Noções de Direito Administrativo (Conhecimentos Gerais) para Perito Criminal da Polícia Civil do DF (Teoria e Exercícios)

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1 Aula 0 Noções de Direito Administrativo (Conhecimentos Gerais) para Perito Princípios Professor: BOTELHO 1

2 Tópicos da Aula Apresentação Princípios Princípios Classificação dos princípios Princípios que representam uma bipolaridade no Direito Administrativo Princípios fundamentais do Direito Administrativo Princípios constitucionais expressos da Administração Pública Princípios legais expressos da Administração Pública Princípio da Supremacia do Interesse Público Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público Princípio da Legalidade Princípio da Impessoalidade Princípio da Moralidade Administrativa Princípio da Publicidade Princípio da Eficiência Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório Princípio da Presunção de Legitimidade ou Veracidade Princípio da Especialidade Princípio do Controle ou da Tutela Princípio da Autotutela Princípio da Hierarquia Princípio da Continuidade do Serviço Público Princípio da Proporcionalidade e da Razoabilidade

3 1.22. Princípio da Motivação Princípio da Segurança Jurídica Princípio da Proteção à Confiança Legítima Princípio da Boa-Fé Questões do IADES Quadro de Respostas Respostas comentadas Bibliografia

4 Apresentação Muito prazer, meu nome é João Paulo Batista Botelho e este é meu currículo resumido: Consultor Legislativo do Senado Federal, aprovado em 1 lugar, com a maior nota de todas as áreas, no concurso do Senado Federal em 2012; Ex-Perito Criminal Federal, aprovado em 1 lugar, com a maior nota do concurso da Polícia Federal em 2004; Professor de pós-graduação da Universidade Católica de Brasília (UCB) e de cursos preparatórios do Instituto de Gestão, Economia e Políticas Públicas (IGEPP); 10 aprovações em 1º lugar em concursos públicos; Coautor do livro Regimento Interno da Câmara dos Deputados em Exercícios Comentados, da Editora Impetus; Bacharel em Direito, Pós-Graduando em Direito Administrativo. Estou aqui para ajudar você a estudar Direito Administrativo para o concurso de Perito Criminal da PCDF. O cronograma do curso é o seguinte: Aula Conteúdo Programático Data 0 1 Princípios Estado, governo e administração pública: conceitos, elementos, poderes e organização; natureza, fins e princípios. 3 Organização administrativa do Estado. 4 Administração direta e indireta. 5 Agentes públicos: espécies e classificação, poderes, deveres e prerrogativas, cargo, emprego e função públicos. 1º/4 8/4 15/4 4 6 Poderes administrativos. 22/ Atos administrativos: conceitos, requisitos, atributos, classificação, espécies e invalidação. 8 Controle e responsabilização da administração: controle administrativo, controle judicial, controle legislativo, responsabilidade civil do Estado 29/4 Como a matéria é extensa e o tempo é curto, a teoria será apresentada de forma mastigada, mas completa, para agilizar a leitura. 6/5 4

5 Sempre que possível, serão apresentados esquemas, macetes e mnemômicos, para facilitar a compreensão e memorização. Serão apresentadas e comentadas as questões que caíram nos últimos concursos organizados pelo IADES. Primeiro você lerá a teoria e depois fará os exercícios para treinar. Esta aula demonstrativa dará a você uma noção de como será o curso. Hoje serão apenas 5 exercícios, como aperitivo. Vamos começar? 5

6 1. Princípios 1.1. Princípios O que são Princípios? Princípios são: Proposições básicas Alicerces Fundamentos Ideias centrais Pontos de partida No Direito, os princípios têm 3 funções: Informativa = informar, influenciar, inspirar a construção da norma Interpretativa = auxiliar a interpretação da norma Integrativa = completar o sentido da norma Princípios, ao lado das regras (direito positivo), são normas jurídicas. Nenhum princípio é absoluto. Não há hierarquia entre princípios. Sejam constitucionais, sejam legais, sejam expressos, sejam implícitos, têm a mesma importância. No caso de conflito entre princípios, adota-se, no caso concreto, a técnica de ponderação de valores (Robert Alexy e Ronald Dworkin), para que um dos princípios prepondere e o outro seja afastado. Um princípio não revoga outro. A aplicação de um princípio deve ser analisada no caso concreto, levando-se em conta as regras e os demais princípios. Em caso de violação de princípio, cabe tutela judicial, independentemente de violação da legislação, para que o ato seja readequado ou anulado. 6

7 1.2. Classificação dos princípios Veja como José Cretella Júnior classifica os princípios de uma ciência conforme sua amplitude, sua abrangência: Classificação dos princípios (José Cretella Júnior) Onivalente = vale para tudo Onivalentes ou Universais Comuns a todos os ramos do saber, a todas as ciências Plurivalente = vale para muitos Comuns a várias ciências Plurivalentes ou Regionais Ex.: Alterum non leadere/neminem laedere/não lesar o outro/não lesar ninguém (vale para as ciências naturais e jurídicas) Monovalente = só vale para um Aplicados a um só campo do Monovalentes conhecimento, a uma só ciência Ex.: Princípios gerais do Direito (só valem para uma ciência: o Direito) Aplicados a um só setor de uma ciência Setoriais Ex.: Princípios de Direito Penal, como o da retroatividade da lei mais benéfica (só valem para o Direito Penal) 7

8 1.3. Princípios que representam uma bipolaridade no Direito Administrativo No Direito Administrativo, há vários princípios, alguns deles setoriais, próprios, específicos. Se você lembrar que a Administração Pública tem, de um lado, poderes, direitos, privilégios, prerrogativas e, por outro lado, restrições, obrigações, limitações, sujeições, você vai concordar que dois princípios do Direito Administrativo merecem destaque. Cada um desses princípios limita o outro. Se você exagerar no primeiro, você prejudica o segundo, e vice-versa. Ou seja, é uma solução de compromisso, um cobertor curto, um tradeoff. Mas que princípios são esses? 1. Supremacia do interesse público sobre o particular 2. Legalidade O princípio da supremacia do interesse público sobre o particular estabelece que o interesse da coletividade deve prevalecer sobre o interesse individual, afinal supremacia quer dizer predomínio. Em obediência a ele, a Administração Pública atua defendendo a maioria contra os abusos individuais. Logo, ele está ligado às prerrogativas da Administração Pública, porque lhe dá poderes para interferir na vida das pessoas. Já o princípio da legalidade dispõe que a Administração Pública se subordina à lei (em sentido amplo: CF, leis, decretos, portarias etc.). É por causa dele que a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite, ao contrário dos indivíduos, que podem fazer tudo o que a lei não proíbe. Portanto, ele está relacionado às sujeições da Administração Pública, porque limitam sua atuação. Na verdade, esses dois princípios informam (apoiam, dão força, instruem) não só o Direito Administrativo, mas todo o Direito Público Princípios que representam uma bipolaridade no Direito Administrativo Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Particular Prerrogativas Princípio da Legalidade Sujeições 8

9 1.4. Princípios fundamentais do Direito Administrativo Mas você também pode lembrar que o interesse público é um conceito central no Direito Administrativo. Levando isso em conta, existem dois princípios fundamentais do Direito Administrativo: 1. Supremacia do interesse público sobre o particular (olha ele aí de novo) 2. Indisponibilidade do interesse público O primeiro, acabamos de ver. Mas o segundo é novidade. O que é indisponibilidade? É a qualidade de indisponível, de algo de que não podemos dispor (no sentido de abrir mão ). Assim, pelo princípio da indisponibilidade do interesse público, a Administração Pública não pode abrir mão do interesse público, não pode abandoná-lo, não pode nunca deixar de defendê-lo. Isso quer dizer que a Administração Pública tem a obrigação de zelar pelo interesse público. O princípio, portanto, estabelece sujeições para a Administração Pública. Princípios fundamentais do Direito Administrativo Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Particular Prerrogativas Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público Sujeições 9

10 1.5. Princípios constitucionais expressos da Administração Pública Veja a primeira parte do caput ( cabeça ) do art. 37 da CF: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...) Esse dispositivo traz os 5 princípios constitucionais expressos (explícitos, positivados) da Administração Pública (e o mnemônico mais famoso do Direito): Princípios da Administração Pública expressos na CF (art. 37, caput, da CF) LIMPE Legalidade Impessoalidade Moralidade Publicidade Eficiência 10

11 1.6. Princípios legais expressos da Administração Pública Veja agora o art. 2º da Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal: Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Esse dispositivo também apresenta princípios da Administração Pública. Estão nele a legalidade, a moralidade e a eficiência. Já a impessoalidade e a publicidade não estão. Ainda bem que ele falou dentre outros (se bem que o certo é entre outros...), para não excluir os demais que não foram citados. Nele também aparecem outros 8 novos princípios: finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e interesse público. Para decorá-los, sugiro um mnemônico rubro-negro. São 11 no total, um time de futebol: Princípios da Administração Pública expressos na Lei 9.784/99 (art. 2º da Lei 9.784/99) CRISE no FLA MOTIVA e PROPORCIONA MORALIDADE Contraditório Razoabilidade Interesse público Segurança jurídica Eficiência Finalidade Legalidade Ampla defesa MOTIVAção PROPORCIONAlidade MORALIDADE Além dos princípios expressos na CF ou na Lei 9.784/99, há princípios implícitos. Vamos, a partir de agora, analisar os princípios em espécie, isto é, um a um. 11

12 1.7. Princípio da Supremacia do Interesse Público Também chamado de princípio da finalidade pública Expresso na Lei 9.784/99 ( finalidade ) Atendimento a fins de interesse geral (art. 2º, parágrafo único, II, da Lei 9.784/99) Inspira o legislador na elaboração da lei Vincula a Administração na execução da lei Direito Público (interesse público) x Direito Privado (interesse individual) Interesse público prevalece sobre interesse individual Defende justiça social, bem comum, bem-estar coletivo Mas interesse público não prevalece sobre direito fundamental individual (ex.: coletividade não pode matar um indivíduo) Fundamento para desapropriar, requisitar, intervir, policiar, punir... Se Administrador prejudica inimigo, beneficia amigo ou obtém vantagens, seu interesse individual é que prevalece, acarretando vício de desvio de poder ou desvio de finalidade Ligado ao princípio da indisponibilidade do interesse público 1.8. Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público Expresso na Lei 9.784/99 ( interesse público ) Administrador não pode dispor (abrir mão) do interesse da coletividade Interesse público é irrenunciável Poder do Administrador é poder-dever (tem que exercer o poder) Vedação da renúncia total ou parcial de poderes ou competências (art. 2º, parágrafo único, II, da Lei 9.784/99) Administrador não pode deixar de fiscalizar e punir (tem que exercer poder de polícia) Administrador não pode renunciar à sua competência Administrador não pode se apropriar de dinheiro público 12

13 1.9. Princípio da Legalidade Nasceu com o Estado de Direito (que se submete à Lei) Garante respeito aos direitos individuais Limita atuação administrativa Evita restrições excessivas aos direitos de certas pessoas que poderiam ser adotadas em benefício da coletividade Vontade da Administração Pública decorre da lei Legalidade x Autonomia da Vontade Administração Pública só pode fazer o que a lei permite Particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe Expresso na CF e na Lei 9.784/99 Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (art. 5º, II, da CF) Administração Pública só pode conceder direitos, criar obrigações ou impor vedações por lei, não pode ser por ato administrativo Judiciário (via mandado de segurança etc.), Legislativo (via controle externo) e Executivo (via controle interno) combatem abusos da Administração Legalidade Comum = Lei Legalidade Administrativa (MIL) = Moralidade + Interesse público + Lei Princípio da Impessoalidade Em relação aos Administrados Finalidade pública Administração não pode beneficiar ou prejudicar pessoas determinadas Não pode haver favoritismos nem perseguições Ex.: dotações orçamentárias e créditos adicionais relativos a precatórios não podem conter nomes de pessoas ou casos (art. 100 da CF) Em relação à Administração Atos administrativos não são do servidor, são da Administração Ex.: publicidade do Governo não pode conter nome do Administrador (art. 37, 1º, da CF) Ex.: reconhecimento de atos de servidor de fato (investido irregulamente) Explícito na CF Implícito na Lei 9.784/99 Vedação da promoção pessoal de agentes ou autoridades (art. 2º, parágrafo único, III, da Lei 9.784/99) Fundamento para impedimento e suspeição de autoridades administrativas, garantindo decisões impessoais e imparciais 13

14 1.11. Princípio da Moralidade Administrativa Sua existência é questionada por alguns autores Nem tudo o que é legal é honesto (Non omne quod licet honestum est) Direito = licitude Moral = honestidade Direito pode ultrapassar âmbito da Moral e vice-versa Moralidade Administrativa é o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração (Maurice Hauriou) Honesto x Desonesto Liga-se à ideia de desvio de poder Ilegalidade quanto aos fins Art. 2º, parágrafo único, e, da Lei 4.717/65 (Ação Popular) Aumenta campo de ação da legalidade Diminui campo de ação da moralidade Liga-se à ideia de probidade administrativa Lei 8.429/92 (Improbidade Administrativa) Lei 1.079/50 (Crimes de Responsabilidade) Explícito na CF Ação popular contra ato lesivo à moralidade administrativa (art. 5º, LXXIII) Lei complementar com hipóteses de inelegibilidade deve proteger a probidade administrativa e a moralidade para o exercício de mandato (art. 14, 9º) Princípio da Administração Pública (art. 37, caput) Presente também na Lei 9.784/99 Explicitamente: Princípio da Administração Pública (art. 2º, caput) Implicitamente: Atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé (art. 2º, parágrafo único, IV) Ofensas à moral comum são ofensas à moralidade administrativa Moralidade deve ser observada pelo Administrador e pelo Administrado Ex.: proibição de conluio entre licitantes 14

15 1.12. Princípio da Publicidade Atos da Administração Pública devem ser divulgados, salvo sigilo legal Explícito na CF (não apenas no art. 37, caput): É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional (art. 5º, XIV) Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII) A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX) Conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (art. 5º, LXXII) Implícito na Lei 9.784/99 Divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na CF (art. 2º, parágrafo único, V) Princípio da Eficiência Serviço público deve ser prestado com rapidez e qualidade Servidor público deve ter bom rendimento Mais moderno dos princípios Não basta atender legalidade, tem que ser eficiente Mas não pode ser eficiente burlando a lei Dois aspectos Atuação do agente público deve ser eficiente Organização da Administração Pública deve ser eficiente Explícito na CF Acrescentado pela EC 19/98 Princípio da Administração Pública (art. 37, caput) Explícito na Lei 9.784/99 Princípio da Administração Pública (art. 2º, caput) Presente no Decreto-Lei 200/67 O Executivo se submete a controle de resultado (arts. 13 e 25, V) A Administração tem um sistema de mérito (art. 25, VII) A Administração Indireta se submete a supervisão ministerial quanto à eficiência administrativa (art. 26, III) Servidor ineficiente ou desidioso (preguiçoso) deve ser demitido ou dispensado (art. 100) 15

16 1.14. Princípios da Ampla Defesa e do Contraditório Expressos no caput do art. 2º da Lei 9.784/99 Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º, LV, da CF) Entre outras hipóteses, o servidor público só perderá o cargo mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa (art. 41, 1º, II, da CF) No processo administrativo federal, há garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio (art. 2º, parágrafo único, X, da Lei 9.784/99) Contraditório se refere à bilateralidade no processo, isto é, se uma parte alega algo, a outra deve ser ouvida a respeito Ampla defesa se refere ao uso de todos meios admitidos em direito para se defender Princípio da Presunção de Legitimidade ou Veracidade Também chamado de presunção de legalidade Presunção de legitimidade = em princípio, salvo prova em contrário, atos da Administração são praticados de acordo com a lei Presunção de veracidade = em princípio, salvo prova em contrário, fatos alegados pela Administração são verdadeiros Presunção relativa, juris tantum, admite prova em contrário Consequências Decisões administrativas têm execução imediata e podem criar obrigações para o particular, independentemente de sua concordância Inverte ônus da prova (Particular é que tem que provar que Administração mentiu) Princípio da Especialidade Descentralização administrativa Estado cria pessoas jurídicas especializadas (autarquias) Essas pessoas jurídicas não podem se desviar de seus objetivos legais É consequência dos princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse público 16

17 1.17. Princípio do Controle ou da Tutela Administração Pública direta fiscaliza atividades das pessoas jurídicas da Administração indireta que criou, para verificar se estão cumprindo finalidades Administração fiscaliza outra pessoa jurídica Independência x Controle Independência Regra Autonomia administrativa e financeira Finalidades próprias Patrimônio próprio Controle Exceção Verificação da conformidade com a lei Não se presume, deve decorrer da lei Princípio da Autotutela Administração exerce controle sobre próprios atos Administração pode anular seus atos ilegais e revogar seus atos inconvenientes ou inoportunos, independentemente do Judiciário Administração fiscaliza a si própria Decorre do princípio da legalidade Súmula 346 do STF = A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos Súmula 473 do STF = A administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial Administração pode zelar pelos seus bens, usando medidas de polícia administrativa para impedir atos que ponham esses bens em risco 17

18 1.19. Princípio da Hierarquia Administração Pública é estruturada Há relações de coordenação (horizontal) e subordinação (vertical) entre os órgãos Hierarquia = subordinação Só existe, em regra, em funções administrativas Não existe, em regra, em funções legislativas ou judiciais Exceção: se decisão judicial contrariar súmula vinculante ou decisão de ADIN ou ADC, STF pode determinar que nova decisão seja proferida Fundamento para revisão de atos de subordinados, delegação e avocação de competências, punição de subordinados Princípio da Continuidade do Serviço Público Serviço público não pode parar Consequências a) Restrições a greves nos serviços públicos Direito de greve será exercido nos termos e limites de lei específica (art. 37, VII, da CF) Na ausência de lei, STF mandou aplicar Lei 7.783/89 (greve da iniciativa privada) b) Necessidade de preencher funções vagas temporariamente Delegação, Interinidade, Substituição, Suplência c) Impossibilidade da exceção do contrato não cumprido Empresa não pode parar a prestação de serviço público alegando que a Administração não cumpriu a parte dela (não pagou) d) Utilização de equipamentos e instalações da empresa Administração pode usar esses bens para continuar o serviço, caso a empresa tenha interrompido o serviço por algum motivo e) Encampação Administração pode retomar o serviço 18

19 1.21. Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade Impõem limites à discricionariedade do Administrador Ampliam a apreciação do ato administrativo pelo Judiciário Ato administrativo deve empregar meios adequados para os fins que a lei deseja alcançar, em especial, o interesse público Conveniência e oportunidade devem observar a finalidade Razoabilidade contém a Proporcionalidade Razoabilidade está ligada ao bom-senso Razoabilidade e Proporcionalidade são medidas pelos padrões (standards) da sociedade, e não pelos padrões individuais do Administrador Implícitos na CF Razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (art. 5º, LXXVIII) Presentes na Lei 9.784/99 Explicitamente São princípios da Administração Pública (art. 2º, caput) Implicitamente Adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público (art. 2º, parágrafo único, VI) Observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados (art. 2º, parágrafo único, VIII) Adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados (art. 2º, parágrafo único, IX) Atos de instrução que exijam a atuação dos interessados devem realizar-se do modo menos oneroso para estes (art. 29, 2º) 19

20 1.22. Princípio da Motivação Administração Pública deve indicar fundamentos de fato e de direito de suas decisões Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, motivação deve estar presente em todos os atos administrativos, sejam vinculados ou discricionários Permite controle de legalidade pelo Judiciário Expresso na CF Decisões judiciais devem ser fundamentadas (art. 93, IX) Manifestações do MP também (art. 129, 4º) Mas não está explícito no art. 37, caput, da CF... Presente na Lei 9.784/99 Explicitamente Princípio da Administração Pública (art. 2º, caput) Implicitamente Indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão (art. 2º, parágrafo único, inciso VII) Certos atos administrativos devem ser motivados (art. 50) Em regra, motivação não tem forma específica Motivação pode ou não ser concomitante (Maria Sylvia Zanella di Pietro) Motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato. Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato (Alexandre Mazza) Motivação pode ser feita até por outro órgão Pareceres, informações, laudos e relatórios usados como fundamento de um ato administrativo são sua motivação (motivação aliunde ou per relationem) e, portanto, parte integrante dele. 20

21 Atos administrativos que devem ser motivados (Art. 50 da Lei 9.784/99) Atos que negam, limitam ou afetam direitos ou interesses (reduzem direitos) Atos que impõem ou agravam deveres, encargos ou sanções (aumentam deveres) Atos que decidem processos administrativos de concurso ou seleção pública Atos que dispensam ou declaram a inexigibilidade de processo licitatório Atos que decidem recursos administrativos Atos que decorrem de reexame de ofício Atos que deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão (contrariam jurisprudência) Atos que discrepam de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais (contrariam opiniões) Atos que importam anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo (afetam eficácia de outro administrativo) 21

22 1.23. Princípio da Segurança Jurídica Veda a aplicação retroativa de nova interpretação de lei no âmbito da Administração Pública Mas isso não impede que certos atos sejam revogados ou anulados A ideia é o respeito à boa-fé Se Administração deu a interpretação X a uma situação, não pode, posteriormente, anular atos sob o pretexto de que a interpretação Y é que era a correta A interpretação pode mudar, só não pode retroagir Também informa institutos como prescrição, decadência, prazo da Administração para rever próprios atos, súmula vinculante etc. Explícito na Lei 9.784/99 Princípio da Administração Pública (art. 2º, caput) Interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação (art. 2º, parágrafo único, XIII) A súmula vinculante terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica (art. 103-A, 1º, da CF) Princípio da Proteção à Confiança Legítima Seria o aspecto subjetivo da segurança jurídica (previsibilidade dos efeitos de um ato) Atos ilegais ou inconstitucionais podem ser mantidos, em detrimento da legalidade, em razão da proteção da confiança dos Administrados de boafé Protege a boa-fé do Administrado Não é expresso No máximo, seria implícito 22

23 1.25. Princípio da Boa-Fé Dois aspectos Objetivo = respeito à conduta leal, honesta Subjetivo = indivíduo crê que age corretamente Se pessoa sabe que age ilegalmente, está de má-fé Servidor não é obrigado a devolver parcelas remuneratórias indevidas que recebeu de boa-fé (STF, ARE ) Tanto o Administrador quanto o Administrado devem agir de boa-fé Implícito na CF, quando fala de moralidade e probidade Presente na Lei 9.784/99 Atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé (art. 22, parágrafo único, IV) Administrado tem dever de proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé perante Administração (art. 42, II) Aplicações dos Princípios da Segurança Jurídica, Proteção à Confiança Legítima e Boa-Fé Manutenção de atos inválidos (prejuízo da anulação é maior) Manutenção de atos praticados por funcionário de fato (aparência de legalidade) Prazo decadencial para anulação de atos (5 anos, salvo má-fé) Regulação de efeitos de ato ilegal (anula ato ilegal, mas mantém efeitos decorrentes) (STF, por 2/3 de votos, pode modular efeitos em ADIN ou ADPF) Regulação de efeitos de súmula vinculante (STF, por 2/3 de votos, pode modular efeitos de súmula vinculante) Funcionário de fato ou servidor de fato Investido irregularmente Não preenche requisitos para o cargo Exs.: Não tem diploma; ultrapassou idade limite; acumula cargos irregularmente

24 Questões do IADES 1. (IADES CAU/RJ ) Com relação aos princípios inerentes ao direito administrativo, assinale a alternativa correta. A) Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, o princípio da eficiência encontra lugar, no texto constitucional, como um dos pilares para o bom funcionamento da máquina pública. B) Sendo a Administração Pública, públicos deverão ser seus atos, sem exceção. C) Ao administrador é vedado agir de modo a beneficiar ou prejudicar alguém, sob pena de afronta ao princípio da impessoalidade. D) Para a atuação do administrador público, precede a existência de lei autorizativa. E) O princípio da moralidade, em que pese revelar-se importante no mundo dos fatos, não apresenta respaldo constitucional quando se trata de princípios administrativos. 2. (IADES EBSERH Advogado 2013) Dentre outros, são princípios constitucionais da Administração Pública, a A) legalidade, a independência e a impessoalidade. B) eficiência, a legalidade e a moralidade. C) moralidade, a soberania e a eficiência. D) publicidade, o pluralismo político e a legalidade. E) impessoalidade, a não intervenção e a publicidade 3. (IADES PGDF - Analista Jurídico 2011) O conceito de Legalidade Comum está consubstanciado na lei. No Direito Administrativo, o conceito de legalidade ultrapassa os limites da lei, exigindo outros conceitos para caracterizá-lo. Assinale a alternativa que contém os conceitos que mais caracterizam a legalidade administrativa. A) Lei, impessoalidade e finalidade. B) Lei, autotutela e motivação. C) Lei, interesse público e moralidade. D) Lei, motivação e razoabilidade. E) Lei, igualdade e hierarquia. 4. (IADES CFA - Assistente Administrativo 2010) Assinale a alternativa correta sobre o princípio da eficiência na Administração Pública. A) O agente público deve atuar sempre com o objetivo de obter resultados medianos. 24

25 B) Exige-se que a Administração Pública seja o mais enxuta possível, com o objetivo de alcançar resultados mínimos e sem gastos financiáveis. C) O princípio da eficiência visa a assegurar que os serviços públicos sejam prestados com adequação às necessidades da sociedade que os custeia. D) A deterioração da relação custo/benefício no trabalho da Administração Pública é uma das tarefas do administrador público. 5. (IADES CFAP - Analista Jurídico 2010) Assinale a alternativa correta quanto aos princípios básicos e norteadores do Direito Administrativo. A) Cada princípio tem sua importância, e deste modo existe uma hierarquia entre os mesmos onde prevalece um sobre o outro. B) Não é permitido ao poder judiciário revogar atos administrativos. C) Segundo o princípio da publicidade não pode haver sigilo de informações administrativas quando tal for imprescindível à segurança do Estado e da sociedade. D) É obrigação do Administrador atuar com presteza, perfeição e rendimento funcional. 25

26 Quadro de respostas 1 C 2 B 3 C 4 C 5 D 26

27 Respostas comentadas 1. (IADES CAU/RJ ) Com relação aos princípios inerentes ao direito administrativo, assinale a alternativa correta. A) Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, o princípio da eficiência encontra lugar, no texto constitucional, como um dos pilares para o bom funcionamento da máquina pública. B) Sendo a Administração Pública, públicos deverão ser seus atos, sem exceção. C) Ao administrador é vedado agir de modo a beneficiar ou prejudicar alguém, sob pena de afronta ao princípio da impessoalidade. D) Para a atuação do administrador público, precede a existência de lei autorizativa. E) O princípio da moralidade, em que pese revelar-se importante no mundo dos fatos, não apresenta respaldo constitucional quando se trata de princípios administrativos. Resposta: C. A letra A está ERRADA. O princípio da eficiência foi acrescentado à CF pela Emenda nº 19/98. A letra B está ERRADA. Em regra, os atos administrativos devem ser públicos. Mas há exceções, como o sigilo para a segurança do Estado e da sociedade. A letra C foi considerada CERTA pelo IADES. Mas pode ser considerada errada: o administrador pode, sim, beneficiar (ex.: conceder licença) ou prejudicar (ex.: punir) alguém, desde que haja previsão legal. O que o administrador não pode é, discricionária e indevidamente, favorecer nem perseguir ninguém. A letra D foi considerada ERRADA pelo IADES. Mas pode ser considerada certa: se o particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe, o administrador, ao contrário, só pode fazer o que a lei permite. O que pode ter acontecido é que o IADES talvez tenha querido dizer prescinde (abre mão, dispensa) e não precede (antecede). Outra hipótese é que o IADES teria considerado que a lei pode (i) determinar ou (ii) autorizar que o administrador faça algo. De qualquer modo, o gabarito foi mantido e não houve anulação. A letra E está ERRADA. O princípio da moralidade está previsto explicitamente no caput do art. 37 da CF. É o M do LIMPE. 2. (IADES EBSERH Advogado 2013) Dentre outros, são princípios constitucionais da Administração Pública, a A) legalidade, a independência e a impessoalidade. 27

28 B) eficiência, a legalidade e a moralidade. C) moralidade, a soberania e a eficiência. D) publicidade, o pluralismo político e a legalidade. E) impessoalidade, a não intervenção e a publicidade Resposta: B. LIMPE = Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência 3. (IADES PGDF - Analista Jurídico 2011) O conceito de Legalidade Comum está consubstanciado na lei. No Direito Administrativo, o conceito de legalidade ultrapassa os limites da lei, exigindo outros conceitos para caracterizá-lo. Assinale a alternativa que contém os conceitos que mais caracterizam a legalidade administrativa. A) Lei, impessoalidade e finalidade. B) Lei, autotutela e motivação. C) Lei, interesse público e moralidade. D) Lei, motivação e razoabilidade. E) Lei, igualdade e hierarquia. Resposta: C. Legalidade Administrativa (MIL) = Moralidade + Interesse público + Lei 4. (IADES CFA - Assistente Administrativo 2010) Assinale a alternativa correta sobre o princípio da eficiência na Administração Pública. A) O agente público deve atuar sempre com o objetivo de obter resultados medianos. B) Exige-se que a Administração Pública seja o mais enxuta possível, com o objetivo de alcançar resultados mínimos e sem gastos financiáveis. C) O princípio da eficiência visa a assegurar que os serviços públicos sejam prestados com adequação às necessidades da sociedade que os custeia. D) A deterioração da relação custo/benefício no trabalho da Administração Pública é uma das tarefas do administrador público. Resposta: C. A letra A está ERRADA. Medianos não! Ótimos! O administrador deve buscar os melhores resultados possíveis. 28

29 A letra B está ERRADA. Mínimos não! Ótimos! O administrador deve buscar os melhores resultados possíveis. Não me perguntem o que o IADES quis dizer com gastos financiáveis. A letra C está CERTA. A sociedade, que banca os serviços públicos, espera que eles atendam a suas necessidades. A letra D está ERRADA. Deterioração não! Melhoria! O administrador deve buscar a melhor relação custo/benefício. 5. (IADES CFAP - Analista Jurídico 2010) Assinale a alternativa correta quanto aos princípios básicos e norteadores do Direito Administrativo. A) Cada princípio tem sua importância, e deste modo existe uma hierarquia entre os mesmos onde prevalece um sobre o outro. B) Não é permitido ao poder judiciário revogar atos administrativos. C) Segundo o princípio da publicidade não pode haver sigilo de informações administrativas quando tal for imprescindível à segurança do Estado e da sociedade. D) É obrigação do Administrador atuar com presteza, perfeição e rendimento funcional. Resposta: D. A letra A está ERRADA. Não há hierarquia entre os princípios. A letra B está ERRADA. Cuidado para não pensar que o Poder Judiciário só pode anular (por ilegalidade) atos administrativos. O Poder Judiciário também pode revogar (por conveniência e oportunidade) atos administrativos que ele próprio praticou, exercendo sua função (atípica) administrativa. A letra C está ERRADA. Em regra, não pode haver sigilo. Mas, excepcionalmente, admite-se o sigilo para proteger a segurança do Estado e da sociedade. A letra D está CERTA. É o dever de eficiência do administrador

30 Bibliografia ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. São Paulo: Método, 22. ed. rev. e atual., CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 27. ed., DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 27. ed., Por hoje é só. Espero que você tenha aprendido bastante e gostado da aula. Estarei à disposição no fórum e por (jpbbotelho@yahoo.com.br). Até a próxima aula e um grande abraço! 30