Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2007/ ) RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA RECORRENTE : JULIO DA COSTA ROCHA E OUTRO ADVOGADO : MÍRIAM LÚCIA KULCZYNSKI FORSTER E OUTRO(S) RECORRIDO : UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS PROCURADOR : ADMAR BARRETO NETO E OUTRO(S) RELATÓRIO MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora): Trata-se de recurso especial, interposto por Júlio da Costa Rocha e outro, com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região, integrado pelo proferido em sede de embargos declaratórios, que restou assim ementado: "ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. UFRGS. DESVIO DE FUNÇÃO. VIGILANTE. HORAS EXTRAS. ADICIONAL NOTURNO.. Nas ações ajuizadas contra a UFRGS, desde que se cuide de prestações de trato sucessivo, prescrevem apenas as parcelas anteriores ao qüinqüênio legal, sem prejuízo do direito (Súmula 85 do STJ).. Desvio de função que se caracteriza, porque apesar de ocuparem cargos de jardineiro e de servente de obras, os apelantes estavam lotados no setor de vigilância.. Horas extras indeferidas, porque com a compensação dos horários o limite máximo de 240 horas mensais não foi ultrapassado.. Adicional noturno reconhecido, porque o regime de 24 horas por 72 horas de descanso compreende o expediente cumprido no intervalo das 22 horas de um dia até as 5 horas do dia seguinte, o que dá direito previsto no art. 75 da Lei 8.112/90.. Juros de mora e sucumbência mantidos porque fixados na esteira dos precedentes da Turma.. Prequestionamento quanto à legislação invocada estabelecido pelas razões de decidir.. Apelação dos autores parcialmente provida.. Apelação da UFRGS e remessa oficial dada por interposta improvidas." (fl. 232) Aduzem os recorrentes, em resumo, que laboram no regime de escala de trabalho de 24 (vinte e quatro) horas por 72 (setenta e duas horas) de descanso, cumprindo, assim, jornada superior a 8 (oito) horas diárias e a 40 (quarenta) horas semanais, motivo pelo qual fazem jus ao recebimento das horas extras trabalhadas. Segundo as razões recursais, "ao indeferir o pagamento de horas extras aos recorrentes, o v. acórdão regional nega vigência ao art. 19 da Lei n.º 8.112/90, que prevê Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 6

2 limite máximo de oito horas diárias e quarenta horas semanais. Dessa forma, as horas excedentes a oito horas diárias, ou quarenta semanais, devem ser computadas como extras." (fl. 941) Afirmam, ainda, que "deferido o pagamento de horas extras, fazem jus os recorrentes a diferenças de adicional noturno pela incidência dele sobre a remuneração da hora extra (art. 75, parágrafo único, da Lei n.º 8.112/90." (fl. 941) Sinalizam, também, a existência de dissídio jurisprudencial com julgados de outros Tribunais Regionais Federais. Por fim, no tocante aos juros moratórios, acentuam que o Tribunal de origem contrariou o art. 406 do Código Civil, ao determinar a aplicação do percentual de 6% ao ano, com base no art. 1º-F da Lei n.º 9.494/97, na redação dada pela Medida Provisória n.º /2001. Apresentadas as contrarrazões, o recurso especial foi admitido e ascenderam os autos a esta Corte. É o relatório. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 2 de 6

3 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2007/ ) EMENTA RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. ADICIONAL. HORAS EXTRAS. DIVISOR. 200 HORAS MENSAIS. ART. 19 DA LEI 8.112/90. JUROS MORATÓRIOS. AÇÃO AJUIZADA APÓS A EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº /2001. FIXAÇÃO NO PATAMAR DE 6% AO ANO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO. 1. A falta de cumprimento do disposto nos artigos 541, par. único, do CPC e 255, 2º, do RISTJ, que determinam a realização do cotejo analítico entre o acórdão recorrido e o paradigma trazido à colação, obsta o conhecimento do recurso pela alínea "c" do permissivo constitucional. 2. Nos termos do art. 19 da Lei n.º 8.112/90, a jornada máxima de trabalho dos servidores públicos federais corresponde a 40 (quarenta) horas semanais. Nesse contexto, na esteira da jurisprudência consolidada desta Corte, o divisor adotado no cálculo do adicional decorrente do serviço extraordinário é de 200 (duzentas) horas mensais. 3. No caso em tela o número de horas trabalhadas pelos recorrentes ao longo do mês é inferior ao divisor de 200 (duzentas) horas mensais, motivo pelo qual não fazem jus ao percebimento das horas extras pleiteadas. 4. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça pacificou-se no sentido de que os juros de mora nas causas ajuizadas posteriormente à edição da MP nº /2001, em que for devedora a Fazenda Pública, devem ser fixados à taxa de de 6% ao ano. 5. Recurso especial improvido. VOTO MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora): De início, no que se refere à alínea "c" do permissivo constitucional, impende ressaltar que o recorrente apenas transcreveu, nas razões de seu recurso especial, ementas de julgados que no seu entender divergiriam do aresto recorrido, sem, contudo, demonstrar a ocorrência de dissídio jurisprudencial mencionando as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, nos termos dos artigos 266, 1º, e 255, 2º, do RISTJ, e 541, par. único, do CPC. Sendo, assim, não merece prosperar a irresignação, quanto ao pretendido dissídio pretoriano. A propósito, confiram-se os seguintes julgados proferidos por esta Corte: "CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE MARÍTIMO. PREQUESTIONAMENTO. AUSENTE. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO. NÃO COMPROVADO. IMPROVIMENTO. (...) Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 3 de 6

4 III. Inadequada a divergência jurisprudencial apresentada apenas por ementas, sem o necessário cotejo analítico entre os arestos, como mandam o art. 541, parágrafo único, da Lei Instrumental civil e o art. 255, 1º e 2º, do RISTJ. IV. Agravo regimental improvido." (AgRg no Ag /PR, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, DJ 6/5/2008). "AGRAVO REGIMENTAL. AUSÊNCIA DO PAGAMENTO DE PORTE E RETORNO DO RECURSO ESPECIAL. NÃO-COMPROVAÇÃO DE LITIGÂNCIA SOB O PÁLIO DA JUSTIÇA GRATUITA. RECURSO ESPECIAL PELA ALÍNEA "C". NÃO CONFIGURAÇÃO DO DISSÍDIO INVOCADO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO-PROVIDO. (...) 2. À configuração da divergência jurisprudencial ensejadora à interposição do apelo nobre pela alínea "c", demanda o necessário cotejo analítico com a transcrição dos trechos configuradores do dissenso, mencionando as circunstâncias identificadoras dos casos confrontados, ônus do qual não se desincumbiu o recorrente. 3. agravo regimental não-provido." (AgRg no Ag /MG, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 30/11/2009) Quanto ao mérito, consoante relatado, o cerne da controvérsia cinge-se à análise de eventual labor dos recorrentes em sobrejornada e o consequente direito ao percebimento de horas extras. prosperar. Entendo, entretanto, que a irresignação deduzida no especial não merece Nos termos do art. 19 da Lei n.º 8.112/90, a jornada máxima de trabalho dos servidores públicos federais corresponde a 40 (quarenta) horas semanais. Nesse contexto, na esteira da jurisprudência consolidada desta Corte, o divisor adotado no cálculo do adicional decorrente do serviço extraordinário é de 200 (duzentas) horas mensais. Com efeito, dividindo-se 40 (máximo de horas semanais trabalhadas) por 6 dias úteis e multiplicando-se o resultado por 30 (total de dias do mês), teremos o total de 200 (duzentas) horas mensais, valor adotado como parâmetro para o cômputo de eventuais horas extras laboradas. verbis: A propósito, confiram-se os seguintes julgados que tratam da questão, "ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 458, INCISO II, E 535, INCISO II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. SERVIDOR PÚBLICO. ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO. FATOR DE DIVISÃO: 200 HORAS MENSAIS. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 6

5 1. O acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris de maneira clara e coerente, apresentando todas as razões que firmaram o seu convencimento. 2. De acordo com as disposições da Lei n.º 8.112/90, a jornada máxima do servidor público é de 40 (quarenta) horas semanais, razão pela qual o fator de divisão para o serviço extraordinário é, necessariamente, de 200 horas mensais. Precedentes. 3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente provido." (REsp /RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 20/04/2009) "PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. ADICIONAL NOTURNO. BASE DE CÁLCULO. 200 HORAS MENSAIS. ART. 19 DA LEI 8.112/90. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA DE IGUAL PROPORÇÃO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Com o advento da Lei 8.112/90, a jornada máxima de trabalho dos servidores públicos federais passou a ser de 40 (quarenta) horas semanais, pelo que o adicional noturno deve ser calculado com base no divisor de 200 (duzentas) horas mensais. 2. Verifica-se a sucumbência recíproca de igual proporção quando, existindo dois pedidos, apenas um deles é provido. Inteligência do art. 21, caput, do CPC. 3. Recurso especial conhecido e improvido. (REsp /PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 06/06/2006, DJ 26/06/2006, p. 186) No caso ora analisado, os recorrentes afirmam que restou incontroverso nos autos que a jornada cumprida por eles é de 24 (vinte e quatro) horas de trabalho por 72 (setenta e duas) horas de descanso. Demonstram, também, conforme tabela confeccionada nas razões do recurso especial (fl. 940), que durante o mês trabalham 7 (sete) dias. Nesse contexto, conclui-se que os recorrentes não têm direito ao percebimento de horas extras, pois multiplicando-se 7 (dias laborados no mês) por 24 (horas trabalhadas por dia) chega-se ao valor de 168 (cento e sessenta e oito) horas trabalhadas ao longo do mês, ou seja, número inferior ao divisor de 200 (duzentas) horas mensais relativas aos servidores públicos federais regidos pela Lei n.º 8.112/90. Sendo assim, não merece prosperar o pleito dos recorrentes quanto ao percebimento de horas extras. Por fim, no tocante aos juros de mora, inicialmente cumpre ressalvar o meu entendimento no sentido da inconstitucionalidade da Medida Provisória nº /2001, por ofender o princípio da isonomia no que tange aos benefícios conferidos à Fazenda Pública em relação aos particulares. A esse respeito, confira-se o REsp /RS, de minha relatoria. No entanto, a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça pacificou-se Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 5 de 6

6 no sentido de que os juros de mora nas causas ajuizadas posteriormente à edição da MP nº /2001, em que for devedora a Fazenda Pública, devem ser fixados à taxa de de 6% ao ano. Nesse sentido, tendo em vista a existência de multiplicidade de recursos especiais que tratam da questão, a matéria foi afetada para a egrégia Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, que, no dia 11 de março de 2009, no julgamento no Recurso Especial Repetitivo /SP, nos termos do artigo 543-C do Código de Processo Civil, entendeu que os juros de mora devem ser fixados no patamar de 6% ao ano, quando o ajuizamento da ação tiver ocorrido em data posterior à da edição da Medida Provisória 2.180/01. Assim, em atenção à jurisprudência consolidada desta Corte, na espécie os juros moratórios devem ser fixados em 6% ao ano, tendo em vista que esta ação foi proposta posteriormente à edição da MP nº /2001, motivo pelo qual não assiste razão aos recorrentes neste particular. Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial. É como voto. Documento: RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 6 de 6