Superior Tribunal de Justiça

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1 AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº PR (2014/ ) RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE AGRAVANTE : J S ADVOGADO : CLÓVIS PINHEIRO DE SOUZA JUNIOR E OUTRO(S) AGRAVADO : L DOS S S ADVOGADO : ELUCI ALVES GUÉRIOS EMENTA AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. PARTILHA. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS. PRESUNÇÃO DE ESFORÇO COMUM NA AQUISIÇÃO DO PATRIMÔNIO. INAPLICABILIDADE DAS SÚMULAS N. 7 E 83/STJ. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO CONHECIDOS. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA INTERPOSIÇÃO DE NOVOS RECURSOS NÃO VERIFICADA. INTEMPESTIVIDADE DO ESPECIAL. DECISÃO AGRAVADA RECONSIDERADA. AGRAVO CONHECIDO PARA NEGAR SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL POR OUTRO FUNDAMENTO. DECISÃO Trata-se, na origem, de ação ordinária ajuizada por L dos S S em desfavor de J S com o objetivo de reconhecer a existência de união estável durante determinado período de tempo, partilhar os bens adquiridos pelo casal e fixar a guarda da menor fruto dessa união (e-stj, fls. 3-15). (e-stj, fl. 660): Com relação à partilha, a sentença indeferiu o pedido, nos seguintes termos Quanto à partilha dos bens, não há prova nos autos no sentido de se poder fazer exclusão na forma estabelecida no art do Código Civil. Não se pode olvidar que o ônus da prova, de acordo com o art. 333 do Código de Processo Civil, cabia à parte requerente, mas esta não se desincumbiu do ônus probatório. Em outras palavras, pode-se afirmar que não há prova de que os bens que a requerente pretende partilhar foram adquiridos na constância da união estável, bem como não ficou demonstrada que ambos contribuíram na aquisição dos referidos bens. O Tribunal de Justiça do Paraná deu provimento ao recurso de apelação da autora em acórdão assim ementado (e-stj, fl. 711): APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C PARTILHA, GUARDA E ALIMENTOS. RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. AUSÊNCIA DE FIXAÇÃO DO LAPSO TEMPORAL DA RELAÇÃO. DEVOLUÇÃO DA MATÉRIA. Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/10/2015 Página 1 de 5

2 UNIÃO ESTÁVEL A SER ESTABELECIDA ENTRE OS MESES DE MARÇO DE 1995 E MAIO DE REGIME DE SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 377 DO STF. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM DE ESFORÇO COMUM A FORMAÇÃO DO PATRIMÔNIO DURANTE A UNIÃO. INCOMUNICABILIDADE QUE CONSTITUI OBJETO DE EXCEÇÃO E DEVE SER OBJETO DE PROVA. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. O réu opôs embargos de declaração (e-stj, fls ), aduzindo que contava com mais de sessenta anos ao tempo da união, razão pela qual o Tribunal de origem não poderia presumir a existência de esforço comum para a aquisição dos bens do casal, sendo necessário prova nesse sentido. Para tanto, argumentou com a regra do art. 258, parágrafo único, II, do CC/1916 e com a necessidade de se interpretar harmonicamente as Súmulas n. 377 e 380/STF ) Os embargos não foram conhecidos, porque intempestivos (e-stj, fls. Nas razões do recurso especial (e-stj, fls ), o réu reiterou, em suma, a alegação de que o Tribunal de origem não poderia ter presumido a existência de esforço comum para a aquisição do patrimônio havido durante a união estável, tendo em vista a idade em que ingressou nesse relacionamento. A propósito, indicou ofensa aos arts. 258, parágrafo único, II, do CC/1916; 5º, 1º, da Lei n /1996; e 333, I e II, do CPC. Também pugnou pela necessidade de se interpretar coerente as Súmulas n. 377 e 380/STF. Quanto à imprescinbilidade de prova do esforço comum em situações como a da espécie, ainda colacionou precedentes de outros tribunais. O recurso especial não foi admitido na origem (e-stj, fls ). O agravo que se seguiu (e-stj, fls ) foi desprovido por decisão monocrática deste Relator (e-stj, fls ) sob o entendimento de que: a) não seria cabível recurso especial fundado em alegação de ofensa a enunciado sumular; b) não teria sido demonstrada de forma analítica a indicação de ofensa aos arts. 5º, 1º, da Lei n /1996 e 333, I e II, do CPC; e c) incidiriam as Súmulas n. 7 e 83/STJ com relação à alegação de afronta ao art. 258, parágrafo único, II, do CC/1916. Nas razões do agravo regimental ora sob apreciação (e-stj, fls ), repete-se a indicação de ofensa aos arts. 258, parágrafo único, II, do CC/1916; 5º, 1º, da Lei n /1996 e 333, I e II, do CPC. Afirma-se que a jurisprudência desta Corte Superior Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/10/2015 Página 2 de 5

3 não está pacificada com relação ao tema, havendo, inclusive, citação de precedente em sentido contrário. Aduz-se, finalmente, que não há necessidade de revolver fatos e provas para julgar o recurso especial. É o relatório. No caso dos autos, o exame do recurso especial não demanda, de fato, a revisão de fatos e provas. Com efeito, tendo o Tribunal de origem reconhecido que o recorrente contava com mais de sessenta anos ao tempo da união estável, resta saber apenas, se é ou não possível presumir que os bens adquiridos pelo casal no período assinalado são fruto do esforço comum. A questão, como se percebe é de direito, e não de fato. Inaplicável, assim, a Súmula n. 7/STJ. Tampouco é possível aplicar a Súmula n. 83/STJ, porque o entendimento desta Corte, com relação ao tema é, de fato, contrário àquele adotado no acórdão recorrido. Na linha dos precedentes mais recentes desta Corte, não é possível presumir a existência de esforço comum no incremento patrimonial do casal quando um de seus integrantes for maior de sessenta anos. Nesse sentido: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS (CC/1916, ART. 258, II; CC/2002, ART , II). DISSOLUÇÃO. BENS ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE. PARTILHA. NECESSIDADE DE PROVA DO ESFORÇO COMUM. PRESSUPOSTO DA PRETENSÃO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA PROVIDOS. 1. Nos moldes do art. 258, II, do Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos (matéria atualmente regida pelo art , II, do Código Civil de 2002), à união estável de sexagenário, se homem, ou cinquentenária, se mulher, impõe-se o regime da separação obrigatória de bens. 2. Nessa hipótese, apenas os bens adquiridos onerosamente na constância da união estável, e desde que comprovado o esforço comum na sua aquisição, devem ser objeto de partilha. 3. Embargos de divergência conhecidos e providos para negar seguimento ao recurso especial. (EREsp /PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/08/2015, DJe 21/09/2015) RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA DE BENS. COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. ART , II, DO CÓDIGO CIVIL (REDAÇÃO ANTERIOR À LEI Nº Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/10/2015 Página 3 de 5

4 12.344/2010). REGIME DE BENS. SEPARAÇÃO LEGAL. NECESSIDADE DE PROVA DO ESFORÇO COMUM. COMPROVAÇÃO. BENFEITORIA E CONSTRUÇÃO INCLUÍDAS NA PARTILHA. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. É obrigatório o regime de separação legal de bens na união estável quando um dos companheiros, no início da relação, conta com mais de sessenta anos, à luz da redação originária do art , II, do Código Civil, a fim de realizar a isonomia no sistema, evitando-se prestigiar a união estável no lugar do casamento. 2. No regime de separação obrigatória, apenas se comunicam os bens adquiridos na constância do casamento pelo esforço comum, sob pena de se desvirtuar a opção legislativa, imposta por motivo de ordem pública. 3. Rever as conclusões das instâncias ordinárias no sentido de que devidamente comprovado o esforço da autora na construção e realização de benfeitorias no terreno de propriedade exclusiva do recorrente, impondo-se a partilha, demandaria o reexame de matéria fático-probatória, o que é inviável em sede de recurso especial, nos termos da Súmula nº 7 do Superior Tribunal de Justiça. 4. Recurso especial não provido. (REsp /MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/11/2014, DJe 14/11/2014) CIVIL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C PARTILHA DE BENS. COMPANHEIRO SEXAGENÁRIO. ART , II, DO CÓDIGO CIVIL (REDAÇÃO ANTERIOR À DADA PELA LEI /2010). REGIME DE BENS. SEPARAÇÃO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE DE SE PRESTIGIAR A UNIÃO ESTÁVEL EM DETRIMENTO DO CASAMENTO. NECESSIDADE DE PROVA DO ESFORÇO COMUM. INEXISTÊNCIA. BENFEITORIA EXCLUÍDA DA PARTILHA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Devem ser estendidas, aos companheiros, as mesmas limitações previstas para o casamento, no caso de um dos conviventes já contar com mais de sessenta anos à época do início do relacionamento, tendo em vista a impossibilidade de se prestigiar a união estável em detrimento do casamento. 2. De acordo com o art , inciso II, do Código Civil, com a redação anterior à dada pela Lei /2010 (que elevou essa idade para setenta anos, se homem), ao nubente ou companheiro sexagenário, é imposto o regime de separação obrigatória de bens. 3. Nesse caso, ausente a prova do esforço comum para a aquisição do bem, deve ele ser excluído da partilha. 4. Recurso especial desprovido. (REsp /PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2014, DJe 04/09/2014) Embora as razões recursais encontrem apoio na jurisprudência desta Corte Superior, a irresignação não pode prosperar, porque intempestiva. Vale lembrar que os embargos de declaração manejados no Tribunal de Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/10/2015 Página 4 de 5

5 origem não foram conhecidos, porque protocolados fora do prazo legal, consoante se extrai da ementa do respectivo acórdão (e-stj, fl. 739): EMBARGOS DE DECLARAÇÃO INTERPOSTOS CONTRA DECISÃO COLEGIADA PROFERIDA NO JULGAMENTO DE APELAÇÃO CÍVEL. INOBSERVÂNCIA DO PRAZO DE 5 (CINCO) DIAS, PREVISTO NO ART. 536 DO CPC. INTEMPESTIVIDADE CONFIGURADA. RECURSO NÃO CONHECIDO. Assim, se os embargos não foram conhecidos por esse fundamento, não se deu a interrupção do prazo para propositura de novos recursos, de onde se segue que o recurso especial também deve ser considerado intempestivo. A propósito: MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. TERATOLOGIA OU FLAGRANTE ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. INDEFERIMENTO LIMINAR. 1. A posição adotada no aresto em questão é consentânea com a jurisprudência desta Corte Superior, no sentido de que os embargos de declaração extemporâneos não interrompem o prazo para a interposição de outros recursos. (AgRg no MS /SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/07/2015, DJe 06/08/2015) Perceba-se que o acórdão que julgou o recurso de apelação foi publicado no DJe de 7/8/2013 (e-stj, fl. 722), sendo que o recurso especial apenas foi protocolado em 20/11/2013 (e-stj, fl. 744). Ante o exposto, reconsidero a decisão agravada e, conhecendo do agravo, nego seguimento ao recurso especial por outro fundamento. Publique-se. Brasília-DF, 13 de outubro de Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/10/2015 Página 5 de 5