Um Olhar sobre o Site. Dulce Franco. Isabel Chagas Centro de Investigação em Educação Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa
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- José Franca Pinhal
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1 Um Olhar sobre o Site Dulce Franco Centro de Estudos Observatório de Políticas de Educação e de Contextos Educativos, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Isabel Chagas Centro de Investigação em Educação Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa O estudo que se apresenta nesta comunicação faz parte de uma investigação mais ampla sobre o site de escola, seu significado para os membros da escola que o publica e a imagem que transmite ao público mais vasto que utiliza a Internet. Com base nos estudos centrados no site, integrados na investigação acerca do papel educativo da Internet, considera-se que a análise do site de escola revela a própria instituição como sendo uma janela aberta para o mundo digital e para a própria escola, ao reproduzir o sentir de uma comunidade, as práticas seguidas pelos seus membros, professores e alunos, e ao revelar as suas concepções acerca da educação, do papel da escola e do papel educativo das Tecnologias de Informação e Comunicação. Os objectivos do estudo consistiram em clarificar os parâmetros segundo os quais se procede a uma análise do site, de acordo com a literatura recente e com as percepções de professores acerca do papel e da natureza do site de escola. Procedeu-se a uma revisão da literatura centrada nas propostas mais recentes de análise e avaliação de sites em geral e dos de escola em particular. Entrevistaram-se 3 professores com conhecimentos e experiência no domínio da utilização educativa da Internet. A vasta literatura sobre o assunto, reveladora de uma preocupação generalizada entre os especialistas acerca da qualidade e do papel do site, está muito mais centrada na análise de sites em geral do que nos de escola. Quanto a este último aspecto nota-se a concordância entre os autores ao considerarem como fundamentais os seguintes parâmetros: aspectos técnicos e visuais, autoria; acesso; e conteúdo. Os professores entrevistados referiram-se também a estes aspectos e esclareceram quanto à relevância, pertinência e qualidade dos conteúdos. Da pesquisa bibliográfica e das entrevistas resultou, também, uma grelha de observação como proposta de navegação orientada e crítica, susceptível de promover o aperfeiçoamento do site como veículo para a colaboração e como recurso original e relevante no processo ensino/aprendizagem. Introdução O presente estudo teve como objectivo clarificar os parâmetros segundo os quais se procede a uma análise do site, de acordo com a literatura recente e com as percepções de professores acerca do papel e da natureza do site de escola. Comunicação apresentada na conferência da AFIRSE Tecnologias em educação. Estudos e investigações. Lisboa, 2000.
2 Este estudo faz parte de uma investigação mais ampla sobre o site de escola, seu significado para os membros da escola que o publica e a imagem que transmite ao público mais vasto que utiliza a Internet. O site como objecto de investigação Perante a intensa publicação na Internet, fenómeno actualmente generalizado e que não se restringe ao domínio da educação, investigadores de diferentes domínios do saber têm considerado o site como objecto do seu estudo. Informáticos, educadores, sociólogos e psicólogos, para referir apenas os mais evidentes, debruçam-se sobre o site de diferentes perspectivas consoante o enquadramento teórico em que se fundamentam. Entre as interrogações mais comuns, partilhadas pelos especialistas de diferentes domínios científicos, constam a qualidade do site, o seu valor educativo, o seu papel na aprendizagem de tópicos curriculares e na promoção do trabalho colaborativo, o seu significado para quem o constrói e para quem o consulta e os processos de construção e sustentação do próprio site (Tuttles, 1997; Serim e Koch, 1996; Turkle, 1995). A publicação do site da Escola constitui presentemente, se não uma prática comum das escolas portuguesas de todos os níveis de ensino, pelo menos, o propósito de muitas delas. A confirmar esta tendência estão os dados publicados em 1998 pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresas, indicando que 1776 escolas tinham um site publicado na WWW. Navegar pelos sites actualmente disponíveis revela a realidade complexa e diversificada das nossas escolas ao mesmo tempo que nos aproxima delas e nos leva a interrogar acerca das implicações educativas deste novo recurso. Com base na literatura da especialidade acerca do papel educativo da Internet, considera-se, no contexto da investigação em que o presente estudo se integra, que a análise do site de escola revela a própria instituição como sendo uma janela aberta para o mundo digital e para a própria escola, ao reproduzir o sentir de uma comunidade, as práticas seguidas
3 pelos seus membros, professores e alunos, e ao revelar as suas concepções acerca da educação, do papel da escola e do papel educativo das Tecnologias de Informação e Comunicação. Publicar na Internet constitui uma actividade particularmente significativa sob o ponto de vista educacional. A este respeito, Bettencourt (1997) afirma que a concepção e a construção de páginas html conduz à estruturação do pensamento e ao desenvolvimento de capacidades de comunicação, escrita, pesquisa e pensamento crítico, assim como ao refinamento da expressão artística. Berenfeld (1996) argumenta que a publicação proporciona aprendizagens mais significativas do que as convencionais porque implica a inclusão das actividades lectivas em contextos familiares para os alunos e o estabelecimento de relações com o mundo real. Segundo Chagas et al (1998), publicar na Internet constitui um projecto extremamente rico sob o ponto de vista educacional em que os alunos têm a oportunidade de pôr em prática diferentes competências cognitivas, sócio-afectivas e psicomotoras, ao mesmo tempo que educam o pensamento crítico e a criatividade, a sensibilidade artística e o espírito de colaboração e experimentam diferentes modalidades de comunicação. Ao publicar na Internet a Escola assume uma presença no ciberespaço (Krol e Ferguson, 1995). A Escola e a imagem que tem de si altera-se. De consumidora de informação passa a disseminar informação (Wolgemuth, 1996) numa audiência que se pode estender a milhões de pessoas espalhadas por todo o mundo. Esta propriedade específica da Internet que não se observa em mais nenhum outro recurso educativo, tem dado origem a discussões acerca do site de escola, qual o seu significado, quais as qualidades que o caracterizam, que aspectos fundamentais devem ser tidos em conta na sua concepção e construção. Para Mackenzie (1997), um site bem construído corresponde a um sistema de informação que pode servir como interface para outras experiências relevantes. De acordo com Serim e Koch (1996), um site de escola deve permitir: (1) estabelecer ligações para sites
4 afins, incluindo uma indexação clara e uma descrição concisa do conteúdo de cada um; (2) indicar recursos tanto a utilizadores externos como internos; (3) ajudar o visitante a tomar conhecimento da escola e das diferentes actividades escolares que ela integra. Rutkowski (1997), ao referir-se aos procedimentos para a análise deste tipo de sites, argumenta que os seguintes itens devem ser considerados: Visão, de que modo os objectivos propostos se articulam entre si e estão implementados? Originalidade, quais as características do conteúdo e do design que distinguem o site em análise dos outros? Integridade, como se integram o design, o conteúdo, os aspectos de ordem técnica e os objectivos propostos, permitindo a criação ou o desenvolvimento de uma comunidade de aprendizagem? Comunidade, como se gere no site a comunicação e o encorajamento a novas colaborações? Envolvimento 1, qual o nível de participação dos alunos, professores, encarregados de educação e outros membros da comunidade escolar, na concepção, produção e sustentabilidade do site? Estrutura, como se caracteriza a navegação pelas páginas do site? É acessível a audiências com diferentes capacidades e com exigências específicas? Discutindo, também, aquilo que um site de escola deve conter, Tuttles (1997) considera três grandes áreas que colocam a ênfase no apoio que é possível dar a potenciais utilizadores, incluindo, nomeadamente, outras escolas: (1) intercâmbios culturais; (2) recursos da comunidade escolar; (3) projectos em que os membros da escola estão envolvidos. Actualmente existem sites disponíveis com orientações úteis para quem pretender construir um site de escola e cuja consulta permitiu, no âmbito deste estudo, clarificar critérios fundamentais para se proceder à análise em curso. Entre eles destacam-se o site Tips for creating successful school web pages 2 e o da rede de escolas do Quebec no Canadá 3 onde se argumenta que os três itens mais importantes a ter em conta na construção de um site são conteúdo, conteúdo, conteúdo. Sendo assim, a construção de um site nunca acaba. As 1 Empowerment no original
5 páginas estão continuamente a mudar e a evoluir, não existindo uma direcção para o seu crescimento. Segundo os autores consultados, os passos para a construção de um site de escola devem contemplar: (1) informação sobre a escola; (2) trabalhos dos alunos; (3) o que se passa na escola; (4) recursos para professores e alunos; (5) recursos para a comunidade, por exemplo, programas escolares. Os critérios defendidos pelos autores atrás referidos podem ser usados tanto na avaliação de sites de escola como na orientação, concepção e construção de sites deste tipo. No contexto do presente estudo consideraram-se os critérios que pudessem fazer parte de uma grelha de análise que funcionasse como proposta de navegação orientada e crítica, susceptível de promover o aperfeiçoamento do site como veículo para a colaboração e como recurso original e relevante no processo ensino/aprendizagem. Metodologia O estudo compreendeu duas fases distintas. Na primeira, procedeu-se a uma pesquisa na literatura da especialidade com o objectivo de identificar os critérios que permitissem elaborar uma grelha de orientação para a navegação em sites de escola. Tarefa difícil, pois a literatura existente centra-se mais na análise de sites em geral do que nos de escola. Atendendo à novidade do tema, utilizou-se fundamentalmente a Internet como recurso de pesquisa. Por isso, seguiram-se critérios de legitimidade dos textos consultados relativos à instituição e ao autor. A segunda fase consistiu na validação da grelha construída. Entrevistaram-se três professores com prática reconhecida na utilização educativa da Internet. As grelhas foramlhes enviadas por com uma nota indicando os objectivos para que essa grelha tinha sido construída e pedindo para a analisarem e proporem alterações e novos critérios que julgassem relevantes. Após algum tempo realizaram-se as entrevistas individuais, semiestruturadas, com a duração de cerca de 60 minutos cada.
6 O objectivo destas entrevistas era clarificar as recomendações e as alterações sugeridas, assim como colher as percepções dos professores acerca dum instrumento de observação como este e do site de escola em geral. As questões de partida das entrevistas foram as seguintes: Que imagem deve apresentar um site de escola? Como será constituída a equipa responsável pela sua criação? Que importância tem a construção do site no processo ensino/aprendizagem? Que itens considera importantes existirem num site de escola? Que processos utilizaria para revitalizar um site de escola? Contudo, tratando-se de entrevistas semi-estruturadas, as questões enunciaram-se de acordo com o rumo que as intervenções dos entrevistados tomavam, tendo em vista os objectivos da entrevista e procurando clarificar o que os entrevistados queriam dizer (Merriam, 1991). Procedeu-se à análise de conteúdo das respostas dadas pelos professores entrevistados, na procura de regularidades e padrões que se agruparam em categorias (Bogdan e Biklen, 1994). Resultados Consultaram-se cerca de 50 sites. Da análise dos diferentes critérios e das diferentes grelhas seleccionadas, assim como de artigos de orientação que permitiram identificar os ingredientes importantes que caracterizam um site de escola, resultou um conjunto de itens que se incluíram na grelha de orientação agrupados nos seguintes critérios: Aspectos técnicos conjunto de atributos que evidenciam as funções e propriedades do site. Autoria informações acerca de quem está por detrás do site, sua concepção e manutenção.
7 Acesso conjunto de indicações que permitem o acesso a diferentes audiências, ao autor e ao webmaster do site. Conteúdo conjunto de todas as indicações, textos e documentos que se encontram no site para fins educativos, informativos, de lazer ou entretenimento. A grelha de orientação à navegação que se elaborou com base na consulta realizada ficou estruturada segundo os quatro critérios considerados, os quais se subdividem em diferentes itens, totalizando 42. Os professores entrevistados concordaram com os critérios considerados e sugeriram reformulações no modo como alguns itens deveriam ser enunciados, com o objectivo de os tornar mais claros. Alguns itens não contemplados na grelha de observação foram sugeridos pelos professores, tais como a existência de uma página com a apresentação da escola; a apresentação do repositório de trabalhos e projectos realizados por alunos e professores; a disponibilidade de ferramentas de trabalho de utilidade para outros professores e alunos, como por exemplo, software, actividades, apoio à comunicação; a descrição do projecto educativo da escola, permitindo ao visitante, eventualmente um professor ou aluno, estabelecer parcerias e colaborações com membros da comunidade escolar. Todos referiram, também, a importância da autenticidade das fontes utilizadas, ou seja, a possibilidade de se verificar a proveniência da informação e identificar o autor. Um dos professores entrevistados chamou a atenção para a importância do critério acesso atendendo a que muitos utilizadores da Internet apresentam limitações físicas ou materiais que condicionam as suas capacidades de navegação. Por isso, ao prepararem-se documentos para publicação, é necessário tomar em consideração as características específicas de algumas audiências especiais. A sustentabilidade do site e a sua utilização generalizada pela comunidade escolar foi outro assunto referido, pelo que seria necessário ter em conta a organização que está por
8 detrás do site e que deve comportar um webmaster, ligado a uma equipa editorial, e um coordenador. Estas sugestões foram tidas em conta por julgadas pertinentes e, também, por coincidirem com as recomendações dadas por diferentes autores consultados. Assim, acrescentaram-se 8 itens que se incluíram nos critérios já existentes do seguinte modo: Aspectos técnicos: disponibiliza ferramentas de trabalho; contém uma página de apresentação da escola; a proveniência da informação é claramente identificada; descreve o projecto educativo da escola. Autoria: descreve a organização responsável pela criação e manutenção do site; apresenta a equipa editorial. Acesso: permite o acesso a utilizadores com limitações físicas ou materiais. Conteúdo: contém um repositório dos trabalhos dos alunos, professores e outros membros da comunidade escolar. A versão final da grelha, que se apresenta na figura 1, contém 50 itens de observação agrupados segundo os 4 critérios previamente identificados. Aspectos Técnicos e Visuais S N N/A A primeira página apresenta-se como o B.I. da própria escola. Contém uma página com a apresentação da escola. Parece atractivo e amigável. Existe um índice na página principal e nas outras páginas. A navegação é fácil. Os diferentes meios (ex. vídeo, sons) encontram-se bem identificados. Os links de regresso ou de avanço são suficientes. Tem tabelas auxiliares de leitura. Apresenta páginas inacabadas (em construção). O layout é intuitivo e claro. Permite uma leitura fácil, contrastando com o background utilizado. A utilização de suporte multimédia reforça a compreensão do site. O carregamento de gráficos e imagens é rápido. Tem uma base de dados inerente ao próprio site. Disponibiliza ferramentas de trabalho. Contém contador de visitantes. A proveniência da informação é claramente identificada. Descreve o projecto educativo da escola. Autoria
9 Incluí a data da sua criação. O autor ou coordenador está identificado. Descreve a organização responsável pela criação e manutenção do site. Apresenta a equipa editorial. A data da última actualização está indicada. O site foi revisto recentemente. Acesso O tempo de carregamento é rápido. Permite o acesso a outros links similares e com interesse. Tem de contacto para o autor. Indica o contacto com o webmaster. Permite o acesso a outro público para além do português. Permite ser utilizado por aqueles que têm um campo de visão limitado. Permite o acesso a utilizadores com limitações físicas ou materiais. Conteúdo A informação é útil. O conteúdo é susceptível de gerar novas visitas. Os títulos e cabeçalhos explicitam claramente o conteúdo. A compreensão dos objectivos do site é clara e simples. As fontes de informação estão identificadas. Os textos estão bem construídos gramatical e ortograficamente. O conteúdo está adaptado a diferentes grupos de público. São incluídos links relevantes para sites relacionados. Os textos são originais e legítimos. É possível incluir sugestões sobre o próprio site. Existe uma complementaridade entre os textos e o uso de suporte multimédia. O site pode ser usado para fins educativos. O site inclui a participação de elementos fora da escola. O conteúdo é significativo para o utilizador. É aberto e convida à interactividade. Inclui trabalhos de investigação. Contém um repositório de trabalhos dos membros da comunidade escolar. O conteúdo identifica a audiência para que se destina. O que disponibiliza está adequado aos objectivos explícitos. Legenda: S - Sim N - Não N/A - Não se aplica Figura 1. Grelha de análise de sites de escola. Foi possível identificar algumas perspectivas acerca deste novo recurso tecnológico. Um dos professores descreveu a Internet como um meio global e universal de troca de informação, todos eles são de opinião que a planificação de um site é uma tarefa complexa que deve envolver um leque alargado de elementos representativos de uma comunidade educativa, de forma a rentabilizar a sua futura utilização. Outro professor notou ainda que a
10 participação de alunos neste tipo de publicação - a criação de um site de escola - provocaria maior interesse pela escrita, pela execução dos trabalhos e pelo rigor na gramática e no vocabulário utilizado. Por fim, todos os professores referiram a necessidade de formação generalizada dos professores acerca das TIC. As diferenças verificadas nos conhecimentos e nas atitudes dos professores relativamente a este novo recurso educativo poderão estar na base de desigualdades entre as escolas relativamente à formação de todos os alunos neste domínio. Conclusão O site de escola constitui um recurso inovador e original. Através dele, a escola pode abrir as sua portas à comunidade escolar, disponibilizando informação útil, como os cursos em funcionamento num dado ano lectivo, e a um público mais vasto, dando acesso a propostas de colaboração. Como recurso de aprendizagem, o site pode constituir-se como espaço onde os alunos poderão publicar os seus trabalhos, conscientes da audiência que irão ter, transcendendo em muito os limites da sala de aula e da escola. Através das ferramentas de comunicação disponíveis, poderão contactar com outros colegas, uns mais próximos e outros mais distantes, e com um mosaico de pessoas interessadas ou conhecedoras dos mesmos assuntos, dando uma nova dimensão ao trabalho de projecto. O presente estudo evidenciou que a discussão acerca do papel e da qualidade do site de escola é um assunto actual que envolve investigadores e educadores de todo o mundo. Para que o site possa concretizar as suas potencialidades originais e inovadoras, tem de respeitar determinados critérios de qualidade. A grelha de observação que se elaborou com base na pesquisa bibliográfica e nos comentários de professores, serve como proposta de navegação orientada e crítica, susceptível de promover o aperfeiçoamento do site como veículo para a colaboração e como recurso original e relevante no processo ensino/aprendizagem.
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