ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS N. 14/2015
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- João Victor Bonilha Martini
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1 ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS N. 14/2015 TÓPICO DE ESTUDO: ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO PARA A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA 1 1 POR QUE ORGANIZAR? Conhecer e organizar as práticas cotidianas da sala de aula é responsabilidade conjunta de professores e coordenação pedagógica. Tal cotidiano na visão de Certeau (1990) 2 pode ser entendido como um ambiente onde se formalizam as práticas sociais que, por sua vez, sofrem influências exteriores. Ao assumir a classe, caberá ao professor pensar sobre a realidade de sua turma, sobre os conhecimentos a que deve ter acesso para se desenvolver e sobre as maneiras de fazer e organizar o cotidiano da escola, para que o ensino e a aprendizagem aconteçam (BRASIL, 2015) 3. Esse pensar revelará a concepção que o professor possui de educação, escola e ensino. Ou seja, o trabalho pedagógico está ligado ao sentido que atribuímos à escola e à sua função social; aos modos como entendemos a criança; aos sentidos que damos à infância e à adolescência e aos processos de ensino-aprendizagem (GOULART, 2007, p.86) 4. Nesse sentido, a escola, como espaço instituído do trabalho educativo, assume um papel fundamental no processo de construção das aprendizagens dos estudantes em todas as áreas de conhecimento, e neste caso em especial, em relação à Matemática. 2 COMO ORGANIZAR? Cientes da importância e necessidade de organizar o trabalho pedagógico, a pergunta seguinte diz respeito ao como realizar essa organização. Na perspectiva da alfabetização 1 Esta OD apresenta as principais ideias contidas no Caderno 01, Matemática, PNAIC, CERTEAU, Michel de. L invention du quotidien. 2. édition. Paris: Gallimard Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Gestão Escolar no Ciclo de Alfabetização. Caderno para gestores / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, p. 4 GOULART, Cecília. A organização do trabalho pedagógico: alfabetização e letramento como eixos orientadores. In: Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. 2. ed. Brasília: Estação Gráfica, p
2 matemática a primeira atitude docente é TORNAR A SALA DE AULA UM AMBIENTE DE ATIVIDADE MATEMÁTICA. Para tanto, é preciso garantir: Planejamento consistente isso requer pensar em todos e em cada um com suas necessidades específicas, visto que as crianças têm um jeito e um tempo próprio para aprender; Espaço permanente para a escuta ouvir cuidadosamente os alunos. Isso implicará na presença constante de atividades em que a oralidade seja privilegiada. Cada professor precisa desenvolver a capacidade de interpretar as formas de raciocinar dos alunos; Espaço para armazenar o que os alunos levam para sala, de modo que seja facilitado seu uso; Explicitação da rotina para os alunos, identificando o tempo para cada atividade; Tempo para a continuidade das atividades a aprendizagem não se esgota num único dia ou atividade didática. Será necessário compreender o currículo como um todo e organizar as atividades em doses pequenas e permanentes, evitando antecipações desnecessárias ou situações que pouco ou nada contribuem para o desenvolvimento da criança; Previsão de registros individuais e coletivos de modo que o monitoramento da aprendizagem seja permanente. Isso requer compromisso com a avaliação processual e contínua do progresso das crianças; Produção da linguagem matemática isso acontece gradualmente à medida que as crianças são imersas em atividades de leitura e escrita matemáticas. 3 OS MATERIAIS MATEMÁTICOS Cada sala precisa contar com alguns materiais matemáticos básicos. Alguns para uso coletivo e outros para uso individual. Portadores de textos com diferentes usos e representações numéricas, como, por exemplo: reportagens de jornal com gráficos, tabelas de pontuação de jogos e brincadeiras, rótulos de embalagens, placas de carro, etc.; Tabela numérica com números de 1 a 100 para a exploração de regularidades; 2
3 Varal com os símbolos numéricos, construídos com os alunos. Não há necessidade de que este varal só contemple números até o 10; Mural que possibilite afixar as produções dos alunos, textos complementares do professor, curiosidades matemáticas que os alunos desejem compartilhar, etc.; Calendário para reconhecimento e contagem do tempo (dia, mês, ano); Listas variadas de assuntos que o professor deseja discutir com os alunos, tais como: nomes dos alunos, datas de aniversário, eventos da escola, brinquedos e brincadeiras preferidas, etc.; Régua para a medição de altura dos alunos (instalar a régua na parede para que os alunos possam medir sua altura no decorrer do ano); Balança que possibilite identificar o peso (a massa corporal); Relógios para a medição do tempo (seria interessante que tivesse também um relógio analógico uma vez que a escola possivelmente seja um dos poucos espaços atualmente em que esse tipo de relógio apareça e que em muito contribui para a compreensão da contagem do tempo); Materiais de uso contínuo, como jogos, materiais manipuláveis (ábacos, material dourado, sólidos geométricos, etc.), papéis variados e materiais confeccionados pelos alunos; Conjunto de calculadoras básicas que pode ser adquirido pela escola, preferencialmente do tipo solares para evitar o uso de pilhas. Seria interessante que fosse 1 calculadora para, no máximo, 2 alunos; Livros de histórias infantis; Revistas para recorte, caixas, cordas, etc. 4 A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO Pensar na organização das carteiras contribui significativamente para a criação de um ambiente propício e favorável à aprendizagem, à problematização, à dialogicidade e à comunicação pela leitura e escrita, também em Matemática. (BRASIL, 2014, p. 18) A sala de aula será organizada SEMPRE em função dos objetivos propostos para o dia de trabalho, em conformidade com as atividades que se pretende desenvolver. Nas atividades matemáticas, pode-se organizar as carteiras: 3
4 Faculdade Adventista da Bahia Em duplas propicia a troca, a negociação de estratégias e significados na resolução de problemas; Grupos de 4 alunos - para atividades com jogos, por exemplo; Organização em U - para momentos de discussão coletiva e/ou socialização de registros e de resolução de atividades. 5 A LEITURA E A ESCRITA MATEMÁTICAS A leitura e a escrita não estão circunscritas apenas a área da linguagem e da alfabetização. Também precisam fazer parte do cotidiano matemático das crianças. Compreender um texto em língua materna, que apresenta escritas próprias da Matemática e representações de conceitos e ideias matemáticas, exige um conhecimento pelo aluno para além da decodificação da língua para um conhecimento de uma linguagem específica matemática. (BRASIL, 2014, p. 19). Nesse sentido, os alunos deverão ter acesso a textos informativos, explicativos, narrativos, etc. que apresentam escritas próprias da linguagem matemática: porcentagens, tabelas, gráficos, algarismos romanos, números na forma decimal, na forma fracionária, etc. A leitura matemática necessita ser explorada no processo de alfabetização para que o aluno se torne um leitor crítico desses textos... O papel social da leitura em Matemática transcende essa necessidade e assume também um papel político (BRASIL, 2014, p. 19). Por sua vez, a escrita nas aulas de Matemática é necessária como forma de registro e comunicação de ideias. O registro matemático é entendido como uma comunicação sobre ideias, objetos e processos matemáticos. É constituído não somente por termos técnicos da linguagem matemática, mas por expressões que incluem certos modos característicos de argumentar, representados por meio do texto matemático (PIMM, 1999) 5. 5 PIMM, D. El lenguaje matemático en el aula. 2. ed. Tradução Pablo Manzano. Madrid: Ediciones Morata,
5 6 OS REGISTROS MATEMÁTICOS PARA OS DOCENTES Para o professor, o registro deverá seguir o círculo da qualidade de ensino: planejar, realizar, documentar, analisar e replanejar (ZABALZA) 6. Observemos algumas possibilidades de registros matemáticos PARA O PROFESSOR 7 : NOTAS DE SALA O que são - Anotações curtas feitas nas aulas, como frases, comentários dos alunos, perguntas e dúvidas levantadas por eles, conteúdos a serem pesquisados, informações para checagem etc. Objetivo - Lembrar momentos importantes e não perder dados significativos do processo de ensino e aprendizagem. Organização - Deixar sobre a mesa uma prancheta, sulfites e canetas. Não é preciso se preocupar com a ordem nem com a profundidade dos apontamentos. Como usar - Elas serão a base de planejamentos futuros, relatórios mais detalhados sobre projetos ou atividades e dos relatórios de avaliação dos alunos. PAUTAS DE OBSERVAÇÃO O que são - Tabelas de duas ou mais entradas, nas quais aparecem o nome dos alunos e os conteúdos didáticos ou atitudinais a ser observados. Objetivo - Acompanhar a evolução do aprendizado de um ou mais conteúdos ao longo do ano. Organização - Tabular os nomes e os aspectos a serem analisados. Legendar a tabela com conceitos ou cores referentes a um estágio de aprendizagem. Preencher durante ou logo após a atividade. 6 ZABALZA, Miguel. Diários de Aula - Um Instrumento de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional. Ed. Artmed. 7 Disponível em: 5
6 Faculdade Adventista da Bahia Como usar - De tempos em tempos, é preciso fazer a análise e a comparação das tabelas. Quanto maior a frequência com que elas forem preenchidas e analisadas, mais informações se tem sobre o avanço de cada estudante e mais rápido é possível fazer intervenções. DIÁRIOS DE AULA O que são - Narrativas sobre o que aconteceu na sala de aula, tanto em relação a comentários e produções dos alunos como em relação a si mesmo (impressões e reflexões). Objetivos - Refletir sobre o planejamento e sua adequação às necessidades dos alunos, ter pistas sobre os rumos que se pode tomar, documentar o trabalho feito com a turma e aprofundar ideias para serem usadas no futuro. Organização - Ter um caderno reservado para o diário (ou um arquivo no computador) e escrever nele logo depois da aula, ou nos dias posteriores, para que os fatos não sejam esquecidos. O mais importante é registrar o maior número possível de dados, sempre refletindo e avaliando a prática pedagógica e não apenas listando as atividades. Como usar Uma das principais utilidades é o compartilhamento com o coordenador pedagógico, que poderá, com base nas reflexões do docente, ajudar a reavaliar sua prática pedagógica. O ideal é escrever com frequência e recorrer aos diários quando planejar e avaliar. REGISTROS REFLEXIVOS 8 O que são - São textos, imagens e áudios que resgatam as atividades feitas em classe. Cada um desses recursos tem características específicas e todos podem e devem ser usados em benefício do trabalho pedagógico, pois se completam. Os escritos são maneiras de não deixar passar elementos que chamaram a atenção na dinâmica da aula, como observações sobre o desenvolvimento das propostas, a adequação delas ao planejamento e o alcance dos objetivos. Com as fotos, é 8 Disponível em: 6
7 possível investigar a criança e suas experimentações. Já os vídeos auxiliam o professor na tematização da própria atuação com os alunos e, assim como o áudio, recuperam as intervenções feitas e o efeito delas no aprendizado dos estudantes. Objetivos - Servem como objeto de investigação e análise crítica sobre o próprio trabalho e o desenvolvimento da turma 7 OS REGISTROS MATEMÁTICOS PARA OS ALUNOS Toda escrita pressupõe um leitor, seja ele um leitor possível ao qual endereçamos a escrita de nosso texto, seja ele um leitor presencial que assume o papel de interlocutor no momento da escrita. A existência desse elemento impulsiona as crianças a pensarem sobre quais elementos necessitam estar presentes em seus registros. Quando o aluno lê, escreve ou desenha, revela não apenas os procedimentos, as estratégias que estão sendo desenvolvidas, como também os conceitos que domina e as dificuldades que encontra. Quando as crianças escrevem ou desenham o que vivenciaram, elas estão em intenso letramento com gestos, sons (enativos), grafismos, como desenhos, rabiscos (icônicos) e letras, números e fórmulas lógicas. (KISHIMOTO, 2004, p. 365). 9 Os diferentes jeitos de registrar possibilitam a produção de sentidos próprios do objeto matemático pelas crianças e podem ser realizados por meio da oralidade, desenhos (pictóricos) e escrita. REGISTROS ORAIS Trata-se de uma das primeiras modalidades de registro. Os registros orais são a explicitação das crianças de seus procedimentos e formas de pensamento utilizadas para resolver um problema ou uma operação. Além do desenvolvimento de habilidades matemáticas, os registros orais contribuem para o desenvolvimento de habilidades de comunicação, visto que possibilitam maior interatividade entre a turma e o professor. Acontecem por meio de: Discussões; Exposições em sala (comunicações orais); Relatos de experiências. Os registros orais contribuem positivamente para que os alunos ouçam os colegas, organizem suas ideias, exponham e argumentem suas opiniões e percursos pessoais. Nessas 9 KISHIMOTO, T. M. O brincar e a emergência da linguagem (letramento). In: GERALDI, C. M. G.; RIOLFI, C. R.; GARCIA, M. F. (Org.). Escola viva: elementos para a construção de uma educação de qualidade social. Campinas: Mercado de Letras, p
8 ocasiões o professor terá a oportunidade de observar a linguagem utilizada e a maneira como as crianças estão se apropriando dos conceitos matemáticos. À medida que essas forem avançando, os registros orais serão complementados por registros escritos. Nem sempre é uma tarefa simples captar esses registros. Assim, o professor pode dispor de recursos como câmeras de vídeo, gravadores câmeras fotográficas digitais ou um caderno de anotações para os registros rápidos. REGISTROS PICTÓRICOS Os registros pictóricos (desenhos) também podem ser utilizados em diferentes atividades matemáticas, representando como as crianças pensam, suas observações e o que mais chamam a sua atenção num problema, história, jogo ou brincadeira. REGISTROS ESCRITOS Os registros escritos estão normalmente relacionados à produção de textos. Podem ser realizados pelo professor como organizador (escriba) de um texto coletivo, partindo das discussões com os alunos ou pelos próprios alunos. É preciso, no entanto, considerar a função social do registro enquanto o gênero que representa. Exemplo: uma carta precisa ser construída pensando num destinatário e na estrutura própria. São possibilidades de registros para OS ALUNOS: Registro de comunicação aos colegas e professor Painel de soluções; Produção de cartazes; Registro do processo para constituir memória Produção de regras de um jogo; Anotações no caderno 10 ; Registro como forma de sistematização 10 Sobre cadernos escolares vale a pena ler o seguinte texto: Cadernos escolares: como e o que se registra no contexto escolar? Disponível em: Cadernos escolares e práticas pedagógicas. Disponível em: e1607d0c932dc.pdf 8
9 Faculdade Adventista da Bahia Placar para acompanhamento dos pontos num jogo; Produção de tirinhas ou histórias em quadrinhos; Registro como apropriação de uma linguagem Listas; Construção de gráficos, tabelas, diagramas; Registro como forma de comunicação da resolução e/ou formulação de um problema Produção de uma carta sobre suas descobertas e encaminhá-las a outra turma, à coordenação pedagógica, aos pais, etc.; Elaboração de textos de problema; Relatório de entrada dupla. Sejam quais forem os registros, o importante é a reflexão sobre os mesmos, de modo que seja possível acompanhar o progresso, diagnosticar os problemas e avaliar se as intervenções estão contribuindo ou não para o avanço das aprendizagens. (BRASIL, 2014). 8 O QUE NÃO PODE FALTAR NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COM A MATEMÁTICA? DIÁLOGO INTERAÇÃO COMUNICAÇÃO DE IDEIAS MEDIAÇÃO DOCENTE INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA 9
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