Universidade Federal de Lavras Pró-Reitoria de Extensão USO DA SOJA [Glycine max (L.) Merrill] NA FORMA DE FORRAGEM
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- Luiz Fernando Borges Figueira
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1 Universidade Federal de Lavras Pró-Reitoria de Extensão USO DA SOJA [Glycine max (L.) Merrill] NA FORMA DE FORRAGEM Antônio Ricardo Evangelista Pedro Milanez de Resende Giovana Alcântara Maciel
2 Ano XI - Número 120 Lavras 2003 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS UFLA Ministro: Reitor: Vice-Reitor: Cristovam Buarque Fabiano Ribeiro do Vale Antônio Nazareno G. Mendes Pró-Reitor de Extensão: Ricardo de Souza Sette Pró-Reitora Adjunta de Extensão: Mariza A. Mesquita Magalhães Secretaria: Ilza Aparecida Gualberto Maria Elisa Siqueira de Oliveira Editoração: Giovana Daniela de Lima Revisão de Português: Paulo Roberto Ribeiro Revisão Bibliográfica: Luiz Carlos de Miranda Impressão: Gráfica/UFLA Endereço para Correspondência: Universidade Federal de Lavras UFLA Pró-Reitoria de Extensão PROEX Caixa Postal LAVRAS - MG
3 Sumário 1 Introdução Misturas de soja com gramíneas para silagem Uso de soja exclusiva para silagem Soja na forma de feno Soja na forma de rolão Considerações finais Bibliografia consultada...30
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5 USO DA SOJA [GLYCINE MAX (L.) MERRILL] NA FORMA DE FORRAGEM 1 INTRODUÇÃO Antônio Ricardo Evangelista 1 Pedro Milanez de Resende 2 Giovana Alcantara Maciel 3 É de conhecimento geral, que a melhor forma que se tem para alimentar ruminantes com volumoso é por meio da forragem utilizada pelos animais em pastejo. Ocorre que, no Brasil, bem como em outros países, a disponibilidade de forragem é variável durante o ano e depende de condições climáticas, com produção concentrada em períodos de verão quente e úmido. No inverno seco e frio, as forrageiras reduzem ou cessam seu crescimento, gerando a necessidade de se ter forragem conservada e armazenada, para suplementar os animais nos períodos de baixa produção das pastagens. Essa suplementação pode ser feita usando-se a produção de áreas de capineiras, cana-de-açúcar, feno ou silagem, sendo essa última uma das opções mais empregadas no Brasil. De maneira geral, as silagens são feitas com milho, em maior proporção, seguido de sorgo e, em menor proporção, capim-elefante ou outras variedades.
6 6 Mesmo o milho, que é tido como a forrageira que resulta em melhor silagem, deixa a desejar, principalmente no que se refere ao teor de proteína, que é baixo para suprir as exigências de grande parte dos animais. A suplementação dos animais que consomem silagens de gramíneas normalmente é feita com o uso de concentrados à base de farelo de soja ou de algodão, o que tem onerado bastante a produção animal na propriedade agrícola, em razão de serem esses produtos originários de resíduos das indústrias de óleos. Pelo exposto, a utilização da soja na forma de forragem é uma alternativa viável para elevar o teor de proteína do volumoso para uso na alimentação de animais, em períodos críticos de disponibilidade de forragem. 2. MISTURAS DE SOJA COM GRAMÍNEAS PARA SILAGEM A justificativa para o uso de soja associada a uma gramínea para ensilar é principalmente a elevação do teor de proteína da silagem (figura 1), que quando feita exclusivamente com gramínea, é, em média, de 4,0 a 7,0% (PB na matéria seca), dependendo da forrageira empregada. A soja, colhida no estádio de início de enchimento de grãos (estádio R5), pode apresentar até 18% de PB na matéria seca da forragem. Com base em estudos realizados pode-se concluir que a inclusão de soja junto ao milho, sorgo ou capim contribui para a melhoria do valor nutritivo da silagem, levando a maior consumo de forragem e, conseqüentemente, a maior produção animal (tabela 1).
7 7 A soja, em relação a outras leguminosas, apresenta características mais favoráveis para a mistura na produção de silagem, destacando a maior disponibilidade de sementes no mercado, maior contribuição para a elevação da matéria seca e proteína da silagem, conforme pode ser observado nas tabelas 1 e 2. Teor de Proteína bruta (%) 9,0 8,5 8,0 7,5 7,0 6,5 6,0 5,5 5,0 ^ Y = 4, ,0832X ; R 2 = 0,99 4,5 4, Níveis de soja adicionado à silagem de milho (%) Figura 1: Níveis de soja adicionados à silagem de milho (Adaptado de Eichelberger, 1997).
8 8 Tabela 1: Efeito da adição de diferentes proporções de leguminosas à silagem de milho: Rendimentos ph MS PB Milho % lab-lab % lab-lab % mucuna preta % mucuna preta % soja anual % soja anual FONTE: CARNEIRO & RODRIGUES, Cultivos isolados de soja, milho ou sorgo Nesta modalidade de associações, soja-gramínea, uma das possibilidades é que a forragem seja resultante de culturas isoladas e a mistura é feita associando o material para picagem (na picadeira) ou à medida que vai colocando o material já picado dentro do silo. Quando a associação é feita com o milho ou o sorgo, podem ser formadas áreas semelhantes das duas culturas, e as produções, por causa das características dessas culturas, já terão rendimentos proporcionais ao que será empregado para ensilar, que, neste caso, pode ser de 30 a 50% de soja, lembrando que milho e sorgo produzem, em média, 30 e 40 t/há -1 de massa
9 9 verde, respectivamente, e a soja, 18 a 30 t.ha ¹. As formações das culturas de soja, milho ou sorgo para silagem seguem as recomendações básicas, utilizandose material genético apropriado para a finalidade, correção e preparo adequado do solo e adubação, conforme exigência dessas culturas. No uso do milho para obtenção desses rendimentos, tem sido utilizada uma adubação 400 kg.ha ¹ de (NPK) no plantio e 120 kg.ha-1 de nitrogênio em cobertura e para a soja, 120 e 60 kg.ha -1 de P 2 O 5 e K 2 O, respectivamente. Em relação a soja, o cuidado adicional que deve ser tomado é na escolha da cultivar que deverá ser de ciclo médio, para ser colhida na fase de enchimento de grãos, com 100 a 110 dias (momento ideal para ensilar, o que também coincide com o milho ou sorgo). Na dificuldade de obtenção de semente com esse ciclo, pode-se antecipar ou retardar o plantio dessa leguminosa, de tal forma que o ponto de colheita coincida com a colheita do milho ou sorgo. Tabela 2: Mistura de soja com milho, proteína (%) e ph da silagem Proporções (%) Proteína Bruta (%) ph 0 7:0-15 8: : : : : :0 4.7 Soja (100) 18:0 4.8 FONTE: EVANGELISTA, 1987 (dados não publicados)
10 10 A associação da soja na ensilagem de gramíneas, embora mude as características da fermentação no silo, não prejudica a qualidade da forragem, elevando o teor de proteína, mantendo o ph, o teor de ácido lático e o teor de nitrogênio amoniacal em níveis satisfatórios na silagem mista (tabela 3). Tabela 3: Mistura de soja com milho, características das silagens SOJA (%) PH ALA(%) NH 3 /N (%) DIVMS(%) FONTE: TAYAROL MARTIN, 1981 ALA - Ácido Lático NH 3 /N- Nitrogênio Amoniacal em Relação ao N Total DIVMS- Digestibilidade 'in vitro' da Matéria Seca A associação da soja nas proporções de 20 ou 40% em peso, em relação ao milho exclusivo, contribui para aumentar o consumo de matéria seca, de proteína bruta e de energia metabolizável, conforme pode ser observado na tabela 4. Além do aumento de proteína na silagem, a adição de soja tem efeito marcante sobre os teores de minerais, principalmente fósforo. Tabela 4: Consumo e digestibilidade de silagem mista de milho com soja, avaliados em ovinos
11 11 Parâmetros Milho 20% Soja 40% Soja Consumo MS* Consumo PB* Consumo EM** Digestibilidade MS(%) Digestibilidade PB(%) FONTE: CARNEIRO, et al., * g/kg 0,75 ** kcal/kg 0,75 MS: matéria seca, PB: proteína bruta EM: energia metabolizável. 2.2 Cultivos isolados de soja e capim A modalidade de culturas isoladas aplica-se muito bem para a exploração da associação de soja com capim, uma vez que, sendo a soja anual e o capim perene, fica difícil fazer os cultivos intercalados ou em consórcio. Os efeitos da adição de soja ao capim-elefante para ensilar são semelhantes aos observados para milho e sorgo e são notados no aumento do teor e consumo da matéria seca, proteína bruta e ainda da digestibilidade desses componentes (figuras 2 e 3)
12 12 Coeficiente de digestibilidade da MS (%) ^ Y = 46, ,14120X; R 2 = 0, Níveis de soja (%) Figura 2: Efeito dos níveis de soja sobre o coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca das silagens de capim (Adaptado de Lima, 1992).
13 13 Coeficiente de Digestibilidade da PB (%) ^ Y = 71, ,10232X; R 2 = 0, Níveis de soja (%) Figura 3: Efeito dos níveis de soja sobre o coeficiente de digestibilidade aparente da proteína bruta das silagens de capim (Lima, 1992). 2.3 Diferentes arranjos culturais para cultivos de soja com milho ou sorgo Uma outra possibilidade para a produção da forragem soja-gramínea é a formação das culturas em linhas intercaladas ou em faixas. Nesse caso, objetivase, além da produção da silagem mista, aproveitar os benefícios que podem ocorrer com a diversificação de culturas na mesma área ou ainda os benefícios da
14 14 rotação de culturas, haja vista que em semeio posterior, soja e milho não ocuparão o mesmo lugar do primeiro cultivo. Vale lembrar que nesse método de cultivo pode-se fazer diversos arranjos culturais, conforme conveniência e equipamentos disponíveis para semeio e colheita, e que, os rendimentos obtidos por área são equivalentes ao da gramínea exclusiva, uma vez que o espaçamento entre linhas a ser usado deve ser de 0,5 metros. Tabela 5: Cultivo de milho (M) e soja (S), rendimento de forragem (t.há -1 ) ARRANJO (n o de linhas) MV (S) MV (M+S) M M * 1S M * 2S M * 4S M * 4S FONTE: EVANGELISTA et al, 1982 MV: massa verde MS: matéria seca MS (M+S) A exemplo dos efeitos observados para a associação da soja com gramíneas oriundas de cultivos isolados, nos produtos dos cultivos em faixas, também são observados que a digestibilidade da matéria seca e o teor de carboidratos não são alterados e o teor de proteína da silagem mista é superior ao da gramínea exclusiva, tabela 6.
15 15 Tabela 6: Diferentes arranjos para o cultivo da soja com o milho, características das silagens ARRANJO DIVMS (%) CHO'S (%) PB(%MS) EXCLUSIVO (entrelinha) (faixa) (faixa) (faixa) FONTE: EVANGELISTA, et al, 1983 DIVMS - Digestibilidade 'in vitro' da Matéria Seca CHO'S - Carboidratos Solúveis PB - Proteína Bruta 2.4 Cultivos de soja, milho ou sorgo em consórcio Além das culturas isoladas ou dos cultivos em faixas para a produção de soja-gramínea, tem-se ainda a possibilidade de lançar mão das culturas em consórcio, que é o método mais prático, porque alia os benefícios da rotação e da diversificação de culturas na mesma área, havendo os pontos positivos do consórcio gramínea e leguminosa, tais como o aproveitamento de luz solar e nutrientes do solo, tolerância do cultivo misto a pragas e doenças e, ainda,
16 16 dependendo do arranjo, torna-se fácil a colheita do material já associado a partir do campo. É possível, com criatividade e com o uso dos equipamentos disponíveis na atualidade, fazer a mecanização do plantio e da colheita da cultura que, nesse caso, o mais viável de se cultivar é soja-milho ou soja-sorgo, e o arranjo de maior praticidade de uso é o cultivo dessas plantas na mesma linha. Para tanto, as populações de milho e de sorgo devem ser oriundas de densidades de semeio de 4 e 12 plantas por metro, respectivamente, para milho e sorgo, acompanhadas de 25 a 30 plantas de soja. A adubação é determinada de acordo com as exigências da gramínea, e a leguminosa aproveita o excedente do fertilizante colocado, não havendo necessidade de fertilização específica para a soja. Mais uma vez, enfatiza-se que as cultivares devem ter ciclos compatíveis, para que o ponto de colheita do milho ou sorgo (estádio de grãos farináceos) coincida com o momento ideal de colheita para soja, que é no início do enchimento de grãos e ocorre nas cultivares de ciclo médio em torno de dias. Comparando-se as características da silagem de milho exclusivo com as das silagens oriundas de cultivos em consórcio, observa-se que os componentes de qualidade não são afetados negativamente (ph, ácidos orgânicos, nitrogênio amoniacal em relação ao N total, tabela 7); por outro lado, os parâmetros de valor nutritivo são afetados positivamente (% de proteína, consumo por animal e
17 17 ganho de peso por animal por dia), conforme se verifica nas tabelas oito, nove e dez. Tabela 7: Consórcio na linha de milho e sorgo com soja, características da silagem MILHO SORGO SOJA (Pl) PH ÁCIDO LÁTICO NH 3 /N(%) FONTE: EVANGELISTA, 1986 Tabela 8: Consórcio na linha de milho-soja, características e consumo das silagens e ganho de peso dos animais SOJA PB(%) A. LÁTICO A. ACÉTICO A. BUTÍRICO MS CONS.* GP/NOV** *kg/nov/dia **g/nov/dia FONTE: ZAGO,. et alii, 1985 Tabela 9: Consumo de MS e ganho de peso de novilhos alimentados com silagem de milho-soja oriunda de consórcio Planta/metro Consumo (g/utm) Ganho de peso
18 18 Milho soja gramas/nov/dia FONTE: EVANGELISTA, 1986 UTM- Peso vivo 0,75 Os efeitos benéficos da associação soja-gramínea, além dos já citados, são observados também sobre a produtividade da área explorada e principalmente quando se adota o consórcio. As áreas cultivadas por esse método rendem, no mínimo, a área cultivada com gramínea isolada (tabela 11) e com o fato positivo de se conseguir forragem de melhor qualidade e valor nutritivo. Tabela 10: Consórcio na linha de milho-soja ou sorgo-soja, rendimento de MS, teor e consumo de proteína (PB), e ganho de peso SORGO MILHO SOJA (Pl/m)** MS(t.há -1 ) PB(%) PB CONS* GD/NOV* *g/novilho ** Pl/m: plantas por metro linear FONTE: EVANGELISTA, 1986
19 19 Tabela 11: Número de plantas de soja, porcentagem de participação de soja (S%), teor de proteína da forragem e rendimento de MS de milho e soja em consórcio, na linha com quatro plantas de milho por metro PLANTAS SOJA/M S% PB (%MS) MS (ton.há -1 ) FONTE: EVANGELISTA, et al., 1991 (adaptado) As justificativas para os melhores dados de produção obtidos nos consórcios são o melhor aproveitamento do nitrogênio, que pode ser elevado em até quatro vezes. Somam-se a esses efeitos de campo os efeitos na nutrição dos animais, onde o uso da silagem mista gera economia de concentrados protéicos, como é ocaso dos farelos de soja e algodão, com ganhos de peso equivalentes aos destes produtos quando fornecidos, bem como o uso de uréia. 2.5 Cultivos de soja e sorgo em consórcio para dois cortes Uma outra possibilidade de associação da soja com o sorgo, é fazê-la visando dois cortes, uma vez que estas culturas apresentam boa capacidade de rebrota, constituindo numa forma de maximização do uso da terra e da produção das espécies. Tabela 12: Rendimento de MS(t.ha -1 ) e PB(t.ha -1 ) de sorgo e soja consorciados na mesma linha com um ou dois cortes para forragem, Lavras, UFLA, 1998.
20 20 CULTIVARES SOJA X SORGO MATÉRIA SECA PROTEÍNA BRUTA 1 corte 2 cortes 1 corte 2 cortes CAC - 1 x AG CAC - 1 x AG CAC - 1 x BR CAC - 1 x CMSXS DOKO RC x AG DOKO RC x AG DOKO RC x BR DOKO RC x CMSXS UFV 16 x AG UFV 16 x AG UFV 16 x BR UFV 16 x CMSXS UFV 17 x AG UFV 17 x AG UFV 17 x BR UFV 17 x CMSXS FONTE: SILVA, Para este fim, a soja e o sorgo são cultivados na mesma linha, com densidade de 12 plantas de cada cultura por metro linear, com fileiras espaçadas de 0,8m. O corte é realizado com 60 dias após a emergência da soja a 30cm do solo, podendo utilizar uma ensiladora que colha área total. Para esse tipo de cultivo, observa-se que existem cultivares que contribuem de forma mais significativa para o rendimento de proteína, como é o caso da CAC-I, DOKO RC e UFV 16 e 17.
21 21 Verifica-se que no sistema de dois cortes, o rendimento de matéria seca tende a ser inferior ao de um corte. Porém, quanto ao teor de proteína, verificase que as associações CAC-1 x AG 2002, DOKO x AG 2006, UFV-16 x BR 601 proporcionam no sistema de dois cortes rendimentos de 44, 36 e 55%, respectivamente superiores ao de um único corte (tabela 12). A justificativa para realizar-se dois cortes pode ser a demanda por forragem de boa qualidade, num período em que o cultivo normal não estaria disponível. 3 USO DE SOJA EXCLUSIVA PARA SILAGEM O cultivo da soja para esse fim segue as recomendações para o cultivo com o propósito de produzir grãos. Os detalhes que devem ser considerados são os referentes ao rendimento de massa, porque cultivares de pequeno porte resultarão em baixa produtividade por área. Outro fator que deve ser levado em consideração é a sensibilidade da soja ao fotoperíodo, que é a reação ao comprimento do dia e, assim, para cada região, têm-se cultivares de soja mais adaptadas. Ocorre variação entre cultivares em um mesmo local quanto ao comportamento em relação ao amadurecimento da soja no decorrer do ciclo, tendo cultivares que, com o aumento da matéria seca, do florescimento à formação de grãos, reduzem o teor de proteína mais gradativamente que outras.
22 22 Observa-se que, com o avançar da idade, a soja Bossier reduz mais lentamente o teor de proteína do que a UFV -5. Tabela 13: Efeito da época de corte no teor de MS e PB de duas cultivares de soja DATAS BOSSIER MS (%) PB(%) UFV - 5 MS (%) PB(%) 03/ / / / / / / FONTE: EVANGELISTA, 1986 Deve-se observar o melhor momento para colher a soja, aliando rendimento e qualidade da silagem obtida, e para a cultivar Bossier, embora o teor de proteína mantenha-se mais estável com o avanço de idade, a colheita mais tardia provoca a diminuição de rendimento em forragem, em função de seu ciclo mais curto. Ao ensilar uma leguminosa, não se pode esperar silagens com características de fermentação semelhantes à silagem-padrão, que é a de milho. Porém, observa-se que nos parâmetros mais definidores de qualidade, tais como o ph, ácidos orgânicos, nitrogênio amoniacal em relação ao total e matéria seca, a silagem de soja pode ser considerada de boa fermentação (qualidade). No que
23 23 se refere aos aspéctos de valor nutritivo, a silagem de soja supera a silagempadrão (milho) e comparando com produtos tais, como a silagem de capim, a silagem de soja é superior em teor de matéria seca, proteína bruta, menor teor de FDN, maior consumo de proteína, maior digestibilidade da matéria seca e melhor balanço de nitrogênio. Tabela 14: Estudo comparativo da silagem de soja com a de capim-elefante, Lavras, UFLA, MG. PARÂMETROS SOJA CAPIM- ELEFANTE PH Ácido lático (%MS) Nitrogênio amoniacal (%MS) Matéria seca Proteína bruta (%MS) FDN (%MS) Consumo MS (g/kg 0,75 ) Consumo PB (g/kg 0,75 ) Digestibilidade (%) Balanço de N (g/ kg 0,75 ) Compilado de LIMA, Para a produção da silagem de soja exclusiva, todo cuidado e recomendação para a produção de silagem devem ser respeitados com rigor. O corte da soja no início do enchimento de grãos (estádio R5) é o momento mais recomendado para aliar rendimento e qualidade da forragem.
24 24 A ensiladora, para colher esse material, deve estar com as facas bem afiadas para proporcionar corte de 1,0 a 2,0 cm. Se for por processo mecanizado, deve-se utilizar máquinas que colham bem forragens de hastes mais finas, o que proporciona bom rendimento de colheita. Ao colocar o material no silo, é dispensável o uso de inoculante e a compactação da forragem deve ser bem feita do início ao final do enchimento do silo 4 SOJA NA FORMA DE FENO Não resta a menor dúvida de que o melhor uso para a soja, de maior importância econômica no País, trata-se da produção de grãos. Ocorre que em função das limitações de quantidade e qualidade da forragem disponível para a criação de ruminantes em períodos secos, a soja pode ser utilizada na forma de silagem ou feno, visando a suprir os animais com forragem conservada de boa qualidade e valor nutritivo. Para o produtor de soja em grão, fazer a opção de produzir soja forragem com o objetivo de alcançar o mesmo retorno econômico, via opção por forrageira, não tem aplicabilidade prática e/ou econômica. Porém, se o produtor envolvido na agropecuária (produção de grãos e de produto animal - leite ou carne) destinar uma parte da cultura de soja para forragem, o retorno pode ser benéfico, principalmente se a estratégia for definida com critério e conhecimento. Tanto a soja pode ser cultivada para o fim exclusivo de ser transformada em rolão ou feno, bem como pode-se adotar a prática de cultivar a soja com
25 25 duplo propósito, que seria aproveitar o primeiro crescimento vegetativo e cortála para forragem antes da floração, aproveitando-se a rebrota para a produção de grãos para comércio ou uso para os animais da própria propriedade. A soja para ser incluída num programa de aproveitamento de forragem e grãos tem que ser bem escolhida, dentre as cultivares que se prestam para esse fim. A época do corte, a altura deste e o espaçamento de cultivo também definem diferenças em rendimento. Tabela 15: Rendimento de feno de soja da cultivar cristalina, em função do espaçamento, densidade e altura de corte. Lavras, UFLA, MG Fatores Feno (kg.há -1 ) Espaçamento (cm) Espaçamento (cm) Espaçamento (cm) Densidade pl/há 700* 2152 Densidade pl/há 500* 1656 Densidade pl/há 300* 1515 Altura de corte (cm) Altura de corte (cm) FONTE: CARDOSO, 1988 * mil plantas há -1 Tabela 16: Rendimento de grão e de palha da soja quando submetida ao corte para produção de feno. Lavras, UFLA, MG. Corte Grãos (kg.há -1 ) Palha (kg.há -1 ) Sem corte Corte aos 25cm
26 26 Corte aos 35cm FONTE: CARDOSO, 1988 Para a produção do feno exclusivo, o corte da forragem deve ser feito até o início do enchimento de vagens, aliando rendimento e qualidade. De maneira geral, as leguminosas forrageiras, ao serem submetidas ao processo de secagem para a produção de feno, perdem muita folha no campo. No caso da soja, isso não é diferente e, assim, deve-se manusear o material em campo, visando a igualar a secagem só no início do processo. A parte final da secagem deve ser com o material mais fixo no local, na superfície do solo até o ponto de feno. Esse produto tem teores de proteína e minerais adequados, constituindo-se num bom alimento volumoso. Tabela 17: Características do feno de soja da cultivar Cristalina cortada aos 60 dias após semeadura. Lavras, UFLA, MG Característica Proteína bruta Cálcio 0.91 Magnésio 0.15 Fósforo 0.32 FONTE: CARDOSO, 1988 Teores (%na MS) Existe diferença de rendimento de forragem e qualidade da forragem das diferentes cultivares. O rendimento é afetado por fatores, tais como: adaptação ao ambiente, distribuição e volume do sistema radicular, tolerância à acidez do
27 27 solo, resistência a pragas e doenças. A qualidade está associada ao estádio de desenvolvimento da cultura e ao volume de folhas retidas junto à planta. Tabela 18: Rendimento da MS e PB em kg.há -1 de algumas cultivares de soja Cultivar Doko IAC 8 GARIM PO CRISTA LINA UFV 10 S. Rosa FT 11 MS Proteína FONTE: REZENDE, 1995 Observa-se que pode ser muito útil na propriedade agrícola a soma dos produtos de soja (feno + palhada + grãos) para uso nos períodos críticos de disponibilidade de forragem. O manejo da cultura visando à produção de feno pode ser orientado no sentido da obtenção de maior produção de forragem e grãos por área trabalhada. Aspectos que têm efeito marcante no rendimento são a altura e a idade de corte. Cortes mais baixos favorecem a produção de forragem, prejudicam a produção de grãos e vice-versa, sendo o rendimento total pouco influenciado pela altura de corte. Tabela 19: Efeito da altura do corte da soja (UFV-7710) sobre o rendimento de feno do primeiro corte, MS da rebrota e rendimento total ALTURA CORTE (cm) FENO (t.há -1 ) MATÉRIA SECA (t.há -1 ) RENDIMENTO TOTAL FENO+MS (t.há -1 )
28 , ,6 7,6 SEM CORTE FONTE: REZENDE & FAVORETO, Com relação à idade e número de cortes, para algumas variedades, dois cortes levam à produção de forragem de melhor qualidade; já para outras, a realização de um ou dois cortes não afeta o rendimento de proteína por hectare. Como exemplo, se estiver trabalhando com soja Cristalina, o melhor é fazer um corte aos 60 dias e outro, aos 100 dias; por outro lado, se se cultivar a Doko, o melhor é fazer um único corte aos 100 dias. Tabela 20: Rendimento de PB do feno de soja (kg.há -1 ) com um ou dois cortes, cultivares Cristalina e Doko CORTE CRISTALINA DOKO PB FENO PB FENO 100 DIAS E 100 DIAS FONTE: BOTREL, 2002 Tabela 21: Rendimento de MS (kg.há -1 ) de algumas cultivares de soja cortadas no estádio R5 CULTIVAR RENDIMENTO (kg.há -1 ) CAC DOKO RC UFV
29 29 UFV FONTE: SILVA, SOJA NA FORMA DE ROLÃO A soja pode ser empregada também retardando a colheita para forragem, deixando as plantas no campo até que atinjam a maturidade total, podendo ser colhida e armazenada sem que ocorram perdas por desenvolvimento de mofo. O oferecimento da forragem ao animal deverá ser feito triturando o material em trituradores de produtos secos, como é o caso dos moinhos que são utilizados para produzir MDPS (milho desintegrado com palha e sabugo). O produto resultante da planta mais grãos de soja secos triturados é denominado "rolão de soja" e pode ser utilizado para compor a dieta de qualquer categoria de ruminantes. O manejo dos cultivos visando à produção de soja forragem deve ser orientado, a exemplo do que se faz para a produção de grãos. Tanto a época de semeadura, quanto o espaçamento e densidade têm reflexos nos rendimentos. Tabela 22: Efeito da época de semeadura e de cultivares de soja na produção de matéria seca total (rolão) t.há -1 ÉPOCA UFV BOSSIER 15/ / /
30 30 FONTE: REZENDE et al Quando se avalia alguma leguminosa, leva-se em consideração, para comparações, os produtos obtidos da alfafa utilizada como padrão de recomendação, que é uma leguminosa consagrada no mundo todo. Nesse sentido, observa-se que, no mesmo período de desenvolvimento (100 dias), a soja tem maiores rendimentos de matéria seca, proteína bruta e feno. Vale lembrar que a alfafa tem grande dificuldade para estabelecimento e manutenção do estande e, por outro lado, a soja se estabelece mais facilmente e, por ser uma cultura anual, proporciona correção de tecnologia num espaço de tempo bem curto, o que não é o caso da alfafa, que é uma cultura perene (tabela 23). Tabela 23: Rendimento de matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e feno (kg.há -1 ), obtidos na cultura de soja (Doko) no sistema de corte único aos 100 dias e da cultura da alfafa nos dois primeiros cortes CULTURAS MS PB FENO SOJA a 8596a ALFAFA b 5409b FONTE: BOTREL, 2002 (adaptado)
31 31 Tabela 24: Efeito do espaçamento e da densidade no rendimento de matéria seca total (rolão) de soja cultivar Cristalina ESPAÇAMENTO (cm) DENSIDADE (1000pl) ROLÃO (t.há -1 ) FONTE: CARDOSO, ,5a ,0ab ,0b CONSIDERAÇÕES FINAIS: Talvez a baixa utilização da soja como recurso forrageiro para período crítico esteja associada à falta de informações para a adoção dessa tecnologia, uma vez que o produtor especializado em produção de soja direciona essa cultura para a produção de grãos e o especialista em produção animal não enxerga na soja uma boa opção forrageira. É dever dos técnicos, pesquisadores e extencionistas divulgar as possibilidades de uso da soja na forma de forragem. Trata-se de um produto de interesse do ponto de vista nutricional, de cultivo bastante conhecido e com volume considerável de informações tecnológicas disponíveis.
32 32 7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BOTREL, E. P. Rendimento forrageiro da alfafa em relação à soja sucedida por milheto ou milho p. Dissertação (Doutorado em Agronomia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras - MG. CARDOSO, D. A. del B.; REZENDE, P. M. de. Arranjo de plantas. I - Efeito do espaçamento e da densidade no rendimento de grãos e outras características da soja. Ciência e Prática, Lavras - MG, v. 11, n. 1, p , jan./jun CARDOSO, D. A. del B.; REZENDE, P. M. de. Maximização da exploração da soja [Glycine max (L.) Merrill]. VII. Efeito do espaçamento e da altura de corte, na produção de feno e de grãos oriundos da rebrota. Ciência e Prática, Lavras - MG, v. 10, n. 2, p , maio/ago CARDOSO, D. A. del B.; REZENDE, P. M. de. Maximização da exploração de soja [Glycine max (L.) Merrill]. V. Efeitos da população de plantas e da altura de corte na produção de feno e grãos da rebrota. Ciência e Prática, Lavras - MG, v. 10, n. 3, p , set./dez CARDOSO, D. A. del B.; REZENDE, P. M. de Maximização de exploração da soja. VI. Efeito do espaçamento, densidade e altura de corte na produção de
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