ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR
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- Leonardo Minho Sampaio
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1 Angiol Cir Vasc. 2015;11(2):51-60 ANGIOLOGIA E CIRURGIA VASCULAR ARTIGO ORIGINAL Dez anos de tratamento de aneurismas da aorta abdominal - exclusão endovascular vs. cirurgia aberta nas diferentes regiões portuguesas Ricardo Castro-Ferreira a,b,, Manuel Neiva-Sousa b, Sérgio Sampaio a,c, Paulo Gonçalves Dias a, Altamiro da Costa-Pereira c e Alberto Freitas c a Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital de São João, Porto, Portugal b Unidade de Ciências Cardiovasculares, Departamento de Fisiologia e Cirurgia Cardio-torácica, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal c Centro de Investigação e Tecnologia de Informação em Sistemas de Saúde (CINTESIS), Departamento de Ciências da Informação e da Decisão em Saúde, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal Recebido a 2 de outubro de 2014; aceite a 9 de novembro de 2014 Disponível na Internet a 20 de marzo de 2015 PALAVRAS-CHAVE Aneurisma da aorta abdominal; Aneurisma da aorta em rotura; Mortalidade hospitalar; Cirurgia aberta; Exclusão endovascular; Bases de dados administrativas Resumo Introdução: Os aneurismas da aorta abdominal (AAA) afetam cerca de 5% dos homens com mais de 65 anos estimando-se serem a décima causa de morte nos países ocidentais. A cirurgia aberta () ou a sua exclusão endovascular () estão indicadas para prevenir a rotura em doentes com AAA de elevado diâmetro, evitando assim a sua principal complicação. Um estudo detalhado que compare a escolha entre e, bem como a sua mortalidade intra-hospitalar nas diferentes regiões de Portugal continental, nunca foi realizado. Objetivo: Determinar i) a proporção de AAA em rotura vs. íntegros submetidos a intervenção em cada região de Portugal continental, ii) a proporção de cada tipo de intervenção e iii) a respetiva mortalidade hospitalar. Métodos: Foram selecionados todos os doentes incluídos na base de dados administrativa de internamentos hospitalares com o diagnóstico de AAA, em rotura ou íntegros, submetidos a ou, no período compreendido entre A referida base de dados contém dados relativos a todos os episódios em hospitais públicos de Portugal continental. Foram avaliados os tipos AAA, o tipo de correção e a mortalidade intra-hospitalar da mesma, para cada região nacional. Resultados: Foram registadas correções de AAA entre em Portugal continental. A reparação de AAA íntegros foi 3 vezes mais frequente do que a intervenção em AAA em rotura (75 vs. 25%). A comparação regional demostrou que a relação de AAA íntegros/aaa em rotura no Norte e Lisboa foi significativamente maior do que no Centro. A frequência de AAA Trabalho apresentado no Congresso Nacional SPACV em Coimbra, Autor para correspondência. Correio eletrónico: Cferreira.ricardo@gmail.com (R. Castro-Ferreira) X/ 2014 Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-ND (
2 52 R. Castro-Ferreira et al. em rotura manteve-se constante para cada região ao logo dos 11 anos estudados em todas as regiões nacionais. A foi a técnica mais utilizada quer para AAA em rotura quer para AAA íntegros. No entanto, a correção endovascular aumentou progressivamente, sendo em 2010 o método mais frequente de reparação de AAA íntegros no Norte e em Lisboa (55% para ambas as regiões). A mortalidade nos AAA em rotura não apresentou diferenças estatisticamente significativas entre as diferentes regiões nacionais (52% no Norte, 52% no Centro e 51% em Lisboa), nem entre as diferentes abordagens cirúrgicas (51% na vs. 52% por ). No tratamento dos AAA íntegros a apresentou menor mortalidade intra-hospitalar na região Norte e em Lisboa (2,1 vs. 6,6% no Norte e 5,0 vs. 8,7% em Lisboa, p < 0,05). Conclusão: O número de intervenções para tratamento de AAA tem vindo a aumentar em todas as regiões de Portugal continental, estando a progressivamente a assumir-se como o tratamento de escolha. Para os AAA íntegros, a associou-se a uma menor mortalidade hospitalar no Norte e em Lisboa Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Este é um artigo Open Access sob a licença de CC BY-NC-ND ( org/licenses/by-nc-nd/4.0/). KEYWORDS Abdominal aortic aneurysm; Ruptured aortic aneurysm; In-hospital mortality; Open repair; Endovascular aneurysm repair; National administrative database Ten years of abdominal aortic aneurysm treatment in Portugal: Endovascular aneurysm repair vs open repair - a regional evaluation Abstract Background: Abdominal aortic aneurysms (AAA) affect approximately 5% of men over 65 years of age and are estimated to be the tenth leading cause of mortality in Western countries. Elective surgery either by open repair (OR) or endovascular aneurysm repair () is indicated in patients with large AAAs, preventing rupture, the major complication of AAA. To the best of our knowledge a detailed study comparing the treatment choice for AAA repair as well as its associated in-hospital mortality in Portuguese mainland state hospitals has never been performed. Aim: The purpose of this analysis was to determine i) the proportion of aneurysm type submitted to repair in each region state hospitals, ii) the proportion of each type of surgical treatment among them, iii) the in-hospital mortality associated with each treatment. Methods: All individuals diagnosed with ruptured or non-ruptured AAAs submitted to either OR or between 2000 and 2010, whose information was available on an inpatient hospital administrative database, were selected for the study. The database contained data from all Portuguese mainland state hospitals. To evaluate the regional chronological evolution of these data, a yearly characterization for the period between 2000 and 2010 was performed. The type of AAA, its choice of correction and the in-hospital mortality were evaluated for each national region. Results: Between the years 2000 and 2010, 3101 AAAs repairs were registered in mainland Portugal. Non-ruptured AAAs were three times more frequent than ruptured AAAs (75% vs. 25%). Regional comparison showed the non-ruptured AAA/ruptured AAA ratio in Norte and Lisboa to be significantly higher than that in Centro. Ruptured AAA frequency remained fairly stable during the 11 years evaluated. OR was the preferred method for treatment of both ruptured and non- -ruptured AAAs in all regions. Nevertheless, the choice for has been increasing from the period of 2005 to 2010, actually becoming the most frequent method in Norte and Lisboa during 2010 (55% in both regions). Ruptured AAAs mortality was similar in all the evaluated regions (52% in Norte, 52% in Centro and 51% in Lisboa). No significant differences were found between and OR in the repair of ruptured AAA (in-hospital mortality of 51% in OR vs. 52% in ). A significant improved outcome was obtained with in the repair of non-ruptured AAA in state hospitals of Norte and Lisboa (2,1% vs. 6,6% in Norte and 5,0% vs. 8,7% in Lisboa, p < 0,05). No differences were observed in state hospitals of Centro. Conclusions: The yearly number of AAA repairs in Portuguese mainland state hospitals is increasing across all regions, with repair consistently gaining prominence. Compared to OR, presents a more favourable in-hospital mortality outcome in state hospitals of Norte and Lisboa, when used in elective surgeries for non-ruptured AAA repairs Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular. Published by Elsevier España, S.L.U. This is an open access article under the CC BY-NC-ND license ( org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
3 Dez anos de tratamento de aneurismas da aorta abdominal 53 Introdução Os aneurismas da aorta abdominal (AAA) infrarrenais afetam 1% dos indivíduos com mais de 55 anos de idade, aumentando posteriormente a sua incidência em 2-4% por década 1.Os homens têm 3 vezes mais probabilidade que as mulheres a desenvolver AAA 2 e são 10 vezes mais propensos a ter um AAA de 4 ou mais centímetros de diâmetro 3. A idade é um fator de risco importante, com a incidência de AAA a aumentar acentuadamente após os 55 anos nos homens e após os 70 anos nas mulheres 3. A maioria dos AAA são assintomáticos e indetetáveis ao exame físico, permanecendo desconhecidos até serem diagnosticados por exames de imagem realizados por outras razões 4. Os aneurismas sintomáticos ou superiores a 5,5 cm de diâmetro têm indicação clássica para correção, enquanto os assintomáticos e de menores dimensões podem ser seguidos com vigilância periódica 5. Contudo, a rotura pode ser a sua primeira manifestação 6, com necessidade de intervenção urgente de modo a impedir a morte do doente. As taxas de mortalidade descritas para a reparação de aneurismas intactos são frequentemente inferiores a 5% 7, aumentando dramaticamente nos AAA em rotura, que apresentam uma mortalidade global de 80-90%, acoplada com as taxas de sobrevivência que variam entre 30-65% para aqueles doentes que chegam vivos ao hospital 8. Nos países ocidentais, as 2 últimas décadas do século XX foram caraterizadas por um aumento progressivo da incidência de morte atribuída a AAA em rotura 9. No entanto, no início do milénio parece definir-se um ponto de viragem nesta tendência, sendo que, tanto a prevalência, quanto a incidência de AAA começaram a declinar 10. Vários autores têm estudado este fenómeno, atribuindo essa redução a alterações epidemiológicas (p. ex.: prevalência de tabagismo, longevidade das populações), bem como a uma maior deteção do aneurisma, com a sua subsequente reparação eletiva por métodos mais seguros 13,14. A correção dos AAA em rotura e íntegros pode ser por cirurgia aberta () ou por cirurgia endovascular () 11. A técnica cirúrgica atual, introduzida pela primeira vez em 1952, foi gradualmente aperfeiçoada, tanto em termos técnicos como nos cuidados pós-operatórios, apresentando atualmente mortalidade e morbilidade perioperatória reduzidas quando realizada de forma eletiva. Desenvolvido em 1991, a é uma abordagem menos invasiva, resultando numa menor agressão cirúrgica com um potencial de redução da mortalidade e morbilidade, bem como num tempo de recuperação mais curto. Os benefícios de cada tipo de cirurgia (aberta vs. endovascular) foram exaustivamente escrutinados, existindo diversos estudos publicados a comparar os seus resultados nas suas diversas vertentes Embora tais resultados variem frequentemente entre países, algumas variáveis parecem seguir um padrão similar. Tem sido descrito de forma sistemática uma menor mortalidade hospitalar da, que é perdida a longo prazo devido a complicações associadas ao procedimento. Tendo em conta toda a informação disponível, o tipo de cirurgia a ser executada deve ter em conta o perfil do doente. Nos países ocidentais estima-se que o AAA é uma das 10 principais causas de morte em homens com mais de 65 anos 6. Dada a sua prevalência, a elevada mortalidade e os custos inerentes ao seu tratamento, a ausência de informação nacional global sobre esta doença constitui uma falha epidemiológica grave. O presente estudo pretende colmatar esta lacuna e determinar, para cada região de Portugal continental e num período de 10 anos ( ), a proporção de cada tipo de aneurismas submetido a reparação, a proporção de cada tipo de tratamento cirúrgico e a respetiva mortalidade hospitalar. Métodos Participantes Foram incluídos todos os episódios relativos a doentes com o diagnóstico de AAA em rotura ou íntegros submetidos a reparação por ou, com altas entre os anos de A informação foi obtida através de uma base de dados da administração central de saúde, com registos de todos os hospitais e centros hospitalares de Portugal continental. Método A população alvo foi categorizada por sexo e idade. Para cada região nacional, foram calculados o rácio entre reparações de AAA em rotura e íntegros, a relação anual entre modalidades cirúrgicas utilizadas, a mortalidade intra- -hospitalar associada a cada procedimento. Recolha de dados Os dados foram extraídos de uma base de dados do Serviço Nacional de Saúde, habitualmente conhecida por base de dados dos Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH). Esta base de dados inclui informação relativa aos vários episódios registados com um código CID-9-MC (Classificação Internacional de Doenças, Nona Revisão, Modificação Clínica), seja como diagnóstico principal ou secundário, atribuído a AAA em rotura ou íntegros e ao seu tratamento (tabela 1). Descrição de variáveis As variáveis analisadas foram a mortalidade intra-hospitalar, tipo de correção cirúrgica ( vs. ), tipo de AAA (em rotura vs. íntegros), dias de internamento, as caraterísticas demográficas dos doentes e a localização dos hospitais de acordo com a Nomenclatura das Unidades Territoriais Estatísticas - NUTS II (fig. 1, tabela 2). Análise estatística Foi calculada para cada região a percentagem relativa de cada tipo de AAA, o seu tipo de reparação e a mortalidade intra-hospitalar de cada tipo de cirurgia. As diferenças encontradas foram testadas pelo teste Qui-quadrado ou, nas amostras pequenas, pelo teste exato de Fisher. Toda a análise estatística foi realizada com o software IBM SPSS Statistics, versão , Somers, NY, EUA. Os gráficos foram elaborados através do Graph Pad-Prisma, versão 4.0, San Diego,, EUA.
4 54 R. Castro-Ferreira et al. Tabela 1 episódios Códigos da CID-9-MC utilizados na seleção de Código de lesões e doenças Aneurisma da aorta abdominal roto Aneurisma da aorta de local inespecífico roto Aneurisma da aorta abdominal, sem menção de rutura Aneurisma da aorta de local inespecífico, sem menção de rutura Código de procedimentos Resseção de vasos com anastomose, aorta Resseção de vasos com reposição, local inespecífico Resseção de vasos com reposição, aorta abdominal Outra excisão de vasos, local inespecífico Outra excisão de vasos, aorta abdominal Bypass aorto-iliaco-femural Clampagem de aneurisma Outra reparação de aneurisma Reparação de vaso sanguíneo com prótese biológica Reparação de vaso sanguíneo com prótese sintética Implantação endovascular de prótese na aorta abdominal Outra reparação endovascular (de aneurisma) de outros vasos Resultados No período referido foram tratados AAA. A análise por regiões demonstrou que o Norte, Centro e Lisboa foram responsáveis por mais de 99% do total de cirurgias. A maioria dos AAA analisados foi corrigida por (n = 2.603, 83,9% do total de cirurgias no período analisado). Até 2005 Tabela 2 Divisão sub-regional de Portugal continental (NUTS II) e respetivo perfil demográfico (Instituto Nacional de Estatística, 2010) Sub-regiões de Portugal continental População (n) Perfil demográfico Norte ,8 Centro ,3 Lisboa ,0 Alentejo ,7 Algarve ,6 Densidade populacional (n/km 2 ) Figura 1 Divisão sub-regional de Portugal continental (NUTS II): 1) Norte; 2) Centro; 3) Lisboa; 4) Alentejo; e5) Algarve. não foi registado qualquer, tendo este sido registado pela primeira vez nessa data num hospital do norte do país. Dois anos mais tarde, este procedimento cirúrgico foi também codificado no Centro e Lisboa. Na região centro foram realizadas menos correções por do que no Norte e Lisboa (p < 0,05), sendo a relação / nestas 2 regiões semelhante (p = 0,664). A intervenção endovascular foi gradualmente adquirindo um papel mais importante na correção de AAA, representando 55, 33 e 55% de todos os procedimentos no Norte, Centro e Lisboa, respetivamente, em Até à conclusão do estudo, nenhum foi realizado em centros hospitalares do Alentejo e do Algarve. O número anual de e por região está sintetizado na tabela 3 e ilustrado na figura 2. % of within total surgeries Norte Centro Lisboa Mainland mean Figura 2 Percentagem anual de no total de reparações de AAA realizados em Portugal continental.
5 Dez anos de tratamento de aneurismas da aorta abdominal 55 Tabela 3 Distribuição anual de todos os procedimentos de AAA, de acordo com o tipo de cirurgia Norte n % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 98,9 84,9 90,7 70,8 60,0 44,7 82,0 n % 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,1 15,1 9,3 29,2 40,0 55,3 18,0 n Centro n % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 86,0 95,2 78,6 66,7 91,7 n % 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 14,0 4,8 21,4 33,3 8,3 n Lisboa n % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 79,3 66,2 59,2 45,5 82,7 n % 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 20,7 33,8 40,8 54,5 17,3 n Alentejo n % 100,0-100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0-100,0 n % 0,0-0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0-0,0 n Algarve n % , ,0 n % ,0-0 0,0 n n % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 99,7 96,2 83,8 71,4 62,5 48,2 83,9 n % 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 3,8 16,2 28,6 37,5 51,8 16,1 n
6 56 R. Castro-Ferreira et al. Tabela 4 Distribuição anual de todos os reparos de AAA, de acordo com o tipo de aneurisma Norte n % 72,5 87,7 79,5 77,6 80,3 77,2 67,4 78,7 79,8 80,8 79,6 78,3 n % 27,5 12,3 20,5 22,4 19,7 22,8 32,6 21,3 20,2 19,2 20,4 21,7 n Centro n % 82,6 71,8 73,0 67,6 58,6 72,7 60,4 60,5 66,7 82,1 70,8 69,7 n % 17,4 28,2 27,0 32,4 41,4 27,3 39,6 39,5 33,3 17,9 29,2 30,3 n Lisboa n % 61,1 78,8 70,2 71,5 71,9 77,7 75,6 72,0 82,1 76,1 80,4 75,2 n % 38,9 21,2 29,8 28,5 28,1 22,3 24,4 28,0 17,9 23,9 19,6 24,8 n Alentejo n % 100,0-66,7 100,0 100,0 71,4 100,0 100,0 50,0 66,7-81,5 n % 0,0 - % 33,3 0,0 0,0 28,6 0,0 0,0 50,0 33,3-18,5 n Algarve n % ,0-0,0 0,0 n % ,0-100,0 100,0 n n % 67,3 80,0 72,7 73,1 72,7 76,9 71,7 72,8 79,0 78,3 78,7 75,3 n % 32,7 20,0 27,3 26,9 27,3 23,1 28,3 27,2 21,0 21,7 21,3 24,7 n
7 Dez anos de tratamento de aneurismas da aorta abdominal 57 Tabela 5 Caraterísticas dos doentes submetidos a reparação de AAA entre Intervenção n/100 mil habitantes Idade média ± DP Sexo masculino, % Norte (n = 863) Centro (n = 432) Lisboa (n = 1.777) Alentejo (n = 27) Algarve (n = 2) (n = 708) (n = 155) (n = 396) (n = 36) (n = 1.470) (n = 307) (n = 27) (n=0) (n=2) 18,9 4,1 16,7 1,5 51,8 10,8 3,6-0,5-70,6 ± 8,8 72,0 ± 8,0 70,5 ± 8,5 73,1 ± 8,6 71,1 ± 8,7 74,3 ± 8,5 71,5 ± 9,2-63,5 ± 2,1-93,4 95,5 91, ,8 86,3 92,6-100,0 - (n=0) Tabela 6 Distribuição regional da mortalidade intra-hospitalar, de acordo com o tipo de AAA e procedimento AAA Tipo de cirurgia Norte(n = 863) p * Centro(n = 432) p ** Lisboa(n = 1.777) p * 6,6% (35/533) 0,039 8,1% (22/270) 0,488 8,7% (92/1.054) 0,038 2,1% (3/143) 3,2% (1/31) 5,0% (14/282) 50,9%(89/175) 0,289 52,4% (66/126) 0,671 51,0% (212/416) 0,774 66,7% (8/12) 40,0% (2/5) 48,0% (12/25) * Teste do Qui-quadrado de Pearson. ** Teste exato de Fisher. Tabela 7 Dias de internamento (mediana) por tipo de AAA e tipo de correção Tipo de AAA Tipo de correção Dias totais de internamento Dias internamento pós cx 11,0 a 8,0 a 8,0 a 5,0 a 10,0 9,0 9,5 8,0 a p < 0,001; duração do internamento, vs. em AAA íntegros (Mann-Whitney Test). Em todos os centros hospitalares continentais a relação AAA íntegros vs. em rotura foi de 3:1. Esta proporção manteve-se sensivelmente constante ao longo de toda a duração do estudo (tabela 4, fig. 3). No entanto, foi constatada uma variação regional na proporção de correção de AAA íntegros/em rotura, sendo a percentagem de reparação de aneurismas íntegros em Lisboa (75%) e no Norte (78%) significativamente mais elevada do que a observada no Centro (70%, p < 0,05). A tabela 5 evidencia as caraterísticas demográficas dos doentes incluídos. Foram tratados vezes mais homens que mulheres. A análise da mortalidade de acordo com o tipo de AAA demonstra que as reparações de AAA em rotura estão associadas a uma mortalidade muito mais alta do que nos íntegros (tabela 6). De facto, a taxa de sobrevivência do AAA em rotura que chega vivo ao hospital é inferior a 50%, independentemente da região nacional. Em relação ao tipo de cirurgia, os dados revelam que, quer no Norte quer em Lisboa, a está associado a menor taxa de mortalidade intra-hospitalar (p < 0,05) quando escolhido para a reparação eletiva de AAA íntegros (2,1 e 5,0% vs. 6,6 e 8,7%, respetivamente). Por outro lado, nos casos de AAA em rotura, não foram encontradas diferenças significativas nas % of non-ruptured aneurysms within total AAA Norte Centro Lisboa Mainland mean Figura 3 Percentagem anual de reparações de AAA, no total de reparações de AAA em Portugal continental.
8 58 R. Castro-Ferreira et al. Tabela 8 íntegros Informação publicada referente à mortalidade intra-hospitalar e aos 30 dias após reparação de AAA em rotura e Estudo Ano da publicação País de origem Doentes operados (n) Mortalidade Mortalidade (%) AAA íntegros Garcia-Madrid 2004 Espanha 83 Aos 30 dias 3,7 6,6 Greenhalgh 2008 Reino Unido Aos 30 dias 1,7 4,7 Mani 2011 Dinamarca Aos 30 dias 1,2 4,0 Mani 2011 Finlândia 293 Aos 30 dias 2,3 4,4 Mani 2011 Itália Aos 30 dias 0,9 2,2 Mani 2011 Suécia Aos 30 dias 1,9 3,2 Prinssen 2004 Holanda/Bélgica 345 Aos 30 dias 1,2 4,6 Schermerhorn 2008 Estados Unidos Aos 30 dias 1,2 4,8 Wahlgren and Malmstedt 2008 Suécia Aos 30 dias 1,8 2,8 Wang 2012 China Aos 30 dias 2,4 6,2 Wanhainen 2008 Suécia Aos 30 dias 2,5 4,1 Leon 2005 Estados Unidos Intra-hospitalar 2,3 6,0 Mani 2011 Austrália Intra-hospitalar 1,3 3,8 Mani 2011 Hungria 269 Intra-hospitalar 4,3 2,3 Mani 2011 Noruega Intra-hospitalar 0,3 2,7 Mani 2011 Suíça Intra-hospitalar 2,6 3,6 Mani 2011 Reino Unido Intra-hospitalar 1,8 5,3 McPhee 2007 Estados Unidos Intra-hospitalar 1,0 4,5 Neste estudo (total) 2013 Portugal Intra-hospitalar 3,9 8,1 Norte 676 2,1 6,6 Centro 301 3,2 8,1 Lisboa ,0 8,7 Alentejo 22-13,6 AAA em rotura Mani 2011 Dinamarca Aos 30 dias 33,3 35,4 Mani 2011 Itália 994 Aos 30 dias 19,6 28,9 Mani 2011 Suécia Aos 30 dias 18,7 30,1 Starnes 2010 Estados Unidos 179 Aos 30 dias 18,5 57,2 Visser 2009 Holanda 201 Aos 30 dias 25,9 39,9 Wanhainen 2008 Suécia Aos 30 dias 15,2 36,1 Acosta 2006 Suécia 162 Intra-hospitalar 33,9 45,2 Greco 2006 Estados Unidos Intra-hospitalar 39,3 47,7 Mani 2011 Austrália 334 Intra-hospitalar 22,6 33,0 Mani 2011 Hungria 42 Intra-hospitalar 50,0 37,5 Mani 2011 Noruega 552 Intra-hospitalar 12,5 29,0 Mani 2011 Suíça 369 Intra-hospitalar 21,1 44,6 Mani 2011 Reino Unido Intra-hospitalar 20,4 34,6 McPhee 2007 Estados Unidos Intra-hospitalar 29,0 38,2 Vogel 2009 Estados Unidos 700 Intra-hospitalar 45,1 52,4 Neste estudo (total) 2013 Portugal Intra-hospitalar 52,4 51,1 Norte ,7 50,9 Centro ,0 52,4 Lisboa ,0 51,0 Alentejo 5-40,0 Algarve 2-50,0
9 Dez anos de tratamento de aneurismas da aorta abdominal 59 taxas de mortalidade entre e no Norte, Centro e Lisboa (tabela 5). A análise dos dias de internamento por tipo de AAA e tipo de cirurgia revelou que a correção de AAA íntegros por se associou a menos 3 dias de internamento que a reparação por (p < 0,001) (tabela 7). Discussão Dada a inexistência de dados que caraterizem as variações regionais na decisão terapêutica e na mortalidade intra- -hospitalar do tratamento do AAA nos hospitais públicos portugueses, consideramos relevante a realização desta análise. Ao contrário do descrito na literatura internacional 16,em Portugal não foi observada uma diminuição da proporção de correção de AAA em rotura vs. íntegros ao longo dos 10 anos estudados. Este facto pode estar relacionado com a ausência de um programa de rastreio de AAA assintomáticos, revelando que a sua implementação poderá ser benéfica no impacto da mortalidade por AAA em Portugal. A mortalidade observada em Portugal para a correção de AAA quer em rotura quer íntegros, por ou por, mantém-se significativamente superior à descrita em estudos internacionais (tabela 8) A mortalidade do tratamento eletivo de AAA íntegros, de 6,6% na região norte, 8,1% na região centro e 8,7% em Lisboa é significativamente superior à descrita como estado da arte pela Sociedade Europeia de Cirurgia Vascular (ESVS) de < 5%. Da mesma forma, a mortalidade de 2,1% na região norte, 3,2% na região centro e 5,0% em Lisboa na reparação por é substancialmente superior à recomendada pela ESVS de < 2%. Estes dados demonstram que o potencial de melhoria no tratamento e cuidados dos doentes com AAA íntegros é enorme e deve ser priorizado. Também a duração do internamento para correção de AAA íntegros é significativamente maior em Portugal que a referenciada nas recomendações da ESVS (8 vs. 3 dias para e 11 vs. 7 dias para ). Parte desta diferença estará relacionada com o longo período de internamento pré-operatório que em Portugal é em média de 3 dias, quer para a quer para a (tabela 7). O período pós- -operatório em Portugal, de 5 dias para a e 8 dias para a, aproxima-se da duração recomendada de internamento pela ESVS e revela que a articulação entre o dia de internamento e o agendamento cirúrgico pode ser um fator a melhorar no futuro em Portugal. Ao contrário do observado em outros países (tabela 8), a não demonstrou, em hospitais nacionais, melhores resultados que a na reparação de AAA em rotura. Estes resultados merecem reflexão no sentido de aperfeiçoar a técnica, as indicações e as condições logísticas em que este procedimento é realizado no AAA em rotura, no sentido de aproximar Portugal dos números apresentados por outros países (tabela 8) 28,29. Um estudo que permita avaliar o seguimento dos doentes submetidos a correção de AAA em Portugal seria da maior importância. Possíveis erros associados à utilização de dados secundários, nomeadamente a recolha de informação e codificação (através de códigos ICD-9-CM) no sistema de registo e a possível falta de formação específica para o uso correto das aplicações informáticas, associada a procedimentos complexos para o registo dos dados, podem ter prejudicado a inclusão da totalidade das cirurgias de reparação de AAA na base de dados hospitalar 30. Responsabilidades éticas Proteção dos seres humanos e animais. Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com os da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinki. Confidencialidade dos dados. Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes. Direito à privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo. Autoria Os autores Ricardo Castro-Ferreira e Manuel Neiva-Sousa contribuíram de igual forma para a elaboração deste artigo. Conflito de interesses Os autores declaram não haver conflito de interesses. Agradecimentos Os autores gostavam de agradecer à ACSS por permitir o acesso aos dados analisados. Os autores também gostariam de agradecer a Ana Catarina Rodrigues, Carolina Rodrigues, Catarina Cruz, Diogo Costa, Isabel Vasquez, Joana Garcia, Joana Rei, João Paulo Carvalho, José João Monteiro, José Pedro Vale, Lúcia Vieira, Marisa Martins e Ricardo Coutinho, que colaboraram na versão prévia deste trabalho. Bibliografia 1. Berman L, Dardik A, Bradley EH, et al. Informed consent for abdominal aortic aneurysm repair: Assessing variations in surgeon opinion through a national survey. J Vasc Surg. 2008;47(2): Egorova N, Giacovelli J, Greco G, et al. National outcomes for the treatment of ruptured abdominal aortic aneurysm: Comparison of open versus endovascular repairs. 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