ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO

Transcrição

1 PARECER N.º SERVIDORES POLICIAIS ACUSADOS DA PRÁTICA DE FALSIDADE IDEOLÓGICA (VENDA DE CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO). PROVA PROCESSUALIZADA INSEGURA. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ARQUIVAMENTO RECOMENDADO. INTELECÇÃO DO INCISOS XXXVIII E XL DO ARTIGO 81 DA LEI 7366/80. Vem a exame e parecer da Equipe de Revisão da Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo Disciplinar o processo n.º /91.9, oriundo da Secretaria da Justiça e da Segurança, que encarta o Processo Administrativo Disciplinar instaurado contra os servidores policiais Delegado ALTAIR VERÍSSIMO DA SILVEIRA, matrícula n.º , e o Investigador de Polícia LEANDRO JOSÉ RABAIOLI, matrícula n.º , por obra da Resolução n.º , de 17 de março de 1992, editada pelo Conselho Superior de Polícia. Consoante os elementos informativos coligidos nos autos, o administrado Lauro Neitzske compareceu na Delegacia Regional de Polícia em Lajeado, informando que na Ciretran de Encantado, onde os ora indiciados estavam lotados, só conseguia tirar Carteira Nacional de Habilitação quem dispusesse de dinheiro para livrar-se os exames de legislação e direção e que era necessário dar Cr$ ,00 (cinqüenta mil cruzeiros) moeda da época para o despachante Juarez Rotta e este arranjava tudo. Tanto é certa a informação que o filho do informante Marcir Neitzke, não tendo dinheiro para entrar no esquema, aceitando tirar a CNH no braço, foi submetido a exames extremamente rigorosos e foi reprovado. Apontou este informante que o seu conhecido Artêmio Feil entrara no esquema e tirara a CNH com certa facilidade, eis que deixou umas questões de legislação em branco. Esta informação é confirmada parcialmente pelo administrado Artêmio (fls , fase inquisitorial).

2 Foi expedido um mandado de busca no escritório do despachante Rotta e lá a polícia apreendeu material de uso exclusivo da Ciretran (relação de fls ). Ouvido o despachante, este alegou que é normal a polícia ceder esse material aos despachantes para facilitar o serviço (fl ). Iniciada a fase processualizada, o administrado Artêmio Feil retificou parcialmente o depoimento antes dado na polícia, alegando que não deixara nada em branco e que, quando chamado a fazer novo teste em Lajeado, não sabia do motivo, por isso ficou nervoso, tendo sido reprovado no teste de legislação, sendo, contudo, submetido a novo exame, em que foi aprovado (fls v); Emílio Berté, outro administrado que teria recebido CNH por suposta compra, negou o fato na fase processualizada, dizendo jamais ter falado a alguém no pagamento e que, submetido a novos testes em Lajeado, saiu aprovado. A testemunha Ildo Sildo Fleck negou que o despachante Rotta lhe tivesse pedido dinheiro para tirar a CNH mais fácil. Apenas lhe perguntou se queria tirar no braço(fl. 140); na fase inquisitorial disse que essa pergunta lhe foi feita e, de fato, fez algumas aulas de direção e pagou CR$ ,00 ao despachante, mas não logrou êxito na aprovação e que ouviu um passageiro de um ônibus que faz a linha ao interior que se ele desse mais dinheiro teria recebido a CNH (fls , fase inquisitorial, versão esta não confirmada na fase processualizada). Encerrada a instrução, a autoridade processante, após arrastada movimentação, dada a dificuldade em notificar e ouvir o Delegado Altair Veríssimo da Silveira, recomenda a absolvição por insuficiência de prova (fls ). São aportadas aos autos as cópias da sentença de primeiro grau da comarca de Encantado, impondo a pena de 1 ano e 9 meses de reclusão ao Investigador Leandro José Rabaioli e 2 anos e 15 dias ao Delegado Altair (fls ), decisão esta reformada pelo Acórdão da Terceira Câmara Criminal n.º (fls ), que os absolveu por insuficiência de prova. Levado a julgamento pelo Egrégio Conselho Superior de Polícia, aquela corte, por maioria, vencido o Conselheiro Relator Dr. Roque Marino Pasternak, que recomendava o arquivamento por falta de prova, e com a abstenção do Conselheiro Omar Gilberto Buede Fernandez, decidiu pelo apenamento expulsivo, acolhendo o voto do Conselheiro Revisor Dr. João Antônio Leote. É o relatório. Não há nulidade a sanear, apesar de a defesa insistir em Memoriais com a tese de que a Resolução incoativa está inepta. Sem razão, data vênia, a defesa, porquanto a peça exordial narra sucintamente o fato e permite formulação do contraditório.

3 No mérito, com a devida vênia da douta maioria do colendo Conselho Superior de Polícia, a prova arregimentada aos autos é meramente indiciária e parte de ilações excessivamente forçadas. Em verdade, o que ficou patenteado nos autos é que o despachante cobrava um preço elevado e nunca se viu as supostas vítimas dizerem que deram qualquer propina ou entretiveram negociações com os indiciados. De outra banda, o que se viu foi um administrado reclamar que foram excessivamente exigentes no teste de legislação e por isso foi reprovado 4 vezes em Encantado. Entretanto, este mesmo administrado teve de fazer duas vezes os exames noutra Ciretran em Lajeado (142). Diante do exposto, recomenda-se a absolvição dos indiciados por insuficiência de prova da materialidade e autoria, fazendo coro ao lúcido voto do eminente Conselheiro Dr. Roque Pasternak de fl É o parecer. Sala de Sessões, em 03 de maio de José Hermílio Ribeiro Serpa, Relator. Dea Mara Ribeiro Lima, Maria da Graça Vicentini, Luís Felipe Targa.

4 Processo nº /91.9 Acolho as conclusões do PARECER nº , da Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo- Disciplinar, de autoria do Procurador do Estado Doutor JOSÉ HERMÍLIO RIBEIRO SERPA, aprovado pelo Conselho Superior na sessão realizada no dia 05 de julho de Submeta-se o expediente à deliberação do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado. Em 28 de dezembro de Paulo Peretti Torelly, Procurador-Geral do Estado.

5 GABINETE DO GOVERNADOR Processo nº /91.9 Aprovo o PARECER nº , da Procuradoria-Geral do Estado, cujos fundamentos adoto para ABSOLVER os servidores policiais ALTAIR VERÍSSIMO DA SILVEIRA, Delegado, matrícula nº e LEANDRO JOSÉ RABAIOLI, Investigador de Polícia, matrícula nº , lotados na Secretaria da Justiça e da Segurança, da imputação objeto do Processo Administrativo-Disciplinar nº /91.9, instaurado para apurar falta funcional a eles atribuídas. À Procuradoria-Geral do Estado para anotações de estilo. Após, à Secretaria da Justiça e da Segurança para ciência dos interessados e demais providências pertinentes. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 07 de janeiro de OLÍVIO DUTRA, GOVERNADOR DO ESTADO.