PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO * *

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1 ~\ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N * * Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n , da Comarca de São Paulo, em que são apelantes USP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO e JUÍZO EX-OFFICIO sendo apelado CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA. ACORDAM, em 4 a Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SOARES LIMA (Presidente), FERREIRA RODRIGUES E RICARDO FEITOSA. São Paulo, 15 de março de 2010 SOARES LIMA PRESIDENTE E RELATOR

2 ' =» *, PODER JUDICIÁRIO VOTO Apelação Cível n /3-00 Comarca de São Paulo Apelantes: U.S.P. - Universidade de São Paulo e Outro Apelado: Carlos Henrique de Oliveira UNIVERSIDADE - Transferência de Servidor de Instituição Pública do Estado para outra Estadual - Possibilidade - Não infringência à regra da autonomia universitária - Inteligência da L.F. n 9.536/97 - Sentença concessiva mantida- Recursos não providos. "Não fere a regra constitucional da autonomia universitária, inscrita no artigo 207 da Carta Magna, nem o princípio federativo, a transferência de servidor federai de universidade pública do Estado para outra estadual, nos termos da Lei Federal n" 9.536/97, pois autonomia não se confunde com independência ou soberania, estando a instituição estadual submetida ao poder normativo do Estado." Vistos. Mandado de Segurança impetrado por Carlos Henrique de Oliveira, Auditor Fiscal da Previdência Social em Juazeiro do Norte - CE, contra ato da Diretora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - U.S.P. Alega, em síntese, que

3 se encontrava regularmente matriculado no 7 o semestre do curso de Direito da Universidade Regional do Cariri - U.R.C.A., entidade mantida pelo Governo do Estado do Ceará. Devido à remoção ex officio para a Gerência Executiva do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS de São Paulo requereu a sua transferência e matrícula junto à U.S.P., que resultou indeferida pela autoridade impetrada. A sentença de fls.167/172 concedeu a ordem, convalidando a liminar concedida. Ao reexame necessário sobreveio apelo da Universidade de São Paulo (fls. 174/194), buscando a reforma, insistindo na argüição de inconstitucionalidade da Lei n 9.536/97, por ofensa ao princípio da isonomia, previsto no artigo 5 o, da Constituição Federal. Aduz que a referida lei só pode vincular o sistema federal de ensino, não incidindo no âmbito estadual. Prequestiona os artigos 2 o, 5 o, 20, 21, 22, 23, 24 e 206, da Constituição Federal. Processado e respondido (fls. 197/206), o Ministério Público, nesta Instância, opinou pelo provimento dos recursos, com a denegação da segurança. E o relatório. O reclamo desmerece acolhida. Comprovou o impetrante sua condição de servidor público federal, removido ex officio por necessidade de serviço, conforme ato da Diretoria de Recursos Humanos do INSS, cursando Direito em Universidade mantida pelo Poder Público - Governo do Estado do Ceará, sobrevindo recusa no pedido de transferência formulado perante a Faculdade de Direito da Apelação Cível n / de São Paulo - voto ARTES GRÁFICAS - TJ ^ ^

4 Universidade de São Paulo. Sendo esses os fatos, prescreve o artigo I o, da Lei Federal n 9.536, de : "A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do artigo 49, da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em qualquer época do ano e independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor público federal civil ou militar estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de comprovada remoção ou transferência de oficio, que acarrete mudança de domicílio para o município onde se situe a instituição recebedora ou para localidade mais próxima desta ". A lei exige, em síntese, do pretendente à transferência, que: a) seja servidor público federal, civil ou militar, ou seu dependente, b) haja remoção ou transferência de ofício e c) ocorra mudança de domicílio. Ora, verifica-se que tais requisitos foram integralmente cumpridos pelo impetrante, pois é servidor federal, foi transferido de ofício e mudou de domicílio. Assim, não há nenhum amparo legal para a recusa da apelada em aceitar a sua transferência. Por outro lado, ressalte-se que a matéria relativa à inconstitucionalidade da Lei Federal n 9.536/97 já foi apreciada pelo E. Supremo Tribunal Federal, na ADI n 3324/DF, Rei. Min. Marco Aurélio, julgada em Nessa oportunidade, o Pretório Excelso julgou procedente em parte a ação para, sem redução do texto do artigo I o, da Lei n 9.536, de 11 de dezembro de 1997, dando-lhe interpretação conforme, assentar a inconstitucionalidade apenas no que se refere a permitir a mudança de instituição particular para Apelação Cível n" / de São Paulo - voto

5 pública, encerrando a cláusula "entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino", a observância da natureza privada ou pública daquela de origem, viabilizada a matrícula na congênere. Enfim, dar-se-á a matrícula em instituição privada se assim o for a de origem, e em pública se o servidor ou o dependente for egresso de instituição pública. Com efeito, aqui se trata de transferência de instituição pública para pública, sendo totalmente insubsistente efetuar qualquer distinção entre instituição pública federal e estadual. Logo, nada obsta a transferência de uma universidade federal para outra estadual, pois ambas são públicas. De outro lado, não há nenhum respaldo para a assertiva no sentido de que a obrigatoriedade de aceitar a transferência implica ofensa à autonomia universitária e ao princípio federativo. Dispõe o artigo 207, da Constituição Federal que "as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão ". Portanto, a autonomia universitária, princípio de alta relevância institucional, consubstanciado na regra acima referida, tem três dimensões: didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial. Sem que seja necessário conceituar cada uma dessas dimensões, é certo que a obrigatoriedade de transferência de alunos, estabelecida em lei federal, não fere nenhuma delas. j/3^m---tte^mh^müã^mto

6 Além disso, seria absurdo pensar que a universidade pública estadual não está submetida à ordem jurídica estatal, emanada do Congresso Nacional, naquilo que não interfira na sua autonomia constitucional. De fato, não se pode confundir autonomia com soberania. Como decidiu o E. Superior Tribunal de Justiça, no Mandado de Segurança n 3318, Rei. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, "a autonomia universitária, prevista no artigo 207 da Constituição Federal não pode ser interpretada como independência e, muito menos, como soberania. A sua constitucionalização não teve o condão de alterar o seu conceito ou ampliar o seu alcance, nem se afastar as universidades do poder normativo e de controle dos órgãos federais competentes" (RDA, 197/235, in José Afonso da Silva, Comentário Contextual à Constituição, Malheiros, 2005, p.789). E o Colendo Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário n /DF, Rei. Min. Marco Aurélio, julgado em , assentou: "Universidade. Autonomia. Transferência de alunos. A disciplina por Lei de extensão nacional não vulnera a autonomia prevista no artigo 207 da Constituição Federal" {in Uadi Lammêgo Bulos, Constituição Federal Anotada, Saraiva, 3 a edição, 2001, p. 1234). Vê-se, portanto, que é forte a jurisprudência no sentido de que a autonomia não exime as universidades, federais ou estaduais, de se submeterem à ordem jurídica estatal em geral. Apelação CíveliP r 3lP7^n^/3^^^e^4iTmUíi- voto ARTES GRÁFICAS - TJ

7 6 Também esta E. Corte Estadual já decidiu nesse sentido, determinando a transferência de mulher de servidor público federal do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora - M.G., para a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de São José dos Campos (Apelação Cível n /0-00, Rei. Des. Moreira de Carvalho, 6 a Câmara de Direito Público, julgada em ). E ainda a Apelação Cível n /6-00, Rei. Des. Borelli Thomaz, 3 a Câmara de Direito Público, julgada em , admitindo a transferência de filho de empregado da PETROBRAS Distribuidora S/A, do curso de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas para a Universidade de São Paulo. Não resta dúvida de que o melhor direito se encontra com o impetrante, impondo-se, daí, a subsistência do decisório. \^[ego provimento aos recursos. SOAJW LIMA Desembargador Relator D Apelação Cível n / de São Paulo - voto