3ª Câmara Criminal Apelação LF 1

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1 Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Terceira Câmara Criminal Apelação Criminal nº.: APELANTE: ANA PAULA RANGEL APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO RELATOR: DESEMBARGADOR PAULO RANGEL APELAÇÃO DA DEFESA. ESTELIONATO. PENA DE 01 (UM) ANO DE RECLUSÃO E 10 (DEZ) DIAS- MULTA. REGIME ABERTO. NÃO SUBSTITUIÇÃO DA PENA. RECURSO QUE PUGNA PELA ABSOLVIÇÃO POR PRECARIEDADE DO ACERVO PROBATÓRIO E SUBSIDIARIAMENTE REQUER A SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PELA RESTRITIVA DE DIREITOS. Prova da materialidade e da autoria. Acusada que obteve, para si e para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo da lesada, que foi induzida a erro. Pratica de crime de estelionato contra pessoa de idade avançada. Apelante primária e com bons antecedentes. Aplicação da substituição da pena por restritiva de direito ou a suspensão condicional da pena. Cabimento da substituição por restritiva de direitos por uma prestação de serviço a comunidade ou entidade pública, nas condições estabelecidas pelo Juízo da Execução, pois preenchidos todos os requisitos do artigo 44 do Código Penal. RECURSO QUE SE CONHECE E QUE NO MÉRITO DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO PARA SUBSTITUIR A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR UMA RESTRITIVA DE DIREITOS, CONSTITUINDO NA MODALIDADE DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE OU ENTIDADE PÚBLICA, NAS CONDIÇÕES A SEREM ESTABELECIDAS PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO (cf. o art. 44, 2º, do Código Penal). 3ª Câmara Criminal Apelação LF 1

2 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Apelação nº em que figura como Apelante Ana Paula Rangel e Apelado o Ministério Público, ACORDAM os Desembargadores que integram a Colenda Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em julgamento realizado nesta data, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso defensivo, consoante voto proferido pelo Desembargador Relator VOTO Presentes os requisitos de admissibilidade, recebo o recurso interposto pela defesa. No mérito, a autoria e a materialidade do delito tipificado no art. 171, caput, do Código Penal, restaram sobejamente demonstradas, pois o depoimento da vítima é contundente, o qual tem como único e exclusivo objetivo apontar a pessoa culpada pela prática do crime contra o patrimônio, assim como a comprovação da obtenção da vantagem econômica obtida ilicitamente contra a lesada, a qual foi induzida em erro, mediante o pagamento do valor de R$ 4.800,00 (quatro mil e oitocentos reais), ela teria os seus títulos sublocados, posteriormente, pelo montante de R$ ,00 (dezesseis mil reais), quando, em verdade, pretendia a Acusada locupletar-se à custa da própria vítima, conforme comprova o depoimento, in litteris: 3ª Câmara Criminal Apelação LF 2

3 (...): que havia adquirido títulos do Pargo's Clube ainda quando solteira e posteriormente, já quando casada, para investimento; que tinha a intenção de deixar para seus filhos esses títulos, para que pudessem usufruir e passear; que seu marido estava com problemas de saúde seriíssimos, com elevadas despesas medicas; que recebeu um telefonema da acusada Ana Paula, dizendo que havia conseguido contato da informante pelo cadastro do Pargo's Clube e que havia interesse na sublocação dos títulos, para que estrangeiros pudessem vir ao Brasil e gozar dos benefícios dos títulos; que a acusada Ana Paula disse que o valor por cada sublocação seria R$ ,00 e que, se a informante quisesse, poderia também vendê-los; que a informante achou a proposta interessante, principalmente pelos gastos que seu marido vinha tendo com o tratamento de saúde; que esteve na Av. Rio Branco levando os títulos e foi informada pelo acusado Edmilson que deveria pagar R$ 4.800,00 para regularização dos títulos, uma vez que o valor unitário de cada regularização seria de R$ 1.200,00; que a informante não tinha o dinheiro e contraiu um empréstimo bancário para pagar os R$ 4.800,00 e supostamente receber pelo aluguel dos títulos; que, para sua estranheza, a informante recebeu de Edmilson um recibo do Aquários clube dizendo que aquele valor era correspondente a aquisição de quatro títulos do Aquários Clube; que a informante disse que não queria títulos do Aquários Clube, mas o acusado Edmilson informou que se tratava de uma "venda casada", 3ª Câmara Criminal Apelação LF 3

4 estando o Aquários clube atrelado a regularização do Pargo's Clube; que a informante precisava do dinheiro e ficou aguardando o recebimento da sublocação; que, como o dinheiro não foi pago, começou a estranhar e foi alertada pelo seu filho de que algo estaria errado; que telefonou para o escritório onde havia sido recebida por Ana Paula e Edmilson, mas os mesmos não mais trabalhavam no local; que ninguém atendia o telefone; que foi à delegacia e acabou reconhecendo as pessoas pelo livro de fotografias; que o acusado Daniel seria um supervisor do local; que até hoje não obteve qualquer ressarcimento; que chegou a receber uma ligação em casa, depois do registro da ocorrência, tendo a pessoa que ligou se apresentado como representante da EMBRATUR e queria saber se a informante estava satisfeita com a sublocação dos títulos e se já havia recebido o dinheiro; que seu marido morreu no ano passado. Dada a palavra à defesa foi perguntado e respondido: que chegou a assinar um suposto documento que seria a autorização para sublocação dos títulos, ao que se recorda; que não ficou com nenhuma copia desse documento. Pelo MM. Juiz foi perguntado e respondido: que reconhece a acusada Ana Paula pela fotografia de fl. 37; que observando o réu na sala de manjamento, não consegui identificá-lo entre o grupo de pessoas que foram expostas_para reconhecimento; que o elemento de nome Edmilson era bem mais forte e jovem do que os três sujeitos expostos para reconhecimento. (...). 3ª Câmara Criminal Apelação LF 4

5 Consoante se depreende, a vítima, uma pessoa idosa de 63 (sessenta e três) anos de idade, recebeu um telefonema de uma pessoa que se identificou sob o nome de Ana Paula, solicitando o seu comparecimento a fim de tomar conhecimento da proposta que eles tinham em alugar ou vender seus títulos e com isso obter uma renda mensal de cerca de R$ ,00 (dezesseis mil reais) caso fossem alugados ou R$ ,00 (cento e quatro mil reais) pela venda dos 08 (oito) títulos. Como se vê, a prova não é frágil, ao revés, oferece supedâneo coeso à expedição do édito condenatório. Registre-se que a vítima não possuía qualquer relação com a Acusada, ora Apelante, não havendo razão para incriminá-la imotivadamente, pelo que se dessume que seu único interesse é identificar a culpada, porque se assim não fosse, grassaria a impunidade. Aqui, em verdade, não se trata de duas versões que ensejam dúvida no julgador, mas sim da certeza do depoimento da vítima, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa (cf. às fls. 212/213) em Juízo e do desacerto da versão da Ré, ora Apelante. Por conseguinte, como pode ser observado, a condenação não está alicerçada única e exclusivamente no depoimento prestado acima, mas em todo acervo probatório coligido aos autos durante a fase de investigação e na instrução criminal. 3ª Câmara Criminal Apelação LF 5

6 Considerando que no caso em testilha a pena aplicada à Apelante foi aquela cominada dentro do mínimo legal do tipo penal do estelionato; estabeleceu, no entanto, o magistrado regime mais severo de cumprimento de pena em razão de a acusada, ora Apelante, não preencher os requisitos subjetivos, pela postura lastimável que adotou ao não assinar o mandado de intimação, bem como não observou o magistrado a substituição da pena, desrespeitando o comando legal. Decerto que, ao prolatar a sentença, o juiz deve levar em consideração as consequências do crime, a repercussão social do fato e o mal causado à sociedade com a conduta criminosa. Contudo, observo merecer a Recorrente a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito. E isso porque todos os requisitos do artigo 44 do Código Penal mostram-se preenchidos, ou seja: a pena privativa de liberdade não é superior a 04 (quatro) anos de reclusão, além de a Apelante ser primária, e ter bons antecedentes e de não existirem motivos ou circunstâncias que indiquem que tal substituição seja insuficiente. Assim, substituo a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, constituindo na modalidade de prestação de serviços à comunidade ou entidade pública, nas condições a serem estabelecidas pelo Juízo da Execução (artigo 44, 2º do Código Penal). 3ª Câmara Criminal Apelação LF 6

7 Em face do exposto, conheço do presente recurso. No mérito, DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO para substituir a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, constituindo na modalidade de prestação de serviços à comunidade ou entidade pública, nas condições a serem estabelecidas pelo Juízo da Execução (artigo 44, 2º do Código Penal). É como voto, senhor Presidente! Rio de Janeiro, 07 de maio de PAULO RANGEL DESEMBARGADOR RELATOR 3ª Câmara Criminal Apelação LF 7