A GEOGRAFIA DAS MOTOCICLETAS NO PARANÁ: APONTAMENTOS PRELIMINARES 1

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1 A GEOGRAFIA DAS MOTOCICLETAS NO PARANÁ: APONTAMENTOS PRELIMINARES 1 Priscila Aparecida Olivette Licencianda do Curso de Geografia pela Unicentro e Bolsista Fundação Araucária (PR) pri_xd93@hotmail.com Pierre Alves Costa Professor do Departamento de Geografia e do PPGG da Unicentro (PR) Brasil e Co-coordenador do Laboratório de Estudos em Geoeconômica LABGECON alvespierre75@hotmail.com INTRODUÇÃO O intuito principal do presente trabalho é avaliar o expressivo crescimento do número de motocicletas nas maiores cidades do estado Paranaense 2. Como objetivo específico, levantamos e analisamos dados sobre: acidentes envolvendo motocicletas, número e tipo de infrações de trânsito, venda de motocicletas. Para esta pesquisa, em desenvolvimento, foram realizadas as seguintes etapas: Revisão bibliográfica sobre a temática; Levantamento e análise dos dados nas seguintes fontes: DENATRAN 3, DETRAN-PR 4, ABRACICLO 5, ABRAMET 6 e FENABRAVE 7. As pessoas hojem tem buscado novas formas de se locomover. Em cidades grandes, esta necessidade se torna maior ainda. Entretanto o transporte público que é disponibilizado para a população não consegue atender de forma satisfátoria a todas suas necessidades e a partir disto, as pessoas começam a procurar outros meios de locomoção; como por exemplo, a motocicleta que é foco deste artigo. Porém, o uso 1 Agradecemos à FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA (PR) o financiamento deste trabalho. 2 Trabalhamos com as seguintes cidades: Curitiba, Londrina e Maringá. Escolhemos essas três cidades, pois são as que apresentam o maior número de informações e dados sobre a temática das motocicletas. 3 Departamento Nacional de Trânsito. 4 Departamento de Trânsito do Paraná 5 Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares. 6 Associação Brasileira de Medicina do Tráfego. 7 Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores.

2 massivo deste veículo tem trazido junto consigo altos índices de acidentes, principalmente para os motociclistas que trafegam nos concentrados meios urbanos, onde ainda hoje perecem pela falta de investimento em leis e melhoramento das condições de trânsito. CIDADES E MOTOCICLETAS NO BRASIL E NO PARANÁ As cidades nunca param de se transformar, estão sempre em constante desenvolvimento e cada vez maiores. Porém, na sociedade brasileira nem todas as cidades foram planejadas para o crescimento espontâneo que sofreriam, gerando graves consequências para a população residente. Como é o caso do trânsito, principalmente do meio urbano, onde ocorre a maior concentração de veículos, onde podem ser gerados engarrafamentos, acidentes, uma concentração assídua de poluentes gerados pelos veículos, desrespeito às leis de transito, etc; e neste ambiente temos o motociclista, que utiliza como meio de condução a motocicleta. O aumento considerável das estatísticas de venda de motocicletas mostra que cada dia mais este veículo está se equiparando às vendas automobilísticas. Este fato se deve às facilidades que a moto proporciona, como o custo relativamente baixo de combustíveis, a facilidade de circulação em meio ao tráfego, o baixo custo de manutenção, a facilidade de estacionamento, etc. Ademais, temos as concessionárias que em uma estratégia de mercado e de lucro, oferecem grandes vantagens para a aquisição do veículo próprio. Deste modo, temos um grande impulso de venda deste veículo (vide figura 1).

3 Figura 1 Fonte: OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2013, p. 4. Na figura 1 é possível se ver que a frota de motocicletas no Brasil teve um aumento elevadíssimo na última década; onde, em 2001 se tinha cerca de 4,5 milhões de motos, já em 2012 se tem um total de 19,9 milhões; ou seja um acréscimo de 442,22%. Entretanto, não foi só o número de vendas de motos que cresceu, mas sim várias estatísticas, como por exemplo, o número de acidentes. O trânsito atualmente é um dos problemas mais notáveis nos grandes centros urbanos, o crescente número de veículos que trafegam pelas ruas, avenidas, estradas, etc, só tem aumentado, e na maioria das vezes ocorrem infrações às leis de trânsito, fato que leva a um grave índice de acidentes. E o motociclista é o principal alvo destes desastres. Entre os acidentes de transito os motoristas que mais se acidentam são os mais jovens que estão na faixa de anos. Um dos veículos que mais pode proporcionar a emoção de adrenalina é a moto, e por esse motivo, vários motoristas jovens se arriscam em meio aos centros urbanos em altas velocidades e que por um deslize ou outro podem acabar sendo fatais para a vítima. Uma estatística sobre os acidentes diz que, quem mais se acidenta de moto, não são as

4 pessoas que vivem deste veículo para trabalhar, mas sim as pessoas que utilizam a moto pouco menos de duas vezes na semana (SILVA, 2009). Isto, se deve ao fato de que as pessoas que utilizam esse meio de circulação diariamente, acabam adquirindo experiência, facilitando assim seu deslocamento no dia a dia, sem que sofram qualquer tipo de problema. A moto como já fora dito anteriormente, pode ser um veículo de baixo custo de manutenção e de circulação; estes benefícios são utilizados por várias pessoas, que como fim, acaba se tornando uma ferramenta de trabalho para os cidadãos. São os chamados motoboys, que usam a motocicleta como meio de circulação diária. Podem trabalhar tanto contratados por empresas como de forma individual. Esta atividade surge em meados de 1980, chamando mais atenção na década de 1990, onde na cidade de São Paulo, uma grande parcela da população começa ficar desempregada, pelo grande desenvolvimento tecnológico que surgia e desemparava as pessoas que não acompanhavam as qualificações do mercado de trabalho. Entretanto esta ideia se difunde e se espalha entre os motoristas com pouca qualificação; assim neste meio surge a profissão de motoboy, que primeiramente seria provisório para os pioneiros. Porém, as dificuldades do mercado de trabalho, fazem com esta profissão se torne exercida até os dias atuais, e em eventual ápice de crescimento ao longo dos anos. Os motoboys estão espalhados por todas as partes do Brasil, já que podem trabalhar em diversas áreas, sendo as mais conhecidas como moto-táxi ou como entregador de produtos, entre outros. Além disso, os centros urbanos são alvos de extensos engarrafamentos devido a frota concentrada de veículos, e nesta dificuldade os motociclistas conseguem facilmente esquivar-se, devido a moto ser um veículo pequeno e de fácil manuseio entre os carros. Algumas estatísticas apontam que a maior parte dos motoboys são homens entre anos, apresentando ainda um baixo índice de escolaridade, e ainda assim embalados pela baixa disponibilidade emprego para os mais jovens do Brasil, esta profissão acaba se tornando cada vez mais popular entre essas pessoas, que acabam vivendo dela único meio de sustentação (SILVA, 2009). A atividade realizada pelo motoboy foi efetivada como uma profissão:

5 A profissão motoboy foi regulamentada no ano de 2009 pela Lei Federal , que estabeleceu que para esta profissão ser exercida o motociclista deve ter mais de 21 anos, ter a Carteira Nacional de Habilitação categoria A (para motos) há pelo menos 2 anos, além de também utilizar equipamentos de segurança. Quando cumprir todos esses requisitos, os motoboys terão de pedir uma autorização especial para trabalhar e vão receber placas na cor vermelha, igual aos táxis (LOTTI, 2010, p. 7) As dificuldades de circulação e principalmente as infrações realizadas pelos motoristas são causas fatais para os motociclistas. Em São Paulo já é criado a regra urbana de que a pista da esquerda é destinada para o tráfego das motos, e quando algum outro veículo tenta realizar uma troca de pista, sem um aviso de sinal ou um olhar sobre a faixa destinada, este se torna um fator determinante para o acontecimento do acidente de moto. Infelizmente, entre tantas pessoas que utilizam esse veículo como meio de sobrevivência, temos as pessoas que não tem a habilitação necessária para a circulação nos saturados meios urbanos. Além disso, em regiões mais remotas ou em locais do meio rural a infração as leis de trânsito se tornam muito maiores; pois, onde se tem pouca fiscalização e por meio disso a população realiza imprudências, sem o mínimo de conscientização de seus atos e do que eles podem gerar. A maior parte dessas infrações realizadas no interior é uso da motocicleta sem o uso do capacete e outros tipos de proteção, direção alcoolizada, o carregamento de mais de 2 passageiros etc. No Paraná os índices não são diferentes, sendo que em cidades como Maringá e Londrina os motociclistas são as principais vítimas de acidentes de trânsito. Só em Londrina em estatísticas anteriores no ano de 1996, 44,4 % dos acidentes que ocorreram no ano correspondiam a acidentes causados por moto. E em uma análise dos anos de 1997 a 2000, a parcela de 40 % dos acidentes destes anos correspondiam aos motociclistas. Na cidade de Maringá cerca de 38,6% das vítimas de acidente de trânsito, no ano de 2000, foram motociclistas (SILVA, 2008). Além disso, em Curitiba, capital do estado paranaense, entre 2001 e 2008 houve um salto de 11% para 23,8 % de mortes em acidentes de Trânsito. Em razão disso e destes altos índices de acidentes o Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT), resolveram criar um curso de ajuda para os Motofrentistas, com o

6 objetivo de diminuir o índice de acidentados, preparando assim o profissional, para voltar com outra postura para as ruas. Sendo que o curso ofertado oferece um melhoramento no relacionamento profissional, aprendizado sobre ética de trabalho, uma tomada de postura no trânsito, pilotagem defensiva, além de também ensinar uma manutenção preventiva nos veículos (LOTTI, 2010). Também no ano de 2010 foi regulamentado um curso específico para os motoboys pelo Conselho Nacional de Trânsito, quem já estava na profissão ou quem fosse começar a segui-la deveria realizar este curso que se torna obrigatório para a regularização da profissão motoboy. O curso tem duração de 30 horas-aula que tem como objetivo garantir aos motociclistas profissionais a aquisição de conhecimentos, padronizações de ações e atitudes de segurança no trânsito. Figura 2 Fonte: Observatório das Metrópoles,

7 Na figura 2 é possível se ver que a frota da RMC 8 de motocicletas teve um aumento significativo, onde, em 2001 se tinha cerca de 72 mil motos, já em 2012 se tem um total de 282 mil correspondendo a um crescimento de cerca de 291 %. Os motoboys para poderem ter suas leis e benefícios regulamentados e cumpridos conforme a lei, montam sindicatos e no Paraná o principal sindicato é o de Curitiba, o SINTRAMOTOS 9, mas em outras cidades como Londrina, Maringá, Ponta Grossa entre outras cidades também possuem. Uma forma de assegurar a circulação do trânsito nas grandes cidades, é ser realizado um investimento contínuo na infraestrutura dos meios de circulação, além de também haver uma fiscalização da frota e dos motoristas. Pois como fora dito anteriormente, o número de vendas de veículos só tem aumentado, e se não houver uma regulamentação das leis de trânsito o caos do tráfego só tende a piorar. Segundo o programa Profissão Repórter Motos 10, em regiões do Brasil como o Nordeste a imprudência registrada pelos jornalistas são gravíssimas onde se tinha pessoas trafegando em rodovias em altas velocidades. Às vezes, até crianças menores de idade, e sem o uso de proteções adequadas, além de também estarem trafegando com 2 ou mais pessoas no veículo. Também é registrado um numeroso tráfego de veículos em São Paulo, onde por um desvio de atenção de qualquer motorista pode ser fatal para os motociclistas. No programa também é retratado o estado de Goiás, onde se é registrado em um hospital que recebe diariamente cerca de 140 pacientes resultados de acidentes de motos. Infelizmente a imprudência está presente em todos os estados brasileiros. Este artigo tentou relatar um pouco do que acontece na realidade, entretanto não chega tão perto quanto deveria da realidade que é vivida por muitos motoqueiros dos mais diversos lugares. A falta de infraestrutura nas cidades para os tantos veículos que circulam diariamente ou a falta de instrução das pessoas nas pequenas cidades interioranas, são fatores que acarretam os numerosos acidentes que ocorrem diariamente 8 Região Metropolitana de Curitiba. 9 Sindicato dos Motofrentistas de Curitiba. 10 Exibido em abril de 2013, pela Rede Globo.

8 no Brasil. Esta realidade que nós motoristas, pedestres, cidadãos vivemos em nossa sociedade está longe de acabar, se medidas não forem tomadas. O Paraná como qualquer outro estado não está fora desta questão, tanto que as estatísticas comprovam o quanto a situação está insatisfatória. A motocicleta é um veículo que proporciona muitas coisas positivas para quem utiliza com responsabilidade e também para quem sabe respeitar as regras de trânsito. Como já fora relatado anteriormente, não são as pessoas que utilizam a motocicleta diariamente que sofrem constantes acidentes, mas a maior parte ocorre com aqueles que a utilizam menos vezes durante a semana. Isso vale para se refletir, será que o ritmo do motor ou a velocidade e agilidade que é proporcionado pelo momento pode compensar um segundo de desatenção? REFERÊNCIAS REDE GLOBO. Profissão Repórter Motos. São Paulo: Rede Globo, abril de Disponível em: acesso 13/05/14. LOTTI, Marcela. Curso específico para Motoboys. Revista Dia a Dia Motoboy, Curitiba Setembro de OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES. Evolução da frota de automóveis e motos no Brasil (relatório 2013). Rio de Janeiro: IPPUR/UFRJ, Revista Dia a Dia Motoboy, Edição 01, Curitiba-Paraná, Setembro de PR/ acesso no dia 02/05/14 às 08:20. SILVA, Daniela W. Perfil do trabalho e acidentes de trânsito entre motociclistas de entregas em dois municípios de médio porte do Estado do Paraná, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24 (11), p , nov./2008. SILVA, Ricardo B. Os Motoboys no Globo da Morte: Circulação no Espaço e Trabalho Precário na Cidade de São Paulo. São Paulo: Humanitas, WAISELFISZ, Julio J. Mapa da Violência: Acidentes de Trânsito e Motocicletas, Rio de Janeiro: CEBELA, 2013.

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