Produção de couve-brócolos em sucessão ao cultivo de quiabo e adubos verde

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1 Produção de couve-brócolos em sucessão ao cultivo de quiabo e adubos verde Cristiaini Kano 1 ; Flávio Fernandes Júnior 2 ; Sebastião Wilson Tivelli 3 ; Luis Felipe V Purquerio 4 ; Joaquim Adelino de Azevedo Filho 1 1 APTA - Pólo Leste Paulista, C. Postal 01, Monte Alegre do Sul-SP, criskano@hotmail.com, joaquimadelino@apta.sp.gov.br; 2 EMBRAPA Agrossilvipastoril, Av. das Jacarandás, 2639, Sinop-MT, flavio.fernandes@embrapa.br; 3 APTA - Unidade de Pesquisa de Desenvolvimento de São Roque; Avenida Três de maio, 900, São Roque-SP, tivelli@apta.sp.gov.br; 4 APTA - Instituto Agronômico, C. Postal 28, Campinas-SP, felipe@iac.sp.gov.br RESUMO O objetivo desse trabalho foi avaliar a produtividade de couve-brócolos cultivada com e sem adubação química em sucessão ao cultivo de quiabo e de adubos verde. O trabalho foi desenvolvido na APTA/Pólo Leste Paulista, localizado em Monte Alegre do Sul, SP, no período de agosto a novembro de O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso com três repetições e dez tratamentos. Os tratamentos constaram da produção de couve-brócolos com e sem adubação em sucessão ao cultivo de quiabo e adubos verdes. Foram avaliados a massa e o diâmetro médio da inflorescência. Verificou-se que a couve-brócolos em sucessão ao cultivo do quiabo pode se beneficiar da adubação residual sem a necessidade de adubação de plantio e de cobertura. PALAVRAS-CHAVE: Brassica oleracea var. italica, adubação, Cajanus cajan, Crotalaria juncea, sustentabilidade. ABSTRACT Broccoli production in succession to okra and green manure crop. The objective of this work was to evaluate de broccoli production in succession to okra and green manure crop. This work was conducted at APTA/Pólo Leste Paulista, in Monte Alegre do Sul, São Paulo State, from August to November The experiment was carried out with a randomized blocks experimental design with three replications and ten treatments. The treatments were broccoli production with and without fertilization in succession to okra and green manure crop. It was evaluated the medium head weight and diameter. It was observed that broccoli in succession to okra crop can be benefited only with the residual effect of mineral fertilization. S1550

2 Keywords: Brassica oleracea var. italica, manure, Cajanus cajan and Crotalaria juncea, sustainability. INTRODUÇÃO Em regiões tropicais, altas produtividades dependem da aplicação de elevadas doses de fertilizantes minerais, pois os solos destas regiões são, originalmente, pobres em matéria orgânica. Alternativamente, práticas biológicas, como a adubação verde, aplicação de composto, rotação de culturas e consórcios são adotadas em vários programas de manejo e conservação do solo em diversos países, inclusive no Brasil, a fim de recuperar a fertilidade e reduzir o uso de fertilizantes minerais (Urquiaga & Zapata, 2000). Com a crescente preocupação pelo uso indiscriminado de fertilizantes nitrogenados sobre o ambiente, aumentou o interesse pela utilização de adubos verdes como fonte alternativa de nitrogênio às culturas. O emprego de adubos verdes capazes de realizar a fixação biológica de nitrogênio eficientemente pode representar contribuições consideráveis à viabilidade econômica e a sustentabilidade dos agroecossistemas, pelo aporte de quantidades expressivas de nitrogênio ao sistema solo-planta, reduzindo assim a necessidade de nitrogênio sintético. Além do aporte de nitrogênio, os adubos verdes atenuam a erosão e desempenham papel fundamental na ciclagem de nutrientes, tanto dos aplicados através dos fertilizantes minerais e não aproveitados pelas culturas e também daqueles provenientes da mineralização da matéria orgânica do solo e do próprio material vegetal (Boddey et al., 1997; Perin et al., 2003). A adubação verde pode ser considerada uma prática versátil e aplicável em várias situações agrícolas, sendo possível um aproveitamento mais adequado do solo, das máquinas e dos insumos. Apesar do conhecimento dos efeitos benéficos da prática da adubação verde com leguminosas, particularmente em hortaliças esta é uma prática pouco utilizada, possivelmente pela falta de informações sobre as espécies mais indicadas para cada cultura na região (Monegat, 1991). Uma outra razão dessa prática ainda ser pouco adotada nas áreas de horticultura comercial, é devido à falta de organização dos produtores. A programação semanal de plantio/transplante, tratos culturais e colheitas não permitem ao produtor se programar para o cultivo de adubo verde em áreas de pousio ou em rotação de cultura. S1551

3 Nota-se a escassez de estudos que caracterizam a contribuição dos adubos verdes na transferência dos nutrientes às culturas em rotação. Thomas & Asakawa (1993) relatam que o manejo de nutrientes em sistemas agrícolas pode ser parcialmente manipulado através da quantidade e qualidade da matéria vegetal, de formas de manejo da matéria e das culturas de interesse, de tal modo que permita a sincronia entre a mineralização e a demanda de nutrientes pelas plantas em crescimento. Especificamente na adubação verde, é necessário desenvolver combinações de espécies e formas de manejo que associem a liberação de nutrientes da matéria às necessidades das hortaliças subsequentes. Assim, objetivou-se avaliar a produtividade de couve-brócolos cultivada com e sem adubação química em sucessão ao cultivo de quiabo e de adubos verde. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na área experimental da APTA/Pólo Leste Paulista localizada em Monte Alegre do Sul, SP. A área utilizada foi cultivada anteriormente com quiabo (cv. Santa Cruz 47), com crotalária júncea (cv. IAC-KR-1) e com guandu anão (cv. IAPAR-43 Aratã). Nas áreas com adubos verdes havia os adubos verdes podados e não podados em que o objetivo era avaliar um sistema de produção consorciado do quiabeiro com adubos verdes eretos nas entrelinhas, mantidos com e sem poda, para eventual utilização na agricultura familiar. O delineamento experimental utilizado foi blocos casualizados, com três repetições e dez tratamentos (T1 e T2 = cultivos da couve-brócolos com e sem a adubação recomendada no plantio e em cobertura, onde foi cultivado quiabeiro, respectivamente; T3 e T4 = cultivos da couve-brócolos com e sem a adubação recomendada, onde foi cultivada Crotalária juncea, respectivamente; T5 e T6 = cultivos da couve-brócolos com e sem a adubação recomendada, onde foi cultivada Crotalária juncea mantida podada a 40 cm de altura, respectivamente; T7 e T8 = cultivos da couve-brócolos com e sem a adubação recomendada, onde foi cultivado Guandu, respectivamente; T9 e T10 = cultivos da couve-brócolos com e sem a adubação recomendada, onde foi cultivado Guandu mantido podado a 40 cm de altura, respectivamente). Cada parcela foi constituída por 24 plantas, sendo consideradas como parcela útil as oito plantas das duas linhas centrais da parcela, sendo as demais utilizadas como bordaduras. Inicialmente foi realizado um manejo dessa área colocando-se todos os restos culturais das plantas de quiabo e dos adubos verdes nas entrelinhas de cada parcela. As linhas S1552

4 onde foi cultivado o quiabo foram preparadas para o transplante de mudas de couvebrócolos cultivar Avenger. A análise química do solo utilizado no experimento teve os seguintes resultados: ph(cacl 2 ): 5,2 ; P resina : 25 mg dm -3 ; matéria orgânica: 24 g dm -3 ; V%: 65; H+Al: 25 mmol c dm -3 ; K: 2,9 mmol c dm -3 ; Ca: 31 mmol c dm -3 ; Mg: 13 mmol c dm -3 ; SB: 46,9 mmol c dm -3 ; CTC: 71,9 mmol c dm -3. A calagem foi realizada em 21 de outubro de 2008, utilizando-se calcário de alta reatividade (PRNT = 90%), para elevação da saturação por bases a 80%. Nas parcelas dos tratamentos que receberam adubação (de plantio e em cobertura) seguiu-se a recomendação para a cultura da couve-brócolos para o estado de São Paulo (Trani et al., 1997). A adubação de plantio foi realizada em 03 de agosto de 2009, aplicando-se 500; 2,9; 28,8; 0,19; 2,9 e 8,6 g planta -1 de esterco de galinha, N, P 2 O 5, B, S e K 2 O, respectivamente. Utilizaram-se como fonte desses nutrientes o fertilizante formulado , termofosfato magnesiano (Yoorin) e cloreto de potássio. Na adubação de cobertura, aplicou-se o equivalente a 80 kg ha -1 de N e 100 kg ha -1 de K 2 O, utilizando-se como fontes a uréia e o cloreto de potássio parceladas em quatro vezes aos 15; 30; 45 e 60 dias após o transplante (DAT). As mudas foram transplantadas em 17 de agosto de 2009 em linhas duplas no espaçamento de 0,8 m entre plantas e 0,6 m entre linhas, e 0,7 m entre as linhas duplas. Durante o cultivo foram realizadas três aplicações foliares com ácido bórico na dose de (1 g L -1 ) e uma com molibdato de sódio na dose de (0,5 g L -1 ). Realizaram-se pulverizações com inseticidas visando o controle de pulgão e a irrigação foi feita por aspersão de acordo com a necessidade da cultura. O período de colheita foi dos 70º ao 87º DAT em que foram avaliados a massa fresca e o diâmetro médio da inflorescência. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e em caso de efeito significativo para tratamentos, ao teste de Tukey a 5% de probabilidade RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve diferença estatística para as características avaliadas. Com relação à massa média da inflorescência, a maior produção obtida (665 g) foi verificada nos tratamentos que receberam a adubação química recomendada para o cultivo da couve-brócolos. No entanto, a adubação residual deixada pelo cultivo de quiabo fez com que a massa e o S1553

5 diâmetro da inflorescência da couve-brócolos fossem estatisticamente iguais aos obtidos no tratamento em que teve o cultivo anterior com quiabo e que recebeu adubação química recomendada (Tabela 1). Assim pode-se inferir que nesse último caso pode ocorrer economia de fertilizantes devido à adubação residual. A maior massa (665,0 g) e diâmetro (17,9 cm) da inflorescência obtidos nesse trabalho foram superiores aos valores encontrados por Melo et al. (2010) também para a cultivar Avenger, em que obtiveram uma média de 457,5 g e diâmetro de 15,3 cm ao avaliarem a produção de cultivares de brócolos no verão em plantio direto estabelecido durante um ano agrícola. Perin et al. (2004) ao avaliarem o efeito residual do cultivo isolado e consorciado dos adubos verdes crotalária (Crotalaria juncea) e milheto (Pennisetum americanum) na produção de couve-brócolos verificaram que não houve efeito residual dos adubos verdes crotalária e milheto sobre o diâmetro e produção das inflorescências, tanto na ausência quanto na presença de 150 kg ha -1 de N, quando cultivado após a cultura do milho. Com base nos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que quando foi utilizado uma área para o cultivo de couve-brócolos após o cultivo com crotalária júncea e com guandu anão, o efeito residual dos adubos verde não foram suficientes para equiparar-se a adubação de plantio e de cobertura recomendada para a couve-brócolos para obtenção de uma maior massa média de inflorescência. Conclui-se também que a couve-brócolos pode se beneficiar da adubação residual deixada pelo cultivo do quiabeiro sem a necessidade de adubação de plantio e de cobertura. REFERÊNCIAS BODDEY RM; SÁ JCdeM; ALVES BJR; URQUIAGA S The contribution of biological nitrogen fixation for sustainable agricultural systems in the tropics. Soil Biology and Biochemistry 29: MELO RAdeC; MADEIRA NR; PEIXOTO JR Cultivo de brócolos de inflorescência única no verão em plantio direto. Horticultura Brasileira 28: MONEGAT C Plantas de cobertura do solo: características e manejo em pequenas propriedades. Chapecó: edição do autor, 337p. PERIN A; GUERRA JGM; TEIXEIRA MG Cobertura do solo e acumulação de nutrientes pelo amendoim forrageiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira 38: S1554

6 PERIN A; SANTOS RHS; URQUIAGA S; GUERRA JGM; CECON PR Efeito residual da adubação verde no rendimento de brócolo (Brassica oleraceae L. var. Italica) cultivado em sucessão ao milho (Zea mays L.). Ciência Rural 34: THOMAS RJ; ASAKAWA NM Decomposition of leaf litter tropical forage grasses and legumes. Soil Biology and Biochemistry 25: TRANI PE; PASSOS FA; NAKAI H Quiabo. In: RAIJ B van; CANTARELLA H; QUAGGIO JA; FURLANI AMC (eds.). Recomendação de adubação e calagem para o estado de São Paulo. Campinas: IAC & Fundação IAC. p.183. (Boletim Técnico 100) URQUIAGA S; ZAPATA F Manejo eficiente de la fertilización nitrogenada de cultivos anuales en América Latina y el Caribe. Porto Alegre: Gênesis. 110p. Tabela 1. Massa fresca (MF) e diâmetro médio (D) da inflorescência de couve-brócolos em função dos tratamentos [medium fresh mass (MF) and diameter of broccoli inflorescence in function of treatments]. Monte Alegre do Sul, APTA/Pólo Leste Paulista, Tratamento MF D (g) (cm) T1 = com adubação após cultivo do quiabeiro 665,0 a 17,9 a T2 = sem adubação após cultivo do quiabeiro 444,0 ab 15,7 ab T3 = com adubação após cultivo da Crotalária júncea 532,7 ab 16,7 a T4 = sem adubação após cultivo da Crotalária júncea 145,7 c 10,6 c T5 = com adubação após cultivo da Crotalária júncea 464,0 ab 15,7 ab mantida podada T6 = sem adubação após cultivo da Crotalária júncea mantida 339,3 bc 14,7 ab podada T7 = com adubação após cultivo do Guandu anão 533,3 ab 16,7 a T8 = sem adubação após cultivo do Guandu anão 206,7 c 12,2 bc T9 = com adubação após cultivo do Guandu anão mantido 586,3 a 17,4 a podado T10 = sem adubação após cultivo do Guandu anão mantido 347,7 bc 14,4 ab podado CV (%) 18,9 8,0 *Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelos teste de Tukey a 5% de probabilidade. S1555