Revista Observatório da Diversidade Cultural Volume 3 Nº1 (2016) Arte-educação
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- Leila Franco Palhares
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1 Arte-educação 2
2 IDENTIDADE CULTURAL, EDUCAÇÃO E MUSEUS: Desenvolvendo a educação patrimonial na escola Janaina Couvo Teixeira Maia de Aguiar 1 Resumo A partir de uma experiência desenvolvida com alunos do 8º ano do ensino fundamental, na Escola Estadual Cônego Filadelfo de Oliveira, escola da rede pública estadual de Sergipe localizada na cidade histórica de Laranjeiras, apresentamos neste trabalho uma análise sobre um projeto desenvolvido na disciplina de Arte, enfatizando o patrimônio cultural do estado a partir do conhecimento sobre os museus e sua função social. Entendendo que para o aluno que está em processo de formação, projetos que enfatizem os elementos de sua identidade cultural, contribuindo para o seu conhecimento, são importantes e devem ser desenvolvidos nas salas de aula, o projeto conhecendo os museus de Sergipe vem contribuir significativamente para aproximar o aluno da sua história, proporcionando o contato do mesmo com espaços de memória que irão contribuir para a construção da sua identidade cultural, apresentando elementos que são parte da memória coletiva da comunidade a qual ele faz parte. Palavras-chave: Educação Patrimonial. Patrimônio Cultural. Identidade. Museus. Abstract From an experience developed with students of the 8th grade of elementary school, the State School Cônego Filadelfo de Oliveira, a state school of Sergipe located in the historic city of Laranjeiras, we present in this paper an analysis of a project developed at the Art discipline emphasizing the cultural heritage of the state from the knowledge of the museum and its a social function. Understanding that for the student who is in process of projects formation, that emphasize the elements of their cultural identity, contributing to their knowledge are important and should be developed in classrooms, the project knowing the museums of Sergipe will contribute significantly to bring the student of history, providing contact with the same memory space that will contribute to the construction of their cultural identity, with elements that are part of the community s collective memory which it is part. Key-words: Education Equity. Cultural Heritage. Identity. Museums. 1 Mestre em Cultura e Sociedade-UFBA, Licenciada e Bacharel em História UFS, Bacharel em Museologia- UFS. Professora de História e Arte da rede pública do Estado de Sergipe e Professora da Faculdade Serigy/UNIRB, janainacouvo@gmail. com 21
3 1. A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UMA REFLEXÃO Entende-se patrimônio cultural como os bens de natureza material e imaterial, que refletem a identidade, a ação e a memória dos diferentes grupos da sociedade. Dessa forma, sua preservação justifica-se pela necessidade de se manter ou resgatar o passado, a fim de manter as raízes e a identidade cultural, permitindo o conhecimento e a reprodução pelas futuras gerações. (AZEVEDO, 2010, P.265) Desenvolver a valorização do patrimônio cultural em sala de aula é algo necessário, pois estamos trabalhando com cidadãos em formação, onde despertar para a necessidade da preservação da sua história e sua identidade é fundamental. Estudos sobre esta relação estão sendo desenvolvidos por diversos pesquisadores, que apresentam em suas análises a necessidade de levar aos alunos um olhar amplo sobre os bens culturais, ultrapassando a ideia de que esses bens estão apenas relacionados aos bens materiais. Assim sendo, elementos relacionados a experiências vividas, formas de expressão diversificadas, saberes e fazeres, celebrações, o meio ambiente, todos estes bens são de natureza imaterial e também fazem parte do campo do patrimônio cultural. Com isso, pensar o patrimônio cultural despertando a consciência da preservação entre os jovens, torna-se muito importante e, quando estas ações estão associadas a práticas educativas, sendo levadas para a sala de aula, transformam-se em verdadeiras expressões de educação patrimonial. Assim, segundo Pelegrini (2009), educação patrimonial, Constitui uma prática educativa e social que visa à organização de estudos e atividades pedagógicas interdisciplinares e transdisciplinares. O objetivo da interdisciplinaridade centra-se na tentativa de superar a excessiva fragmentação e linearidade dos currículos escolares. A transversalidade, alcançada por meio de projetos temáticos, é um recurso pedagógico que visa auxiliar os alunos a adquirir uma visão mais compreensiva de crítica da realidade, bem como sua inserção e participação nessa realidade. (2009, p.36) A partir desta conceituação, pensar o desenvolvimento da educação patrimonial é pensar ações educativas que, tendo um caráter interdisciplinar, possam proporcionar uma reflexão acerca da diversidade cultural expressa em seu patrimônio, seja ele material ou imaterial, envolvendo várias áreas. Estas ações partem do princípio de que se torna necessário aproximar o indivíduo da sua comunidade, levando o conhecimento da sua história e de elementos importantes para a construção da sua identidade. Assim, através de pesquisas e estudos sobre o patrimônio local tem início uma proposta de educação patrimonial. 22
4 Seja em áreas urbanas ou no campo, os educadores podem apresentar e desenvolver propostas educativas relacionadas à diversidade patrimonial existente na região, a partir de pesquisa e registros, resultando em apresentações e materiais importantes sobre a memória local. Desta forma, estas atividades, (...) irão prenunciar o quanto o patrimônio cultural é algo vivo e dinâmico, além de indicar que nem tudo que é ativo constitui um bem patrimonial, mas somente aqueles dotados dos sentidos de pertença e identidade, ou seja, de um valor cultural mais amplo. (PELEGRINI, 2009, P.40) É esta valoração, este sentimento de pertencimento que estas ações educativas visam promover entre os alunos, a partir da aproximação destes com os elementos de sua identidade cultural muitas vezes desconhecidos, mas que fazem parte do seu cotidiano. Assim sendo, a educação patrimonial desenvolve um papel importante neste processo, pois promove o contato do aluno com sua identidade, o conhecimento da sua história, a construção do sentimento de pertença com o lugar de nascimento e assim, consequentemente, desperta a importância da preservação do seu patrimônio cultural. Assim, a educação patrimonial contribui significativamente para despertar nos estudantes um olhar que ultrapassa a curiosidade, chegando a consciência de que existe a necessidade de cuidar daquilo que é parte da sua história, da sua identidade. É o que representa a sua herança cultural, onde, segundo SOARES (2003), (...) os educandos passam a se entender enquanto sujeitos do processo histórico em construção e a compreender que é possível atuar nas mudanças (2003, p.26). É este o sentimento que as propostas de educação patrimonial levadas para as escolas devem despertar, ou seja, levar o aluno a ter consciência do seu papel de protagonista na luta pela preservação do seu patrimônio. 2. O MUSEU, A CIDADE E AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Os Museus são espaços importantes de preservação do patrimônio cultural, pois reúnem um acervo que traz muito da história e da memória do lugar, contribuindo significativamente para proporcionar à comunidade ao qual estão inseridos, elementos importantes para a construção da sua identidade. A partir de ações educativas desenvolvidas pelos Museus, a comunidade pode ser inserida neste espaço, construindo uma relação de comunicação importante que se reflete na própria dinâmica do museu, que pode proporcionar diversas atividades periódicas 23
5 visando atrair este público. Com isso é importante ressaltar que as ações educativas, tanto podem ser desenvolvidas pelos espaços museais como também pelas escolas da região. O Museu, segundo Maria Célia Santos (1993), é considerado uma instituição que deve estar comprometida com o processo educacional, desempenhando uma ação cultural e educativa no âmbito da educação formal e informal (p.24), assim sendo, propondo atividades que não estejam apenas centradas na escola, como também na comunidade. Com relação às atividades propostas a partir da escola, os projetos de educação patrimonial podem ir além dos museus, abordando todo o espaço arquitetônico da cidade em que ambos estão inseridos, indo além do patrimônio material, chegando as expressões do patrimônio imaterial existentes no lugar. Assim, estas ações proporcionam aos alunos uma possibilidade de ultrapassar o espaço da sala de aula, encontrando um aprendizado também no cotidiano da cidade em que vive. Com isso, estes projetos resultam em (...) um processo de descoberta em que os alunos, professores e toda a comunidade podem e devem estar envolvidos. É através do diálogo permanente entre as comunidades e os agentes responsáveis pela preservação dos bens culturais, que será possível a formação de parcerias para a proteção e valorização desses bens. (AZEVEDO, LIMA, BREDA, 2010, P.266) As atividades voltadas à Educação Patrimonial contribuem significativamente para se desenvolver, entre os alunos, a consciência de valorização e o sentimento de pertencimento para com os bens culturais. Estas ações, quando desenvolvidas na escola, partem da sensibilidade de professores ou equipe pedagógica, compromissados com o patrimônio cultural e que possuem disponibilidade de ultrapassar a sua carga horária de trabalho cotidiana. São iniciativas desta natureza que precisam acontecer constantemente nas escolas, pois contribuem para ampliar a consciência coletiva em torno do conhecimento e da preservação da cultura local. Sendo assim, as ações de educação patrimonial devem ser consideradas, segundo o documento do IPHAN que norteia estas ações, enquanto um recurso fundamental para a valorização da diversidade cultural e para o fortalecimento da identidade local, fazendo uso de múltiplas estratégias e situações de aprendizagem construídas coletivamente. (...). Os diferentes contextos culturais em que as pessoas vivem são, também, contextos educativos que formam e moldam os jeitos de ser e estar no mundo. Essa transmissão cultural é importante, porque tudo é aprendido por meio dos pares que convivem nesses contextos. Dessa maneira, não somente práticas sociais e artefatos são apropriados, mas também os problemas e as situações para os quais eles foram criados. Assim, a mediação pode ser entendida como um processo de desenvolvimento e de aprendizagem humana, como incorporação da cultura, como domínio de modos culturais 24
6 de agir e pensar, de se relacionar com outros e consigo mesmo. (IPHAN, 2014, p.22) Com isso, é importante considerar que as ações educativas resultam em um processo de interação entre a escola e a comunidade, na qual estas relações estabelecidas apresentam diferentes formas de aprendizagem, construídas a partir de um trabalho coletivo, levando em consideração o contexto do lugar, as expressões culturais cotidianas e demais elementos que fazem parte dos contextos sociais estabelecidos. 3. O PROJETO: CONHECENDO OS MUSEUS DE SERGIPE Esta proposta de Educação Patrimonial foi desenvolvida na turma do 8º ano da disciplina de Arte, na Escola Estadual Cônego Filadelfo de Oliveira, localizada na cidade histórica de Laranjeiras, a 18 km da capital. Cidade que no século XVIII se destacou como um importante centro de referência na produção de cana de açúcar possui um importante legado deste período, com a presença de casarios, igrejas e outros espaços que, no seu conjunto arquitetônico, é tombada pelo IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Possui três espaços de memória o Museu de Arte Sacra de Laranjeiras, o Museu Afro-Brasileiro de Sergipe e a Casa de Cultura João Ribeiro- importantes para a história do lugar. Além de ricas expressões do patrimônio material, a cidade também abriga um número considerável de grupos folclóricos, além de várias expressões do artesanato sergipano, como a renda irlandesa, registrada como uma expressão do patrimônio cultural imaterial do Brasil. Trata-se de uma região com uma grande representatividade de bens culturais, possíveis de serem trabalhados em sala de aula. A partir deste levantamento e de pesquisas, leituras e observações, foi construído um projeto para ser desenvolvido na turma do 8º ano A, na disciplina de arte. Percebemos que a grande maioria dos alunos não conhecia a história da cidade, dos monumentos e nunca tinham visitado os dois museus existentes. Assim, partimos desta realidade para construir o projeto, tendo como foco principal os museus, não apenas os de Laranjeiras, mas também os de São Cristóvão e Aracaju. Com relação à estas duas cidades, também foi observado que os alunos nunca tinham ido aos museus e demais espaços culturais existentes, o que tornou a viagem marcada por muita expectativa. Como leciono a disciplina de arte nesta turma, foi discutido inicialmente a função social do museu, apresentando a sua história e importância para a memória e a construção da identidade cultural de um lugar. 25
7 Após a discussão teórica sobre os museus, dividimos a turma em grupos e selecionamos os museus a serem visitados, que foram os seguintes: Laranjeiras: o Museu de Arte Sacra de Laranjeiras o Museu Afro-Brasileiro de Sergipe São Cristóvão: o Museu Histórico de Sergipe o Museu de Arte Sacra de São Cristóvão o Museu dos Ex-Votos Aracaju: o Museu da Gente Sergipana Com esta definição, os grupos iniciaram uma pesquisa sobre os museus, de acordo com a divisão feita em sala de aula. Esta determinou os grupos que ficaram responsáveis por levantar as informações acerca da história de cada instituição cultural, em livros e na internet. Em seguida, foram feitas as visitas a estes espaços, além de visitarmos os museus, as cidades também fizeram parte do roteiro, sendo discutido um pouco sobre a importância do seu espaço como expressão do patrimônio cultural. As visitas aos Museus e também à cidade história de São Cristóvão, despertou a atenção dos alunos, que até então muitos ainda não conheciam. O deslumbramento despertado nos jovens visitantes ficou por conta do Museu da Gente Sergipana, por utilizar muita tecnologia na apresentação de seu acervo, promovendo uma interação entre eles e as informações presentes na expografia. Assim, foram apresentados aos alunos os museus e seus acervos, objetos que fazem referência à sua história, aos elementos culturais locais e do próprio estado, aspectos estes importantes para a construção da sua identidade. Após a visita, todos prepararam relatórios expressando os seus sentimentos com a visitação, como no trecho abaixo: (...) eu visitei o Museu Afro-Brasileiro de Sergipe em Laranjeiras e entendi muito sobre o Museu, que possui uma coleção de muitas peças, todas retratando os mais diversos testemunhos de ação da nossa formação sociocultural. (...) o Museu também tem o objetivo de pesquisar, preservar e mostrar através da sua exposição permanente e a exposição temporária e tem muita coisa sobre a história de Sergipe 26
8 no período da cana de açúcar. (...) (depoimento do aluno C.E.S.S.) A partir desse depoimento percebe-se que o aluno consegue fazer uma leitura do acervo visitado, construindo uma ponte com a sua importância para a história local, assim como também a referência ao papel do museu enquanto espaço de pesquisa e preservação do patrimônio cultural afro-brasileiro. Assim como este aluno, outros também expressaram em suas observações este olhar para com a importância do museu, destacando o seu papel de guardião da memória. É importante ressaltar que outro museu visitado também despertou reações interessantes dos alunos: foi o Museu dos Ex-Votos, localizado na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, em São Cristóvão, Igreja também conhecida como Igreja do Senhor dos Passos, por abrigar uma imagem centenária deste santo, que possui uma das maiores festas religiosas do estado, que acontece na segunda semana após o carnaval. Esta festa reúne pessoas de várias partes do estado e do país, aonde alguns chegam em romarias pela estrada, trazendo imagens, coroa de espinhos, túnicas, entre outros objetos que são deixados na igreja e, após a festa, colocados no museu dos ex-votos. Durante esta visita, alguns alunos relutaram em entrar no museu, despertando certo receio em ver estes objetos. Porém, depois de uma explanação do guia que acompanhou os alunos durante a visita, eles entraram para conhecer o acervo. Para que este projeto fosse colocado em prática é importante destacar que o mesmo teve como importantes parceiros a Secretaria de Estado da Educação, que nos cedeu o transporte, assim como também o Serviço Social do Comércio (Sesc), que disponibilizou o almoço para os alunos no dia em que visitamos as cidades de Aracaju e São Cristóvão. Além disso, o acompanhamento da Escola Estadual Cônego Filadelfo de Oliveira, eu, através da Coordenação Pedagógica, auxiliei no trabalho de acompanhamento dos alunos durante o desenvolvimento do projeto. Assim, nossa atividade sobre os museus de Sergipe foi encerrada com essa visita, que despertou nos alunos vários sentimentos, pois os mesmos conseguiram identificar festas que acontecem em Laranjeiras, personagem de grupos folclóricos, costumes e tradições que fazem parte do seu cotidiano e que estão ali referenciadas enquanto elementos importantes para a cultura sergipana. 27
9 4 CONSIDERAÇÕES Considerando a Educação Patrimonial enquanto um caminho para levar o aluno a despertar para a valorização e a preservação do seu patrimônio cultural, o projeto conhecendo os Museus de Sergipe pode ser considerado uma importante ação educativa, desenvolvida na Escola Estadual Cônego Filadelfo de Oliveira, pois proporcionou aos alunos envolvidos a possibilidade de conhecer aspectos da sua história e da sua cultura através dos acervos de cada museu visitado. Além disso, contribuiu significativamente para levar os alunos a refletir sobre a importância do museu enquanto um espaço que apresenta vários elementos importantes para a construção da sua identidade cultural. Outro aspecto importante para o aprendizado da turma é que, enquanto cidadãos, eles precisam preservar estes espaços assim como a cidade em que vivem, pois trata-se de elementos importantes para a sua história, aspecto esse fundamental não só enquanto elemento que traz referências ao passado, mas que também pode contribuir para reflexões sobre o futuro. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Luciana Menezes Soares de; LIMA, Clarisse Vasconcelos Fraga de Melo; BREDA, Daniel Oliveira. Ação de Educação Patrimonial no Sertão do Pajeú. IN.: BARRIO, Ángel Estina (org). Inovação Cultural, Patrimônio e Educação. Recife: Ed. Massangana, IPHAN. Educação Patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília, PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio Cultural: Consciência e Preservação. São Paulo: Brasiliense, SANTOS, Maria Célia T. Moura. Repensando a Ação Cultural e Educativa Dos Museus. 2ª Ed. Salvador: EDUFBA, SOARES, Luis R. (org). Educação Patrimonial: relatos e experiências. Santa Maria: Ed UFSM,
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