsito dos Municípios executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis por infrações de circulação. A fiscalização de trânsito é atividade tipicamente de polícia administrativa, que, segundo Hely Lopes Meirelles, é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado (Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros, 31ª edição, 2005, pág. 131). Assim, detendo o Município o poder de polícia, é a ele inerente a fiscalização sobre as atividades que afetam a sua coletividade, onde se insere, portanto, a polícia de trânsito. E a polícia administrativa, por sua vez, não se confunde APELAÇÃO Nº SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº 5/8
6 com a judiciária nem com a de manutenção da ordem pública, exercidas por órgãos próprios, previstos no art. 144 da Carta Magna e que não estão dentre as atribuições da guarda municipal. Ressalte-se, ainda, que o art parág. 4º, do mesmo Código, prescreve que o agente da autoridade de trânsito competente para lavrar o auto de infração poderá ser servidor civil, estatutário ou celetista ou, ainda, policial militar designado pela autoridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência. Vê-se, portanto, que tal atividade não é exclusiva de policial militar, podendo ser exercida por servidor civil. Mais uma razão, assim, para admitir a fiscalização pela guarda municipal, não se verificando a alegada inconstitucionalidade da Lei nº 177/03 e de seu decreto regulamentador (nº /06). Além de tudo isso, como observou com muita propriedade a eminente Desembargadora Teresa Ramos Marques na Apelação Cível nº /8-00, a Constituição Federal, no art. 144, parág. 8º, especificou a função típica da guarda municipal apenas para evitar conflito com as demais funções de segurança pública atribuídas às outras polícias previstas no mesmo art. 144 da Constituição Federal. E conclui: tal significa que pode o município atribuir aos integrantes de sua guarda outras tarefas legalmente permitidas aos seus servidores, no caso, autorizadas pelo art. 280, parág. 4º, do Cód. de Trânsito Brasileiro. Acrescento: e que não conflitem com nenhuma das outras APELAÇÃO Nº SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº 6/8
7 atribuições, conferidas às demais polícias. TRIBUNAL DE JUSTIÇA Enfim, não exercendo a guarda atribuição de polícia judiciária, nem de polícia ostensiva, mas de polícia administrativa, na qual se insere a fiscalização de trânsito, reveste-se de legalidade e constitucionalidade a conduta municipal. Por fim, se há guardas já admitidos, treinados e aptos a realizar essa tarefa, não há sentido em impedir que a implementem, obrigando a Municipalidade a criar quadro próprio para o mesmo fim, o que seria muito mais oneroso e não se conciliaria, portanto, com o interesse público. E assim também já decidiu esta C. Câmara, no julgamento da Ap. Cív. nº , j , v.u., Rel. Des. Rui Stoco, esclarecendo ainda que, por força da Lei Complementar n.º 177/2003, o Município deu competência para a Guarda Civil Metropolitana de São José do Rio Preto de exercer a fiscalização do trânsito, nos limites estabelecidos na lei federal e na carga magna, nada havendo de irregular em tal proceder, bem como no julgamento do AI nº , j. em , v.u., do qual fui o Relator. provimento. 2) Passo à análise do recurso do autor, que não comporta Pois bem, conforme restou decidido no âmbito dos recursos APELAÇÃO Nº SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº 7/8
8 oficial e da Municipalidade, é legal e constitucional o exercício da atividade de fiscalização de trânsito pela Guarda Municipal, não havendo inconstitucionalidade na Lei nº 177/03, que a criou, tampouco nulidade no Decreto nº /06, que regulamentou as suas atribuições relativas à disciplina do trânsito, com respaldo no Código de Trânsito Brasileiro e na Constituição Federal, restando superadas, portanto, as demais questões aventadas pelo Ministério Público em seu apelo. Ante o exposto, pelo meu voto, (1) dou provimento aos recursos oficial e da Municipalidade para julgar improcedente a ação civil pública, incabível a condenação do autor em custas e honorários, a teor do disposto no art. 18 da Lei nº 7.347/85; (2) nego provimento ao apelo do autor (Ministério Público). THALES DO AMARAL Relator APELAÇÃO Nº SÃO JOSÉ DO RIO PRETO VOTO Nº 8/8
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