TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N /001 RELATORA : Vanda Elizabeth Marinho Juíza Convocada APELANTE : Município de Bayeux, representado por seu Prefeito (Adv. Iranildo Gomes da Silva e outro) APELADO : Maria das Merces Palhano de Oliveira (Adv. Márcia Carlos de Souza Peixoto) RECURSO OFICIAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE. LEI NQ /06. PREVISÃO DE REGIME JURÍDICO CELETISTA. SUPERVENIÊNCIA DE LEI MUNICIPAL ESTATUINDO A MUDANÇA DE REGIME PARA ESTATUTÁRIO. PLEITO REFERENTE AS VERBAS ANTERIORES A ESSA ALTERAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. SUSCITAÇÃO DO CONFLITO. - Antes da vigência de lei municipal que estabelece o regime jurídico administrativo para os agentes comunitários de saúde, a competência para processar e julgar as causas instauradas entre a Administração Pública e os referidos servidores (em sentido amplo) é da Justiça do Trabalho. VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em que figuram como partes as acima nominadas. ACORDA a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, por unanimidade, suscitar o conflito negativo de competência, nos termos do voto da relatora, integrando a presente decisão a súmula de julgamento de fl RELATÓRIO Trata-se de apelação cível interposta pelo Município de Bayeux contra sentença proferida pelo MM. Juízo de Direito da,p Vara daquela Comarca Vanda Elizabeth Marinho- Juiza convocada j.,l).),.."..v N.."..".11^-/s3 '

2 que julgou procedentes os pedidos constantes da demanda ajuizada inicialmente na Justiça do Trabalho por Maria das Merces Palhano de Oliveira em face do ora apelante. O apelante afirma que o ingresso da recorrida no serviço Público se deu através de processo seletivo, sem a devida prestação de concurso público, violando, assim, preceitos constitucionais. Outrossim, aduz que "o contrato sob exame não tem o condão de surtir qualquer efeito válido sendo nulo de pleno direito, não gera efeito nem reserva de direito, não fazendo jus a autora a qualquer direito trabalhista", mas, somente, aos salários dos dias trabalhados. Ao final, postulou a reforma da decisão, para que seja provido o recurso apelatório. Em contrarrazões, a apelada alega que foi contratada pela municipalidade mediante aprovação em processo seletivo para atuar como agente comunitário de saúde, profissão regulada pela Lei n /06, que dispunha que a relação entre a contratada e o ente público seria celetista. Afirma que, com o advento da Lei Municipal n 1.067/07, os agentes passaram a ser estatutários, sendo essa situação convalidada através de portaria de nomeação publicada em março Assevera que o intento da demanda é o período anterior à sua nomeação como estatutário. Por fim, pleiteiou o desprovimento do recurso. Diante da desnecessidade de intervenção do Ministério Público, deixo de remeter os autos à Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do art. 169, 1-Q, do RITJPB c/c o art. 82 do CPC. É o relatório. VOTO Para fundar seu pedido, a autora afirma na exordial que fora nomeada para atuar como agente comunitário de saúde no ano de 2004, em razão da aprovação que obteve em processo seletivo realizado pela municipalidade promovida. Com o advento da Lei nq /06, que passou a regular os agentes comunitários de saúde, o regime jurídico utilizado para tratar da relação entre servidor e ente público foi o celetista, nos termos do seu art. 8, que verbera: Art. 8Q Os Agentes Comunitários de Saúde e os Agentes de Combate às Endemias admitidos pelos gestores locais do SUS e pela Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, na forma do Vanda Elizabeth Marinho- juiza convocada

3 disposto no 4o do art. 198 da Constituição, submetem-se ao regime jurídico estabelecido pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, salvo se, no caso dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, lei local dispuser de forma diversa. Observe-se que o mencionado dispositivo traz como ressalva a existência de lei local dispondo de modo diverso. No caso dos autos, vislumbra-se que, em 26 de dezembro de 2007, o Município promovido promulgou a Lei n 1.067, dispondo, em seu art. 12, que "os processos seletivos realizados pela Administração Pública Municipal ou Estadual antes da data de edição da Emenda Constitucional 51/2006 serão considerados convalidados, após o ato formal de certificação, o qual deverá ser publicado, conforme mencionado no art. 11, devendo os agentes comunitários, em efetivo exercício na profissão até a data de edição da Lei n /06, serem lotados nos quadros de pessoal efetivo da administração pública direta, em cargo público." A certificação mencionada na norma municipal ocorreu em 03/03/2008, através de publicação no Diário Local (fls. 18/21), o que me faz crer que, a partir desta data, os agentes comunitários de saúde aprovados em processos seletivos anteriores, incluindo a promovente (seu nome consta no Diário à fl. 20), passaram a ser estatutários. Essa situação, aliás, é confirmada pela própria autora na peça inaugural ajuizada na Justiça do Trabalho, onde destaca que "durante o tempo que trabalha para a reclamada, ou seja, 12 de fevereiro de 2004 até fevereiro de 2008 trabalhava como celetista, no entanto a reclamante não gozava de férias, não lhe eram pagos 13Q salários, não foram depositados os fundos de garantia por tempo de serviço, não pagou salário família de 02 filhos, como também não lhe foi pago o adicional de insalubridade [...]." (fl. 04) Outrossim, ainda na peça exordial, constata-se que a promovente requereu o pagamento de verbas enquanto laborava no regime celetista (até fevereiro de 2008). Com base nesse fundamento, concluo, data venha, que a Justiça Laboral se equivocou ao remeter os autos a esta jurisdição estadual, já que no período anterior à certificação do autora nos quadros da municipalidade, o regime ao qual a mesma prestava suas atividades era o celetista. Nesse sentido, acosto precedente do STJ que se amolda à hipótese vertente: "PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE JUÍZOS ESTADUAL E TRABALHISTA. AGENTE COMUNITÁRIO. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. CONTRATO DE TRABALHO QUE FOI CONVERTIDO AO REGIME Vanda Elizabeth Marinho- Juiza convocada

4 ESTATUTÁRIO. PEDIDO DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE VERBAS ANTERIORES À CONVERSÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO." 1 Vale salientar, por oportuno, que o próprio TST entende que, em situações como a presente a competência é da Justiça do Trabalho, vejamos: "AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE. RECONHECIMENTO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. PERÍODO ANTERIOR AO ADVENTO DE LEI PREVENDO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Conforme dispõe o art. 8 da Lei nq /2006, os agentes comunitários de saúde admitidos na forma prevista no 4Q do art. 198 da Constituição da República, submetem-se ao regime jurídico estabelecido pela CLT, salvo se lei local dispuser de forma diversa. Conquanto essa norma não atribua de forma direta à Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar causas envolvendo a Administração Pública e os agentes comunitários de saúde, determina a submissão dos referidos agentes ao regime jurídico estabelecido pela CLT. Torna-se possível deduzir que, antes da vigência de lei municipal estabelecendo o regime jurídico administrativo para os agentes comunitários de saúde, a competência para processar e julgar as causas instauradas entre a Administração Pública e os referidos agentes é da Justiça do Trabalho, ante a existência de vínculo empregatício sob a disciplina da CLT. Nesse contexto, não se divisa violação do art. 8Q da Lei nq /2006, além de a transcrição de arestos oriundos do mesmo Tribunal Regional prolator do acórdão recorrido sofrer o óbice da Orientação Jurisprudencial nq 111 da SBDI-1 do TST. Deve ser mantida, portanto, a decisão agravada. Agravo de instrumento a que se nega provimento." 2 "AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA APRECIAR E JULGAR CAUSAS QUE ENVOLVEM PEDIDOS REFERENTES AO PERÍODO ANTERIOR AO ADVENTO DE LEI MUNICIPAL QUE INSTITUIU O REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO. Na hipótese dos autos, o Tribunal Regional registrou que, em 12111/2007, começou a vigorar a 1 STJ - CC Relator(a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES - Data da Publicação 03/08/2011) 2 TST - AIRR Relator(a): Walmir Oliveira da Costa Julgamento: 14/09/ Órgão Julgador: 1 Turma Publicação: DEJT 23/09/2011 Vanda Elizabeth Marinho- Juiza convocada js),3_,ll

5 Lei Municipal nu 050/2007, que dispõe sobre a criação de cargos públicos de Agente Comunitário de Saúde e de Combate às Endemias, estabelecendo que, após sua vigência, esses agentes se encontram submetidos ao regime jurídico estatutário. Nesse contexto, o Regional reconheceu a existência de vínculo empregatício regido pela CLT, a partir da data de admissão da autora, em 1e , até o período anterior à vigência da Lei Municipal nq 050/2007, ou seja, até 11/11/2007, sendo deferidas parcelas relativas a esse período. Assim, a competência da Justiça do Trabalho para julgamento da lide foi limitada ao período em que houve vínculo empregatício, anteriormente à vigência de lei local específica que submetia os agentes comunitários de saúde ao regime estatutário. Logo, não há falar em violação do artigo 8Q da Lei nu /2006, pois o referido dispositivo determina a submissão dos agentes comunitários de saúde ao regime jurídico estabelecido pela CLT, salvo no caso de lei local que dispuser de forma diversa, o que permite concluir que, antes da vigência de lei municipal que estabelece o regime jurídico administrativo para os agentes comunitários de saúde, a competência para processar e julgar as causas instauradas entre a Administração Pública e os referidos agentes é da justiça do Trabalho. Agravo de instrumento desprovido."' "AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE - LEI Nu / SUPERVENIÊNCIA DE LEI MUNICIPAL. A superveniência de lei municipal que estabelece o regime estatutário para os servidores, criando, entre outros, o cargo de agente comunitário de saúde, não excluiu a competência da Justiça do Trabalho, para conhecer e solucionar a lide que se estabeleceu anteriormente à sua publicação e vigência. Agravo de instrumento não provido."' "AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. PERÍODO ANTERIOR À LEI MUNICIPAL QUE INSTITUIU O REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO. A competência da Justiça do Trabalho para julgamento da lide foi limitada ao período em que houve vínculo empregatício, anteriormente à vigência de lei local específica que submetia os agentes comunitários de 3 TST - AIRR Relator(a): José Roberto Freire Pimenta - Julgamento: 03/10/ Órgão Julgador: 2 Turma - Publicação: DEJT 07/10/ TST - AIRR Relator(a): Milton de Moura França - Julgamento: 30/11/ Órgão Julgador: 4' Turma - Publicação: DEJT 09/12/2011 Vanda Elizabeth Marinho- Juíza convocada c.a.z)

6 saúde ao regime estatutário. Agravo de Instrumento não provido."5 Diante das considerações expendidas e considerando que a Justiça Laboral já declinou da competência para conhecer e julgar a demanda, voto para que seja suscitado conflito negativo de competência perante o Superior Tribunal de Justiça. É como voto. DECISÃO A Câmara decidiu, por unanimidade, suscitar o conflito negativo de competência, nos termos do voto da relatora. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, dele participando a Dra. Vanda Elizabeth Marinho, relatora, a Des. Maria das Graças Morais Guedes e o Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. Presente o representante do Ministério Público, na pessoa do Excelentíssimo Sr. Dr. José Raimundo de Lima, Procurador de Justiça. Sala de Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 11 de setembro de 2012 (data do julgamento). João Pessoa, 14 de setembro de Vanda Elizabeth Marinho Juíza Convocada 5 TST - AERR Relator(a): Sebastião Geraldo de Oliveira Julgamento: 07/12/ Órgão Julgador: S Turma Publicação: DEJT 12/12/2011 Vanda Elizabeth Marinho- Juíza convocada

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