UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE DIREITO CAMPUS CAICÓ ROBSON ROJAS DOS SANTOS
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- Teresa Vilarinho Ferrão
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1 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE DIREITO CAMPUS CAICÓ ROBSON ROJAS DOS SANTOS UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO DE TRABALHO NO JOGO DO BICHO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA E DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA CAICÓ/RN 2016
2 2 ROBSON ROJAS DOS SANTOS UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO DE TRABALHO NO JOGO DO BICHO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA E DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Direito no Centro de Ensino Superior do Seridó CERES, Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. Orientador: Prof. Esp. Winston de Araújo Teixeira. CAICÓ/RN 2016
3 3 ROBSON ROJAS DOS SANTOS UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO DE TRABALHO NO JOGO DO BICHO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA E DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Direito no Centro de Ensino Superior do Seridó CERES, Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. Orientador: Prof. Esp. Winston de Araújo Teixeira. Aprovado em / / BANCA EXAMINADORA Prof. Esp. Winston de Araújo Teixeira UFRN (ORIENTADOR) Prof. - Membro- UFRN Prof. - Membro- UFRN CAICÓ 2016
4 UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO DE TRABALHO NO JOGO DO BICHO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA E DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 4 ROBSON ROJAS DOS SANTOS RESUMO O presente estudo tem por finalidade realizar uma análise jurídica do não reconhecimento do vínculo de emprego do jogo do bicho, bem como da ilicitude de tal prática a luz da DL Nº 6259/44, da OJ Nº199 SDI/TST, do Código Civil e do Direito do Trabalho. Além disso, o trabalho visa averiguar os impactos socioeconômicos que esta prática resulta na vida de seus colaboradores direto banqueiros, gerentes e cambistas. No que concerne à metodologia, o método de pesquisa utilizado foi o dedutivo, com procedimento de estudo bibliográfico e técnica de pesquisa tanto doutrinária quanto legislativa. O trabalho, portanto, consiste em uma análise sistemática das normas brasileiras voltados ao objeto de estudo, bem como, de jurisprudências que tratam do não reconhecimento do vínculo de emprego do jogo do bicho. Em relação aos resultados é possível assegurar que tanto o direito brasileiro quanto a sua jurisprudência não reconhecem a licitude do vínculo de emprego do jogo do bicho, haja vista que o objeto da relação é ilícito e subtrai o requisito de validade para a formação do contrato de trabalho. Consequentemente, é negado aos gerentes e cambistas todos os direitos e garantias assegurados pela Consolidação das Leis Trabalhistas CLT. Palavras-chaves: Direito do trabalho. Jogo do Bicho. Relação de Trabalho. OJ Nº199 SDI/TST. SUMÁRIO: INTRODUÇÃO. 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL DO JOGO DO BICHO. 2 O DIREITO TRABALHISTA E A RELAÇÃO DE EMPREGO QUE NORTEIA O JOGO DO BICHO. 3 O JOGO DO BICHO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA E DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA. 4 CONSIDERAÇÕESFINAIS. REFERÊNCIAS
5 5 INTRODUÇÃO O jogo do bicho é uma bolsa de apostas muito antiga, considerada pelo ordenamento brasileiro e por boa parte da doutrina como, por exemplo, Vólia Cassar, Alice Barros, Otávio Magano e José Catharino - uma prática ilícita. Essa modalidade de aposta surgiu em 1892, possui como tema central os animais, e seu idealizador foi o barão João Batista Viana Drummond, fundador e proprietário do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Apesar desse jogo estar prevista no art. 58 da Lei das Contravenções Penais como uma conduta ilegal, sujeito à multa e a pena restritiva de direito, sua prática vem crescendo exageradamente nos centros urbanos do país, como também em cidades médias e pequenas. Ao longo dos anos, o jogo do bicho vem se tornando uma prática rotineira na vida de vários brasileiros e, consequentemente, gerando muitos lucros para os banqueiros (donos das casas de jogo), que diante do exposto passaram a contar com um maior número de gerentes e cambistas. Esta relação de trabalho, no entanto, não é reconhecida pelo direito brasileiro como relação de emprego, uma vez que, o Superior Tribunal do Trabalho entende que os gerentes e cambistas, por exercer uma atividade considerada ilícita, não possuem o direito ao reconhecimento do vínculo empregatício. O presente estudo, portanto, visa realizar uma análise jurídica do não reconhecimento do vínculo de emprego do jogo do bicho, bem como da ilicitude de tal prática à luz do Decreto-Lei (DL) Nº 6.259/44, da Orientação Jurisprudencial (OJ) Nº 199 SDI/TST, do Código Civil e do Direito do Trabalho. O intuito é averiguar os impactos socioeconômicos que o jogo do bicho resulta na vida de seus promoventes banqueiros, gerentes e cambistas -, assim como, também, constatar o posicionamento da jurisprudência brasileira em relação ao vínculo trabalhista estabelecido entre estes. Neste diapasão, a análise parte do pressuposto de que a jurisdição brasileira, ao longo da história, busca cada vez mais assegurar os direitos trabalhistas daqueles que estão na informalidade, aplicando o instituto do Direito do Trabalho, no objetivo de garantir a todos que exercem uma atividade laboral o mínimo necessário para a sua subsistência como cidadão. Porém, o art. 104 do CC/02, utilizado subsidiariamente pelo Direito Material do Trabalho, ressalta que o
6 6 contrato de trabalho necessita de uma série de requisitos para ser considerado válido e lícito, os quais serão analisados adiante. É importante destacar que a doutrina vem promovendo grandes discussões referente ao possível reconhecimento do vínculo empregatício dos trabalhadores (gerentes e cambistas) do jogo do bicho com os respectivos proprietários (banqueiros), e que a pesquisa, por sua vez, visa analisar o que a jurisprudência e o próprio direito brasileiro ressaltam sobre o referido tema. Diante disso, o estudo se mostra relevante pelo fato de analisar e ressaltar os impactos sociais, econômicos e trabalhistas decorrentes de tal prática ilícita. No que concerne à metodologia, o método de pesquisa utilizado é o dedutivo. O procedimento do estudo é bibliográfico e a técnica de pesquisa é tanto doutrinária quanto legislativa. O trabalho, neste caso, consiste em uma análise sistemática das normas constitucionais voltados ao objeto de estudo, bem como, de jurisprudências que tratam do não reconhecimento do vínculo de emprego dos trabalhadores do jogo do bicho. O trabalho foi desenvolvido em três etapas: inicialmente buscou-se pesquisar e estudar o surgimento do jogo do bicho no Brasil, bem como analisar a evolução histórico-conceitual do mesmo; em um segundo momento buscou-se realizar um estudo bibliográfico, doutrinário e jurisprudencial do referido tema, com vista a realizar uma análise jurídica do não reconhecimento do vínculo de emprego do jogo do bicho, bem como constatar os impactos socioeconômicos que este resulta na vida dos que estão diretamente envolvidos com a sua prestação. A terceira e última etapa foi destinada a compilação de todo o conhecimento adquirido com a pesquisa, as análises e o estudo realizado nas etapas anteriores, de forma sistemática e coerente. Desta forma, foi possível elaborar o presente Trabalho de Conclusão de Curso, que tem como objetivo principal a análise jurídica do não reconhecimento do vínculo de emprego dos trabalhadores do jogo do bicho à luz do direito brasileiro e da OJ nº 199 SDI/TST. Em relação a sua estrutura, é importante ressaltar que este trabalho visa inicialmente abordar a evolução histórico-conceitual do jogo do bicho, bem como destacar e analisar a questão da legalização dessa prática no território brasileiro, com base principalmente na lei e na jurisprudência. Posteriormente, o estudo abre espaço para uma discussão acerca do posicionamento do Direito do Trabalho em relação ao vínculo de emprego que norteia o jogo do bicho, bem como
7 disponibilizada uma análise de tal prática a luz da jurisprudência e das leis brasileiras. 7 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL DO JOGO DO BICHO O jogo do bicho foi criado em 1892 com o objetivo unicamente de atrair maior quantidade de pessoas para o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, já que este estava quase fechando devido às dificuldades financeiras que vinha enfrentado. João Batista Vianna de Drummond, conhecido como Barão Drummond, após receber esta nomeação pelo imperador D. Pedro II, além de proprietário do zoológico foi o criador do jogo do bicho. É importante ressaltar que após a Proclamação da República em 1889, o zoológico deixou de receber ajuda financeira do governo, ajuda esta que contribuía com a manutenção do parque e a alimentação dos animais, e, consequentemente, passou a enfrentar vários problemas financeiros. O Barão, durante certo período de tempo, manteve o espaço com seus próprios recursos, bem como, também, tentou solucionar o problema cobrando ingressos dos visitantes, mas essa medida não foi bem aceita e as pessoas deixaram de frequentar o Jardim Zoológico 1. Diante das dificuldades financeiras para alimentar os animais e pagar os trabalhadores não restava outra alternativa senão pôr fim às atividades do Jardim Zoológico. Porém, o Barão Drummond teve a ideia de criar uma loteria, onde os bilhetes seriam vendidos no próprio zoológico e valeriam tanto como ingresso de entrada como de bilhete para participar de um sorteio. Dessa forma, com a finalidade de obter recursos para a manutenção do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, surge o jogo mais popular do Brasil 2. Cada ingresso, vendido para entrar no zoológico, era associado a um animal e dava ao seu comprador o direito à participação do sorteio, pois parte do valor arrecadado com as entradas era sorteado. O animal vencedor era escolhido previamente pelo Barão e representado por uma figura, que ficava escondida por um pano, que somente era revelada no final do dia - este fato era o que incentivava as 1 ANDRADE, Maria do Carmo. Jogo do Bicho. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: < >. Acessado em: 20 jul Ibidem.
8 pessoas há passarem o dia no Jardim Zoológico 3. Segue abaixo a imagem do ingresso em 1892: 8 Figura 1 Imagem do ingresso de entrada para o jardim zoológico Fonte: O Jogo do Bicho resultou em um sucesso tão grande que logo as pessoas passaram a frequentar o zoológico apenas pelo sorteio, chegando a comprar vários ingressos de uma vez para terem mais chances de receber o prêmio. Em pouco tempo o jogo ficou popular e se alastrou pelos bairros do Rio de Janeiro e, posteriormente, pelos demais cidades do país. A grande popularidade do jogo do bicho alertou a polícia da época e. em 1895, o prefeito Werneck de Almeida publicou o Decreto de nº 133, que proibia o sorteio dos bichos nas dependências do Jardim Zoológico, pois as autoridades passaram a considerar o jogo do bicho como um jogo de azar. Em 1899, foi promulgada a Lei nº 628 que instituiu a pena de um a três meses de prisão para os acusados da prática do jogo do bicho e, em 1941, o Decreto-Lei nº que veio proibir definitivamente a prática do o jogo de bicho, tipificado tal ato como contravenção penal 4. O jogo do bicho apesar de se configurar como uma conduta típica, prevista no art. 58 da Lei das Contravenções Penais, sua prática é uma realidade constantemente observada nas principais cidades do Brasil, contínua e impune, sendo tolerada pelas autoridades que deveriam reprimi-la, mas não reprimem, como 3 GUEDES, Fabiana. Vale o que está digitado. Revista ISTOÉ. Disponível em: < Acessado em: 19 jul ANDRADE, Maria do Carmo. Jogo do Bicho. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: < >. Acessado em 20 jul
9 9 foi o caso da Lei Estadual/PB nº 7.416/2003, declarada inconstitucional, - que legalizava a exploração de atividades lotéricas neste estado, bem como a prática do jogo do bicho que evidencia o incentivo e a tolerância do estado da Paraíba para com estas práticas que são incompatíveis com o ordenamento jurídico. É importante lembrar que o objetivo inicial do jogo do bicho era de atrair um maior número de visitantes para o Jardim Zoológico, e, assim, obter dinheiro necessário para a manutenção deste espaço. Sua função, portanto, era social e benevolente. Porém, atualmente sua finalidade passou a ser única e exclusivamente lucrativa, seja por parte do banqueiro, que sempre ganha com a arrecadação das apostas de terceiros, seja por parte dos apostadores que visam à bonificação pecuniária (prêmio) a ser conquistado. A história do jogo do bicho já possui 124 anos e é suficiente para provar que ele teve sucesso e hoje é uma das modalidades mais jogadas por todos os brasileiros. O seu sistema atual é divergente daquele idealizado pelo Barão Drummond, ele é composto por várias pessoas e obedece a uma hierarquia, onde primeiramente se tem a figura do banqueiro ( dono do negócio), que conta com a função de seus gerentes (auxiliares da administração do negócio) e por último os vendedores (conhecidos como cambistas) que realizam a anotação das apostas e repassam ao gerente 5. 2 LEGALIZAÇÃO DO JOGO DO BICHO Em 1941 o jogo do bicho foi definitivamente proibido no território brasileiro pelo Decreto-Lei Nº 3.688, o qual reza em seu art. 58 que a exploração ou realização de loteria denominada jogo do bicho, ou prática de qualquer ato relativo resultaria em multa e em pena privativa de liberdade. O art. 58 do Decreto Lei Nº de 1944, por sua vez, destaca o conceito legal do jogo do bicho como uma prática em que um dos participantes entrega certa quantia com a indicação de combinações de algarismos ou nome de animais a outro participante, este último, portanto, é responsável pelo pagamento dos prêmios em dinheiro ao apostador vencedor. 5 FRANZESE, Eraldo Aurélio Rodrigues. Jogo de bico e o contrato de trabalho. Direito do Trabalho, ATRIBUNA, Disponível em: < Acessado em: 20 jul
10 10 A Lei Nº 1.508/1951 traz em seu art. 1º que o procedimento sumário para investigação e punição das contravenções, definidas nos arts. 58 e 60 do Decreto-lei nº 6.259/1944, pode ser iniciado por auto de flagrante, denúncia do Ministério Público, ou portaria da autoridade policial ou do juiz. Nesse diapasão, é notória que o ordenamento brasileiro reconhece a ilegalidade da prática do jogo do bicho e expressa sua ilicitude nos termos do art. 58 do Decreto-Lei Nº 3688/41, denominado de Lei das Contravenções Penais e, portanto, não reconhece como relação de emprego nos artigos 2º e 3º da Consolidação das Leis Trabalhista. Apesar de sua prática ser bastante comum e exercida frequentemente na sociedade, sua conduta é ilegal e totalmente divergente com o direito positivado e a jurisprudência do país. Historicamente, o jogo do bicho vem sendo praticado, mesmo sob a égide da ilegalidade, e hoje possui uma grande aceitação por todo o território brasileiro. Diante do aumento das apostas o jogo passou a integrar um maior número de gerentes e cambistas, necessários à administrativa e a prestação do serviço, que consiste, basicamente, na coleta das apostas em uma caderneta. Atualmente, quanto ao posicionamento sobre o jogo do bicho, mesmo havendo divergência doutrinária, é certo que a corrente dominante, que tem como apoio a professora e escritora Vólia Cassar, está em conformidade com o direito positivado. Direito este que é contra o reconhecimento da licitude do jogo do bicho, bem como do vínculo de emprego que ele estabelece entre o banqueiro e seus trabalhadores (gerentes e cambistas), haja vista que o objeto da relação é ilícito e, portanto, não está em conformidade com os requisitos exigidos no art. 104 do CC/02 nem pela CLT (arts. 2º e 3º). Diante do exposto, é possível concluir que desde as primeiras décadas do século XX a prática do jogo de bicho foi perdendo credibilidade à luz dos provimentos legais do Estado brasileiro, passando a ser compreendido como jogo de azar e como uma contravenção penal, por meio do Decreto-Lei nº 3.688/1941. O surgimento deste decreto deu início à perseguição às bancas de jogo do bicho, afetando principalmente os cambistas, e posteriormente contribuiu para o surgimento de novos decretos e leis que rechaçam essa prática. É importante destacar que no início do mês de outubro do presente ano o Senado Federal publicou uma reportagem referente à provável aprovação do PLS 186/2014 pela referida casa, projeto este de autoria do senador Ciro Nogueira (PP- PI) que visa legalizar o funcionamento de cassinos, bingo, jogo do bicho e vídeo-
11 11 jogos no Brasil. Este projeto foi aprovado na Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional (CEDN) no mês de março em meio a muita discussão 6. Segundo o senador Ciro Nogueira, as apostas clandestinas no país movimentam mais de R$ 18 bilhões de reais por ano e o Brasil deixa de arrecadar, anualmente, em torno de R$ 15 bilhões de reais com a falta de regulamentação dos jogos de azar. Portanto, o mesmo acredita que a legalização desse projeto pode ser uma das soluções para a crise em que o país está vivenciando. Para o senador, o papel do Estado deve se restringir a criar regras para disciplinar e fiscalizar a exploração dos jogos de azar no país 7. Para o senador, o projeto poderá contribuir para a geração de milhares de empregos, para o desenvolvimento regional e gerar uma boa arrecadação para o governo. Porém, em nenhum momento a reportagem traz informações que ressaltem o interesse direto em proteger e garantir os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários dos milhares de trabalhadores, que diante da ilicitude do jogo, seu trabalho e seus direitos são negados, a exemplo, de férias, décimo terceiro salário, recolhimento do FGTS e das contribuições previdenciárias e, consequentemente, da aposentadoria. Estes, portanto, deveriam ser os principais motivos para a aprovação deste projeto e, sucessivamente, da legalização do jogo bicho. Apesar da provável aprovação deste projeto, a prática dos jogos de azar, entre eles a do jogo do bicho, continua sendo ilícita. Aqueles que os praticam, ainda, continuam agindo na ilegalidade, e os trabalhadores que contribuem com esta prestação de serviço continuam desprovidos de direitos e garantias trabalhistas, haja vista que, enquanto não for legalizada a prática do jogo do bicho, o objeto da relação de trabalho, que norteia o banqueiro e seus colaboradores, é ilícito, violando, portanto, os requisitos exigidos pelo Código Civil e pela Consolidação das Leis Trabalhistas conforme mencionado outrora. 6 TORRES, Tércio Ribas. Senado pode aprovar legalização de cassinos, bingo e jogo do bicho. Agência Senado, Senado Federal. Disponível em: < Acessado em: 23 out TORRES, Tércio Ribas. Senado pode aprovar legalização de cassinos, bingo e jogo do bicho. Agência Senado, Senado Federal. Disponível em: < Acessado em: 23 out
12 3 O DIREITO TRABALHISTA E A RELAÇÃO DE EMPREGO QUE NORTEIA O JOGO DO BICHO 12 Para o direito brasileiro o contrato de trabalho constitui espécie de negócio jurídico de natureza bilateral, pois visa regulamentar o interesse tanto do contratado quanto do contratante, com o objetivo claro de criar, modificar e extinguir relações de natureza patrimonial. Todo e qualquer contrato pode apresentar três tipos de elementos: Os elementos essenciais, que dão validade ao contrato de trabalho; os elementos naturais, que decorrem da natureza do contrato; e os elementos acidentais, cláusulas acessórias de natureza facultativa 8. De acordo com o art. 104 do Código Civil de 2002, para que o contrato de trabalho seja válido é necessário que este apresente, de forma simultânea, os seguintes requisitos: a) agente capaz; b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e c) forma prescrita ou não defesa em lei. Em conformidade a este dispositivo, o art. 166 do referido código reza que o negócio jurídico é nulo quando celebrado por pessoa absolutamente incapaz; for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; quando o motivo determinante for ilícito; quando não revestir a forma prescrita em lei; quando for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; quando tiver por objetivo fraudar lei imperativa; ou se a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Tanto o Direito do Trabalho, quanto a doutrina e a jurisprudência majoritária compreendem que o vínculo de trabalho do jogo do bicho não possui aptidão para produzir efeitos, em virtude da ilicitude do objeto, tendo em vista que a prática do jogo do bicho é considerada pelo ordenamento jurídico brasileiro uma contravenção penal, que por sua vez é reprimida na sua totalidade. Para Alice Monteiro de Barros, esses entendem que se o trabalho executado pelo trabalhador for lícito, o contrato será válido e todos os direitos trabalhistas garantidos, entretanto, se o trabalho for ilícito o contrato será nulo e o trabalhador não terá direito algum, nem mesmo ao salário. Esse entendido encontra-se fundamentado no art. 594 do CC/02, que, por sua vez, não permite o ajuste de retribuição de contrato cujo objeto é ilícito 9. 8 CESSAR. Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 8ª ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013, p BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 493.
13 13 Neste diapasão, é possível inferir que a contravenção penal do jogo do bicho não gera vínculo contratual de qualquer natureza, haja vista que o contrato de trabalho exige a presença dos três requisitos previstos no art. 104 do CC/02. Portanto, a relação de emprego estabelecida entre o banqueiro e seus colaboradores (gerentes e cambistas) é invalidada pelo direito brasileiro, pois seu objeto é ilícito e sua forma não é prescrita em lei. O contrato de trabalho, neste caso, é absolutamente nulo. Em consonância a este posicionamento, o Tribunal Regional do Trabalho da 23 Região, em relação ao RO , pedido de reconhecimento de contrato de trabalho referente ao jogo do bicho, decidiu, por unanimidade, que por força do DL 6.269/44 o objeto do contrato entre o reclamado (banqueiro) e o reclamante (cambista) constitui-se em atividade ilegal e, portanto, ilícito o objeto, nulo será o contrato. O relator do presente caso foi o Juiz José Simioni e o julgamento deu-se em 31/08/2005, publicado no DJ/MT de 06/10/2005. Segundo Cassar, não se pode confundir trabalho ilícito com trabalho proibido, pois o primeiro, diferentemente do segundo, não produz nenhum efeito, já que viola os valores da legalidade e vai de encontro ao direito e à ordem pública. O trabalho ilícito é aquele que contraria a lei positiva e que, portanto, o trabalhador não possui nenhum direito ou garantia trabalhista, já o trabalho proibido não é revestido de ilicitude, pois a lei apenas proíbe sua formação e desenvolvimento ou exige o cumprimento de determinados requisitos. O jogo do bicho pode ser utilizado como exemplo de trabalho ilícito e a imposição prevista no art. 37, XVI e XVII, CF/88, que proíbe a acumulação de empregos públicos em determinadas situações, como exemplo de trabalho proibido 10. (grifo nosso) Nesse sentido, compreende-se que pelo fato do jogo do bicho ser uma prática ilícita, o contrato de trabalho que dele advir será revestido de invalidade e, portanto, considerado nulo para qualquer efeito. Ao gerente ou cambista, de acordo com o art. 594 do CC/02, não será assegurado nenhum direito ou garantia trabalhista, nem mesmo o direito ao pagamento de seu salário e o de se aposentar por tempo de serviço, pois sua atividade é ilícita e vai de encontro à lei e à ordem pública. 10 CESSAR. Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 8ª ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013, p
14 14 4 O JOGO DO BICHO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA E DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Os Ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST) ao interpretarem os arts. 104 e 166 do CC/02 fixaram o entendimento, consubstanciado na Orientação Jurisprudencial nº 199 da SBDI-1, de que é impossível o reconhecimento de vínculo empregatício quando a relação de trabalho envolve a exploração da atividade ilícita do jogo do bicho. A presente Orientação Jurisprudencial SDI-1 n 199 do TST diz ser nulo o contrato de trabalho celebrado para o desempenho de atividade inerente à prática do jogo do bicho, devido à ilicitude de seu objeto que torna invalido o ato jurídico. O jogo do bicho tornou-se ilícito desde o momento em que passou a ser considerado um jogo de azar. A Lei de Contravenções Penais, o Decreto-Lei n 3.688/1941, em seu art. 58 garante que explorar ou realizar a loteria denominada jogo do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou exploração será submetido a pena de prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de dois a vinte contos de réis. Além do mais, a Lei n o /2002, que instituiu o Código Civil brasileiro, em seus art. 104 e 158 ressalta que todo e qualquer contrato de trabalho deve seguir determinados requisitos e que toda e qualquer espécie de serviço ou trabalho lícito pode ser contratado mediante retribuição. Com base nesses artigos e no entendimento da jurisprudência do TST, o jogo do bicho, por ser uma contravenção penal, é revestido de ilicitude e, portanto, qualquer relação de trabalho que advir deste é nulo e não produz nenhum efeito, haja vista que o objeto da relação é ilícito e não prescrito em lei. No que concerne ao Direito do Trabalho, a CLT em seu art. 2º determina que empregador é a empresa, individual ou coletiva, que admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço e no art. 3º denomina empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, mediante salário. Diante disso, quando analisa-se a relação de trabalho dos cambistas e gerentes do jogo do bicho averígua-se que apesar de termos a presença dessas duas figuras nas pessoas do banqueiro e gerente ou banqueiro e cambista, estes não se configuraram como tal devido à ilicitude do objeto que norteia a relação trabalhista, e
15 que, por sua vez, não garante ao empregado nenhum direito, nem mesmo a garantia do pagamento de seu salário CONSIDERAÇÕES FINAIS O jogo do bicho é um jogo de azar que vem sendo praticado há 124 anos no Brasil. Apesar de ser uma contraversão penal, nos termos do art. 58 do Decreto-Lei nº 3.688/1941, sua prática é uma realidade constantemente observada nas principais cidades do Brasil, contínua e impune, sendo tolerada pelas autoridades que deveriam reprimi-la, mas não reprimem. Ao realizar a análise jurídica do não reconhecimento do vínculo de emprego do jogo do bicho, o presente trabalho, também, destacou a ilicitude de tal prática à luz da DL Nº 6259/44, da OJ Nº199 SDI/TST, do Código Civil e do Direito do Trabalho. Portanto, é possível inferir que por ser uma prática ilícita, o jogo do bicho é desprovido de qualquer garantia legal. Em relação aos indivíduos que prestam serviços aos banqueiros, é verídico que, de acordo com o art. 594 do CC/02, não será assegurado nenhum direito ou garantia trabalhista, nem mesmo o direito ao pagamento de seu salário e o de se aposentar por tempo de serviço, pois sua atividade é ilícita e vai de encontro à lei e à ordem pública. Portanto, certos direitos, como a obrigação de assinar a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), o aviso prévio, o 13 salário, terço de férias, salário família, FGTS, seguro desemprego, não são assegurados ao trabalhador do jogo do bicho. A Orientação Jurisprudencial SDI-1 n 199 do TST, em conformidade com os arts. 104 e 166 do CC/02, diz ser nulo o contrato de trabalho celebrado para o desempenho de atividade inerente à prática do jogo do bicho, devido à ilicitude de seu objeto que torna invalido o ato jurídico. Além do mais, a doutrina e a jurisprudência majoritária compreendem que o vínculo de trabalho do jogo do bicho não possui aptidão para produzir efeitos. No que concerne à aprovação do PLS 186/2014, é importante destacar que além de gerar empregos e promover impacto econômico positivo para o Estado, seus efeitos podem desencadear vários benefícios para a sociedade, desde que seus elaboradores visem de forma plena e objetiva a proteção e a garantia dos
16 16 direitos sociais, trabalhistas e previdenciários dos milhares de trabalhadores vinculados diretamente com a prestação do jogo do bicho. Com base no estudo realizado, é possível afirmar que apesar de ser uma prática comum e frequentemente praticada em todo território brasileiro, o jogo do bicho é uma prática ilícita e totalmente divergente com o direito e a jurisprudência do país. Diante disso, todo e qualquer vínculo de emprego que dele advir será considerado nulo e não produzirá nenhum efeito legal. Nesse sentido, tanto o gerente quanto o cambista estarão desprovido de direitos trabalhistas e previdenciários. ABSTRACT This study aims to carry out a legal analysis of the non-recognition of the employment relationship of the numbers game, and the illegality of such practice the light of DL No. 6259/44, the OJ 199 SDI / TST, the Civil Code and Labour Law. In addition, the study aims to assess the socio-economic impacts that this practice results in the lives of their direct employees - bankers, managers and moneychangers. As regards the methodology, the research method used was deductive, with bibliographical study procedure and research technique so much doctrinal as legislative. The work therefore consists of a systematic analysis of brazilian standards aimed at the object of study, as well as the case law dealing with the non-recognition of the animal game the employment relationship. Regarding the results it is possible to ensure that both the Brazilian law as its law does not recognize the legality of the animal game the employment bond, given the fact that the object of the relationship is illicit and subtracts the validity requirement for contract formation job. Consequently, it is denied to managers and moneychangers all rights and guarantees provided by the Consolidation of Labor Laws CLT Keywords: Labor law. Critter Game. Work Relation. OJ Nº199 SDI/TST. REFERÊNCIAS ANDRADE, M. do C. Jogo do Bicho. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <
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